google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

Nos anos 80, a categoria principal do Mundial de Rally era denominada de Grupo B. Assim como o Grupo C, no rally também tivemos o ápice da insanidade. Ainda eram tempos em que se diferenciavam os verdadeiros pilotos de corrida dos demais, pois poucos eram aqueles loucos o suficiente que domavam uma máquina como esta.

Mais de 230 km/h de velocidade em meio à árvores, muros, despenhadeiros, sobre terra, cascalho ou gelo, em carros com mais de 600 cv em pequenos motores turbo-alimentados. Grandes nomes passaram pela categoria, como Ari Vatanen, Henri Toivonen, Walter Röhrl, Massimo Biasion, Hannu Mikkola e Attilio Bettega, e ela levou consigo a vida de alguns destes. Diversos fabricantes tinham equipes oficiais, como a Audi, Lancia, Ford, Peugeot, Renault e Toyota.

Depois de alguns anos de acidentes fatais com pilotos e com o público que ficava na beira da pista, a FIA cancelou a categoria em 1987. Uma perda, mas que trouxe ao mundo a futura realidade dos rallies, como a tração integral que a Audi usou e revolucionou o mundo com o Quattro, posteriormente adotada por todos, os motores de menor deslocamento sobre-alimentados, a aplicação de novos materiais como titânio e fibra de aramida. Hoje os carros do WRC são excelentes máquinas, mas não tão rápidos como os carros do Grupo B, que talvez nunca mais veremos algo parecido.



Andaluzia, Espanha, de San Pedro de Alcantara a Ronda pela A-397.
http://www.bestbikingroads.com/motorcyclegps.php?n=A397-Ronda-San-Pedro-de-Alcantara&code=283e4


São 41 km de curvas deliciosas. Encabeça muitas listas das "10 melhores estradas do mundo". Nem sempre tem pouco trânsito, caminhões criam algumas retenções chatas, mas nada tira o prazer de se percorrer esses quilômetros da estrada para Ronda, no sul da Espanha. No sentido recomendado acima, é uma leve subida, como prefiro ao passar por estradas desconhecidas. Basta aliviar o acelerador e fica fácil a correção de um abuso. Em descida, tudo complica.

Sinceramente não lembro da paisagem, tal a concentração nas curvas em sequência e no tráfego. Repare no mapa como são longas, some um asfalto perfeito e imagine os minutos de diversão. Não se engane, não é preciso altas velocidadades pra curtir um "circuito a céu aberto" desses, apenas o suficiente para que se sinta em sintonia com a máquina e curtindo fazer cada curva melhor que a anterior. Simples assim.

Coloque em sua lista. Vale pelo país, pela região, pela estrada e pelo destino. Não é fácil encontrar tal combinação.

MM

Cidade de Ronda. Impressionante, não? A vista lá em cima também é.

P.S.: Não foi à toa que a última versão da BMW M3 foi apresentada à imprensa nessa região da Espanha. Combina a luxuosíssima cidade litorânea Marbella com ótimas estradas de montanha com o incrível Ascari Race Resort, próximo a Ronda.
Sob certo aspecto, fui um grande privilegiado pela vida. Nasci em uma família que sempre teve o hábito de mexer com todo tipo de coisas, cresci na oficina familiar, sujo de graxa, e quando tive de escolher meu caminho profissional, não tive dúvidas. Hoje sou, literal e orgulhosamente, o primeiro engenheiro de uma família de “engenhoqueiros”.

Durante minha vida de estudante e, depois já formado, me deparei com muitos jovens fazendo testes vocacionais seguidos, sem a menor noção do que fariam o resto de suas vida.

Ainda outro dia, perguntei às minhas afilhadas de 10 e 8 anos o que queriam ser, e uma disse “ser médica” e a outra “ser veterinária”. Quando contei a elas o que estas profissões faziam e o tanto que teriam que estudar, de imediato mudaram de opinião, dizendo que preferiam ser modelos.

É uma tristeza.

Infância é tempo de se maravilhar, de ver o lado mágico da vida, de se imaginar como um herói galante, em sua armadura de prata e sobre o fiel cavalo branco.

Para mim e muitos da minha idade, tínhamos sonhos em mundos imaginários, mas também tínhamos outros focados num mundo mais realizável.

Em contraste, numa pesquisa recente feita no Japão, as crianças não pensam mais em serem engenheiros, médicos ou pilotos. Segundo esta pesquisa, a grande maioria das meninas pensa em ser modelo, enquanto os meninos pensam em ser astros do esporte ou do rock.

Estas crianças estão apenas negando as profissões de seus pais, cheias de responsabilidades, complicações e tristezas diárias, e escolhendo aquelas ilusórias, cheias de fantasia e glamour, sem ter a noção de que outras profissões podem ser tão maravilhosas quanto estas. E muito mais próximas de se realizarem.

Vivemos tanto querendo dar o melhor para nossos filhos, desejando que eles cresçam com uma infância feliz, que os isolamos em um mundo distante da realidade. E é claro que as expectativas que eles podem ter do futuro sejam tão distantes da realidade. Terão uma infância feliz sim, mas uma realidade adulta frustrante, já que modelo e cantor de rock de sucesso é uma opção viável para muito poucos.

Se quisermos que nossos filhos sejam adultos felizes por escolherem certo seu futuro, precisamos oferecer a eles desde cedo todo tipo de informação sobre todos os possíveis tipos de profissões, e deixar que eles se fixem em uma por afinidade. Mas precisamos oferecer esse tipo de informação de uma forma lúdica, dentro do mundo mágico, característico da infância.

Este é o grande mérito do livro ilustrado “Autorama – Manual do Automóvel”, editado pela Editora Abril em 1976.

Ele traz os personagens de Disney em situações que justificam os temas abordados, dentro de uma linguagem simples para as crianças entenderem o mundo do automóvel e do automobilismo.

Pena que, passados mais de 30 anos da publicação, tão pouco neste sentido tenha sido feito. Sem materiais como este, talentos infantis adormecidos talvez jamais despertem.

Apreciem agora um pouco mais do conteúdo deste livro entusiástico para crianças. Pequenas e grandes.

Aproveite e leve-os para seu filho ler. Talvez ele descubra um novo mundo mágico onde ele pode materializar os seus sonhos, e você, caro leitor, descubra um talento insuspeito embaixo do seu nariz.

Boa leitura.



AAD
Nessa época de problemas de difícil solução financeira para quase todas as fábricas de carros, interessante lembrarmos o que a Saab, sob ameaça de desaparecimento, já realizou.

Um breve histórico.

Após o final de Segunda Guerra Mundial, a Saab (Svenska Aeroplan Aktiebolaget) enfrentou uma mudança, de complexo industrial militar que fazia aviões, para um mercado baseado no consumidor. Foi criada então uma divisão automotiva, cujo departamento de engenharia foi formado por 16 engenheiros aeronáuticos. O UrSaab, o modelo original, também conhecido por 92.001, teve como responsável pela carroceria,um especialista em asas. Baixo peso e resistência estavam incutidos na cultura desse grupo. O carro, modelo designado 92 para o mercado, iniciou as vendas em 1949 e a essa carroceria foi utilizada até 1979, com a mesma forma básica e estrutura. A data de fundação oficial da empresa é 10 de junho de 1947.



UrSaab, o primeiro protótipo, 1947

Motores, um campo de exploração.

Ainda com o modelo 96 em produção, foi apresentado o modelo 99, que viria a ser o primeiro Saab a adotar o turbocompressor. Inicialmente em 1977, 100 carros foram produzidos e utilizados por pessoal da fábrica e alguns clientes selecionados, escolhidos entre os que poderiam contribuir com informações importantes no final do desenvolvimento. No ano seguinte, chegou para venda normal, com motor 2-litros e 145 cv. O conceito de turbo para a Saab sempre foi diferente do habitual para automóveis, de incrementar o desempenho. A filosofia era ter disponível potência adicional a ser utilizada no máximo em 10 a 15% do tempo em que o carro é usado, basicamente em ultrapassagens em pista simples, a maioria na Suécia. Motivo básico: ficar o mínimo de tempo possível na contramão. Durante o restante da utilização, o consumo é o mesmo de um motor sem turbo.

O conceito do turbo se propagou rapidamente após a Saab adotá-lo. Em 1979 eram 5 modelos no mundo, 66 em 1984, 90 em 1987 e 93, em 1990. Mas a Saab não foi a pioneira nessa aplicação. Houve o Chevrolet Corvair Monza, O Oldsmobile Jetfire, o BMW 2002 Turbo e o Porsche 911 Turbo antes dos suecos, mas nenhum com produção em massa. A diferença foi a adoção da válvula de alívio (wastegate), que permitiu ao motor ter comportamento mais linear, sem aumento abrupto da potência, tornando o carro mais controlável e dócil, e sem o atraso no enchimento da turbina, que gera uma demora de resposta ao movimento do acelerador, conhecida como turbo lag. Já vimos uma frase que dizia ser a Saab a empresa que possuia carros turbinados sem turbo lag, quando outros ainda estavam iniciando as vendas de seus modelos turbo.

No começo dos anos 80 foi adotado o APC (automatic performance control), visando evitar a detonação, pré-ignição, knocking ou, popularmente, batida de pino. O APC inclui um sensor de detonação, que é um microfone fixado no motor, capaz de escutar as mínimas detonações e de enviar um sinal para um módulo eletrônico modificar a pressão máxima do turbo, de forma a evitar a detonação mais forte, que pode danificar o motor. O turbocompressor também colabora na melhor eficiência da combustão, pois aumenta a quantidade de ar nos cilindros, colaborando para reduzir a emissão de poluentes. Em 1983 chegaram as 4 válvulas por cilindro para o motor com turbo, com desenho de câmara de combustão favorável ao fluxo de gases. Em 1985, a DI (Direct Ignition) inovava ao reunir num cartucho montado sobre o cabeçote, todos os elementos da ignição, inclusive com computador de gerenciamento.

Em meados dos anos 90 chegou ao mercado o Trionic, um módulo que controlava a injeção de combustível, a ignição, os ajustes de acelerador (borboleta) na fase de aquecimento e as funções do APC. Uma integração de funções de mesmo conceito utilizado hoje em todos os carros com injeção e ignição eletrônicas, condensados em uma ECM ou "centralina".

Em março de 2000, um protótipo de motor de taxa de compressão variável foi apresentado. Essa pesquisa havia sido iniciada em 1981. O SVC (Saab Variable Compression) altera sua taxa de compressão inclinando o cabeçote e os cilindros, que são unidos e pivotados em um eixo ao lado do virabrequim. Esse ângulo, de apenas 4 graus, permite variar a taxa de 8:1 até 14:1, Chegando a uma potência de até 225 cv, e torque máximo de 305 Nm (31,1 mkgf) com apenas 1,6 litro de deslocamento volumétrico e cinco cilindros, com compressor mecânico, não turbo nesse caso. Devido a essa característica de taxa variável, o motor SVC é capaz de funcionar com álcool ou gasolina, numa situação muito mais próxima do ideal do que nos motores flex comuns, que são projetados com uma taxa de compressão meio-termo. O sistema é absolutamente simples: a parte superior do motor, cabeçote e cilindros, integrados no que se chama monohead, se inclina em relação a parte inferior, bloco, pistões/bielas e virabrequim. O movimento é controlado pela ECM, e efetuado por um eixo que gira poucos graus e empurra alavancas fixas ao monohead. Esse projeto foi engavetado após a compra de 100% da Saab pela GM.

O SVC em corte, na posição de alta compressão. O monohead está na posição inferior. O comando mecânico do sistema está em amarelo, ao lado direito das bielas.

Abaixo, a posição de baixa compressão.



Bloco de cilindros inclináveis do motor SVC. A árvore em primeiro plano está ligada a alavancas similares a bielas, que empurram ou puxam os cilindros. A área em vermelho mostra o curso total. Este bloco, somado ao cabeçote, compõe o monohead.


Outras inovações SAAB, não relacionadas a motores.

1949: modelo 92 com carroceria monobloco de assoalho plano, notadamente aerodinâmica, motor transversal de dois cilindros, 2-tempos, tração dianteira e suspensão independente. Uma combinação de características nunca antes reunidas em um só carro. Após alguns anos, esse conceito se provou muito bom para competições, com vitórias em ralis do campeonato mundial.

Erik Carlsson vence o Rali de Monte Carlo de 1963 com um modelo 96.

1953: cintos de segurança instalados de fábrica.

1957: Saab 93, motor passa a três cilindros 2-tempos, 750 cm³, longitudinal.

1960: sistema de ventilação interna com exaustão de ar projetados para eficiência e segurança.

1961: primeiro uso de defletor de ar em tampa traseira de perua, para evitar acúmulo de sujeira no vidro do vigia.

1963: freios com circuitos em diagonal.

1967: coluna de direção colapsível; chave de ignição no assoalho, entre os bancos, para eliminar ponto de ferimento no joelho em caso de acidente.

1969: apoios de cabeça com função de segurança, ao invés de apenas conforto ou estilo.

1971: para-choques deformáveis e com memória, se desamassando em batidas de até 8 km/h; limpadores e lavadores de farol básicos para toda a linha; assentos com aquecimento.

1976: conversor catalítico no escapamento nos carros para mercado americano.

1977: filtro de ar de ventilação interna, ou filtro de pólen.

1982: material de atrito dos freios sem amianto.

1985: pré-tensionadores automáticos de cinto de segurança.

1986: primeiro tração dianteira com ABS, modelo 9000.

1991: primeiro ar-condicionado sem gás CFC; sistema de gerenciamento de ignição e injeção de combustível Trionic, onde é verificada a ionização da mistura na câmara, buscando sempre o melhor funcionamento e economia, bem como emissões de poluentes reduzidas.

1993: sistema Sensonic, uma transmissão manual automatizada sem embreagem; Saab Night Panel, painel de instrumentos de visão noturna, onde se pode escolher os instrumentos a serem visualizados.

1996: encosto de cabeça ativo, SAHR (Saab Active Head Restraint) que se desloca em direção à cabeça do ocupante quando o tronco afunda para trás no encosto, como ocorre em batidas traseiras.

1997: ventiladores nos bancos dianteiros integrados aos assentos.

1998: piso do porta-malas móvel, na perua 9-5, permite carga e descarga com mais facilidade ergonômica, evitando que o usuário curve as costas ou bata o joelho no para-choque.

2003: Cargowing. Um rack de teto que funciona também como aerofólio quando não está segurando cargas.

2004: Saab Alcokey: um bafômetro na chave de contato, impede que o veículo seja ligado caso o motorista esteja embriagado; comunicação via transponder, o mesmo que funciona como anti-furto.

2007: XWD - cross-wheel-drive, a mais avançada tração nas 4 rodas para veículo de alta velocidade, pode enviar até 100% de torque para as rodas dianteiras ou traseiras, e possui diferencial com bloqueio mediante comando eletrônico. Apresentado no modelo Turbo-X de 2007, comemorativo aos 30 anos do primeiro Turbo.

O Museu Saab, junto à fábrica, em Trollhattan, Suécia.

JJ