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Imponência em forma de carro |
Algumas coisas demoramos a entender.
Elegância inata |
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Imponência em forma de carro |
Elegância inata |
2) Arte sobre o capô
O mascote de capô mais conhecido do mundo adorna o radiador dos Rolls. O “Espírito do êxtase” é uma escultura “art-noveau” de uma dama de braços abertos para trás, usando roupas esvoaçantes. A obra é de autoria de Charles Sykes, que usou como modelo Eleanor Thorton, famosa e belíssima amante do pioneiro do automobilismo, Lord Montagu de Beaulieu.
Mas o mais interessante é que a produção dos mascotes de capô foi, até a morte de Sykes, realizada por ele mesmo. O artista fundia em seu estúdio as cópias da escultura original, usando uma mistura de cobre e zinco (e nunca prata como muita gente comenta). Significa que eram reais obras de arte, e como quais, levavam a assinatura do escultor em sua base.
Em 1950, Sykes falecia, a empresa tomava para si sua produção. Mas nunca mais o nome do escultor apareceria em sua base. O que era antes uma obra de arte, se tornou apenas mais uma peça de automóvel.
3) The Fitch is gone
Nos anos 90, a linha de produção da Rolls-Royce inevitavelmente sofre mais uma modernização, mais uma de várias que vinha sofrendo sistematicamente desde os anos 60. Desta vez, era uma tentativa de emular as infames técnicas “Lean”, popularizadas pelo sucesso da Toyota. No ano de 1996, então era adotado mais um robô, este para realizar a pintura de filetes decorativos na carroceria, chamadas aristocraticamente na Rolls de “Body Coachlines”.
Antes do robô, os filetes eram feitos por um artesão velhinho, com a mão muito firme, usando um finíssimo pincel de cerdas bem longas, chamado “Fitch”. O artesão foi aposentado, sua raríssima habilidade de repente sem mais nenhuma utilidade neste mundo.
Na verdade, o sumiço do fitch é só um símbolo do abandono total das antigas práticas de produção da empresa. A Rolls passava a produzir carros como qualquer outra.
4) O motor BMW
Esta foi a mais ignóbil das atrocidades cometidas ao espírito da empresa. A empresa que criou os motores Merlin V-12 que ajudaram os caças ingleses a vencer a Batalha da Inglaterra contra os Messerschmitt movidos pela Daimler-Benz, agora usava motores da BMW? Uma empresa de engenharia e motores, relegada a criar carrocerias apenas? Há destinos piores para uma empresa, mas não muitos...
O carro que levava este motor refletiu os tempos instáveis da empresa: não era melhor que o carro que substituía em praticamente nada, foi esquecido rapidamente e teve uma das menores vidas de um modelo na história da empresa, com longa tradição de manter seus carros por mais de dez anos em produção.
O Silver Seraph era uma afronta aos pilotos da segunda guerra; um sacrilégio para uma marca tão aristocrata e inglesa como a Rolls. A empresa devia ter fechado as portas naquele ano de 1998, mas ao invés disso, além de lançar este carro, foi alvo de uma triste batalha entre a VW e a BMW para sua compra, que terminou com a venda para a duas fábricas, instalações e a marca Bentley para a VW e o nome Rolls-Royce, para a BMW. O que nos leva a:
5) Um Rolls-Royce projetado pela BMW
A marca bávara, cheia de méritos próprios, sabe-se lá porque tem uma grave fixação pela Inglaterra. E hoje usa marcas inglesas, Mini e Rolls-Royce, como sua marca de entrada e de extremo luxo, respectivamente.
O automóvel Rolls-Royce atual, apesar de ser em termos frios e calculistas um dos mais incríveis já criados pela humanidade, é uma caricatura imensa de um passado distante e esquecido. O fato de seu relativo sucesso é devido à sua adoção pelos cantores de rap estadunidenses que falam muito sobre isso. Uma triste realidade, e um triste fim para talvez a mais nobre das marcas que já criaram um automóvel. O que era uma nobre carruagem inglesa é hoje uma super-adornada barca bávara, usada como símbolo de status por gânguesteres que se imaginam poetas modernos.
A Rolls-Royce nunca foi estranha a donos cafonas e exagerados: os sultões árabes e os novos ricos americanos da década de 70, com seus Silver Shadows, veem a cabeça imediatamente. Mas hoje, sendo um Rolls-Royce apenas no nome e no estilo caricato, usando motores alemães e com Hans decidindo seu futuro, de alguma forma ele não consegue se manter imune aos efeitos nocivos desta imagem. Mesmo mantendo as características básicas dos carros da marca: silêncio absoluto, conforto total, melhores materiais possíveis. E a aceleração, que num Rolls é diferente de todo resto: parece movido pela gigantesca mão de Deus, que parece empurrá-lo de forma impossivelmente suave, mas de forma tão poderosa e irreversível quanto a Sua vontade.
Mas como uma empresa pode morrer cinco vezes e ainda estar viva? Talvez o fato de que ela na realidade ainda esteja viva seja o mais triste. Talvez, se tivesse morrido com os Hispano-Suiza, os Stutz e os Duesenbergs, não me incomodasse tanto. Como está hoje, é como um cadáver que se recusa a ser enterrado, um velho senhor doente que, incapaz de fazer todas as coisas pelo que foi famoso, senta-se na sala infeliz e prostrado, esperando o dia que o Senhor tenha piedade de sua pobre alma, e o leve finalmente para seu descanso merecido.
“It is gone for ever? I’m not certain. But I tell you it was a good world to live in.” (George Orwell)
MAO