google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014): França
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Fotos: autor
Novos rumos para o automóvel e o transporte pessoal
Recentemente estive em Paris, de férias, com a família. E é claro que durante viagens, como acredito que todo autoentusiasta faça, sempre observo o que circula nas ruas. Acho bacana dividir as impressões aqui no blog, como já fiz com Bangalore, na Índia, e Nagoia, no Japão.

Quando resolvemos visitar a França tomei a decisão de sossegar e ficar apenas em Paris. Ando cansado de viagens corridas, passando por muitos lugares, onde se vê muita coisa mas se conhece muito pouco. Cheguei até a planejar uma escapada até Le Mans, o que seria bom para mim e chato para a família. Ao ficar apenas em Paris, que tem um excelente metrô, e a fama de um trânsito muito ruim, a idéia original de alugar um carro passou a não fazer sentido. Nessa viagem, bem diferente das outras, minha intenção era alugar um carro pequeno, com motor a diesel. Ainda está faltando essa experiência no meu currículo. Mas vai ficar para a próxima.


O recente anúncio de uma colaboração estreita entre a Peugeot francesa e a General Motors (que inclui a compra de 7% das ações da empresa francesa pela GM) abriu a temporada de especulações a respeito do futuro de ambas as companhias, a natureza da aliança, e a situação das operações do gigante americano na Europa.

Mas a verdade é que ninguém, a não ser os funcionários das empresas diretamente ligados a este negócio, sabe algo de concreto sobre os objetivos do acordo. Sabe-se apenas que existe um acordo, e só. O resto é pura especulação.

Sendo assim, vou refrear o desejo de comentar algo sobre o qual não se sabe nada, e apenas contar uma interessante passagem da história de como a Peugeot começou a fazer automóveis, que tem a ver com outro acordo entre empresas de nacionalidades diferentes. E que por ser uma história francesa, é muito mais interessante, cheia de drama, reviravoltas e paixão que qualquer uma que se conte da americana e conservadora GM.
A notícia mais interessante dessa semana chegou a mim a partir da revista eletrônica oldcarsweekly.com. A história é mais ou menos a seguinte:

Um colecionador americano de Seattle, Charles Morse, compra em 2005 o Turcat-Mery 1919 da foto acima de um dealer de carros clássicos holandês. Morse mostrou o carro em vários concursos de elegância desde então (Pebble Beach inclusive), ganhando prêmios em vários deles. Dirige o carro regularmente e diz adorá-lo profundamente.

Agora, no início deste ano, recebeu notificação do governo de seu país de que o governo da França quer o carro de volta!!

O carro é classificado como “Tesouro Nacional Francês” e não poderia ter deixado o país.

Explica-se: o carro pertenceu originalmente ao Duque de Montpensier. O duque, que era dono do castelo de Randan (em Puy-de-dome), pertencia ao ramo Orleans da família Bourbon, que reinou na França entre 1589 e 1848 e, pasmem, era um dos herdeiros diretos do trono francês!

O bom duque nunca teve filhos e, portanto, na ocasião de sua morte em 1924, sua esposa herdou o Turcat-Mery. O carro trocou de mão algumas vezes, até que em 1991 o governo francês decretou que o castelo de Randan e todos os bens do Duque nele contidos eram tesouros nacionais, pertencentes ao povo francês. Este decreto incluía, desse modo, o carro em questão.

Não está claro para mim, porém, o por que esperar até 2009 (18 anos!) para tentar reaver o carro. Realmente uma história que se complica: Morse diz que pagou US$ 927.518,00 pelo carro. Está em negociações com o Ministério da Cultura daquele país e, segundo ele, parece que será ressarcido pelo povo francês. Mas o promotor público de Seattle designado para o caso parece não ter tanta certeza de que o caso se resolverá fácil: nos documentos de importação consta valor diferente, US$ 400.000,00.

Agora o leitor deve estar se perguntando: que carro é esse que vale tanto dinheiro e é capaz de criar um incidente internacional? Será que ele vale todo esse barulho?

Em uma palavra: vale.

Em 1919 a empresa fundada por León Turcat e Simon Mery, em Marselha, na virada do século, estava praticamente acabada. Um amigo dos dois, Henri Rougier, conhecido piloto e ciclista, toma conta da empresa e tenta reerguê-la, sem muito sucesso.

Nesta época é que foi criado o carro em questão. Na verdade, é um modelo único (designado como PJ), um verdadeiro supercarro dos anos 10 criado sob encomenda do riquíssimo Duque de Montpensier. Usou-se o chassi do modelo MJ de 4 cilindros (abaixo) extensamente modificado e nele montou-se um motor aeronáutico Lorraine-Dietrich de seis cilindros em linha e nove litros (pelas fotos e deslocamento, provavelmente um AM6 de 110 hp). A carroceria foi criada, também sob encomenda, na Million-Guiet de Paris (num endereço chiquérrimo: 55 Champs Elysées).

Como se não bastasse, o carro chega aos 90 anos em um estado invejável. Existem vários carros dessa época por aí, mas a vasta maioria deles já foi reformado pelo menos 2 vezes. Não este. É completamente original, unrestored. Mantém uma patina de época irresistível, coisa raríssima e deliciosa. O motor e a parte mecânica foi recuperada, para poder fazê-lo andar novamente, mas somente onde necessário. Vejam as fotos abaixo, tiradas do ótimo site http://www.turcat-mery.com/ (infelizmente, todo redigido somente em francês) e chorem. A mais interessante é a plaquinha do fabricante: Henri Rougier. Único carro da empresa que se tem notícia carregar este nome no lugar de “Ateliers Turcat-Mery”.

Não sei como este imbroglio vai acabar mas, se fosse minha a decisão o carro permaneceria com o dono atual, com a ressalva dele ter que enviá-lo para exposição na França (Louvre, perhaps?) de vez em quando. Não consigo imaginar um governo tomando conta de uma máquina tão fantástica como esta...
MAO