
Três anos atrás, quando fui ao lançamento do Logan, me surpreendi com seu design esquisito. Ao dar de cara com o carro, o achei desproporcional, e considerei estranho a Renault fazer aquele festão para comemorar a chegada de um rebento tão feio. Mas aí, aos poucos, fui gostando do carro. Muito espaço interno, enorme porta-malas e me encantei com a maciez da suspensão, além dela tem longo curso, o que o faz passar rápido por lombadas como poucos. Os motores, na época o 1,0 e o 1,6, ambos de 4 válvulas/cilindro, achei ótimos. Elásticos, bons de giro e suaves.
E para finalizar, ao pegar um táxi Corolla para ir para o aeroporto, constatei que o Logan tinha muito mais espaço para os passageiros de trás.
Achei que o Logan, ao final das contas, era um carro honesto e passei a gostar do carro, principalmente porque era barato para o espaço que oferecia, portanto um bom carro de família. Este aqui 1,6 8-válvulas, tem preço de tabela de R$ 32.690,00, exatos R$ 2.500,00 a mais que o similar em equipamentos com motor de 1 litro. Vale a pena pela maior elasticidade, mas com o 1-litro ele anda direitinho também.
Este ano ele recebeu uns retoques no design da traseira e dianteira. Pouca coisa. Quase não se nota. Pena que ainda não resolveram lançar a perua Logan, ou Logan SW como alguns preferem, porque seria muito útil.
Infelizmente, o entusiástico motor 1.6 de 16 válvulas não mais o equipa. Agora é 1.0/16V ou 1.6/8V, ambos flex. Veio pra mim o 1.6/8V, que gera 92 cv com gasolina ou 95 com álcool (5.250 rpm) e tem torque máximo de 13,7 mkgf com gasolina ou 14,1 mkgf com álcool (2.850 rpm). Creio que a Renault resolveu fazer esse motor para atender o Mercosul inteiro sem ter que alterar nada, então manteve a taxa de compressão em 10,1:1 para que rode também com gasolina pura. Tudo bem, mas isso significa que essa redução de custo para a fábrica terá um custo para o consumidor brasileiro, que é não atingir a potência, torque e economia que poderia atingir quando usando álcool puro, pois essa taxa é baixa para que haja o ótimo aproveitamento do álcool.
Bom de torque, elástico (aceita na boa pularmos marcha quando no plano), mas não tem aquele brilho em giro alto que o 16V tem, além do mais, o 16V disponibiliza mais potência que o 8V em qualquer faixa de giro, desde as baixas rotações. O 8V também me parece mais áspero e ruidoso. Não que ele seja ruim; é que o outro é muito bom.
Como carro urbano o Logan é excelente, principalmente devido à ótima suspensão, que absorve muito bem a buraqueira e passa a sensação de robustez, além de ser bonzinho de curva – quase neutro, sai pouco de frente – e ágil. O peso do volante é bom, não é excessivamente leve e tem a resposta correta. Os engates do câmbio são bons, levinhos e confiáveis.
O peso do freio também é bom, assim como o da embreagem, mas o do acelerador é chato, responde muito rápido ao primeiro toque, o que nos exige concentração para que evitemos tranquinhos quando em baixo giro em 1a marcha. Deveria ser mais progressivo. Como estradeiro, ele sente bastante os ventos laterais, que facilmente o tiram da rota. Pesa 1.040 kg, com 60% no eixo dianteiro. Nada mau para um carro de tração dianteira.
No lançamento achei que o carro daria um excelente táxi e passei a ficar de olho nisso, se passaria a vê-lo nessa utilidade. Acertei, pois ao lado de casa tem um ponto de táxi e hoje fui conversar com um taxista que dirige um Logan. Ele é um entusiasta do carro. O dele tem o motor de 1-litro e diz que é mais que suficiente, anda muito bem. E o dele já está com 176 mil km de nada de problemas. Disse também que a frota para a qual trabalha passou a comprar somente Logan. Bom sinal, sinal que o carro aguenta o trampo.
Mas o que todo veículo, incluindo aí caminhão e trator, deve ter é boa ergonomia para o motorista, e isso o Logan não tem. O banco é bom, os pedais estão bem posicionados, mas o volante só tem regulagem de altura. Não tem regulagem de distância, e isso numa viagem de mais de uma hora nos cansa ombros e braços, além de não conseguirmos nos posicionar de modo correto de pegada no volante. Para isso, temos que puxar o banco muito para a frente, o que faz com que encostemos o joelho direito no painel; que além de incômodo é perigoso, pois uma batidinha já mandaria nossa rótula pras cucuias.
Acho uma insensatez a Renault não atender esse quesito. Não que ela não saiba como fazê-lo, pois o Mégane tem essa regulagem de distância e ergonomia exemplar. Simplesmente não entendo.
Eu, por exemplo, dentre os pequenos hatches com motor de 1 litro, gosto mesmo é de dois carros: Clio e Novo Gol. De estabilidade entusiástica prefiro o Clio, mas se fosse para comprar um, escolheria o Gol, exatamente porque a ergonomia do Gol é excelente (desde que ele venha com o opcional de regulagem de posição do volante, coisa que o Clio não tem). Falta de boa ergonomia, pra mim, é um pecado imperdoável, pois é falta de cuidado para com o bem-estar do motorista, além do mais não custa nada fazer isso direito, só boa vontade.
Portanto, Renault, por favor, acerte essa ergonomia dos Logan, Clio e Sandero. Não custa nada.
AK