google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

O Stingray racer de 1959 de que já falamos aqui talvez seja realmente o Corvette dos Corvettes. Desenhado por Larry Shinoda e campeão da SCCA em 1960, foi também o Corvette que Elvis dirigiu em um de seus filmes.

Que o desenho de Shinoda foi realmente uma obra de arte, ninguém duvida. Em 1969, dois anos após Elvis ter dirigido o Stingray nas telas, um entusiasta resolveu construir réplicas do carro utilizando mecânica do C3.


Hoje em dia estamos inundados de informação por todos os lados, mesmo que poucos saibam o que fazer com ela. Não vejo nenhum problema nesta facilidade de se encontrar informações, muito pelo contrário, acho realmente saudável. Mas existem alguns efeitos colaterais: a história que vou contar hoje é de um carro fantástico, mas desconhecido a seu tempo; um carro criado para pessoas que detestam publicidade e portanto não teve propaganda ou divulgação alguma; uma verdadeira lenda sussurrada pelos entusiastas mais bem informados daquele tempo, como se fosse um segredo maçônico reservado aos mestres do mais alto grau; uma lenda. Coisa impossível hoje em dia...


O 5000GT criado por Frua para o Agha-Kahn

Tudo começou quando, no início dos anos 50, a Maserati resolveu desenvolver um novo V-8 para usar em competições de carros esporte, a ser lançado em 1955 ou 1956. Mas a catástrofe de Le Mans em 1955 (quando o Mercedes SLR de Pierre Levegh voou sobre as arquibancadas matando mais de 80 pessoas numa verdadeira carnificina nunca mais vista) fez que o grande V-8 fosse abandonado. Foi necessário que o milionário americano (na verdade um siciliano naturalizado) Tony Parravano demonstrasse interesse no V-8 para uso em Indianápolis para que o desenvolvimento fosse retomado.

O motor acabou por ficar fora do famoso oval de Indiana, mas apareceu no que se tornaria o mais brutal e ameaçador carro esporte de competição dos anos 50: o Maserati 450/S.



Criado pelo simples expediente de trocar o seis em linha de três litros do 300/S pelo novo V-8, o 450/S simplesmente era o mais veloz carro de sua época por uma boa margem, e só não teve mais sucesso porque quebrava muito (o pobre 300/S não estava acostumado com tanta força bruta). Interessante notar que até alguns Panoz aparecerem nos anos 90, este Maserati permanecia como o mais potente carro esporte de competição com motor dianteiro.

O motor é uma das obras primas desenhadas sob Giulio Alfieri: um V-8 todo em alumínio (fora as camisas semi-molhadas de ferro fundido, como o seis em linha do do 3500GT), duplo comando de válvulas no cabeçote acionado por um sofisticado trem de engrenagens, duas válvulas e duas velas por cilindro, em uma câmara de combustão hemisférica. Com quatro Webers de duplo corpo, e girando até 7.000 rpm, o motor debitava algo entre 400 e 450 cv em competição.



No ano de 1957, a empresa fez um cupê aerodinâmico baseado no 450/S, para competir na famosa (e veloz) prova de Le Mans. Desenhado pelo famoso aerodinamicista Frank Costin (depois famoso por ser o “COS” de MarCOS) e fabricado por Zagato, o carro teve atuação irrelevante na prova e foi aposentado.

Mas, numa daquelas interessantes reviravoltas do destino, foi avistado, encostado num canto da fábrica em Modena, pelo americano Byron Staver, em uma visita no ano de 1958. Staver pediu à fábrica que o convertesse para uso nas ruas, o que foi feito. O carro resultante era totalmente intratável e mal-resolvido como carro de rua, mas obviamente mais divertido que 10 supermodelos bêbadas num quarto de motel...



O primeiro 5000GT, de Touring, conhecido como "Xá da Persia"



Entra em cena então Sua Majestade Imperial Mohammad Reza Pahlavi, o Xá da Pérsia (país hoje conhecido como Irã). Para quem não sabe, o Xá, que seria deposto nos anos 80 pela revolução radical islâmica do Aiatolá Khomeini (criando um regime que perdura até hoje), era um entusiasta do automóvel de muito bom gosto, que amealhou uma das maiores e mais interessantes coleções automobilísticas de todos os tempos.

Pois bem, Sua Majestade era um dos primeiros compradores do Maserati 3500GT, e gostou muito da personalidade digna e civilizada deste primeiro carro da empresa desenvolvido para as ruas. Conversando com Alfieri, o assunto acabou passando pelo carro de Staver, cuja descrição muito interessou o Xá. Uma coisa leva a outra, veio uma ideia do monarca persa: seria possível colocar este motor, acalmado para o uso civilizado, num refinado 3500GT?

Nascia então o primeiro Maserati 5000GT. Dois carros foram inicialmente construídos, ambos com carroceria de Touring, um para ser mostrado no Salão de Turim em 1959, e outro para o Xá. Mesmo sendo esta primeira carroceria de Touring controversa (para dizer o mínimo, causou grande interesse no salão, e começou a se espalhar a lenda).

O modelo nunca esteve em catálogo, sendo fabricado somente sobre encomenda. Quase nunca apareceu na imprensa, especializada ou não, e nenhum comercial ou propaganda foi feita com ele. Apenas 34 carros foram fabricados em cinco anos a partir de 1959, e lista de compradores é impressionante: O dono da Lambretta, Fernando Innocenti (depois dono de uma marca de automóveis com seu nome), Briggs Cunningham, o Agha-Khan, Basil Read (dono do circuito sul-africano de Kyalami, que ficou com o carro do salão), Giovanni Agnelli (da Fiat), o presidente Adolfo Lopez Mateos do México e muitos outros.

Era simplesmente o mais veloz e mais caro carro de rua durante o tempo em que esteve em “produção”: chegava, com a relação de diferencial mais longa disponível, a 280 km/h, naquele longínquo ano de 1959. Cada um deles era virtualmente exclusivo, e mais de 11 carrocerias diferentes foram montadas nos 34 chassis.

E foi um carro relativamente fácil para se fazer: partindo do 3500GT, o chassi foi encompridado e reforçado, e ajustes em freios e suspensão foram feitos, mas era produzido largamente com os mesmos componentes do carro menor, inclusive o câmbio ZF e o eixo traseiro Salisbury. A única coisa realmente diferente era o glorioso motor de corrida.



Os primeiros dois carros receberam um motor pouquíssimo alterado em relação ao 450/S (acima). Basicamente, baixou-se a taxa de compressão de 9,5:1 para 8,5:1, e usou-se um comando menos agressivo, em conjunto a um diâmetro maior dos pistões (de 93,8 mm para 98,5 mm) resultando em 4.935 cm³ contra 4.477.9 cm³ do carro de competição. Debitava 340 cv a 5.500 rpm.

Os carros subsequentes foram ainda mais civilizados por um motor extensamente alterado (abaixo). Sumia a o trem de engrenagens que acionava os comandos, substituído por corrente. O diâmetro dos cilindros fora reduzido e o curso aumentado, para 94 x 89 mm, resultando em 4.941,1 cm³. Mas a mais importante modificação era a injeção de combustível: um equipamento multiponto Lucas inglês, mecânico. A potência baixou para 325 cv a 5.800 rpm, mas num motor bem mais civilizado e tratável.


As carrocerias são normalmente associadas aos donos dos carros: O primeiro, com carroceria Touring, é hoje conhecido como “Xá da Persia”. Três deles foram fabricados. O segundo, e mais comum (22 carros), é a carroceria de Allemano. Frua fez uma belíssima carroceria para o Agha-Khan, que acabou por ser a base estilística do Maserati Quattroporte de 1963. Dois 5000GT “Agha-Khan” foram fabricados, um para o próprio e o outro para seu arquiteto particular. O mais belo é talvez a criação de Ghia para Innocenti e Cunningham, abaixo.



Mas tudo isto sabemos hoje apenas; durante a sua época somente uns poucos sabiam da sua existência. Uma das poucas vezes em que apareceu numa revista especializada foi na Autocar inglesa de 30 de março de 1962, onde o repórter Bernard Cahier conseguia um passeio no carro destinado ao Sr. Innocenti. Ele atingiu 152 milhas por hora (243 km/h), e ficou absolutamente estupefato com o carro. A reportagem se chamava: “Maserati de 5 litros e injeção, somente por encomenda”.



Nas fotos acima e na primeira do post, o mais comum 5000GT: carroceria Allemano


Mas a mais interessante reportagem da época foi a breve descrição de um passeio ao volante de um “Xá da Persia” (talvez o terceiro carro produzido), escrito por Hans Tanner e publicado na revista inglesa Motor Racing, em fevereiro de 1960. É interessante porque além de descrever o carro, dá uma idéia para gente de como as coisas eram diferentes em 1960. Alta velocidade não era ilegal nem imoral, e o estado da arte do automóvel ainda era ditado por pequenas empresas perdidas no interior da Itália... E que um Maserati de rua é desde sempre um grã-turismo, como gostava Alfieri e seus aristocráticos clientes: veloz, mas sempre seguro, silencioso e tranquilo. Tanner andou com o lendário piloto de testes da Maserati, Guerino Bertocchi, uma pessoa que trabalhou com os irmãos Maserati antes da guerra, e permaneceu no mesmo posto por toda sua vida. Dizem que num 250F, o único mais rápido que Bertocchi era Fangio. Vejam que legal:

“- Devagar agora, ein Signor Bertocchi!! – disse o sorridente guarda no portão.
- Não se preocupe! - foi a resposta, e lá fomos nós, imediatamente atingindo 128 km/h em primeira marcha. Logo, o cinco-litros lá na frente estava quente o suficiente, e resolvemos tomar alguns tempos com o carro. Eu cronometrei o primeiro quilômetro a exatos 270 km/h, e o segundo a 278. Com um bocado de tráfego na estrada, e tendo que reduzir a velocidade para ultrapassar, nós fizemos uma média de 246 km/h de Modena até Bolonha, levando apenas seis minutos e cinquenta segundos para cobrir os 28 km. Lembrei que antes da Autostrada Del Sole, pela antiga Via Emiglia, eram 30 minutos em um carro normal...

Na volta, Bertocchi me avisou que ia tentar algo especial: existe na pista uma curva longa desenhada para ser feita a 200 km/h. Entramos nela a bem mais que isto, e ele acelerou ainda mais. Na saída da curva, chequei a velocidade: 250 km/h.

Se existe mais alguma coisa para falar sobre este fantástico carro, é que a estas velocidades são muito fáceis, tudo acontece na maior suavidade e silêncio. A 270 km/h o carro parece estar a 150. Meu único medo é que, nas mãos de um motorista menos habilidoso, isto se torne perigoso...”



O 5000GT com carroceria Bertone


O 5000GT, além de ser um grande carro, fabricado exclusivamente sob encomenda de milionários e nobres, selou definitivamente a personalidade da marca Maserati, intimamente ligada a seu engenheiro-chefe, o grande Giulio Alfieri.

Sob Alfieri, a Maserati se consolidou como uma marca diferente de supercarro italiano: enquanto Ferraris (e mais tarde Lamborghinis) eram para garotos, um Maserari é um Gran Routier por definição, um carro para adultos. Não é a toa que sempre foi mais caro que todos, e mesmo tendo desempenho inferior, sempre foi preferido por sua clientela exclusiva. Silenciosos, confortáveis, espaçosos, e com espaço para malas: adjetivos poucas vezes usados para um Ferrari, mas sempre num Maserati.

O 5000GT com carroceria Pininfarina

E o motor, o principal (e às vezes único, como já contei aqui) componente fabricado em casa, tem que ser um motor de corrida. O seis em linha (3500GT, Sebring, Mistral) tem suas origens no motor do 250F, um dos maiores carros de F-1 de todos os tempos, e com o qual Fangio se tornou imortal. E o V-8 do 5000GT, sem a dupla ignição, se tornaria o coração de todo Maserati de verdade. Quattroporte, Ghibli, Indy, Mexico, e finalmente a obra prima de Alfieri, o Bora. Até meados dos anos 80, você ainda podia comprar um Quattroporte com este V-8. Não era uma balela de algum publicitário sobre origens nas pistas, mas sim um autêntico motor de corrida dos anos 50 ali debaixo do capô. Se você olhasse de perto, provavelmente poderia ver até a marca no cabeçote, no lugar onde iam as segundas velas do 450/S...Quem mais poderia oferecer isso?


MAO

Já que engrenei neste assunto, em breve conto para vocês a história do Bora, e o motivo porque a Maserati morreu com este incrível V-8. Até lá!

Vejam o vídeo abaixo, são cenas do genial filme Grand Prix (1966).




A primeira imagem é um close no pneu de um dos carros. Reparem como eram os pneus de um Fórmula 1 nos anos 60 e pensem que já tinham seus 400 cv para acelerar (sem considerar que algumas cenas são de F-3 disfarçados de F-1, pois não é a questão).



Os pneus de um F-1 são talvez um dos itens mais críticos e menos notados, geralmente quando ouvimos os comentários sobre o "macarrãozinho" que deixou o carro mais lento. Mas são verdadeiras obras de arte da engenharia. Poucas vezes paramos para pensar o que eles representam, algo como a única forma de contato do carro com o solo, e que a área útil de contato cabe em uma folha de papel. Somando os quatro pneus...

Desde os tempos dos carros do filme, o pneus passaram por uma grande evolução. Reparem como o Lotus 49 abaixo ainda andava com pneus ranhurados, e a largura dos dianteiros e dos traseiros. Não é uma diferença tão grande assim, certo? Neste tempo, os carros trabalham em cima de suspensão e delicado controle direcional das rodas (variação de cambagem principalmente, e também de convergência), e menos em cima do pneu. Abaixo um pequeno vídeo da primeira corrida de F-1 com pneus slick, em 1971.



Alguns anos depois, em 1978, Carlos Reutemann venceu aqui no Brasil e foi a primeira vitória de um carro com pneu slick de construção radial. A foto do Ferrari 312 T4 abaixo, tirada ano passado em Sonoma, nos deixa bem claro que o pneu slick trouxe também os tempos do pneu quadrado (diâmetro similar à largura), uma sacada de Mickey Thompson em 1963 para a Indy 500 (pneus largos com perfil baixo).


Esse tipo de pneu foi usado por muitos e muitos anos, desde a época do 312 T4 e do McLaren M23 branco da foto. Mas junto com este tipo de pneu, foi necessária uma adaptação nos conceitos de suspensão. Com pneus mais largos, a variação de cambagem deve ser mínima, pois caso ela ocorra, boa parte da banda de contato do pneu com o solo será eliminada, perdendo assim o propósito do pneu mais largo.


Pela foto do M23 vemos que a lateral do pneu ainda não muito rígida, pois é visível sua deformação lateral, e em uma curva não tão veloz assim. A lateral do pneu trabalhava mais em compressão, o que também permitia um aumento na área de contato com o solo. E outro fato é que nesta época os carros já utilizavam os efeitos de downforce, aumentando a carga normal do pneu. Nota-se a grande diferença entre as medidas dos pneus traseiros e dos pneus dianteiros, indício que a estabilidade traseira era inferior, e era preciso de mais área de contato do pneu para compensar a diferença, além da capacidade de tração.


Mais um pouco adiante, na era dos motores turbo, os pneus ainda seguiam a mesma receita, com uma diferença grande entre a largura dos pneus traseiros e dos dianteiros. Mas já era um pouco menor a diferença, como no Williams FW07 da foto, também de Sonoma do ano passado. Novamente, é uma prova que os carros estavam ficando mais equilibrados, e a aderência dianteira conseguia ser mais compatível com a traseira. Os pneus começaram a ficar mais baixos no seu perfil, com os ombros mais "retos", ou menos arredondados. Assim, a lateral dele era mais firme e a deformação era menor, deixando o carro mais imediato em respostas de volante. Voltando a lembrar que estes anos foram os principais em efeito solo e o carregamento vertical dos pneus era cada vez maiores.


Um pouco depois, em 1993, o William FW14B, talvez o carro mais avançado de todos os tempos com sua suspensão ativa, andava com pneus muito similares em termos de medidas, com um pequeno aumento na diferença entre o traseiro e o dianteiro, mas ai que os pneus começaram a ficar mais altos.


De alguns anos para cá, não houve muita mudança, mas já é bem claro que os carros ficaram muito equilibrados, pois a diferença entre os pneus dianteiros e traseiros é muito menor, tanto na largura como no diâmetro. Curiosamente, as rodas ficaram cada vez menores, atualmente de aro 13 polegadas, e os pneus com perfis bem mais altos. A lateral deles é muito firme vertical e lateralmente, mas o alto ombro é usado como parte da deformação da suspensão, quem tem curso mínimo. No vídeo de câmera super rápida deste link podemos ver quanto o pneu distorce lateralmente nas zebras, o que não vemos a olho .

Na temporada passada, os pneus voltaram a ser completamente lisos, sem os sulcos para reduzir a área de contato. O carregamento aerodinâmico é muito alto, e o esforço exercido nas paredes do pneu são extremos. A evolução do composto da borracha é um caso a parte, muito mais complexo e que merece um post próprio.


De fato, os pneus são um caso a parte na F-1, e que evoluíram muito com o passar do anos. Junto com eles, todo o conceito de construção dos carros foram ditados ano após ano, definindo o funcionamento de todo um conjunto que é a obra de arte da engenharia de competição.

Que fique bem claro: não tenho nada contra a marca sul-coreana Hyundai. Pelo conrário, são carros excelentes, de nível mundial. Ainda não dirigi "a nova sensação da Hyundai", o i30, mas desconfio que seja ótimo. Mas o que não dá para engolir é a enxurrada de mentiras veiculadas em anúncios pelo importador oficial Caoa.
Pior ainda é quando a mentira é burra. Dizer que "o melhor do mundo é também o melhor do Brasil" é de uma burrice inominável, já que o mundo inclui o Brasil. Ou não?
Se fosse ao contrário ainda seria admissível, "o melhor do Brasil é também o melhor do mundo". Mas, fora isso, quem é Quatro Rodas para afirmar ser o produto o melhor do Brasil? Pode dizer que é o carro do ano, a escolha dos leitores, da redação ou citações do tipo, mas nunca se imbuir da autoridade para outorgar títulos de melhor do país. Terá a Caoa distorcido a opinião de Quatro Rodas em seu favor?
BS