Um automóvel está parado em um cruzamento qualquer, quando o semáfaro lhe dá sinal verde. Ele acelera e ganha velocidade. Velocidade e massa significam energia cinética, e num automóvel com motor convencional energia cinética gerada significa combustível queimado.
Quando chega no próximo sinal fechado e tem de parar, o motorista aciona os freios, que transformam a energia de movimento em calor inaproveitável, e o automóvel terá de consumir novamente outra quantidade de combustível para voltar a ter a mesma quantidade de energia cinética que tinha antes de frear.
Não é difícil calcular que qualquer automóvel convencional desperdiça uma quantidade enorme de energia para se mover, e junto emite muito carbono. Em tempos de aquecimento global, onde o consumo de petróleo é apontado como um dos vilões, esse desperdício é difícil de justificar.
E assim como é para carros convencionais, também o é para a principal categoria automobilística: a Fórmula 1. E nela, as mudanças serão significativas a curto e médio prazo.
Para o ano que vem haverá novas regras para o pacote aerodinâmico, a volta dos pneus slick, o desenvolvimento dos motores está congelado e eles ainda terão de resistir a três provas no lugar de duas, como foi no campeonato deste ano. Há ainda a previsão de que em 2013 os carros sejam híbridos.
Dentro deste cenário, a FIA (Federação Internacional do Automóvel) abriu a possibilidade do uso de um dispositivo chamado KERS.
O KERS (em bom português, Sistema de Recuperação de Energia Cinética) não é uma tecnologia específica, mas qualquer tipo de dispositivo que consiga acumular energia cinética durante a frenagem e recuperá-la na reaceleração. Ele é considerado um sistema de transição para os futuros carros totalmente híbridos.
O regulamento especifica que o dispositivo deverá armazenar até 400 quilojoules durante as frenagens, capaz de gerar com esta energia até 80 cv por 6,67 segundos durante a reaceleração. Dois sistemas estão sendo desenvolvidos, sendo um elétrico e outro mecânico.
O KERS não é obrigatório, mas dadas as limitações no desenvolvimento dos motores é a alternativa viável para o aumento da potência disponível. Mas nem tudo tem sido um mar de rosas para o KERS e as equipes.
As tecnologias são novas e não foram provadas. As equipes ainda estão aprendendo a lidar com elas e enquanto os sistemas elétricos vêm apresentando problemas com as altas tensões geradas, os sistemas mecânicos têm apresentado problemas de confiabilidade. Dado que o conjunto do KERS ocupa um certo volume e tem uma massa significativa e precisa ser instalado num local bem específico do carro (ambos os sistemas vão acoplados diretamente ao diferencial), as equipes terão de lidar com interferências no desenho aerodinâmico e na distribuição de peso.
Questões de confiabilidade e de estabelecer estratégias sobre como reaproveitar essa energia a cada pista irão criar muitas variáveis neste campeonato.
Caro leitor, se me permite um conselho, refaça seu estoque de milho de pipoca. As perspectivas para este campeonato são de muita diversão e boas surpresas.