
Muitas coisas convergem a um ponto e parecem coincidências, e o escritor e aviador Richard Bach escreveu que "nada ocorre por acaso". Meu final de semana e um texto que recebi do Marco Molazzano são dois acontecimentos que se encaixam nessa categoria das coincidências que não ocorrem por acaso.
O texto, na verdade o link para que eu o lesse, foi publicado no site Edmunds.com. O colunista intitulado "The Mechanic", discorre sobre a falta de habilidade dos motoristas americanos. Característica similar a dos brasileiros, apenas com alguns comportamentos diferentes, já que o meio determina o motorista.
The Mechanic fala sobre o quanto as pessoas conversam e debatem sobre modificar carros para que eles andem mais rápido, e diz que seria muito melhor investir em um curso de pilotagem, aprendendo a extrair mais do carro na condição original.
Ponto de vista interessante, e compartilhado por muita gente boa que fez um curso desses. Aliás, não é apenas curso de pilotagem, visando corridas. Qualquer curso onde se aprenda a andar com mais atenção, onde se aprende a entender e sentir melhor o veículo, contribui para que se consiga conduzir mais rápido que o normal, e com segurança aceitável, já que segurança plena não existe em nenhuma atividade humana.
Neste texto, de ótimo humor, The Mechanic diz que o pai dele, The Mechanic Sr, sempre disse que "todo mundo é rápido nas retas".
Isso cai como uma luva quando se conhece as estradas que ligam São Paulo a Santos e região, a Anchieta e a Imigrantes, a Anchieta sendo a que utilizei nesse final de semana.
A Rodovia Anchieta, antiga e tradicional, é daqueles traçados entusiasmantes em seu trecho de serra. Curvas apertadas, uma delas ao menos bastante perigosa, com raio maior na entrada que na saída, quase uma parabólica. É conhecida como Curva da Onça. As demais, tanto na subida quanto na descida, são normais, não requerendo nenhuma habilidade de piloto de rali. Requerem sim, atenção, algo em falta nos motoristas normais.
Existem lombadas eletrônicas em alguns pontos, mas eu diria que é o preço a pagar pelo parque de diversões. E servem para exercitar a precisão de frenagem, diminuindo a velocidade tentando passar por elas na velocidade exata permitida. Não 20 km/h abaixo, como faz a maioria.
Já a Imigrantes, que nasceu projetada com uma pista para subir e outra para descer a serra, existia apenas pela metade, pista de subida, há mais de 30 anos (inaugurada em 1976). A pista nova, de descida, foi aberta em novembro de 2002, pista pela qual não me interesso. Usei-a uma vez para conhecer, e pretendo nunca mais precisar dela. Trata-se de uma sucessão de retas e túneis, com curvas de raio enorme, 4 faixas de rolamento, e velocidade máxima de 80 km/h. Conforme o Bob Sharp
já nos informou, foi projetada para 110 km/h. E, claro, forrada de câmeras de policiamento de velocidade, aquelas feitas para arrecadar e garantir orçamento de prefeituras e organizações inúteis afins.
O que ocorre é que a maioria dos motoristas prefere uma estrada larga, cheia de faixas, com poucas curvas, pela maior sensação de segurança e possibilidade de escapar de problemas, já que é difícil ocorrer um acidente que bloqueie 4 faixas.
Quando me encaminhei ao litoral na sexta-feira passada, próximo ao pedágio, o aviso eletrônico dizia: " CARROS E MOTOS, MELHOR OPÇÃO: IMIGRANTES".
Como não iria optar pela Imigrantes, exceto se a Anchieta estivesse interditada, não deu outra: entrei direto na Anchieta, e desci toda a serra em não mais de 13 minutos, tranquilo, sem excessos absurdos e encontrei apenas 3 caminhões.
No retorno, domingo a noite, mesma ladainha, com uma placa antes da bifurcação Anchieta-Imigrantes, proibindo os caminhões de utilizarem a Imigrantes. Optei novamente pela Anchieta, e de novo encontrei poucos caminhões, não mais de 10 em todo o trecho de subida da serra. Claro que tive que diminuir a velocidade para esperar alguns carros que ultrapassavam outros, mas mesmo assim não ficamos parados, como ocorreu com nossos parentes, que escolheram a Imigrantes e encontraram congestionamento após a serra. Nem gosto de imaginar como foi a subida deles: 50 ou 60 km/h atrás de carros lentos, que insistem em andar na esquerda e na faixa 2, nunca nas faixas 4 e 3, como deveria ser sempre. Já passei por isso, e nada é mais enervante que aqueles carros que são torturados pelos seus condutores, e sobem a serra em quinta marcha, sem nenhuma capacidade de aceleração. Sem contar que ainda existem aquelas amebas que buzinam nos túneis. Na Anchieta, isso não ocorre, pois o motorista precisa prestar mais atenção, e a buzina fica esquecida.
Como nosso blog tem leitores seletos, peço para que vocês não espalhem essas constatações que fiz. Vamos aproveitar apenas nós, os autoentusiastas, uma estrada que ainda permite um nível mínimo de prazer.
JJ