
O site da extinta divisão da General Motors mostra moldelos 2009, tem links para a área de serviços, para carros usados e para eventuais substitutos dentro da GM. Alguns substitutos são um pouco fora do orçamento de quem comprava os Saturn mais baratos, como sugerir um Cadillac para quem anda de Saturn L-series, por exemplo.
A data certa da morte pouco importa. Mas em 5 de junho de 2009 foi anunciado que estava em andamento uma tentativa de negociação da marca entre a General Motors e Roger Penske. Esta é a última notícia no excelente site de Informações para a Imprensa da General Motors, de onde tiramos as fotos que ilustram esse texto. Em setembro de 2009 era anunciado que não haveria negócio, e a marca iniciava sua desativação.
Este lacônico fim pode ter sido causado principalmente pelo direcionamento que foi dado uns anos atrás, de modificar os produtos GM para que eles atendessem o gosto da maioria dos compradores. A GM sofria muito, principalmente nos interiores de seus modelos, em quase todas as divisões. Muitos eram, além de efetivamente mal-acabados, de gosto e aparência duvidosos.
O direcionamento de maior luxo, conteúdo e aparência mais agradável à maioria (sempre ela!) talvez não tenha funcionado para a Saturn, uma divisão criada com o objetivo de ser uma GM diferente.

Painel de instrumentos do Vue. Sem excessos.
Desde a primeira fábrica em Spring Hill, cidade com vinte e três mil habitantes no Tennesse, moderna e com muita natureza em volta, até o uniforme dos vendedores das concessionárias, bermuda e camiseta em locais de clima quente, tudo na Saturn era mais descontraído, mais simples, em comparação ao padrão de desejo do consumidor americano médio.
Pesquisas de satisfação mostravam que os carros nem eram muito bons, principalmente nos primeiros anos, de 1990 a 1995, mas o serviço do concessionário deixava o cliente satisfeito. Algumas inovações de engenharia desenvolvidas pela General Motors eram trazidas para o mercado através da divisão Saturn, que não seriam possíveis dentro de uma Buick, por exemplo. Uma delas foi o SC2 de 1999, um cupêcom porta traseira "suicida", sem coluna "B" (central), como em algumas picapes de cabine extendida. Esse conceito foi empregado também no Ion, sucessor do SC2.

SC2, lançado em 1999.


Se pode parecer simples, imagine que nessa época já haviam leis de impacto lateral que os carros novos deveriam atender. Em um carro sem a coluna "B", onde se fixam as portas traseiras, isso não é nada fácil.
Uma outra inovação, e que deveria ser adotada por mais empresas, foram os painéis externos das portas em plástico. Já falamos deles aqui, e não existe melhor solução para evitar o prejuízo daqueles ridículos amassados de batidas de portas do vizinho. Infelizmente, solução morta mesmo dentro da General Motors, hoje. Um desperdício de tecnologia e conhecimento adquirido, e o fim de um diferenciador de mercado.
Apesar de ser considerada como uma marca de pouco valor e não muito desejável, produziu ao menos um carro bastante interessante, com desempenho muito bom, que nem é um cupê ou sedã, por isso mesmo notável. Trata-se do Vue Red Line.
De 2004 a 2007, em uma parceria com a Honda para fornecimento de trens de força, a GM fabricou o pequeno utilitário esportivo Vue como os motores V-6 de 3,5 litros, batizado de L66, com 253 cv, acoplados a uma caixa automática de 5 marchas, também da Honda.

A linha Red Line era o nome utilizado para os modelos de tendência esportiva, que, somados aos carros bastante básicos da Saturn, resultavam em soluções atraentes. O negócio com a Honda era bem fora dos padrões GM, e aproveitou-se a única marca fora desse padrão para fazer a experiência. Elogiados quase que unanimemente, ninguém poderia dizer que um motor Honda não iria melhorar a imagem do carro.
Custava 28 mil dólares no lançamento, bastante caro, mas era um produto diferenciado nessa faixa de utilitários esportivos de pequeno porte. Com tração integral opcional, acionada automaticamente pela perda de aderência da tração dianteira, o Vue Red Line é excelente para dirigir, e hoje, a menos de 10 mil dólares por um bom exemplar, uma grande barbada para quem gosta desse tipo de caixote de carregara tralhas com um desempenho e dinâmica decentes.
Sobre o desenho, ou o estilo, esse Saturn e todos os outros sempre foram polêmicos. Coerente com a proposta da marca, de ser simples e sem frescuras, eu o classificaria como mais um carro inconfundível, daqueles com "carronalidade".



O Vue vai a 60 mph (96,5 km/h) em 7 segundos e uns trocados e faz o quarto de milha em pouco mais de 15 s. O comportamento e a estabilidade, segundo as avaliações de revistas, estava muito mais próximo de sedãs esportivos do que o normal dos SUVs.
A direção rápida era a característica mais diferente em relação às "peruonas" de família. Para nós, essa é a característica que mais o faz carro de entusiasta, pois em utilitários normais, a direção é sempre muito desmultiplicada, levando a um excesso de voltas de batente a batente, tudo projetado de modo a não permitir que o motorista balance o carro de forma rápida de um lado a outro, passando uma maior sensação de segurança contra capotagens. Um caso típico de antientusiasmo que não acontece no Vue Red Line.
Em 2008 o Vue mudou completamente, ficando quase idêntico ao Chevrolet Captiva que temos aqui no Brasil, excessivamente luxuoso para um Saturn. Passou a ser mais um Chevrolet com emblemas diferentes.
Perda de identidade da marca Saturn, que sem dúvida contribuiu para o seu desaparecimento.
JJ