Com mais de um século de evolução, o conceito de automóvel pouco mudou. Desde os tempos das carruagens até hoje todos os automóveis de massa possuem quatro rodas. E é através dos pneus que os carros fazem a interface com o planeta Terra.
Porém, apesar de toda evolução tecnológica dos automóveis, os pneus tem evoluído de maneira muito tímida. Inventado em 1846, a primeira evolução significativa só ocorreu em 1946 com o surgimento dos pneus radiais. Em 1958 surgiram os primeiros run-flat, que rodam sem estar cheios de ar, e em 1968 nasceram os pneus de perfil baixo.
Como sabemos, o pneu é um componente vital que influencia toda a dinâmica do automóvel. Um pneu descalibrado pode alterar significativamente o comportamento dinâmico e o consumo de combustível. A escolha de um pneu pode definir o resultado de uma corrida ou definir a pole position, como o Bob nos contou no post "Cantando na chuva".
Ou seja, chassi ótimo com pneu errado é igual a carro ruim. As evoluções mais recentes estão no composto da borracha, ou em tudo que não é borracha que é adicionado à sua fórmula. O desafio é diminuir a resistência ao rolamento sem diminuir a aderência, um grande paradoxo a ser vencido.
Em posts recentes falamos sobre geometria de suspensão: "Ângulos e seus efeitos" do Bob Sharp e "Cambagem positiva" do Milton Belli. O assunto é bom e não há como deixar o pneu de fora da equação.
Então um americano dono de uma revenda de automóveis, ao observar a cambagem excessiva das rodas traseiras de um carro completamente carregado, resolveu desenvolver um pneu com perfil assimétrico. Ou seja, um pneu com paredes laterais com alturas diferentes entre o lado externo (mais alto) e o lado interno, criando assim o que ele chamou de camber tire, ou pneu com cambagem. Nesse caso com cambagem negativa.
Foto: Automobile
Um dos efeitos da cambagem negativa é a melhoria significativa na estabilidade em curvas. Mas, por outro lado, quanto mais acentuada a cambagem, mais diferente é o desgaste da banda entre o lado interno e o externo do pneu, uma vez que o contato com o solo diminui no lado externo. Então normalmente se utiliza ângulos discretos de cambagem e se melhora a estabilidade direcional em linha reta com a convergência. Porém a convergência também tem desvantagens, pois gera aumento da fricção (escorregamento) do pneu com o solo mesmo em linha reta, aumentando o desgaste e o consumo de combustível.
No Mille Economy a Fiat reduziu ao máximo tanto a cambagem quanto a convergência justamente para diminuir o consumo de combustível.
Com o pneu com cambagem não é necessário nenhuma convergência nas rodas e a cambagem é obtida através do próprio desenho do pneu, com a vantagem da banda ficar sempre paralela ao solo melhorando a aderência, principalmente em curvas, e diminuindo o desgaste irregular da banda.
Além disso também diminui o consumo e, de acordo com testes com protótipos, o trabalho da suspensão melhorou, deixando o veículo testado bem mais confortável. Com o desenho assimétrico, durante curvas fortes também se diminui a tendência do pneu a dobrar forçando o seu desprendimento da roda, o chamado destalonamento.
A Goodyear já está testando pneus com cambagem na Nascar em circuitos ovais e com curvas em nível em substituição a ajustes de cambagem assimétricos na suspensão, que também são feitos na Indy.
A novidade foi patenteada e continua sendo desenvolvida. Para atingir uma escala comercial, seu inventor quer licenciá-la para algum grande fabricante que ajude a finalizar o desenvolvimento.
Depois há o trabalho de convencimento dos fabricantes de automóveis para adotar o pneu com cambagem em carros de passeio.
Pode ser que esse seja o próximo grande passo no desenvolvimento de pneus.
PK