google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Quem acompanha este blog vai se lembrar do post em que comentei que Ferry Porsche nasceu no dia 19 de setembro de 1909. Em outra grande coincidência na história da GM e da Porsche, pesquisando para este post descobri que Edward Nicholas “Ed”Cole da GM nasceu exatamente dois dias antes, em 17 de setembro de 1909!

O fato de que o aniversário deste humilde escriba ser comemorado ao dia 18 de setembro também provou ser uma coincidência incrível. Faz nos pensar que, como dizia Einstein, existe algum plano por trás de tudo, e que “Deus não joga dados com o Universo”.

Ed Cole foi fruto de um mundo diferente do nosso; um mundo mais duro e com infinitamente menos facilidades, mas que produzia pessoas incrivelmente talentosas e com o pé no chão. A este tempo, pessoas achavam uma vocação e a seguiam, não importando a dificuldade.

Cole, filho de um fazendeiro de Michigan, desde cedo mostrou aptidão para Engenharia, e quando pré-adolescente, construía rádios e os vendia. Outro exemplo do tipo de vida que estas pessoas levavam está em seu futuro concorrente a presidência da GM, Semon E. “Bunkie” Knudsen. Apesar de, ao contrário de Cole, ter um pai bem sucedido na vida (“Big Bill” Knudsen, presidente da GM, e depois responsável por toda produção industrial americana durante a Segunda Guerra Mundial), ao pedir um automóvel como presente de aniversário de 15 anos, recebeu enormes caixas de peças do pai. Se quisesse o automóvel, teria que construí-lo... O valor do trabalho era ensinado cedo, a todos.

Ed Cole foi em minha opinião o mais importante executivo da General Motors depois do criador Alfred Sloan. Bem informado e interessado em novas tecnologias, e um incansável defensor da excelência da Engenharia como motor de uma indústria de automóveis, foi um dos maiores responsáveis pela era de ouro da companhia.

Cole foi um dos responsáveis pelo motor Cadillac V-8 de 1949, que selou a configuração básica do V-8 americano que perdura até hoje; fez esta configuração se tornar uma obra-prima em seu Chevrolet small-block V-8 de 1955; contratou Zora-Arkus Duntov e garantiu que o engenheiro russo tornasse o Corvette um carro esporte de verdade.

Mas apesar disso, foi pego e um mundo que mudava muito rápido. Durante os anos 60, a contra-cultura iria mudar radicalmente os valores da sociedade, ao mesmo tempo em que os advogados americanos criavam uma cultura de litígio que mudaria a indústria para sempre, afetando profundamente a cultura de inovação de sua companhia.

Em 1959, Cole, então gerente geral da Chevrolet, lança o Corvair. O carro era uma revolução total entre os carros americanos: monobloco, motor totalmente em alumínio, seis cilindros contrapostos traseiros, refrigerados a ar, suspensão independente nas 4 rodas. O carro foi aclamado pela imprensa, e Cole acabou na capa da Time, junto de seu incrível novo carro. Os anos 60 começavam, com a GM (e presumidamente, a América) na vanguarda.

Mas o Corvair esbarraria no conservadorismo do consumidor americano, e em Ralph Nader. Em seu famoso livro “Unsafe at any speed”, Nader se torna um paladino do novo jeito americano de ser, onde todo e qualquer mal que aconteça a uma pessoa que esteja usando um aparato produzido por alguém, não é culpa do usuário (ou obra do destino), e sim da companhia que produziu o tal aparato. E um exército de novos advogados estaria pronto para fazer as ditas companhias pagarem um preço por tamanha irresponsabilidade, por uma quantia módica, é claro.

A GM, obviamente, ficou ultrajada com as acusações de Nader e respondeu a elas na justiça. Ao final foi absolvida de qualquer culpa nos acidentes supostamente causados pelos Corvairs assassinos, mas aí o estrago já estava feito. O carro de Cole se torna mais famoso por ser “inseguro” do que por ser um tour-de-force tecnológico, e desaparece lenta e tristemente. Legislações de segurança passiva não tardariam a aparecer nos EUA.

É engraçado notar que todos criticam a GM por ser conservadora, mas se esquecem que ela foi forçada ao conservadorismo pela sanha do povo americano em achar um bode expiatório para tudo que acontece com qualquer pessoa. Quando a indústria americana se tornou responsável por tudo que possa acontecer com as pessoas dentro de seus carros, o conservadorismo foi a reação natural. É fácil colocar a culpa de tragédias pessoais em corporações sem face, e não em sua própria incompetência, ou nos desígnios do destino. Ainda mais com a possibilidade de indenizações milionárias pairando no ar.

Interessante notar também que ninguém nos EUA nunca pensou em processar a VW, que antes e depois continuou a vender fuscas por lá...

Foi aí que Cole resolveu criar outro carro pequeno excepcional, mas seguindo o padrão americano de motor dianteiro e tração traseira para evitar todo este embroglio.

Mas o mundo permanecia mudando, e rápido, naqueles idos de 68-70. Emissões de poluentes seriam em breve controladas por legislação; os árabes fariam embargos de petróleo e o mundo ficaria tenso com a possibilidade de ficar sem o ouro negro. A contra-cultura chegava a seu auge, com hippies, Woodstock, Hair, e John e Yoko pelados na televisão. Imagens horrendas da guerra do Vietnã invadiam as casas de todo mundo.

A General Motors, maior e mais poderosa do que nunca, se tornaria arrogante e se imaginaria invencível. E seu próprio tamanho, suas milhares de camadas gerenciais e a consequente difícil comunicação entre eles começavam a atrapalhar o andamento da empresa. Cole toma a iniciativa de unificar a engenharia em um único departamento central, e diminuir as engenharias independentes das divisões, obviamente respondendo ao próprio Cole. Iniciou-se um projeto ambicioso para criar o novo sub-compacto da GM em apenas 24 meses.

Este carro se tornaria um ícone, um exemplo a ser usado, de um projeto perfeito pessimamente executado. E como era um megaprojeto, involvendo fábricas novas, novos sistemas de projeto, transporte e fabricação, e um carro totalmente novo preparado para tal coisa, seu fracasso foi terrível para o General. Ao seu lançamento em 1970, a General Motors ao mesmo tempo chegava ao seu auge por conseguir o monumental feito de fazer um projeto deste tipo acontecer, e iniciava sua inexorável viagem ao fundo do poço pela inabilidade para executar o pretendido em alguns pontos cruciais.

O carro foi o primeiro a ter sua superfície externa totalmente desenvolvida por computadores, dentro do estúdio de design, para que depois pudesse ser trabalhado diretamente na engenharia de carroceria. Simulações por computador também ajudaram os engenheiros a projetar os vários sistemas mecânicos, de forma a diminuir o tempo de projeto. Hoje coisa corriqueira, era coisa de ficção científica então.



O carro em si era totalmente novo. Um motor de bloco de alumínio sem camisas foi desenvolvido em conjunto com a empresa Reynolds Aluminium, e contava com comando de válvulas no cabeçote, 4 cilindros em linha e 2,3 litros de deslocamento volumétrico. Estranhamente, seu cabeçote era em ferro fundido.



Baixo, largo e com o motor recuado, tinha uma distribuição de peso perfeita, para se tornar um carro de estabilidade excepcional para a categoria. Monobloco, mas com motor dianteiro e tração traseira, o carro projetado no tubo conseguiu uma redução de número de peças incrível: usava a metade da média americana vigente. Era também leve para os padrões americanos: 1.100 kg.

Uma enorme e nova fábrica foi criada para ele em Lordstown, Ohio. Nela, robôs e novas técnicas de produção abundavam. A então nova técnica de pintura por imersão (ELPO) foi usada pela primeira vez na pintura, e prometia uma resistência a corrosão inédita. Até o transporte era revolucionário: os carros seguiam em pé em vagões especiais, o que exigiu uma série de interessantes soluções de engenharia, visto que o carro seguia com todos os fluidos para as concessionárias. Chamado de Vert-a-Pack, possibilitava o transporte de 30 carros por vagão ao invés dos 18 tradicionais.




Lançado com a marca Chevrolet e o nome da estrela mais brilhante da constelação de Lira, Vega, o carro foi um sucesso imediato de público e crítica. Ganhou vários prêmios, entre eles o de Carro do Ano. A imprensa americana se deliciava principalmente com a economia e a ótima estabilidade. Realmente um carro perfeito para seu tempo, totalmente competitivo e excelente, e criado em tempo recorde.



Daí vieram os problemas. Os testes do banho de ELPO falharam em notar bolhas de ar que se formavam em alguns cantos da carroceria (notadamente, mas não apenas, no para-lama dianteiro). Essas bolhas criavam pontos de corrosão, que apareciam em menos de um ano: uma catástrofe na imagem do carro.

E o pior ainda estava por vir. Ansioso por tornar a fábrica de Lordstown, então a mais moderna do mundo, em um exemplo de eficiência, John DeLorean (então presidente da divisão Chevrolet) imprimiu uma velocidade de produção nunca antes vista: um carro a cada 36 segundos. Os jovens funcionários da planta, incapazes de acompanhar a velocidade da linha (ninguém conseguiria, por mais duro que trabalhasse), e vindos de uma geração que já não aceitava mais autoridade como as anteriores, se revoltaram com a empresa e seus representantes (UAW) da maneira mais devastadora possível: começaram a deixar de montar um parafuso aqui, uma porca ali e assim por diante. A GM, desacostumada a este tipo de coisa, aumentou a pressão demitindo ou suspendendo centenas deles, criando uma bola de neve incontrolável. Carros para retrabalho se amontoavam no pátio, e evidentemente apresentavam um sem-fim de problemas nas mãos dos compradores finais. Outra catástrofe irreversível. Uma longa greve por fim estourou, causando ainda mais prejuízos.

Some-se isso a falhas na novíssima técnica de fundição de blocos de motor em alumínio sem camisas, que causavam falhas prematuras no motor, substituídos em garantia a custos astronômicos, e se tem um carro que até hoje é apontado como péssimo pelos americanos, apesar de todas as suas interessantes características.




O fracasso do Vega foi o ponto de inflexão da GM. Como era o segundo carro a frente de seu tempo que fracassara fragorosamente, novas tecnologias se tornariam tabu na companhia. Cole e DeLorean em breve deixariam a empresa devido a este carro, e o General perdeu todo seu entusiasmo e pujança; a partir dali seguiram-se décadas de veículos projetados por gente preocupada apenas e somente em quanto lucro o carro geraria.

O VEGA COSWORTH




DeLorean, sempre um fã dos ingleses e europeus, e percebendo que o Vega seria uma perfeita fundação para um carro esporte moderno, pediu para que seus engenheiros conversassem com a Cosworth inglesa com vistas a usar o bloco de alumínio do carro em um motor de competição.

A ideia do motor de competição logo seria abortada, mas em vista dos problemas enfrentados pelo carro após o lançamento, DeLorean resolveu criar um carro de rua para criar imagem, algo como um BMW americano, e assim tentar reverter de alguma forma a situação. O paralelo com o Corvair é inevitável: o carro fracassara como carro “normal”, mas talvez, devido às excelentes características dinâmicas, poderia ter uma sobrevida como esportivo.

Um cabeçote de duplo comando e 4 válvulas por cilindro foi desenvolvido, todo em alumínio. O curso dos pistões foi reduzido, para facilitar altas rotações, reduzindo o deslocamento para 2 litros. Em 1972, o motor estava rendendo 185 cv em dinamômetro, e as coisas pareciam que andavam bem.




Mas naquele tempo antes do controle eletrônico total dos motores, e o início das legislações anti-poluição, os engenheiros americanos e ingleses lutavam em vão para manter a potência e homologar o carro. A taxa de compressão baixava continuamente dos originais 12:1 para 10:1, seguindo-se 9:1 e finalmente os 8,5:1 do lançamento, em 1975.

Acabou como mais um exemplo da incapacidade dos americanos de lidarem com o novo mundo. Com esta taxa, e adoção de injeção eletrônica e amordaçado para não poluir, o carro debitava apenas 110 cv. Sua aceleração era melhor que os Vegas normais, mas ainda assim, letárgica para padrões atuais e apenas aceitável para os da época: coisa de 10 segundos para atingir 100 km/h.

Os donos desses carros desde então descartaram a parafernália anti-poluição; descartaram a injeção em favor de dois Weber duplos, e usaram os pistões “de competição” que a Chevrolet vendia em concessionária para aumentar a taxa para os originais 12:1.

Desta forma, conseguem um carro como a GM gostaria de ter lançado, entregando mais de 200 cv e fazendo uso das suspensões e freios melhorados desta versão.

Apenas 3 mil Cosworths foram vendidos, e por um motivo muito simples: custavam pouca coisa a menos que um Corvette, e era o segundo mais caro carro da General Motors em 1975.

Como o carro do qual derivou, era um carro a frente de seu tempo; carros como o 190E 2.3-16 e o Ford Sierra Cosworth são exemplos de idéias similares que deram muito certo, dez anos depois do Vega.




Nos seus últimos anos de GM, Cole se dedicou ao futuro, como sempre. Determinou que todos os motores baixassem suas taxas de compressão para que consumissem gasolina sem chumbo, e assim pudessem usar catalisadores de escapamento, equipamento que ele sempre advogou como a solução das questões de emissão de poluentes. Um ano depois de sua partida, todos os carros da GM passaram a usá-lo.

Trabalhou também no desenvolvimento de bolsas infláveis (airbags), e em injeção eletrônica. O homem trabalhava no futuro, mas sua companhia não mais.

Cole viria a falecer em um acidente aéreo, pilotando seu Beagle 206, na cidade onde nascera, apenas três anos após se aposentar da General Motors. Seu legado ainda vive em pessoas como Bob Lutz, que ainda vê que sem um produto avançado, de ponta, o velho General realmente não tem mais futuro.

Resta saber se o Volt de Lutz será o Chevy 55 da nova geração, ou o Vega do século XXI.

Ao menos, ele está tentando.

MAO

Autor: Rafael Souza

Foi realizada no último dia 2 de agosto a edição 2009 da maior reunião de Fords da Europa: a Ford Fair.

A reunião é realizada anualmente no autódromo de Silverstone, na Inglaterra, e conta com o apoio da própria fábrica e diversas outras empresas ligadas diretamente ao mercado automobilístico, mais precisamente o de preparação.


A festa contou com mais de 3.000 carros nas dependências do autódromo, que teve sua pista fechada para uso exclusivo dos veículos Fords e suas conglomeradas.

O autódromo foi organizado de forma a oferecer em suas dependências concursos de elegância, feiras para compra e venda de mercadorias relacionadas à feira e produtos de performance e personalização.


Em um pedaço do traçado acontecia um track-day durante todo o dia enquanto em outra parte aconteciam provas de aceleração de 0-60 mph, sempre valendo prêmios e troféus. Presença garantida de Escorts, Fiestas, Sierras, Capris, Focus e outros Fords europeus.

Uma festa muito bacana que deve ser vista ao menos uma vez na vida por todos os aficcionados por Fords do planeta. Deveríamos ter uma edição no Brasil!

Mais fotos em http://rafa4fun.blogspot.com

FB















Um bom texto sobre ser diferente está nesse link . Você pode ler antes ou depois do texto abaixo.

O texto do link é inspirador. Uns 5 minutos de leitura clara e direto ao ponto. Nada a ver com carros, mas inspirador.
O mundo automotivo está estufado de ótimos produtos, todos lutando pela decisão do comprador, querendo ser O Escolhido, O Eleito, O Melhor do Ano, sei lá o que mais. Como os nossos leitores sabem, o que vale é ter o carro que conversa com você na sua garagem, pronto para te levar não apenas de um ponto ao outro, mas a uma experiência prazerosa cada vez que você sai com ele. Há os meios de transporte, e há os automóveis entusiásticos.
Todos já passamos pela situação de ter que responder à pergunta sobre qual carro comprar, qual é o melhor para usar na cidade, qual o melhor para quem viaja bastante, questões desse tipo. Isso não importa. Se o cara precisa ficar perguntando muito a opinião dos outros, é porque ele não se interessa o suficiente para escolher pela própria opinião, ou gosto pessoal mesmo. Quem gosta realmente de carros sabe do que gosta, por quê gosta e porquê jamais escolheria algum determinado modelo.
A explicação da preferência por um carro e não por outro, está no quão diferente a sua escolha é em relação àquele que você não gosta. Se você não suporta carro preto e aparece um amarelo, laranja, azul, no meio de outros, aquele será sua escolha. Diferente não é ser esquisito, repugnante. É ser fora do padrãozinho. E é assim que escolhemos nossos carros de passatempo, de prazer, ou, para quem pode, de uso diário. A maioria não pode, então, precisa se contentar com o normal, o mainstream. Pelo menos alguma característica precisa ser interessante nesse carro do entusiasta que não pode ou não quer ter um amigo de quatro rodas apenas para brincar. Seja a cor, o motor, os pneus/rodas, algo. Ou apenas o estado de conservação.
Pessoas são muito diversas. Uns tem o prazer de não perder um segundo com um carro, seja consertando ou mesmo limpando. Tudo bem, seu entusiasmo pelo carro pode ser justamente ele não lhe deixar na mão nunca, não importando os mau tratos. Outros preferem tudo perfeito, sem sujeira, riscos, bancos limpos, sem rugas. Dá mais trabalho, mas também é um motivo de entusiasmo pelo carro, mesmo se nada de excepcional houver com ele. Um outro tipo de entusiasmo é decidir pela não fidelidade a nenhuma marca ou modelo. Tem gente que se diverte assim. Sempre trocando, experimentando, quebrando a cara, quebrando o carro, andando de jipe na cidade, de carro esportivo na terra, mas sempre com bom humor e pronto para o próximo negócio. Também pode ser um entusiasta radical, só tolerando carro muito antigo, ou muito moderno, ou sendo o primeiro do bairro a comprar um novo modelo, ou achando que todos os carros novos não prestam, e que todos os carros bons morreram nos anos 70, e por aí vai.
Tudo pela diferença, pela ogeriza de ser confundido com um mero usuário de carro. Que palavra horrível essa. Usuário.
Talvez a diferença mais importante no caso de um entusiasta seja justamente essa. Evitar a mistura com os meros motoristas que vêem carros como meios de transporte e nada mais.
Que eu tenha saúde mental para nunca ser assim.

JJ
Autor: Rex Parker
Fotos do autor

O impressionante e inesquecível Concorde

Dizem que quem gosta de carros também gosta de aviões. Não sei de vocês, mas eu gosto tanto de um quanto do outro. Não só o sentido de ser livre, mas também a aventura, a potência, a velocidade. Até certo ponto, o perigo. E é por isso que, estando em Washington, D.C. na semana passada, visitei novamente o belo museu Udvar-Hazy vizinho ao aeroporto internacional Washington-Dulles (IAD).


O 367-80, protótipo daquele que daria início efetivo à era do jato: Boeing 707

Que museu! Faz parte da rede Smithsonian, mas é o único da rede que não fica dentro do distrito federal. Oficialmente, o Udvar-Hazy é filial do mais conhecido National Air and Space Museum, no Mall ao lado do Capitólio, o nosso Congresso. Bem, filial em termos relativos. O Udvar-Hazy é muito maior e contém muito mais itens expostos. Isso não nega a importância da sede. Lá dentro você encontra o Spirit of St. Louis do Lindbergh, o X-1 que rompeu a barreira do som, o D-558 que rompeu Mach 2, o X-15 que rompeu – vejamos – Mach 6? 7? 8? E a inesquecível Apollo 11, que rompeu tudo.

Bem, voltando ao Udvar-Hazy, a maior parte da exibição é obviamente dedicada a aviões e veículos completos, como o B-29 "Enola Gay", o 367-80 que era protótipo do Boeing 707, um Concorde da Air France, um SR-71 Blackbird e o ônibus espacial Enterprise. Mas há uma seção dedicada a motores. Motores de avião e de helicóptero. Motores a pistão. Motores turboélice. Motores a jato. E, claro, foguetes.















Duas pujanças tecnológicas americanas: o ônibus espacial Enterprise e o avião SR-71 Blackbird

Acho particularmente interessantes os motores a pistão que, enfrentando o desafio dos nascentes jatos, foram crescendo não só em tamanho e capacidade, mas também em complexidade e potência até o ponto em que funcionavam mal. Começando no fim dos anos 30 e acabando mais ou menos em 1955, tentaram se defender dos jatos e, como sabemos agora, acabaram perdendo. No entanto, era uma luta épica, cheia de glória e teimosia, mas, afinal de contas, uma luta em que não podiam ganhar. Os motores a jato eram mais simples, potentes e confiáveis. Os jatos ganharam porque mereceram.

Ainda assim, bem na tradição do nosso Alexandre Garcia com sua dedicação a motores a pistão de alto rendimento, vamos ver alguns desses motores fantásticos, barulhentos e extremamente potentes. Começando com os menores, e acabando com os mais extravagantes…

O grande heroi da II Guerra Mundial: Rolls-Royce Merlin dos Spifires e dos Mustangs

Packard Merlin (quer dizer, Rolls-Royce Merlin redesenhado e fabricado sob licença pela Packard; usado no P-51 Mustang)
V-12
27 litros de cilindrada
1.490 cv a 3.000 rpm
411 kg de peso


O fantástico motor Mercedes dos Messerschmitt Me-109 da Luftwaffe

Daimler-Benz DB601 (Bf.109…)
V-12 invertido, alimentação por injeção
33,9 litros de cilindrada
1.400 cv a 2.800 rpm
715 kg de peso


Napier Nomad II E.145
H-12, diesel dois-tempos
41,5 litros de cilindrada
3.046 cv a 2.050 rpm
1.624 kg de peso


Muitos de nós vimos (e ouvimos) este colosso voando no Brasil

Wright-Cyclone R3350 (B-29, L-1049 Constellation, DC-7)
Radial 9 cilindros em 2 fileiras, 18 cilindros no total
Alimentação turbocompound
54,9 litros de cilindrada (3.350 polegadas cúbicas)
2.200 a 3.700 cv a 2.800 rpm, dependendo da versão
1.211 kg de peso


Um radial de quatro fileiras!

Pratt & Whitney R-4360 Wasp Major (C-124, B-36, B-50, Stratocruiser etc.)
Radial 7 cilindros em 4 fileiras, 28 cilindros no total
1 compressor e 2 turbocompressores
71,5 litros de cilindrada (4.360 polegadas cúbicas)
3.000 a 4.300 cv a 2.700 rpm, dependendo da versão
1579-1755 kg. de peso
56 velas, cada uma do tamanho de um copo d’água!


Quatro em linha, nove fileiras, é de impressionar

Lycoming XR-7755-3 (felizmente sem aplicações; não funcionava!)
L-4 em 9 fileiras, 36 cilindros no total
127 litros de cilindrada
5.000 cv a 2.600 rpm
2.781 kg de peso

Que exagero! Que glória! E que boas memórias de um tempo não só bom no passado, mas de um tempo que há muito ficou para trás. Para quem teve a sorte de andar em aviões que usavam esses motores, era uma experiência simplesmente inesquecível. O corpo doía por dias após pela vibração. E os ouvidos, nem se fala! Pode-se dizer a mesma coisa sobre as nossas viagens nos Airbus da TAM ou nos Boeing 737 da Gol?


RP

(Atualizado em 10.08.09)