Era de noite e voltávamos do
Guarujá; bem no comecinho da década de 70. Eu molecote e meu tio guiando.
Sempre guiou bem pacas; veloz e seguro. Ele foi o meu primeiro professor de
guiada esportiva. Já meu pai foi o professor da guiada sóbria, dessas de levar
a família tranqüila no carro. Cada um na sua e eu na dos dois. O
carro: um Corvette 427, preto, 1969, que chamávamos só de 427, devido ao
fabuloso V-8 de 427 polegadas cúbicas, ou seja, 6.997 cm³, sete litros. Já escrevi sobre ele aqui, porém ele teve mais boas passagens conosco.
A elas, então.
Voltávamos do Guarujá, início dos
anos 70, noite, Corvettão preto bufando. E como andava aquele carro! Parecia
ter uma força sem fim.
O caro leitor pode não se
impressionar tanto com um carro que tenha 435 cv, já que hoje há vários deles
levando suavemente dondocas ao shopping, porém, naquele tempo o que mais tinha
era Fusca 1300, DKW, Gordini, Corcel I, uma ou outra banheira americana, e os
primeiros Opala, sendo o mais forte o "fortíssimo" 3800 com 125 cv,
fora o Galaxie, com "fenomenais" 167 cv que carregavam uns 1.600 kg
de lata espessa.
Então, imagine só um esguio
esportivo de plástico reforçado com fibra de vidro pondo só 1.400 kg nas costas
dos 435 cv? Ele tinha um desempenho estratosfericamente superior ao que rodava
por aí. Era o mesmo que apear de um pangaré e pular no lombo de um puro-sangue
inglês. Andava pra burro. Fazia o 0 a 100 km/h em 5,6 segundos e a máxima
rondava os 250 km/h.
Os raros Porsches da época, na
arrancada, não lhe davam trabalho algum; coitados dos Porschinhos. Ou saíam da
frente ou passávamos por cima. Jaguar E-type, também raros, nem tentavam. O
Corvette era um gigante, só comparável aos raríssimos Lamborghini Miura, na
arrancada.