

Almoçando com o Juvenal Jorge outro dia, topamos com uma imagem insólita. Lado a lado no estacionamento estavam um novo e belíssimo Chevrolet Malibu, e a seu lado, um não tão belíssimo, mas também novo e reluzente, Chevrolet Prisma.
Conversando com o amigo, cheguei ao deprimente quadro que narro agora, para mostrar o longo caminho que temos que percorrer como nação ainda.
Conversando com o amigo, cheguei ao deprimente quadro que narro agora, para mostrar o longo caminho que temos que percorrer como nação ainda.


Uma coisa que muita gente não sabe é que um engenheiro brasileiro já custa quase tanto quanto um americano ou um europeu. O mesmo pode ser dito aos funcionários nas linhas de montagem dos fabricantes de automóveis. Férias, fundo de garantia, impostos, indenizações trabalhistas, os motivos são variados, mas o fato é que, apesar de ser quase tão caro quanto um americano, nossos assalariados não chegam nem aos pés de seus irmãos do norte em poder de compra. Além do custo que gera para sua empresa, o assalariado brasileiro ainda tem que enfrentar uma carga de impostos imensa nos produtos que compra.
Se você já deu uma olhada no orçamento do condomínio onde invariavelmente mora (poucos conseguem ficar fora dele nesse Brasil SEM SEGURANÇA), sabe que o maior custo é a mão de obra, os funcionários. O efeito é parecido nas empresas. Pode até não ser o maior custo, mas o peso dele sempre é muito importante. Especialmente aqui no Brasil.
Desta forma, o mercado nacional de automóveis é único, diferente de todo o resto do mundo. A vasta maioria do volume de vendas está concentrada em carros simples como Mille, Celta e Gol, carros que apesar de básicos e despojados, são caros para a população (muito imposto), e ao mesmo tempo caros demais para serem exportados com sucesso.
Nossa indústria vive então do mercado interno apenas, e como na década de 80, praticamente isolada do mundo. Carros um pouco mais sofisticados sofrem concorrência dos importados, mas as vendas dos “populares”, vasta maioria e esteio da indústria local, seguem crescendo.
Para a pobre classe média, vocês conhecem o significado disso: muito imposto sem nada em termos de serviço em troca, e poder de compra reduzidíssimo se comparado a um cidadão de primeiro mundo. Mas o pior é o isolamento da grande ordem mundial: hoje a produção migra para a China, Índia, Indonésia, e o Brasil fica relegado a segundo plano, e a seu mercado apenas. Exagerando um pouco para deixar claro: seria algo como ter um padrão de vida de indonésio, com custo de americano. Temo pelo futuro de nossa indústria, e principalmente seus funcionários.
O exemplo claro deste abismo que ainda temos que transpor está nesses dois carros que vimos lado a lado. Uma pesquisa rápida indicou os preços sugeridos, em seus países de origem, ilustrados abaixo:


O Malibu custa US$ 21.825,00, o que, com o dólar valendo 1,77 reais, significa R$ 38.630, 25. Um Prisma completo é mais barato; custa a bagatela de R$ 37.620,00. Mil reais menoso. Ambos os carros foram feitos para o povo de seus países, e neles não são veículos que representam "status". Carros normais para o povo, apenas.
O sedã americano tem 2,4 litros de cilindrada e 171 cv, e caixa automática de quatro marchas. O nosso, 1,4 litro e 97 cv (etanol), com câmbio manual. O Malibu tem 4.872 mm de comprimento e 2.852 mm de entre-eixos, e o Prisma, 4.127 mm de comprimento, e 2.443 mm de entre-eixos.


O Malibu vem com rodas de 17 polegadas, ABS, oito airbags, controle eletrônico de estabilidade, rádio AM/FM/XM com Bluetooth e entradas para iPod e USB, freios a disco nas quatro rodas, entrada sem chave, controle de velocidade de cruzeiro. Ar-condicionado, travas e vidros elétricos nem precisamos mencionar, é óbvio.
O Prisma selecionado também tem ar-condicionado, travas e vidros elétricos, mas não é nem necessário dizer que de resto... Acho que vocês já entenderam o ponto. Se não, vejam as fotos e chorem. E nem precisamos entrar no detalhe das facilidades de financiamento a juros baixos nos EUA.


Sim, grande parte do custo do Prisma é imposto, mas mesmo sem eles, ainda seria caro. O fato é que vocês podem prever o futuro de uma indústria, e de um país, que tem custos tão altos, mas produz e consome tão diferentemente dos países de primeiro mundo. É uma situação que devia preocupar todo mundo, mas é algo muito pouco falado. Falta planejamento, objetivo de futuro, aqui. A indústria local é transplantada, filial de matriz estrangeira, e apenas está aqui para fazer dinheiro; cabe ao governo criar condições para que ela cresça mais do que faz hoje, tanto no mercado interno quanto no externo, para que realmente mudemos este quadro. O volume atual de investimentos não é ruim, mas não vai mudar nada, apenas perpetuar a situação atual.
Eu não gosto de ser coadjuvante de nada, e acredito que nosso país pode ser mais que isso na grande ordem das coisas. Algo precisa ser feito. Acho que o exemplo que eu e o JJ encontramos, por um desses acasos da vida, é bem ilustrativo do abismo que temos que transpor.
MAO