google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)


Almoçando com o Juvenal Jorge outro dia, topamos com uma imagem insólita. Lado a lado no estacionamento estavam um novo e belíssimo Chevrolet Malibu, e a seu lado, um não tão belíssimo, mas também novo e reluzente, Chevrolet Prisma.

Conversando com o amigo, cheguei ao deprimente quadro que narro agora, para mostrar o longo caminho que temos que percorrer como nação ainda.

Uma coisa que muita gente não sabe é que um engenheiro brasileiro já custa quase tanto quanto um americano ou um europeu. O mesmo pode ser dito aos funcionários nas linhas de montagem dos fabricantes de automóveis. Férias, fundo de garantia, impostos, indenizações trabalhistas, os motivos são variados, mas o fato é que, apesar de ser quase  tão caro quanto um americano, nossos assalariados não chegam nem aos pés de seus irmãos do norte em poder de compra. Além do custo que gera para sua empresa, o assalariado brasileiro ainda tem que enfrentar uma carga de impostos imensa nos produtos que compra.

Se você já deu uma olhada no orçamento do condomínio onde invariavelmente mora (poucos conseguem ficar fora dele nesse Brasil SEM SEGURANÇA), sabe que o maior custo é a mão de obra, os funcionários. O efeito é parecido nas empresas. Pode até não ser o maior custo, mas o peso dele sempre é muito importante. Especialmente aqui no Brasil.

Desta forma, o mercado nacional de automóveis é único, diferente de todo o resto do mundo. A vasta maioria do volume de vendas está concentrada em carros simples como Mille, Celta e Gol, carros que apesar de básicos e despojados, são caros para a população (muito imposto), e ao mesmo tempo caros demais para serem exportados com sucesso.

Nossa indústria vive então do mercado interno apenas, e como na década de 80, praticamente isolada do mundo. Carros um pouco mais sofisticados sofrem concorrência dos importados, mas as vendas dos “populares”, vasta maioria e esteio da indústria local, seguem crescendo.

Para a pobre classe média, vocês conhecem o significado disso: muito imposto sem nada em termos de serviço em troca, e poder de compra reduzidíssimo se comparado a um cidadão de primeiro mundo. Mas o pior é o isolamento da grande ordem mundial: hoje a produção migra para a China, Índia, Indonésia, e o Brasil fica relegado a segundo plano, e a seu mercado apenas. Exagerando um pouco para deixar claro: seria algo como ter um padrão de vida de indonésio, com custo de americano. Temo pelo futuro de nossa indústria, e principalmente seus funcionários.

O exemplo claro deste abismo que ainda temos que transpor está nesses dois carros que vimos lado a lado. Uma pesquisa rápida indicou os preços sugeridos, em seus países de origem, ilustrados abaixo:


O Malibu custa US$ 21.825,00, o que, com o dólar valendo 1,77 reais, significa R$ 38.630, 25. Um Prisma completo é mais barato; custa a bagatela de R$ 37.620,00. Mil reais menoso. Ambos os carros foram feitos para o povo de seus países, e neles não são veículos que representam "status". Carros normais para o povo, apenas.

O sedã americano tem 2,4 litros de cilindrada e 171 cv, e caixa automática de quatro marchas. O nosso, 1,4 litro e 97 cv (etanol), com câmbio manual. O Malibu tem 4.872 mm de comprimento e 2.852 mm de entre-eixos, e o Prisma, 4.127 mm de comprimento, e 2.443 mm de entre-eixos.


O Malibu vem com rodas de 17 polegadas, ABS, oito airbags, controle eletrônico de estabilidade, rádio AM/FM/XM com Bluetooth e entradas para iPod e USB, freios a disco nas quatro rodas, entrada sem chave, controle de velocidade de cruzeiro. Ar-condicionado, travas e vidros elétricos nem precisamos mencionar, é óbvio.

O Prisma selecionado também tem ar-condicionado, travas e vidros elétricos, mas não é nem necessário dizer que de resto... Acho que vocês já entenderam o ponto. Se não, vejam as fotos e chorem. E nem precisamos entrar no detalhe das facilidades de financiamento a juros baixos nos EUA.


Sim, grande parte do custo do Prisma é imposto, mas mesmo sem eles, ainda seria caro. O fato é que vocês podem prever o futuro de uma indústria, e de um país, que tem custos tão altos, mas produz e consome tão diferentemente dos países de primeiro mundo. É uma situação que devia preocupar todo mundo, mas é algo muito pouco falado. Falta planejamento, objetivo de futuro, aqui. A indústria local é transplantada, filial de matriz estrangeira, e apenas está aqui para fazer dinheiro; cabe ao governo criar condições para que ela cresça mais do que faz hoje, tanto no mercado interno quanto no externo, para que realmente mudemos este quadro. O volume atual de investimentos não é ruim, mas não vai mudar nada, apenas perpetuar a situação atual.

Eu não gosto de ser coadjuvante de nada, e acredito que nosso país pode ser mais que isso na grande ordem das coisas. Algo precisa ser feito. Acho que o exemplo que eu e o JJ encontramos, por um desses acasos da vida, é bem ilustrativo do abismo que temos que transpor.

MAO

Considero o filme "Gattaca" como um dos clássicos da ficção científica. Estrelado por Ethan Hawke, Uma Thurman e Jude Law, a produção de 1997 me agrada porque é uma ficção possível.

Os carros são elétricos e o bacana é que têm o design retrô, e um retrô só de carros aerodinâmicos do pós-2a Guerra Mundial, bem dentro da objetividade dos carros elétricos, onde o baixo consumo de energia para rodar se reflete numa maior autonomia.

Este carro da foto é um protótipo Saab 92, de 1947, e estudando a história da busca por melhor aerodinâmica nos carros essa foto me apareceu. Fiquei encantado com o design do carro e fiquei também encantado com a posição do motorista, que me pareceu perfeita. Esse carro deve ser muito gostoso de guiar, principalmente porque o motorista me parece muito bem acomodado. Motor dianteiro 2-tempos e tração dianteira. O nosso DKW parece que sofreu influência dessas linhas. O Cx dele é 0,35, o que é ótimo para a época.

Quem sabe alguns elétricos não podem ir por esse caminho retrô, como sugere o filme? Acho legal a mistura do supermoderno com o supernovo. Na arquitetura isso já está valendo, assim como em outras áreas onde a arte e bom gosto são necessários.

AK

SUBDIVISIONS - RUSH
Subdivisões
( N. Peart, G. Lee, A. Lifeson)

Sprawling on the fringes of the city
Espalhando-se pelos meandros da cidade  
In geometric order
Em ordem geométrica  
An insulated border
Uma fronteira isolada  
In between the bright lights
Entre as luzes brilhantes  
And the far unlit unknown
E o desconhecido longe e escuro   
Growing up it all seems so one-sided
Crescer parece tão dirigido 
Opinions all provided
Opiniões todas providas  
The future pre-decided
O futuro pré-decidido  
Detached and subdivided
Destacado e subdividido  
In the mass production zone
Na zona de produção em massa  
Nowhere is the dreamer or the misfit so alone
Em nenhum lugar o sonhador está tão deslocado  
Subdivisions
In the high school halls

No saguão do colégio  
In the shopping malls
No shopping center  
Conform or be cast out
Obedeça ou esteja fora
Subdivisions 
In the basement bars
Nos bares de porão  
In the backs of cars
No banco traseiro dos carros  
Be cool or be cast out\
Seja esperto ou esteja fora
Any escape might help to smooth the unattractive truth

Qualquer fuga tem que ajudar a suavizar a verdade  
But the suburbs have no charms to soothe the restless dreams of youth
Mas os subúrbios não tem atrações para amainar os sonhos sem descanso da juventude.  
Drawn like moths we drift into the city
Cansados como mariposas nós somos arrastados pela cidade  
The timeless old attraction
As velhas atrações para qualquer hora  
Cruising for the action
Indo para a ação  
Lit up like a firefly
Acesos como vagalumes   
Just to feel the living night
Só para sentir a vida na noite   
Some will sell their dreams for small desires
Alguns vão vender seus sonhos por pequenos desejos   
Or lose the race to rats
Ou perder a corrida para ratos   
Get caught in ticking traps
Ser pegos em armadilhas   
And start to dream of somewhere
E começar a sonhar com algo 
To relax their restless flight

Para descansar de seu vôo   
Somewhere out of a memory of lighted streets on quiet nights...
Em algum lugar fora da memória de ruas iluminadas em noites silenciosas...

Quase tudo que há hoje no mercado de automóveis é categorizado de alguma forma. Hatch, sedan, perua, utilitário esportivo etc.

Quando algum carro sai um pouco de um padrão, complica a percepção da maioria. Um exemplo bastante simplório foi o Corsa hatch de 5 portas de 1996, com a tampa traseira bastante vertical, considerado por alguns uma perua. Na verdade era uma traseira K, de Wunibald Kamm (1893-1966), o alemão que concluiu que essa forma era vantajosa do ponto de vista aerodinâmico, por produzir uma repentina queda de pressão na traseira, reduzindo o arrasto.


A chegada dos carros com funções e estilos misturados é uma autêntica confusão para quase todo mundo. Esses modelos, batizados de crossover, cruzamento de raça, são sempre um bom assunto, pois dão bastante pano para a manga. Um BMW Gran Turismo ou um X6 é o quê? Hatches gigantes? Jipes esportivos e aerodinamizados? Utilitários esportivos mais esportivos do que utilitários?

É mesmo difícil rotular, e acredito que seja melhor apenas pensar se o carro lhe fala à alma ou não.

A primeira vez que me deparei com um X6, foi marcante. Dentro de um estacionamento, vindo de uma rampa mais alta de onde me encontrava, e era branco. Já havia lido sobre ele, e tinha refletido sobre o que seria aquele "carro", que nas fotos, parecia algo do tamanho de um hatch médio. E com desempenho absurdamente ótimo.

Para mim, não é necessário colocar o X6 em nenhuma categoria, apenas preciso saber que gostei, e se pudesse, seria mais um na garagem. Jamais um X1, X3 ou um X5, mas o 6, certamente.

Tudo isso veio à minha perturbada mente ao escutar pela décima terceira milésima vez a música "Subdivisions" do grupo Rush, a banda canadense que faz o melhor som da galáxia, mesmo que algum habitante de outro planeta não concorde. Além do som, as letras, que fazem pensar em coisas sérias, não em futilidades. Reza a letra dessa canção que você precisa estar dentro dos grupos, ser cool, esperto, bacana, senão você é "cast out ", um excluído. Obviamente isso é uma forma de tratar a própria banda, cujos integrantes sempre foram um pouco estranhos e fora dos padrões. A letra trata da "maldição" da adolescência, onde lutamos por ser aceitos naquilo que nos atrai, e pelas pessoas que participam das atividades que gostamos. Em turmas, as opiniões são entregues prontas, e o futuro imediato, pré-decidido.

Com automóveis parece ser a mesma coisa. O que sai dos padrões da maioria assusta, e se torna rejeitado por essa maioria.

O Paulo Keller explicou claramente no seu post sobre o Livina e o Focus esse ponto. Ele usou a frase "Há também a falta de coragem dos consumidores para se desgarrar do grande rebanho". Perfeito, falta de coragem.

Quem tem tempo, dinheiro e espaço, pode fazer seu próprio carro e ficar 100% de fora do rebanho. Terá, assim, motivo e razão de ser individual em seu gosto. Mas para a enorme maioria isso não é possível, e nem mesmo desejável.

O primeiro ponto do comprador normal de carros é que quase todos  não fazem a menor questão de ter um carro que se destaque como diferente por qualquer motivo. Quase todos adoram ver os parentes, amigos e vizinhos com inveja de seu veículo. Quase todos fazem do carro a extensão de suas personalidades públicas, e escolhem carros normais porque querem ser considerados normais. Mesmo que apresentem comportamentos desequilibrados como, por exemplo, sendo reclamantes dos índices de criminalidade, mas consumindo sua drogazinha comprada de traficante armado.

O outro ponto é o preço pago, e aí entramos em uma polêmica que já gerou até mesmo algumas brigas, no bom sentido, entre os integrantes desse blog e alguns amigos.

Sabe-se que os preços dos carros são tratados em divisões e subdivisões. Um "popular" sem nada, não pode custar menos de 20 mil reais. Aparenta ser um acordo entre os fabricantes, que nunca será provado, já que eles brigam por 100 reais de diferença entre concorrentes nos feirões de final de semana  argh!).
Cheio de opções, pode ir a praticamente o dobro, 40 mil, numa clara afronta ao bom senso. Mas muita gente compra, então perpetua-se a facada na economia doméstica.

Um carro pequeno considerado "premium" (termo ridículo), não pode custar menos de 50 mil. Precisa ser mais caro que um popular completo, para os donos mostrarem sua condição financeira para o mundo.

Com raras exceções, os preços são feitos pelo tamanho do carro e pela fama que eles atingem. Vejam o exemplo do Focus, que no modelo antigo era cerca de 10 mil reais mais barato do que o atual, alvo de investimento massivo em propaganda, e que vem se mostrando bom de venda, o oposto do modelo original. Pode a banana ficar mais cara se ela é apenas banana? Ilógico.

Pode um Fiat Mille, o Uno de verdade, custar mais de 20 mil reais ? Podia um Audi A3 nacional ser tão mais caro que um Golf, se ambos eram em quase tudo o mesmo carro ? Óbvio que não, mas tinha que ser mais caro, afinal, era um Audi, não um Volkswagen.

Ou alguém aqui acha que o Tucson seria o sucesso que é se custasse menos, e houvesse um monte deles na periferia como os há nos bairros de classe média?

Claro que o que escrevo aqui não vai mudar a situação. Diz-se que o capitalismo é selvagem, justamente por esses desequilíbrios que o dinheiro impõe, e isso não deve mudar em poucos séculos. Assim como o adolescente vai continuar procurando sua turma eternamente.

Mas vejam que não defendo apenas carros baratos como sendo o certo, e que não deve-se gastar dinheiro em carros caros. Sempre acredito que devemos ter apenas o carro de que gostamos de verdade e de coração.

Seja ele um pequeno carrinho de transporte diário com algumas melhorias ao gosto do dono, ou um tremendo esportivo cuja utilidade é apenas o prazer da condução. Compre o que você gosta, não o que querem te empurrar. Você será mais feliz.

JJ


A notícia é do "Bom Dia Brasil" de hoje : Criança é encontrada em carro roubado no subúrbio do Rio. Já me posicionei há tempos sobre o assunto: cadeirinha (banco) para crianças, só em viagens, onde entendo que realmente fará a diferença em caso de acidente. Não que a tal cadeirinha seja inútil nos deslocamentos urbanos, porém é notícia corriqueira o roubo de automóveis em cidades como Rio e São Paulo, e duvido que algum bandido vá esperar pacientemente a criança ser desatada de sua cadeirinha no banco traseiro.

O que falta é bom senso, seja do lado de quem dirige, que muitas vezes provoca situações de perigo e acidentes por simples displicência ao volante, seja do lado dos legisladores, que criam e aprovam leis distorcidas, como essa da obrigatoriedade da cadeirinha. Como o Bob já escreveu em coluna anterior , a obrigatoriedade não se estende a táxis, ônibus, carros de transporte escolar, de locadoras. E, bem lembrado por um leitor do blog, ainda temos os casos das caronas. Pois dessa forma seremos obrigados a negar carona a uma amiga com dois filhos pequenos por risco de ser multado na primeira esquina.

Então, quero poder escolher o que considero melhor para mim e para meus filhos. Guio com extremo cuidado e prefiro correr o risco de ver um filho ferido em um acidente urbano (normalmente são sem maiores consequências) do que ver um vagabundo levando meu carro com minha filha de dois anos dentro. Minha esposa já foi assaltada à mão armada, às 9 horas da manhã, felizmente estava sozinha e o episódio se resumiu ao susto.

Ou então, proíbam asa delta, bungee jump, alpinismo, skate, motocicleta. Proíbam também torcidas nos estádios. Riscos de acidentes e até de mortes existem em qualquer dos citados acima, mas cada um que avalie o que é melhor para si próprio e para os seus. Senão é melhor probir viver.

AC