google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)




Uma vez por semana, no dia do rodízio do meu carro, vou pro trabalho de carona com meu tio. Justamente nesse dia é rodízio do Opalão 6-cil -- um carro delicioso, cupê, zerado -- que ele usa pra ralar na cidade, então vamos no Uno Mille do empregado faz-tudo dele. Acontece que esse faz-tudo faz tudo diretinho, menos guiar, daí que logo me jogo no banco de trás e falo "Deus é grande" e boa.
Nessas o Uno chacoalha feito um carro-de-boi andando sobre escombros e, quando chego de volta, chego quebrado como se tivesse tomado uma coça de pauladas. Ainda não entendi como meu tio, que guia pracaramba, topa essa parada.
Daí que peguei um certo bode de Uno, coitado do Uno, carro que eu não guiava há mais de 15 anos.
Mas este fim de semana fui experimentar um Uno para o Rodolfo, o namorado da minha filha, e fomos até lá no Uno do pai dele. O Rodolfo, sangue italiano, guia muito bem. Suave e rápido, bem tranquilo. E não é que o Uno foi macio?
Voltei guiando o Uno. E não é que o Uno veio macio e andando direitinho? É um cabritinho, mas, ajeitando o bichinho, ele fica bem suportável.
Anos atrás fui com o Bob Sharp ao interior de São Paulo para um programa apetitoso: iríamos guiar duas recriações de Ferrari de corrida antigos. Um Testarossa 1958 e um GTO 1962. Ambos com mecânica original, motor V-12 -- o Testarossa com motor 3-litros de uns 300 cv e o GTO com motor 4-litros de uns 400 cv.
Pra mim, programa duplamente prazeroso, porque fora guiar esses carros eu iria de carona com o Bob, e gosto pracaramba de andar ao lado de quem sabe tocar direito a coisa, porque gosto de aprender e porque me dá satisfação ver que muitas coisas fazemos parecido. Tocada suave e consistente. Ritmo uniforme, constante. Nada de surpresas, nada de sustos, porque dirigir bem é prever e agir antecipadamente.
Fomos num Celta motor 1-litro, um carrinho que se bobear é ainda mais durinho que o Uno. O Bob foi e voltou guiando, e não é que fomos rápido pracaramba e maciozinho? Vapt-vupt, e a viagem de ida e volta não foi nada cansativa e cada curva foi um prazer.
Prefiro mil vezes viajar de Celta com o Bob que num "Mercedes Tudotudo" dirigido pelo empregado faz-tudo do meu tio.
Resumindo: o motorista é quase tudo num carro, e olhe lá se não tiro esse "quase" da frase.
Este ano, por conflito de agendas, não pude ir a Lindoia com o Bill Egan, como sempre faço. Sempre fazemos um bate-e-volta, saindo de madrugada de São Paulo, para chegar ainda antes das 7 da manhã na cidade, ótimo para acharmos lugar para parar, e com tempo para um café da manhã antes do evento.

Fui no sábado com o JJ e o PK, como já contei aqui, um passeio sensacional com dois velhos amigos também. O Egan foi no domingo. Mas o que não esperava era receber as fotos que ilustram este post: ele foi com o Chevrolet Bel Air 1957 azul! Adoro este carro, um seis-cilindros "stovebolt" com três marchas na coluna e quatro portas. Já andei nele certa vez, e sei que é capaz de manter velocidades "modernas" com o maior conforto. Mas uma hora dessas faço um post só sobre isso. Não é a intenção dar detalhes do carro aqui, o que quero agora é apenas falar sobre essas fotos.
As fotos me moveram profundamente, porque evocam o que há de mais fascinante nos automóveis. Uma madrugada de clima agradável, um dia claro, uma estrada vazia. Um capô longo e icônico apontando para o horizonte e para mil aventuras ainda desconhecidas, um para-brisa clássico emoldurando a paisagem. O asfalto liso passando por baixo de nós rápido, como se estivéssemos em um tapete mágico. O som tocando baixinho no rádio, o sol se levantando, a paisagem lateral borrada pela velocidade. Dois adornos de capô do Chevrolet '57 apontando para frente, tal qual lanças cromadas olhando para destino final da viagem, que está lá na frente, longe, invisível ainda, mas mais perto a cada segundo, a cada instante.

É uma oportunidade para acertar e organizar os pensamentos na cabeça, de relaxar sem nenhum compromisso a não ser chegar a algum lugar. É onde tudo fica claro, onde as preocupações ficam para trás, cuspidas para longe pelo escapamento junto o que restou da mais pura, cheirosa e volátil gasolina que colocamos no tanque antes de sair. Ah, gasolina, ó doce elixir da velocidade... Não existe nada como ela! Óleo diesel é viscoso, pegajoso, fedido, e se cair no chão, ali fica emplastrando tudo. A gasolina é tão etérea e suave que desaparece no ar como um sonho...E num carro como este ’57, sente-se a presença dela sempre.

A cada marco de quilometragem, algum fardo que carrego cai pelas beiradas da estrada, e, em pouco tempo, já me sinto leve e livre de todo o peso do dia a dia. É onde me sinto completo e calmo, é onde o mundo se resume apenas ao movimento, ao ir a algum lugar, onde sou capitão de meu navio e senhor do meu próprio destino.
A felicidade está mais próxima do que imaginam os que a perseguem cegamente. A felicidade completa e tranquila que estas fotos nos mostram está me esperando neste instante em que paro para escrever estas linhas, e também o espera agora, no momento em que você as lê. Ela está lá fora. Esperando por nós. Na Estrada.
MAO
Fotos: Fernando Chinelli
P.S.: Minha antiga coluna no BCWS se chamava “Na Estrada”, e sempre quis explicar o por quê, mas nunca o fiz. Bom, acabei de fazê-lo, oito anos depois do encerramento da dita cuja. Antes tarde do que nunca...

Quando se fala de Toyota Corolla entre entusiastas de automóvel, muito pouca coisa boa aparece. É certo que o objetivo dos criadores do Corolla foi sempre criar uma coisa desprovida de paixão, neutra, mas que fosse reconhecida como um produto sólido, durável, e totalmente ajustado à sua função, e tal coisa desagrada a maioria das pessoas que vê mais que um meio de transporte no automóvel.
Mas a maioria das pessoas que falam mal do carro o fazem ou por puro preconceito, ou por desinformação, ou pior ainda: inveja, caso daqueles que gostariam de ter dinheiro para NÃO comprar um Corolla, e comprar outra coisa de mesmo preço. Como a imprensa "especializada" brasileira vai de mal a pior, assim segue o conhecimento das pessoas sobre o assunto.
Apesar disso, muito do que se fala mal do carro tem um fundo de verdade. O Corolla da geração anterior, carro de grande sucesso e que solidificou a imagem da Toyota no Brasil, era extremamente durável, mas nunca me agradou. Achava o motor fraco e sem vontade para andar rápido, o exterior anônimo e sem graça, o interior com uma cara de coisa ultrapassada. E a posição de dirigir me era extremamente desagradável, como em muitos carros japoneses antigos: para ficar a vontade, eram necessários braços longos e pernas curtas. Mas o carro era competente em termos gerais, e a versão perua, a Fielder, era a única opção no mercado em sua faixa, para quem gosta deste tipo de carro. E um Corolla, devido à sua solidez e durabilidade, é quase como ouro: tem um valor e uma imagem inabaláveis.
Vocês podem imaginar então que não encarei com muita animação quando o Paulo Keller declarou que iríamos de Corolla novo para o nosso passeio anual em Lindoia. Não tinha experimentado o novo ainda, mas a opinião geral de meus amigos sobre o novo carro era: "é a mesma coisa! Lesma Lerda!". Tentei argumentar que podíamos ir de Focus, mas como o Juvenal Jorge, que também ia conosco, queria experimentar o Corolla, fui voto vencido.
Conhecendo o novo Corolla
O Paulo apareceu com um Corolla GLi novinho, de 1,8 litro e automático, em cores de muito bom gosto: interior cinza clarinho em vários tons, estofamento de tecido aveludado (e não o mais comum e escorregadio couro), prateado claro por fora, e com rodas de alumínio montadas com excelentes pneus na medida 205/55 R15. Não acho o carro bonito por fora, mas é sempre agradável e leve, sem ofensas ou controvérsias em nenhuma parte dele.
Já o interior é muito bom. De novo, nada sofisticado ou futurista-modernoso como um Civic, por exemplo, mas em minha opinião muito mais agradável que ele. Que diferença do modelo anterior! Claro, arejado, e bem iluminado pelas janelas, o interior é um ótimo lugar para se passar o tempo. Todas as superfícies são cobertas por materiais agradáveis, e o acabamento é impecável.

Os instrumentos são do tipo sempre iluminados, e de uma clareza exemplar. O som original é também de qualidade muito boa, e os três tiozões no Corolla puderam viajar a Lindóia ouvindo os acordes rasgados e entusiasmados de Angus Young em volume alto, mas com uma clareza incrível. Impossível não lembrar do tempo em que tínhamos mais cabelo, eles eram todos pretos, e viajávamos em Opalas, Corcéis e Passats ouvindo as mesmas coisas. Minha filha hoje acha que AC/DC é coisa de velho, assim como eu achava que era a bossa nova que meu pai ouvia. Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...
Abaixo do som está o módulo de controle de ventilação e ar condicionado. É uma coisa bonita de se ver, mas, como todo ar condicionado automático que já experimentei em toda minha vida, uma lástima. Para mim é claro que não foi inventado ainda um sistema melhor de controle de ventilação/ar condicionado do que três botões rotativos (temperatura, distribuição e velocidade do ventilador) e um botão liga-desliga para o ar condicionado. Estes controles automáticos nos fazem tentar adivinhar qual é a temperatura, os botões são sempre confusos, as regulagens totalmente diferentes de carro para carro, e nunca são intuitivos. É um sistema caro e sofisticado, que exige sensores de temperatura e radiação solar no painel (e as vezes em outras “zonas” do carro), mas que nunca vi funcionar melhor do que os simples três botões. Não é necessário saber a temperatura requerida para o conforto, isso é informação demais. Uma pessoa consegue regular muito mais facilmente a temperatura ideal da cabine mexendo com os três botões sempre que sente uma alteração. É ilusão achar que é possível setar uma temperatura no automático, e nunca mais mexer no aparelho; se mudam as condições externas, você vai ter que regular de novo. Tecnologia a serviço da irrelevância.
Mas nem dá para culpar o fabricante neste caso; a falha aqui é a inútil necessidade que alguns têm de ter algo “melhor”, de mostrar ao cunhado seu belíssimo ar condicionado “tomático” cheio de botõezinhos coloridos e telinhas de cristal líquido.
O espaço interno é bom, nem maior nem menor que a média da categoria. Mesmo tamanho do meu Focus.
Na estrada
Ao me ajustar no banco do motorista veio a melhor surpresa deste passeio: o carro agora regula o volante em altura e distância. Esta mudança aparentemente simples, em conjunto com a regulagem de altura do banco, transforma o carro da água para o vinho: é possível agora encontrar uma posição ergonomicamente perfeita para conduzir, mesmo com meu corpo acima da média de altura da população. O banco aperta-me um pouco mais do que acho necessário (ou agradável) na região lombar, mas no geral, bastante melhora aqui. Sempre falo que o conforto ergonômico ao dirigir é o básico em qualquer automóvel, e o Corolla agora, finalmente, tem esta antiga falha sanada.
A alavanca de mudanças da caixa automática agora é desprovida de botão de trava, porque anda em uma pista com “degraus”, como um Mercedes-Benz. A empunhadura da alavanca é também uma melhora enorme, se comparada ao carro que substitui.
Ao rodar o carro é extremamente confortável de suspensão, contribuindo com a impressão de se estar em um carro de luxo, o que sem dúvida era o objetivo de seus criadores. Mas uma coisa atrapalha para que esta sensação seja perfeita: o motor.
O motor tem fama de econômico e durável, e sobre isto não posso opinar, mas para mim deixa muito a desejar. Precisa girar para produzir alguma aceleração, e não é um motor que goste de girar. A caixa automática é ótima, suave nas trocas como poucas (as trocas com pé embaixo, saindo de pedágio, por exemplo, são incrivelmente rápidas e sem tranco algum), mas o carro pede encarecidamente um motor maior e mais suave, talvez um bom V-6 de pelo menos dois litros e meio, para que a sensação de luxo desejada seja completa. Como está, o motor fica lá lutando com o peso, mostrando-se presente de uma forma intrusiva para um carro deste tipo. A isolação de ruídos está muito boa, mas sente-se e ouve-se o motor. Este carro é confortável e macio como uma cama king-size com lençóis de seda, mas o motor o faz meio cheio de trancos e asperezas indesejáveis, atrapalhando um pouco a experiência.
Não há nada teoricamente errado com este motor, uma unidade de duplo comando para as 16 válvulas e 136 cv a 6.000 rpm, e desconfio até que num carro de menor preço seria até uma coisa muito boa. Mas certamente não combina com a atmosfera de luxo, e com o peso e preço do Corolla.
Quem sabe o novo dois litros melhorou este aspecto? Particularmente me incomoda que este Corolla que dirigi custe aproximadamente 70 mil reais e não tenha pelo menos um V-6 pequeno, quanto mais esse dois-litros de 90 mil... Mas, preço de lado, tenho curiosidade em saber como é esta versão.
Na estrada o comportamento é exemplar para uma suspensão tão macia e confortável, a aderência em curvas fechadas é sensacional, e é quase neutro, sem substerço exagerado. A direção é razoavelmente precisa e leve, embora, de novo, não tão boa como a minha referência desta categoria, o Focus de primeira geração. Mas a velocidades realmente altas, a partir de certo ponto, muda completamente: a direção fica leve e desconectada, a traseira balança um pouco. Nada inseguro ou preocupante, mas perceptível. Desconfio de algum efeito aerodinâmico, pois começa a partir de uma velocidade, exatamente. E não me perguntem qual velocidade é essa; trata-se de uma pergunta tão indiscreta quanto pedir detalhes completos do ato sexual para alguém com uma nova namoradinha. Basta saber que é bem alta, fora da faixa de uso normal da população.
O motor, apesar de intrusivo, confere bom desempenho ao carro, subjetivamente parecido ao do meu novo/velho Focus Rocam flex. Olhando a relação peso-potência, vemos pequena vantagem para o Corolla (9,4 kg/cv contra 10,5 kg/cv do Focus), mas subjetivamente eu diria o contrário.
De novo, alguém poderia dizer que anda pouco pelo preço, mas não é este o ponto. Corollas não são comprados por desempenho, nem capacidade de fazer curvas, apesar de, na verdade, serem perfeitamente aceitáveis em ambas as contas.
Não é um carro que gosta e pede para ser guiado como um carro de corrida, como é o meu Focus. Mas não deixa de ser agradabilíssimo. É apenas diferente, laranjas e bananas... “Agradável” é o adjetivo recorrente neste post, e descreve muito bem o carro. O que antes era esquecível, agora é um carro realmente muito bom, ainda que não perfeito ou entusiasmante. Eu gostei bastante, na verdade, e agora acho uma opção bem viável para o dia-a-dia. Que diferença faz um interior bem executado!
E o carro é o ambiente perfeito para um trio de tiozinhos passarem o tempo ouvindo música fora de moda a um volume alto demais, e conversando besteiras, feito adolescentes que escaparam para a estrada. Mesmo que a adolescência deles tenha acabado na década de 80...
MAO
Fotos: divulgação

Na deliciosa feirinha de carros de Lindóia, olhem o que encontro: um NSU Prinz TT, o carro de onde saiu o motor da Münch Mammut, sobre qual falamos há pouco tempo atrás. Adoro esta feirinha, ela e a feira de pulgas para mim são melhores que a exposição de carros em si, e são os principais motivos para ir até a cidade no lotado feriado do encontro.

O NSU à venda era uma réplica pefeita de um carro de rali dos anos 60, com interior depenado, santantônio, e sem para-choques. Me faz pensar se não é um esquema inteligente para contornar o fato de que as peças originais de acabamento serem dificílimas de achar...


Mas, de qualquer forma, o carrinho está lindo. Minúsculo, com as rodinhas traseiras com cambagem negativa, e aquele pequeno mas disposto quatro em linha OHC transversal refrigerado a ar lá atrás, deve ser uma delícia de dirigir.


E parece um Corvair em miniatura, quase uma versão para crianças...

MAO


Fotos: Juvenal Jorge