Kenneth R. Thompson (14/04/1949-08/01/2010 )
"Aquela moléstia", como dizia a minha primeira sogra, a dona Dalva, pelo pavor só de dizer a palavra 'câncer' (ela morreu em 2007 com 102 anos) aprontou mais uma, desta vez para o meu grande amigo Ken, a família dele e, claro, para mim.
Uruguaio de nascimento por acaso, pois é filho de inglês e de escocesa, era um daqueles engenheiros fabulosos que não precisaram cursar uma faculdade, como Ferdinand Porsche. Sua infância e início de adolescência foram na Argentina.
Conheci-o quando me escreveu, por e-mail, e comentou o conteúdo de uma coluna minha em Quatro Rodas, no ano de 2004. No ato identifiquei um sujeito de elavado nível cultural e, pricipalmente, dono de uma redação, no idioma nativo, típico de escritor moderno, dos bons.
Fora o seu incrível embasamento técnico, que me surpreendeu e me deixou gratificado por tê-lo como leitor.
Desse contato inical a trocarmos telefones foi um pulo, seguindo-se um longo período de trocas de e-mails e muito papo por telefone.
Mas foi só em janeiro de 2008 que finalmente fui à sua casa em São Lourenço da Serra, próximo a São Paulo, perto da rodovia Régis Bittencourt, ocasião em que conheci também sua simpática esposa Ana Cecília e uma filha, de um total de três filhos.
Nesse dia me fiz acompanhar do amigo e jornalista Fernando Calmon, dado que seu ex-cunhado que mora nos Estados Unidos (ficou viúvo da irmã do Fernando, mesma e desgraçada doença, aos 34 anos), conheceu o Ken através de mim e também tornaram-se amigos. Por isso Fernando sempre insistia em chamá-lo quando eu fosse à casa do Ken.
Chamou-nos logo a atenção seu laboratório, com toda sorte de equipamentos e máquinas-ferramentas e projetos no campo da eletrônica e da mecância automobilística em andamento. Um "Dr. Silvana" em versão hodierna...
O Ken se foi cedo demais. Quisera tê-lo curtido mais, mas a correria da vida atual não me permitiu
Transcrevo trecho de um dos muitos e-mails dele para mim para que o leitor tenha ideia de como ele escrevia, de seu estilo inconfundível:
"Glad you get a laugh out of the correspondence ! Without a sense of humour, life could be a grindingly painful experience, and living in Brazil, residents need all the humour they can get to tolerate endless "palhaçada política". Still, thinking better on this, I consider that you might require an even better sense of humour to stand living in England, as the weather is horrible, and there are no beaches, churrasco or caipirinha. It is also full of sixty million "Ingleses chatos" , a further almost insurmountable problem, unless you resort to a thermonuclear solution to the English difficulty. I think three well placed 3 megaton warheads might deal with them quite well, and also save the world from warm beer, another of their more notable gastronomic eccentricities."
Era a sua visão das coisas do mundo, sempre com um ótimo humor, junto com sua sabedoria. Nesse trecho ele fala um pouco de política e da vida
Um amigo novo, amizade feita eu já na terceira idade. Mas que amigo!
Descanse em paz, ou rest in peace, amigo Ken. Mas ainda nos veremos novamente.
BS