Airbag, ABS, controle de estabilidade (ESP), brake-assist, cinto com pré-tensionador, airbag no cinto, GPS, limpador de pára-brisa automático, faróis que se acendem sozinhos, telefones integrados ao carro, bancos de ajuste elétrico com memória, aviso de mudança de faixa de rolamento, televisão, video games, DVD, motores flexíveis em combustível, alguns até com GLP (gás liquefeito de petróleo) além de etanol e gasolina, amortecedores com fluxo de óleo controlado por efeito magnético, capôs que se movem para suavizar o impacto de um pedestre atropelado.
Tudo isso e muito mais é encontrado nos carros modernos, até mesmo em vários feitos aqui, no Terceiro Mundo emergente.
Estamos, já há alguns anos, emergindo mesmo, de uma lagoa de pobreza automotiva, para imergir em um mar de confusão de siglas, sistemas, montes de fios, conectores e sensores e computadores e rotinas de funcionamento e de diagnóstico e mais e mais chatices que pouco dizem respeito ao prazer e satisfação no ato simples de dirigir um carro.
Quando nos deparamos com carros mais velhos que apresentam problema em algum desses sistemas, a vontade pessoal que tenho é de dar com uma marreta na cabeça de quem os idealizou. E colocar o carro com defeito dentro da sala de estar dessa pessoa, como naquela piada realista e comunista do bode.
Claro que não foi uma pessoa. Foi um comitê. Um insensível comitê, daqueles que consideram o carro como meio de transporte, pensando-o apenas como um gerador de receita para a empresa, e não como uma máquina com alma, "criada por glória e graça do espírito humano", como dizia um professor que tive.
Esse tipo de criatividade não pode levar a nada mais do que a banalização do automóvel, um assunto já tão comentado em vários textos no AUTOentusiastas, quando dissemos que os carros estão sendo tratados como eletrodomésticos. E pior, utensílios como aqueles video-cassetes ou mais modernamente, DVDs, celulares, ou outros aparelhos com centenas de funções que nunca são usadas.
Digam a verdade: quem pode ser tão limitado a ponto de precisar de verdade de um limpador de para-brisas que ligue sozinho? Se é que existe, esse tipo de pessoa não deveria nem mesmo ter CNH, concordam?
Me preocupo seriamente com esse problema da vida moderna, cheia de utilidades mais ou menos úteis, penduradas em nossos carros, nossas casas e em nós mesmos. Poucos param para pensar nisso tudo, apenas apreciam a mais recente novidade, e caem de cabeça nela, esquecendo que o excepcional de hoje pode ser a dor-de-cabeça de amanhã. Nem pensam que esses sistemas maravilhosos e moderníssimos são mesmo incríveis quando novos, mas que serão apenas sucata assim que os defeitos começarem.
E defeitos acontecem de verdade, aos montes, como podemos ver nas seções de cartas e reclamações em jornais e revistas daqui do Brasil e de fora também. Carros de todos os tipos, modelos e preços têm problemas, e não são poucos, e nem pouco importantes.
Pouco adianta pensar que carro é para ser comprado novo, e mantido enquanto estiver no período de garantia. Depois do primeiro dono, uma nova vida começa, e se não houver manutenção decente, em breve uma máquina excepcional pode ser apenas mais um carro abandonado. E a história se perde, se esvai.
Na verdade, a maior parte dos seres humanos é infantil, ou pelo menos, se infantiliza ao ver uma invenção chamativa. Quer sempre um brinquedo novo, por mais que já tenha vários. Se desespera por uma novidade, principalmente se ela for acoplada a um carro.
A loucura toma conta da mente das pessoas, quando uma novidade é colocada na frente delas, propagandeando um lançamento como sendo tudo que todos sempre quiseram.
Pensem bem, será que precisamos mesmo de todas essas coisas bacanas dentro de automóveis ? Pode ser bonito e até ter utilidade, mas será que são mesmo indispensáveis e fundamentais para o uso e funcionamento correto de um carro?
Na minha opinião, de forma alguma.
Mais fundamentais são peças relativas ao sistema dinâmico dos carros.
O melhor amortecedor e pneu deveriam por regra serem mais prioritários que o melhor rádio ou tecido de banco. Mas claro, pneu é apenas um negócio de borracha, redondo e preto, e não devemos nem pensar nele, como apregoava a pouco inteligente propaganda de um fabricante de pneus, anos atrás. Assim, pode até mesmo vir do outro lado do mundo, e não ter reposição no mercado, quem se importa?
De fato, posso parecer pessimista com tudo isso, mas está difícil ver ações sendo pensadas a favor do futuro do automóvel, da longa vida dos carros, de um futuro em que não será necessário jogar a máquina no lixo quando ela parar de funcionar, como já se faz com a maioria dos aparelhos eletrônicos.
Mas parece que estou sozinho nessa.
JJ