
Já falei duas vezes neste blog sobre o VW Polo I-Motion (
1 e
2), mas volto ao assunto para falar de algumas conclusões importantes.
Muitos que me conhecem sabem que sou defensor emérito da caixa manual. Até brinco que o carro que me levar à última morada terá de ser manual... Mas depois de usar mais o Polo I-Motion no dia a dia, meu conceito mudou. Vamos ver porquê.
O ponto que sempre me bato em favor do câmbio manual é poder usar o motor da maneira que me aprouver, sem o "patrulhamento" do câmbio automático no sentido de promover mudanças que não pedi. Quero poder levar o motor tanto à rotação de potência máxima ou mais um pouco, como quero usá-lo em giro bem baixo ou retomar velocidade na mesma marcha. Eu é que escolho.
Fora os manuais, isso é possível também com os câmbios de duplo acoplamento, ou dupla embreagem, como o
Passat CC que já vimos aqui. Mas a coisa não para aí. Os câmbios manuais robotizados como o do Polo I-Motion permitem essa autoridade também, só que a um preço bem conveniente.
Como definição - minha - esse tipo de câmbio é manual com uma única embreagem automática, mais o recurso de
shift-by-wire (troca de marcha por meio elétrico mas associado a um atuador hidráulico), conjugado com uma unidade de processamento que pode levar as trocas de marchas a serem efetuadas de modo totalmente automático. Ou seja, um câmbio manual robotizado e automatizado. Poderia até ser robotizado sem ser automatizado, mas para a caixa manual ser automatizada precisa necessariamente ser robotizada. Soa meio confuso, eu sei, mas é importante estabelecer claramente o conceito para que se entenda todo o sistema em profundidade.
Esse é o tipo de câmbio do Polo I-Motion, do Chevrolet Meriva Easytronic e dos Fiats Linea, Stilo Sporting, Palio ELX, e Idea Adventure Locker, com o sufixo Dualogic no nome do modelo.
A grande vantagem
Nesses câmbios, com toda a certeza a maior vantagem de todas é acabar com o pedal de embreagem. A embreagem a pedal é mesmo um comando arcaico. No tráfego anda e para, onde se costuma passar boa parte do tempo hoje, é totalmente inconveniente por ser repetitivo e, dependendo da carga de pedal, bastante cansativo.
Já tivemos aqui alguns carros com embreagem automática, portanto sem tal pedal, mas a alavanca de câmbio precisava ser usada normalmente, seguindo suas posições em um "H". Tiveram esse item, como opcional, o DKW-Vemag no começo dos anos 60 e, já bem para cá, anos 1990/2000, o Mercedes-Benz A 160/190, o Corsa Auto Clutch e o Palio Citymatic. Mas nenhum vingou. Aparentemente a ideia não atraiu os compradores como se esperava. Alguns diziam se tratar de câmbio semi-automático, um engano. Era embreagem automática apenas. Com o advento do câmbio robotizado a embreagem automática teve de voltar à cena.
Além do aspecto de conforto, a embreagem automática nunca será mal-utilizada, fator que leva à sua maior durabilidade, incontestavelmente. Seu controle eletro-hidráulico via computador garante. Por outro lado, manter o carro imóvel numa subida usando o motor, como se faz normalmente com os câmbios automáticos tradicionais, destroi a embreagem, especialmente o disco. Para alertar o motorista sobre esse uso irregular aparece no mostrador no centro do painel o aviso de que a embreagem está superaquecida. Quem fizer isso e tiver a embreagem danificada não terá direito a garantia, pois estará configurado mau uso.
Função automática
Esse tipo de câmbio possui função automática, as marchas vão sendo passadas em sucessão sozinhas, como em qualquer outro automático do tipo tradicional. Mas no Polo I-Motion e em todos os outros robotizados essas trocas são um tanto incômodas por existir uma hesitação entre uma marcha e outra, o que se convencionou chamar de "cabeçada", resultado da aceleração interrompida por breve instante. Dá para rodar assim numa boa, mas é um tanto desagradável, se não esquisito.
Por esse motivo, o ideal nesses câmbios é usar o modo Manual (M), efetuando as trocas manualmente, o que é feito sem esforço algum: tudo se resume a dar leves toques na alavanca, sem precisar movê-la verdadeiramente e tampouco selecionar o canal (1a-2a, 3a-4a e 5a). É uma operação do motorista que não custa nada, tão fácil que é.
No I-Motion e no Easytronic do Meriva, sobe-se marchas com toques para frente (+) e reduz-se, para trás (-). No Dualogic é ao contrário, do que não gosto absolutamente - este é um tema de grandes discussões. Em qualquer caso, as trocas são mais rápidas e precisas quando o câmbio está no modo Sport (S), sem serem abruptas ou desconfortáveis.
Então, com câmbio em M e em S têm-se, na íntegra, a operação de uma caixa manual normal, só que sem o pedal de embreagem. Não existe nada melhor, garanto. E com duas vantagens correlatas. Uma, à medida que o carro vai desacelerando diante de uma parada em semáforo, vão ocorrendo reduções em sucessão até à primeira. Quando o sinal abrir, é só acelerar. Outra é que a qualquer momento que se desejar aceleração forte, basta calcar o acelerador até o fim - chamado de
kickdwon em inglês - para comandar redução instantânea, pulando até três marchas, o que sempre ajuda numa tentativa de ultrapassagem, por exemplo. Isso mesmo com o câmbio em Manual. Na continuação, sobe-se as marchas manualmente, como já dito.
E tem mais: se nessa ultrapassagem o motor chegar a 6.000 rpm, é passada automaticamente a marcha superior, não havendo o tradicional corte de rotação que muitos apreciam (até eu), mas que de prático, num carro de rua, não tem nada.
Nas reduções há a aceleração interina automática, igualando rotação do motor e velocidade do carro na marcha prestes a ser engatada, eliminando todo e qualquer tranco e, melhor, evitando travameno parcial das rodas motrizes, importante especialmente com piso molhado. Outra característica própria dos câmbios robotizados é não aceitar redução que provoque excesso de rotação do motor (e do disco de embreagem, que pode se destruir por centrifugação).
Portanto, esse tipo de câmbio se encaixa à perfeição ao motorista-entusiasta também.
Quando se quiser dirigir em automático por qualquer motivo, como ao falar ao celular (permitido com viva-voz ou o próprio alto-falante do aparelho), basta um toque lateral na alavanca para o modo automático passar a valer. Mas a função Manual pode ser usada a qualquer momento, bastando usar a alavanca para escolher uma marcha. O modo continua até que a função deixe de ser usada durante 5 segundos, quando o câmbio retorna ao modo Automático (D).
Há, de quebra, uma vantagem sobre o câmbio automático tradicional: se necessário por qualquer motivo, o carro pega empurrado (o "tranco"). Basta ligar a ignição, mandar empurrar (ou deixar o carro correr, se numa descida) e deslocar a alavanca para a posição D. A marcha mais apropriada engata-se automaticamente e a embreagem acopla-se. Com um automático comum essa maneira de fazer o motor funcionar é impossível.
Sem avanço lento
No Polo não existe o avanço lento quando o câmbio está engatado e o motor em marcha-lenta, ou seja, não é necessário pisar no freio para que o carro fique parado. Nos Fiats é igual, mas no Meriva há o avanço que, além de exigir frear com o carro imóvel, sempre faz aumentar o consumo de combustível, pois o motor está realizando um trabalho e há uma resistência - o freio - em oposição a ele. Fora que a embreagem fica patinando enquanto o carro estiver parado, o que não é bom para ela.
Por outro lado, é preciso atenção do motorista ao parar o carro no plano, estando o câmbio em D com motor ligado: uma pisada inadvertida no acelerador e o carro anda. Pode ser perigoso. Por isso, parou o carro e saiu do volante, a alavanca seletora deve ser posta em N. Por sinal, uma boa medida nos Dualogic da Fiat é com qualquer porta aberta o carro não se mover se for acelerado.
Arrancadas vigorosas também podem ser feitas. Acelera-se em Neutro (N) e depois move-se a alavanca para D. A primeira é engatada e a embreagem é acoplada abrutamente, deixando a "assinatura" da arrancada no asfalto.
No Polo I-Motion todas as funções e marchas em uso são indicadas no mostrador entre o conta-giros e o velocímetro (da esq. para a dir.), qualquer que seja o modo utilizado, D ou M, com e sem S.
O melhor é todo esse elenco de virtudes custar só R$ 2.500, 40% a 50% menos que uma caixa automática tradicional, com a vantagem de consumir menos combustível. Para todos os fins de desempenho e consumo o câmbio robotizado é um câmbio manual normal.
E para quem quer se sentir um piloto de F-1, é possível comprar o Polo I-Motion com alavancas-borboleta atrás do volante para as trocas de marchas, mas precisa-se pagar um preço meio alto: R$ 470 do volante e R$ 800 do rádio com MP3 e tomanda USB, que formam um conjunto. No carro assim equipado troca-se de marcha tanto pelas borboletas quanto pela alavanca, é indiferente.
O câmbio do Polo I-Motion, assim como os outros do tipo, requer um pouco de adaptação, e seguindo o que foi dito neste post, revela-se em poucos quilômetros um verdadeiro câmbio de autoentusiasta.