
Obsolescência programada, um dos pilares atuais da indústria automobilística, não significava nada para Henry Ford.
O criador do modelo T queria do fundo de sua alma que seu “tin lizzie” durasse para sempre, e o criou com esta idéia na cabeça.
Sua idéia era fazer um carro sem classe, que por sua qualidade e versatilidade pudesse ser comprado por todas as camadas da sociedade, indiscriminadamente. Desta forma, o volume de produção e os custos dela poderiam indefinidamente ser aperfeiçoados, num ciclo eterno de redução de custo sem redução da qualidade, mas sem alteração nenhuma no carro em si. E o mais incrível é que, por um bom tempo, Ford teve sucesso nessa aparentemente impossível tarefa.
O T, assim como o Fusca e o Mini original, não era apenas um carro barato. Era barato, mas de qualidade muitas vezes superior a de carros custando o dobro ou o triplo do preço. Foi usado como caminhão na roça e como carro de corridas na pista. Como ambulância nos hospitais e como um alegre phaeton que levava as famílias para piqueniques nos fim de semana.
Até meados dos anos 20, quando o método moderno de criar e vender carros foi criado por Alfred Sloan e a sua GM (designers mudando carros todos os anos, vários modelos numa escalada de preço etc.), o modelo T chegou muito próximo de ser o carro definitivo que Ford tanto sonhava.
Não era para ser como o velho Henry desejava, mas eu pessoalmente acredito em que, em seu carro definitivo, ele acertou pelo menos uma coisa: o tamanho definitivo de motor.
O modelo T deslocava 2,9 litros em seu 4 cilindros em linha “monobloco” de cabeça chata. Na casa dos três litros. Não era grande demais para não desperdiçar combustível e atrapalhar a dinâmica do veículo com seu peso, nem pequeno demais para que o desempenho ficasse inaceitável. E o mais interessante é que os 3 litros de deslocamento, 100 anos depois, continuam com as mesmas vantagens.
Um motor de 3 litros moderno pode varrer a faixa de 150 até mais de 400 cv tranqüilamente. Nas potências mais baixas, se torna muito mais satisfatório para dirigir do que os 4-em-linha de 2 litros mais usuais hoje em dia, com pequeno prejuízo (se houver) em economia de combustível e peso. E nas faixas mais altas, com ou sem superalimentação, é mais econômico e mais leve que os propulsores de deslocamento maior.
Para exemplificar, nada melhor do que mais uma listinha.
Com vocês, os 10 melhores carros de 3 litros de todos os tempos, segundo o Marco Antônio Oliveira:
1) Mercedes-Benz 300 SL:
O famosíssimo “asa de gaivota” chegava a quase 250 km/h em 1955 e foi o primeiro carro de série com injeção de combustível (direta, muito parecido com Diesel, inclusive com bomba injetora) e deslocava 3 litros de seu seis-em-linha inclinado.
2) Ferrari 250 TR:
O V12 de três litros de Gioachino Colombo é a raiz de toda a fama e sucesso de Enzo. Um motor de alma, 250 cm³ por cilindro, total de 3 litros.
3) BMW M3 (E36, 1991-1998):
Um seis-em-linha girador, aspirado, de 6 borboletas e 286 cv. Já foi dito que era “suave como um V12, forte como um bom V8 e subia de giro como um pequeno 4-em-linha.” Na minha opinião, o melhor M3.
4) Porsche 911 SC (1978-1983):
Eu tinha que colocar um 911 refrigerado a ar na lista, pois do Carrera 2,7 aos últimos de 3,6 litros, a maioria deles ficaram sempre ao redor dos 3 litros. E o SC, com exatamente 3 litros.
5) Porsche 968:
Prova que um 4-em-linha pode deslocar 3 litros sem ofender ninguém. E ser memorável.
6) Ferrari F40:
O mais famoso dos Ferraris também deslocava 3 litros e era turbo. Com 478 cv, o mais potente carro da lista.
7) BMW 335 atual:
O motor seis-em-linha de 3 litros da BMW já é uma jóia. Turbocomprimido para 300 cv e montado na excelente Série 3, faz um dos carros mais perfeitos tecnicamente já criados pela humanidade.
8) Ford modelo T
9) Honda NSX:
O melhor esportivo já criado na terra do sol nascente deslocava exatamente 3 litros em seu magnífico V6 VTEC de alumínio.
10) Noble M15:
A partir do V6 Ford de alumínio e 24 válvulas, a pequena empresa inglesa, com ajuda de turbocompressores, faz um 3 litros de 455 cv. Montado no excelente M15, mostra que a indústria de carros esporte inglesa ainda vive.
Lista difícil de se manter em apenas 10. Faltou um monte de sedãs, por exemplo.
Sedãs de 3 litros podem não são tão glamurosos quanto seus irmãos maiores, mas quem já andou bastante em um Mercedes 300 E, um Omega de 3 litros, um Nissan Maxima com o ótimo V6 de alumínio, ou mesmo um BMW 530 com o V8 de 3 litros (coincidentemente todos da década passada) sabe o quão satisfatórios eles são.
Mas regras são regras…
MAO
