google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
O indicador de desgaste da banda de rodagem (TWI): quando ele toca o solo, já passou a hora da troca

Caros leitores, comprei pneus novos.

Poderia só ser um objeto qualquer que todos precisamos comprar nos nossos cotidianos. Ou poderia ser como uma propaganda de alguns anos atrás, que dizia que você não precisava pensar em pneus se usasse aquela marca. Ou que a marca era para quem não queria nem lembrar que pneus existem. Era alguma besteira desse naipe, uma coisa típica dos anti-automóveis, espécie maldita,  em moda hoje. Inimigos da evolução humana.
Fotos: autor


Na frente, tudo novo: pára-choque, grade, faróis, capô.

Senhores, em primeiro lugar preciso compartilhar com vocês minha promoção: de agora em diante não sou apenas mais um blogueiro do AUTOentusiastas. O Bob me promoveu a Especialista em JAC. Não sei bem se é realmente uma promoção ou vingança, já que (lá veio o trocadalho...) fui chefe do Bob um bom tempo. Agora que é meu chefe aqui no AE, o Bob me agracia com este título honorífico. O pior, gostei.
 
JAC J6 concorre com Honda Fit, Fiat Idea e Chevy Spin

Carro diferente é minha praia. E os chineses são diferentes, pelo menos por enquanto. A JAC, considerada a melhor chinesa que atua no Brasil, também é a mais esforçada. Tanto que já fez um “face and ass lift” no monovolume J6, pouco mais de dois anos dele ter entrado em cena. Apesar de não ser o ator principal da JAC — titulo ostentado pela dupla J3, hatchback e J3 Turin, sedã — o J6 também começou com boas perspectivas de mercado. Mas, a JAC até exagerou um pouco na entrada no Brasil, fazendo grande alarde, sempre calçada no argumento “preço”. Com isso, muito arautos do apocalipse começaram a bradar contra a “invasão chinesa”, que mal representou 2% ou 3% de mercado, e o governo fez o que sabe melhor: tacou mais 30 pontos porcentuais de IPI nos importados que não do México, Argentina incluída, além de ter sido "ajudado" pela valorização dólar em 30%. Isso, se não quebrou, pelo menos machucou as pernas da JAC, que teve de rever seus conceitos.
 
Versões de cinco ou sete lugares, com bancos rebatíveis


www: Santa Internet, Bernie


Durante muito tempo. Bernie Ecclestone rejeitou e espezinhou a internet. Não fosse por ela e eu, aqui na Califórnia, a caminho da Carrera Panamericana, ainda estaria procurando saber detalhes do GP do Japão... O país dos comics ainda não leva a F-1 a sério...


F-1 e o American Way of Life


A Califórnia, estado mais rico dos Estados Unidos, tem uma cultura peculiar tão ampla quanto sua extensa costa sobre o Pacífico. As águas deste oceano são reconhecidamente frias mas jamais poderiam ser compradas com o jeito "cool" de seus habitantes, um verdadeiro cheese salada com fritas e muito chilli. No último domingo, anteontem, o sol acordou apropriadamente no horário comercial, dando as caras quando as lojas abriam por volta das 11 da manhã e num dia onde "business spirit" era o de promoção de vendas em cima do Columbus Day, ou Dia de Colombo, o descobridor da América em uma história que apenas o Brasil não compartilha, como se estivéssemos incrustados em outro continente.

O tempo local levava 16 voltas de 60 minutos de desvantagem em relação ao momento em que Sebastian Vettel conseguia sua quinta bandeira quadriculada consecutiva, desta vez marcada pela enésima superação em cima de Mark Webber, e o clima nos arredores de Los Angeles agradava os petrol heads de uma forma muy distinta. Uma picape do ano puxava um trailer equipado com uma moto BMW dos anos 1950 com cara de nova e sem resquícios de botox em sua irretocável pintura preta. De repente passa uma cegonha de encher os olhos em papais, mamães e avós corujas: do alto de suas plataformas, babies de todas as raças: uma Kombi, um Triumph, um BMW série 3 igual à que aparece nos meus sonhos, dois muscle cars e uma picape Ford da época daquela moto.

Como dizia Cazuza, o tempo não pára e, como que a contrastar com o grito do saudoso poeta que viveu intensamente, passa um tão imponente quanto silencioso Tesla, esportivo elétrico que nas vizinhanças de Hollywood faz as vezes de protagonista frente a figurantes híbridos que se movem quase tão silenciosamente quanto. Como que num grito de desespero repleto de estilosos decibéis Porsches Panamera, Mercedes-Benz de vários cores e credos, versões modernas de Mustangs e Camaros — e os sempre presente Dodges —, abriam alas com o grave enredo de seu motores em V.

Neste melting pot de cultura consumista e hedonista lembro das batalhas de dois amigos californianos dos meus tempos de correspondente na F-1, Pamela e George. Casal próximo ao que interpretamos como representantes da paz e do amor, entre os anos 1980 e 2000 eles seguiam todos os Grandes Prêmios representando a FOSA, a Formula One Supporters Association, uma agência de notícias que levava aos americanos detalhes de treinos e corrida via boletins telefônicos. Hoje eles acompanham uma ou outra corrida por ano, se tanto, mas seguem vivendo um sonho que Janis Joplin descrevia muito bem quando abria a alma cantando versos como Oh. Lord, won't you buy me a Mercedes-Benz, my friends all drive Porsches...

O Cirquinho do Tio Bernie não tem mais os motores Porsche — OK, TAG —, mas tem a Mercedes. Só os Estados Unidos continuam dando pouca atenção à categoria. Quem sabe por isso Ecclestone tornou-se internet-friendly e aceitou esta nova mídia. Não fosse por ela eu, outrora um fanático e apaixonado e hoje um apreciador do que acontece no planeta F-1, ainda estaria sem saber o que aconteceu na corrida que poderia ter garantido o quarto título consecutivo de Sebastian Vettel. Foi por causa dela que eu tive mais tempo para curtir tantas relíquias e jóias modernas que me mantêm um autoentusiasta, mesmo dedicando cada vez mais tempo aos vinhos e às guitarras...

La Pana vem aí


Minha coluna da semana que vem terá um tom ainda mais saudosista: nela começarei a descrever minha descoberta da Carrera Panamericana, ou simplesmente La Pana, como a competição é tratada pelos hermanos mexicanos. Disputada pelo mais próximo daquilo que conceberíamos como a mais perfeita releitura de uma carretera, a corrida começa dia 24 em Vera Cruz e termina dia 31 em Zacatecas. No percurso diário de cerca de 500 km as duplas percorrem estradas em trechos que mesclam deslocamentos e provas contra relógio. Algo bem diferente de minha experiência com autos clássicos no Gran Prémio Histórico da Argentina, prova que disputei no ano passado.

WG


A coluna "Conversa de Pista" é de total responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.
De Brescia, no norte, a Roma e volta pela costa do Adriático (imagem grandprixhistory.org)

O Fangio disse que trocaria um de seus cinco títulos da Fórmula 1 em troca de uma só vitória na Mille Miglia. O máximo que ele conseguiu na MM foi um segundo lugar, o que não é nada mau para um mortal, mas o Fangio era o Fangio, indiscutivelmente o melhor piloto, o mais completo, de sua época. Com essa confissão tem-se uma idéia do quanto essa corrida de estrada foi importante. 

Começou em 1927 e foi até 1957, quando, após um terrível acidente, onde o piloto espanhol Alfonso de Portago, com Ferrari 335 S, o co-piloto Edmund Nelson, americano, e nove espectadores morreram, veio uma grita geral — até o papa deu tremenda bronca —, e aí ela foi proibida.

Essa corrida, sim, foi de lascar. De uns anos para cá vem ocorrendo o que eles chamam de “revival”, onde somente modelos que participaram da original podem participar. Virou um evento social politicamente correto, rali de regularidade, light, com direito a champanhe gelado regando buchos de novos-ricos e nobres quebrados. Os carros continuam espetaculares, felizmente.


Mas não é bem sobre isso que estamos aqui. É sobre os Flechas Vermelhas — como eram chamados os Ferrari que competiram na MM durante a década de 1950 — que aqui trataremos, já que de 1948 a 1957 a marca venceu oito provas. Portanto, em 10 provas a Ferrari venceu oito. Das que não venceu, chegou quase lá. Em 1954, quando Alberto Ascari venceu com um Lancia D24, um Ferrari chegou em 2º. Em 1955, quando Stirling Moss venceu com um Mercedes 300 SLR e o Juan Manuel Fangio — também com um 300 SLR — chegou em 2º, um Ferrari chegou em 3º.   

Uma vitória na MM, devido à repercussão nacional, trazia mais prestígio, ao menos junto ao povo italiano, que uma vitória em Le Mans. Foi na MM que a Ferrari se consagrou. Nela, sim, a marca foi imbatível, o maior orgulho do Comendador Enzo Ferrari. 

Vamos aos Ferrari da Mille Miglia, ano a ano, um a um, ficha técnica por ficha técnica, segundo o livro "Red Arrows" escrito por Giannino Marzotto, vencedor de duas MM, um gentleman driver que pouco se aventurou em outras provas, pois para ele essa era “a” corrida.

Vale notar que as velocidades máximas eram realmente suas velocidades máximas possíveis, pois a transmissão era acertada para isso, já que havia vários trechos com longas retas, bem longas. Numas delas o Moss disse que, estando a toda em seu Mercedes 300 SLR, por ele passou um Ferrari 121 LM. E não foi à toa, já que a potência do seu 300 SLR 3-litros de 8 cilindros em linha não passava dos 310 cv, enquanto que a do Ferrari 121 LM era de 330 cv.

Os tempos de prova variam principalmente devido às condições de clima, se chovia ou não. O Moss ficou com o recorde de todas as provas principalmente porque não pegou chuva alguma, e chuva era muito comum nessa prova, especialmente no veloz trecho entre Pescara e Ravenna, na costa Adriática.

Vale notar também que a Ferrari tinha o bom costume de nomear seus modelos com a cilindrada unitária, de cada cilindro. Por exemplo, um 250, tendo motor V-12, tinha 3.000 cm³ redondos (250 x 12 = 3.000). Não sei por que mudaram isso. Também não sei por que não continuaram a fazer carros tão lindos e tão viscerais.

1948 - Ferrari 166 S (1949) 
Venceu, Clemente Biondetti, em 15h05’44”

(www.listal.com)