google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Tanque cheio, carteira vazia

A língua inglesa é criativa. Uma das boas vantagens é que eles criam termos para explicar expressões. Existe um termo para a ação de dirigir economizando combustível. É o  hypermiling, ou seja, hiper-milhagem, para nós, hiper-quilometragem. Há boas razões para dirigir um veículo de forma econômica na maior parte do tempo.

Um bom motivo é aquele que é o principal para mim. Minha aversão a desperdícíos de qualquer tipo, me faz sempre buscar uma maior autonomia para cada tanque de gasolina. Não uso álcool, primeiro por não ter carro que funcione com ele, e se tivesse, continuaria usando gasolina. Com o etanol, teria que parar em postos de abastecimento com mais frequência, e isso é coisa de que não gosto, como ir a supermercado, ou loja de roupas.
Fotos: autor


A primeira vez que passei por ele foi em agosto de 1979. Inesquecível. Lindo de enlouquecer. Ele vai de Villa la Angostura a San Martin de Los Andes, região de San Carlos de Bariloche, Argentina.

Começando do começo.

Três anos antes, no inverno de 1976, eu com uns 19 anos e um primo maluco topa-tudo saímos pra viajar de trem. Saímos da Estação da Luz, em São Paulo, e fomos parar com frio e esfaimados em Santa Catarina. Por sorte nossos pais passavam por lá em viagem de carro e nos recolheram, agasalharam e alimentaram, e, já refeitos, o meu primo se mandou pro Rio de Janeiro pra se esquentar ao sol nos braços de uma namorada e eu me mandei pra Argentina com uns trocados que meu pai me enfiou no bolso.

– Toma esta grana e leve este meu poncho de alpaca, que ele segura uma onda de frio fatal – ele me disse.

Fui parar em San Martin de Los Andes, um pouco ao norte de Bariloche, alojado num albergue de estudantes, que estava vazio, só eu ali, e acho que ali tinha sido feito pra abrigar estudante urso, porque não tinha calefação alguma e era um frio miserável, de usar meias como luvas pra dormir e foi ali, ao apelar para o poncho como oitava coberta é que entendi pra valer o que aquele poncho de alpaca significava como anti-fatal e bendizi meu pai assim que meus dentes pararam de bater. Frio pracacete mesmo. De manhã, saí, ou melhor, de tão encolhido de frio, caí da cama feito uma bola, com os pés detrás do pescoço, e rolando escada abaixo fui parar desembrulhado no saguão do albergue, onde uma ursa peluda me serviu um delicioso gole de chá quente com umas gotas de leite tão gordo que acho que era dela mesma.

Mas tudo bem. Corpo jovem é pra isso mesmo, pra gente abusar, procurar seus limites.
Foto: quatrorodas.abril.com.br


Voltando ao tema dos "recém-nascidos", ocorreu um fato inacreditável ligado a Passat. Há pouco foi bastante comentado na mídia o problema de pedal de freio do JAC J3 que estava em teste pela revista Autoesporte, que entortou após uma aplicação forte dos freios, lembrando-me algo que aconteceu com um Passat.

A minha concessionária VW foi das primeiras que viu no Passat a mudança de direção (sem querer parodiar o mote da Renault, "Mude a direção"...) na filosofia de produto que impulsionaria a marca nos anos seguintes. Isso nos fez vender uma quantidade apreciável de Passats logo que foi lançado. Inclusive, com o Passat iniciamos a sistemática de clientes experimentarem o novo VW, sempre comigo ou um sócio junto. Era o cliente andar no carro e fechar negócio, algo que nos impressionou.
Foto: antigoverdeamarelo.blogspot.com


A família foi uma das primeiras do Rio a ter Fusca, no começo de 1953, que foi trocado por  um 1955.  Ambos foram comprados zero-quilômetro na concessionária Auto Industrial, que pertencia  ao presidente  da VW, Schultz-Wenk A Auto Industrial só vendia, a assistência técnica era na Rio Motor, que não vendia  carros. Também pertencia ao n° 1 da VW do Brasil, recém-fundada. 

O motor do 55 já era o 1200 de 30 cv, bem melhor que o anterior 1100 de 25 cv. Adolescentes, eu e meu irmão curtíamos o Fusca, fazíamos a maior lenha com ele e posso dizer que foi uma grande escola, dadas as características digamos não muito saudáveis de um carro de motor traseiro com suspensão por semieixo oscilante atrás, combinado com os pneus diagonais 5,60-15, que em nada ajudavam.

Verão 1958/1959, estávamos em Teresópolis, como fazia alguns anos. A nossa diversão predileta era andar com o Fusca na estrada Teresópolis-Itaipava, cerca de 30 quilômetros de um magnífico piso de concreto que serpenteava na serra, com subida e descida.

Um dia, subindo a serra, meu irmão, ao volante, me diz para olhar para trás. Um DKW-Vemag cinza-chumbo se aproximava. Acelera aí, disse-lhe. Não adiantou, o DKW tirou, emparelhou, ultrapassou e pouco depois havia sumido. "Esse é o carro", disse para o mano. Foi amor à primeira "jantada", o que nos levou a desejar aquele carro.