google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Texto e vídeo: Arnaldo Keller

Aqui segue um filminho que recentemente fiz da Curva 3 do Circuito de Interlagos. Eu estava com um Peugeot 207 Quicksilver – motor espertinho de 1,4-litros e carro bonzinho de curva – e, quando fui a Interlagos para a comemoração do 70o aniversário do autódromo, da área dos boxes vi a Curva 3 lá ao fundo, quieta, deserta e abandonada. A festa aqui, aquela barulheira estridente de locutor desenfreado, aquele monte de gente nada a ver com corridas zanzando, e a mega-curva lá, sozinha, silenciosamente se esfarelando por abandono, por esquecimento.

Mundo ingrato.

Ingrato porque o Autódromo de Interlagos deve sua glória ao hoje desprezado e esquecido circuito antigo, que infelizmente teve seus pontos fortes amputados e, pior, amputados por estupidez, por burrice – por cabeças de meleca que tiveram ideias de meleca e com poder de transformar suas ideias de meleca em realidade de meleca. Mundo ingrato, mundo burro, insensato, insensível, onde ignorantes conseguem impor sua pequenez.

Amputaram os membros mais fortes, os mais saudáveis, os mais representativos.
E pra quê?

A justificativa é estapafúrdia: o circuito seria extenso demais para a Fórmula 1 "moderna" – demoraria muito tempo para que chegasse o socorro num caso de acidente.

Os miolos de siri dão essa explicação e tudo bem – como se não fosse possível colocar mais ambulâncias, bombeiros, etc.

E o pior é que essa baboseira colou e tocaram adiante a coisa a partir dessa premissa errada. E ainda disseram que foi o Senna que ajudou a bolar a coisa. Mentira. O Senna ficou estarrecido, chocado, isso sim; que eu sei de boa fonte.

Não sou, da equipe do Autoentusiastas, a pessoa certa para falar do circuito antigo, porque nele nunca corri. Naquele tempo eu corria de kart e em seguida parti para surfar e viver na fazenda, e com isso me distanciei das corridas.

A pessoa certa aqui é o Bob Sharp, que ali correu dezenas ou centenas de vezes, ali lutou duras lutas contra pilotos, contra dificuldades mecânicas, contra a neblina da madrugada, contra a sede e contra só ele sabe o que. Ali ele perdeu e ali venceu, e assim, ali deixou sua marca. A marca está lá, no ar, assim como a marca de outros grandes e também dos pequenos, por que não? Peço que o Bob logo dê aqui a sua opinião a respeito, ainda mais porque sei bem qual ela é.

Mas naquela tarde do passado mês, era eu que estava olhando para a Curva 3. E ela olhava pra mim. Parecia um monstro que me convidava a voltar a sentir a sua energia. Era um desafio que me fazia? Não. Uma curva nunca te desafia, simplesmente porque elas sabem que são imbatíveis – sempre haverá um modo de fazê-las mais rápido, portanto, não há como vencê-las.

Eu já a conhecera. Já testara carros na parte abandonada da pista e já despinguelara por essa maravilhosa curva em relevé algumas vezes. Ela fica no final do antigo Retão. O camarada passava lascado pela Reta dos Boxes e, dependendo do carro, fazia as Curvas 1 e 2 com o pé cravado. Assim, já entrava no Retão com o motor cheio e em marcha alta. O Retão é numa leve descida e é longo, bem longo, e nele o carro dava tudo o que tinha, tudo o que podia. A maioria dos carros ali dava a sua velocidade final mesmo. Hoje, não. Hoje as retas logo acabam e em muitos carros nem se coloca a última marcha, o que é ridículo.

E nessas, ao final do Retão o sujeito vinha em última marcha e com o motor quase saindo de giro, e toca a frear e reduzir para tomar a Curva 3. Dureza! Haja freios, haja discos e pastilhas e/ou tambores e lonas se atritando e rangendo desesperados; hajam punta-taccos e sutil sensibilidade para ajeitar e equilibrar a máquina para enfrentar esse autêntico enorme mergulho que é fazer a Curva 3.

Vai aqui, portanto, a deliciosa Curva 3. Procure imaginar o que era fazer isso com uma carretera endemoniada cuspideira de fogo pelos escapes, procure imaginar fazer isso sob neblina densa de cortar com faca, procure imaginar a envolvente volúpia dessa curva.

E já que ela me convidou, fui. Fui e filmei, para que os que não a conhecem sentissem um pouquinho da sua delícia.

Dois filetes d’água, bem na tomada da curva, me acautelavam, fazendo com que maneirasse alguns metros até que os pneus secassem de todo. Em seguida à 3, claro, vem a 4, que já está lá embaixo, no plano, e creio que o melhor é uni-las numa só linha curva, e foi o que fiz. Os asfalto está poroso e em alguns pontos há areia e noutros há pedregulhinhos soltos. No Retão eu maneirei, para que não me notassem e viessem pegar no meu pé.

Estranho – foi uma experiência que, como sempre me ocorre ali, provocou alegria, prazer, tristeza e revolta, pela ordem.



AK
Foto: passat.blauu.deLendo o penúltimo post do Paulo Keller, me deparei com o comentário de um leitor que relatou seu apego emocional com a Mercury. Acredito que todo entusiasta tenha um fabricante ou modelo "do coração", graças a determinadas características ou motorizações que tiveram um papel significativo em sua formação automobilística.

A paixão de alguns colegas é bem nítida: o MAO e o Mahar gostam muito de Chevrolets, especialmente aqueles fabricados com o V-8 de bloco pequeno, mas o festejado motor de seis cilindros em linha sempre terá um lugar especial em seus corações. O Mahar e o Roberto Nasser se deliciam quando o assunto é Alfa Romeo, principalmente quando citamos o canto do bialbero de quatro cilindros.

É claro que piadinhas não faltam: já vi muita gente cutucando o MAO (entre outros entusiastas da linha Opala), dizendo que o carro nada mais era do que um olho solitário em uma terra tomada pela ablepsia automobilística. Eu mesmo adoro provocar reações coléricas no Mahar, dizendo que a Alfa Romeo foi a pioneira na tecnologia do carro biodegradável: quase sempre sou retribuído com um sonoro palavrão.


O problema é saber distinguir a linha que separa a brincadeira irônica do escárnio maldoso. Entre amigos geralmente tudo se resolve, mas é fácil perder o controle da situação quando algum desconhecido tece um comentário mais agressivo (e infeliz) sobre nossos objetos de adoração. Prudente é aquele que sabe ser comedido e ponderado em seus comentários, evitando celeumas desnecessárias.

Muitos aqui sabem que eu tenho um carinho especial reservado aos Volkswagens equipados com o motor EA-827 posicionado no sentido longitudinal (o famoso VW AP), fruto de uma infância vivida a bordo de Passats, Gols, Paratis, Saveiros, Santanas e Quantums. E sempre ouço piadinhas a respeito dessa predileção, sempre relevadas, ainda que algumas sejam realmente maldosas. Nesses casos a melhor resposta é sempre o silêncio.

Ainda que o carinho seja especial, é preciso prestar atenção para não querer defender o indefensável. Meu pai teve um Santana igual a esse da foto abaixo, um CL básico de 2 portas com motor de 2 litros e direção hidráulica. Acredito que tenha sido um dos carros que mais gostei de guiar até hoje, mas não tinha como deixar de notar o estofamento em brim vagabundo e os freios a disco sólido, que superaqueciam com facilidade e provocavam alguns sustos.

O tempo do Passat TS, Gol GTS e Santanas já passou, mas eu não consigo esconder um sorriso cretino quando ainda vejo a boa e velha Parati sendo produzida pela Volkswagen, com todas as suas virtudes e defeitos. Concordo quando dizem que é um carro que morreu e se esqueceu de deitar, mas e daí?

O coração ainda fala mais alto. Acredito que seria um dos poucos Volkswagen que eu compraria hoje.

FB
Por que será que tudo precisa mudar de ritmo por causa de um esporte absolutamente chato? Acredito que seja a falta do que fazer que leva a maioria a considerar que futebol é a coisa mais importante do Brasil. Afinal, o País vive um momento econômico bom, bem planejado mais de uma década atrás e que provou funcionar bem, apesar dos milhões de outro problemas existentes. Ironicamente, então, não temos nada para resolver, pode-se, sim, parar de trabalhar para assistir a um jogo de bola.
Não é verdade, claro.
Ontem já comecei o meu processo normal de não assistir a nenhuma partida e aproveitar meu tempo com algo útil, principalmente se for relativo a automóveis. Faz muito pelo meu espírito.
Na Copa passada aproveitei uma das partidas da seleção nacional para instalar os pára-barros em um jipe que eu possuía, e para o qual dedicava pouco tempo. A folga do trabalho, imposta a todos os funcionários, veio a calhar. Fiz o que precisava, em vez de perder duas horas de minha vida com algo que não a mudaria em nada.
Meu desprezo por esse jogo de bola vem de não muito tempo. Cheguei a ir por um bom período a estádios, e assistir a muitas partidas na televisão. Copa do Mundo? Também me entristeci de ver a Seleção perder algumas finais, como contra a França em sei lá que ano.
Mas cansou.
Um reflexo dos absurdos brasileiros se faz no futebol. Salários injustos (para cima ou para baixo), trabalho de menos, politicagem demais e responsabilidade sempre tendendo a zero. Não dá para aguentar tanta falta de inteligência acumulada em um só esporte. Então, parei e me dediquei mais ao que importa: família e carros.
Acredito que dê para fazer alguns consertos rápidos, regular um levantador de vidro que começa a ter problemas em um deles, ou descobrir por que não acende uma luz no painel no outro. Ou ainda, se a preguiça for mais forte, apenas continuar a ler os vários livros que se acumulam. Sem dúvida aprenderei algo.
Diferente de ficar olhando para uma tela de TV e babando, torcendo por um gol, para gritar e pular por um motivo fútil, uma bola.
Prefiro babar por um carro. Tem mais consistência.
JJ


O Alexandre Garcia me mandou esta semana o catálogo de peças oferecidas pela Envemo para os Opalas de primeira geração, que ilustram este post. Superinteressante, e educativo, porque eu na verdade não conhecia metade desses acessórios, e de particular interesse para mim foram as peças de suspensão, de dar água na boca... E olhem as opções de transmissão!

Este tipo de coisa me deixa particularmente perturbado porque, sabe-se lá o motivo, eu sou vidrado em preparações de época. E para mim não existe coisa mais legal que um Opala com três carburadores DFV 446 duplos.

Antes que alguém diga algo, eu sei que três DFVs são algo ultrapassado e que dificilmente funcionam bem e, quando o fazem, não é por muito tempo. Existe um milhão de piadas sobre eles (joga mais gasolina para fora que para dentro do motor etc). Mas mesmo assim, um Opala preparado como se fosse 1975 é algo que me parece simplesmente perfeito.


Infelizmente é raro ver coisa deste tipo, aqui no Brasil. O pessoal ou coloca horrendos pneus faixa-branca, ou coloca rodas modernas e pneus idem, selando o tema do carro para um lado ou para outro. Raramente vejo algo como o Opala de meu amigo PH, o que é uma pena, pois, sinceramente, não fico tão animado com Opalas originais, nem com os “modernizados”. Deve ser porque quando era moleque era comum pelo menos esta grade Envemo, e um Opala com três carburadores era uma lenda de velocidade e poder sussurrada com reverência pelos mais velhos.

Olhando as fotos do carro no anúncio, simplesmente não consigo imaginar um carro que eu deseje mais do que este Envemo. Em toda a face da Terra.


Seria sensacional se alguém se propusesse a reformar um Opala até 74 como um Envemo... Nunca soube de nenhum sobrevivente. Seria joínha, bicho, podescrer!

MAO