As barcas americanas têm o seu charme. Muitas delas são desajeitadas e muito quadradonas, principalmente as que vieram depois de meados dos anos 1970. Mas algumas têm o que o Juvenal Jorge definiu como carronalidade, curiosamente utilizando um Buick para ilustrar o termo.
Uma das barcas bacanas para mim é o Buick Riviera de terceira geração, entre 1971 e 1973, o chamado boat-tail, ou traseira de barco. O modelo das fotos é um 1973 que foi exibido no último encontro de Águas de Lindoia. Foi um dos meus preferidos do evento.
O Riviera teve uma grande longevidade, com oito gerações, nascendo com tração traseira e morrendo em 1999 com tração dianteira. Apesar das duas portas o Riviera era um carro mais formal e com um apelo mais luxuoso. Tal formalidade foi quebrada nessa terceira geração com a carroceria estilo cupê. Sua traseira em "V" e com o vidro abraçado às laterais teve clara inspiração no Corvette Sting Ray, só que no modelo 1964 sem a coluna central.
Os para-lamas traseiros, musculosos, delineiam os contornos dos vidros traseiros, contribuindo para o visual único do Riviera. Mas esses grandes para-lamas e a traseira superalongada seriam um problema para passar por valetas e desníveis aqui no Brasil. O carro tem 5,5 metros de comprimento, 3,1 metros de entre-eixos e deve ter perto de um metro de balanço traseiro!
Uma curiosidade do Riviera era um sistema de controle de tração que era oferecido como opcional. O Max-Trac, um dispositivo eletrônico, comparava a rotação das rodas dianteiras (na realidade, tinha um sensor apenas no cubo da roda dianteira esquerda) com a rotação na saída da caixa de câmbio. Quando a rotação de saída excedia em 10% a rotação equivalente das rodas dianteiras a ignicião era cortada para evitar a perda de aderênccia - patinagem - das rodas traseiras.
Esse visual único, meio esporte-fino, combinou muito bem com o seu nome. Imagino muitos americanos puxando seus barcos com o Riviera para praias ou lagos. Pensando nisso vasculhei minha coleção de Hot Wheels e encontrei o meu Riviera 1971. Coincidentemente fui para a praia nesse final de semana e consegui fazer umas fotos num cenário apropriado.
Nessa foto por cima podemos ver que o "V" se repete na frente também.
Em 1973 houve mudanças significativas na frente e na traseira devido a novas normas de impacto. O para-choque traseiro perdeu o bico e a placa, antes deslocada para o lado esquerdo, ficou no meio.
O modelo original de 1971 era muito mais bonito.
PK