Quando o Marco Antonio Oliveira nos mostrou as impressões dele sobre o Corolla, um ponto me chamou atenção. (veja aqui)
Foi a sensação de frente leve em alta velocidade, que o MAO disse ser percebida apenas em velocidades impublicáveis.
Não concordo, e disse isso quando dirigi o carro no retorno a São Paulo.
Já a 130 km/h é bem sensível. Não que cause tensão para quem gosta de dirigir em estrada, mas é mesmo leve.
O MAO vai criticar, dizendo que o sensível sou eu, mas é leve em velocidades normais de viagem. Se é aerodinâmica a causa, não sei. Me parece mais ser sistema de direção com excesso de assistência.
Esse ajuste de comando leve demais, é típico de muitas marcas, que buscam agradar à maioria dos motoristas que nem tem ideia do que significa ser entusiasta de automóveis.
Mesma coisa com pedais muito suaves, com alavancas de câmbio superamanteigadas e pasteurizadas, que não passam a menor sensação de serem a ligação com um garfo que empurra uma luva sincrônica que tem dentes que se encaixam com os da engrenagem. Parecem mais uma colher de pau mexendo um melado quente no caldeirão.
Saudades do Opala com o clec-clec de engate, bem audível.
Acredito que as fábricas devam sim sempre fazer carros que atendam ao gosto da maioria, pois é esse o cliente típico, aquele que entrega seu dinheiro para as manter funcionando. Mas mesmo assim é necessário atender ao entusiasta que gosta e precisa de carros com mais essência de carro, com menos amortecimento de comandos, com uma real comunicação táctil entre mecanismos e membros humanos.
Me lembrei do Opala quanto aos engates ótimos, e me lembro de um Voyage de 1986, com o qual participei do Rali Universitário, há uns quatro séculos.
Um carro interessante, que ia do sublime ao ridículo em alguns quesitos. Descontados os itens carroceria e interior, absolutamente desprezíveis de tão ruins, possuia engates de marcha muito bons, mas alavanca no lugar errado, com o braço batendo no encosto do banco a toda hora, nos engates de segunda e quarta. Pedal de freio hiper-mega sensível. Uma pescoçada a cada vez que a sola do sapato encostava na borracha do pedal. Era apenas o servo-freio, com superdimensionamento, extremamente desagradável. A direção era boa, leve para manobras e bem mais pesada em velocidade, como de hábito nos carros da década de 80, e que o excesso de gordura dos requisitos de segurança matou.
Se fossem corretamente desenvolvidas nessas características de sensibilidade de comandos, os Gols/Voyages/Saveiros e Paratis teriam sido grandes "carros de entusiasta", já que eram um bocado bons de curva.
Como sempre foi hábito da indústria automobilística, analisa-se carros dos concorrentes para descobrir onde se está desperdiçando dinheiro. Algumas poucas empresas, além dessa atividade, avaliam a fundo os carros antes de desmontá-los. Nessas avaliações, descobrem que há tesouros enterrados que são trazidos à tona apenas por conhecedores. Se a empresa for séria e comandada por gente que se importa com o prazer de dirigir, copia-se o que é bom relativo à dinâmica do veículo, aproveitando idéias para tornar o carro que se desenvolve mais agradável.
Se o objetivo é apenas reduzir custos, algumas características boas são ignoradas, porque se define que o cliente típico da marca não gosta delas, e se permanece com os mesmos desagradáveis erros por anos a fio.
Mas o Corolla melhorou muito, apesar de estar a alguns bons passos da perfeição. Silencioso de motor, em estrada, é bem audível quando se muda de asfalto para concreto e vice-versa, mostrando que entra pouco ruído de motor e vento, mas que o ruído de rodagem (contato pneus-solo) não está bem isolado.
A carroceria atual tem um desenho que me agrada, apesar de muita gente achar que é carro de velho. Ao lado do principal concorrente, o Honda Civic, o Toyota mostra um perfil de carro, diferente do Civic, que é quase, mas quase mesmo, um monovolume achatado, ou, se preferirem, uma minivan pisada.
Sim, o Civic é mais "driver's car", que pode ser traduzido como um carro para quem gosta de dirigir, porém, mais coisas me incomodam nele do que no Corolla, quando tudo somado.
Falta à Toyota uma versão entusiasta desse ótimo carro. Já passou a hora de eles comprarem um Focus e copiar as boas características.
JJ