google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

Depois de ler a avaliação do 944S2 que meus companheiros bloguísticos tão eficientemente perpetraram algum tempo atrás, me senti compelido a explicar um pouco mais sobre o carro e sua origem, aqui do alto de meu auto-promulgado posto de porschéfilo-mor deste alegre e faceiro grupo de blogueiros juramentados.

Este post devia ter sido publicado logo depois daquela avaliação, mas acabei me atrasando um pouco. Mas o que são 3 meses entre amigos, não é mesmo?

Ao fim deste post há um link sobre uma reportagem que escrevi há algum tempo em outro site sobre essa família de Porsches; para quem tiver paciência, apesar de antiga, mudaria pouca coisa nela hoje. A ideia aqui é falar sobre o S2, principalmente de seu incomum motor.

944 Sport

Nos Porsche 944, o S significa duplo comando de válvulas e quatro válvulas por cilindro, em oposição ao comando singelo e duas válvulas por cilindro do 944 original, um motor que, como já contei aqui, era a metade quase exata do V-8 usado no Porsche 928. Sendo assim, a Porsche sabiamente, nos anos 80, desenvolveu a versão multiválvulas do 944 e do 928 de uma vez só, economizando dinheiro em ferramental, projeto e intercambiabilidade.

Na verdade ela fez mais: realizou extensa pesquisa para descobrir a forma ideal pretendida para a câmara de combustão, válvulas e dutos. Descoberto este desenho, foi usado não somente no 944 e 928, mas também no seis contraposto do 959! Até hoje a empresa usa como base as pesquisas realizadas entre 1984 e 1985 para desenvolver qualquer motor novo. Investimento em tecnologia se paga de várias formas difíceis de mensurar...


A câmara final contava com as válvulas inclinadas 14 graus e 10 minutos do lado da admissão e 13 graus e 15 minutos no lado do escapamento, e obviamente vela de ignição central. O cabeçote em alumínio tinha o comando acionado por uma correia dentada, que acionava apenas o comando de escape, ficando todo o arranjo da correia dentada muito similar ao motor de comando único. No meio do cabeçote, uma pequena corrente passava o movimento para o outro comando ao lado (abaixo). Tinha tuchos hidráulicos, tipo copinho. Como usava o mesmo bloco, e os pistões tinham o mesmo peso do 944 SOHC, e ainda por cima o acionamento do comando era quase idêntico, o 944 S usava exatamente as mesmas árvores contra-rotativas (para balanceamento) que o 944. A tampa de válvulas, fabricada em levíssimo magnésio, era intercambiável com as do V-8 do 928 S4, lançado ao mesmo tempo.


Com um deslocamento idêntico ao de seu predecessor (2,5 litros), em testes iniciais obteve vantagem pífia em relação ao motor original: apenas 170 cv, cinco a mais que o de 944 normal. Algo obviamente precisava ser feito.

A ideia era que o motor fosse o meio caminho exato entre o 944 “básico” de 165 cv, e o 944 Turbo, então com 220 cv. O motor de quatro válvulas por cilindro recebeu a maior taxa de compressão já usada então pela Porsche em carros de rua, 10,9:1. O levantamento de válvula foi aumentado 2 mm em relação ao V-8, requerendo molas de válvula diferentes. Isto acabou por exigir dutos maiores na admissão, e um novo coletor de magnésio. A pressão da linha de combustível aumentou de 2,5 para 3,8 bars. Devido à taxa alta, foi equipado com dois sensores de detonação. O resultado foi bem no objetivo: o motor produzia sensacionais 190 cv a 6.000 rpm e tinha torque máximo de 23,5 mkgf a 4.300 rpm (1.300 rpm acima do 944 de duas válvulas).



Mas seu lançamento, em julho de 1986, viria a ser uma grande decepção. O motor precisava girar extremamente alto para alcançar uma potência decente, e na verdade, a abaixo da rotação de torque máximo produzia menos força que o SOHC. Disse Paul Frère na ocasião:

“Nem eu, nem a maioria dos jornalistas reunidos que dirigiram o 944 S ficamos impressionados com a aceleração. Na verdade, todos achamos que ele demora demais para subir de velocidade.”

Era uma unanimidade que 190 cv deviam parecer mais fortes do que aquilo. Os números de aceleração concordavam com isso, ficando ao redor de 7 segundos no 0-100 km/h, coisa de meio segundo mais rápido que o 944 “básico”. A velocidade final, porém, subia bastante, atingindo 230 km/h.

Procura-se um motor

Logo a Porsche tinha percebido seu erro em manter o deslocamento volumétrico do motor. A concorrência atacava de todo lado, do Ford Sierra Cosworth (2.0 DOHC 16V, turbo, 200 cv) aos Mazda RX7 (Wankel duplo rotor turbocomprimido, 280 cv). Uma infinidade de excelentes carros esporte se tornava disponível ao público do final dos anos 80, todos sem o nome de peso da Porsche, mas todos mais velozes e mais baratos que ele.

Imediatamente começava o projeto de aumento de deslocamento do motor de quatro cilindros, que viria a culminar no 944 S2 que meus companheiros de blog dirigiram.

Mas antes de falar nele, vamos falar um pouco de realidades alternativas, de futuros vistos do passado que falharam em acontecer; é sempre um tema interessantíssimo.

Um dos problemas do 944 frente a seus concorrentes era o motor de quatro cilindros em linha. Não importa quão bom o carro fosse, sempre alguém ia notar que pelo seu preço poderia se comprar um Corvette V-8, um Nissan 300ZX com um V-6, um Supra com um seis em linha delicioso, ou e até mesmo um exótico Wankel da Mazda. A Porsche decidiu avaliar suas opções.

A primeira ideia foi a mais exótica e interessante de todas: colocar uma versão do V-8 de Fórmula Indy da empresa no 944. Deslocando 3,3 litros, mas de aspiração natural, este motor de competição incrivelmente compacto e leve produziria 300 cv a 7.000 rpm. Não há como não encher a boca d’água imaginando o que não seria este exótico e nervoso motor de corrida num 944. Mas era muito caro, e mataria o 928.

Tentou-se então derivar um V-6 deste pequeno V-8. Este foi o propulsor que mais perto chegou de ser montado no 944; foram estudadas versões aspiradas e com dois turbocompressores, ambas deslocando 2.481 cm³ (2,5 litros como o quatro em linha vigente) a partir de um diâmetro de 90 mm e um curso de 65 mm, exatamente o mesmo do V-8 de competição. Com duplo comando no cabeçote acionados por corrente (em substituição do caro trem de engrenagens do V-8) e quatro válvulas por cilindro, o motor era capaz de produzir 220 cv sem sobrealimentação, e mais de 300 cv com os dois turbos. Este último teoricamente seria capaz de 300 km/h, e aceleração de 0-100 km/h na casa dos 5 segundos. Um mock-up da instalação chegou a ser feito, e mostrou um sem-fim de complicações, mas que ainda assim era uma opção razoavelmente viável. Infelizmente, porém, sabemos que acabou por ser abandonada, principalmente pelo alto investimento necessário.

Outra opção, mais próxima da realidade, foi usar o extremamente compacto e eficiente seis em linha que a Porsche estava então finalizando para o seu cliente sueco Volvo. Desenvolvido para aplicações transversais dianteiras, era compacto o suficiente para ser colocado no lugar do quatro em linha Porsche, necessitando apenas uma pequena bolha no capô bem na extremidade dianteira. Com 3,0 litros de deslocamento e 200 cv, tinha muito a seu favor: era mais leve que o quatro em linha, só um pouco mais comprido, e custava 70% de seu preço. Mas, de novo, o investimento nas peças exclusivas Porsche, e da instalação no cofre inclinado a 12 graus, e a falta de um acordo agradável com a Volvo, acabaram por inviabilizar a interessantíssima ideia.

Houve também outra possibilidade inusitada: o seis em linha BMW. A BMW deu a entender que venderia para a Porsche o seu novo M50, de seis cilindros em linha DOHC, 2,5 litros e 192 cv, caso esta quisesse equipar o 944 com ele. Era uma boa possibilidade de obter um motor pronto, sem ferramental a desenvolver e de investimento baixo para a Porsche. Um carro foi montado e avaliado, mas declarado insatisfatório em relação ao novo quatro em linha a ser lançado logo em seguida no 944 S2.

Duas vezes S



Enquanto avaliava todas estas hipóteses, o trabalho num “novo” quatro em linha corria a todo vapor. Duas opções foram inicialmente testadas, a saber:

2,7 litros (104 x 78,9 mm), 200 cv a 6.000 rpm; 25,6 mkgf a 4.500 rpm
3,0 litros (104 x 88 mm), 200 cv a 5.700 rpm, 28 mkgf a 3.500 rpm

O deslocamento mais baixo já estava previsto para motor de oito válvulas, e então, para não cometer o mesmo erro anterior, decidiu-se usar o deslocamento maior, mesmo com as dificuldades envolvidas e a potência equivalente dos dois.

Uma destas dificuldades foi a que o deslocamento maior só foi possível criando-se um novo bloco, mais alto, que permitia o curso maior dos pistões. Ambos os blocos acabaram sendo totalmente reprojetados e otimizados, resultando numa expressiva e interessantíssima redução de peso de 4,5 kg.

Uma unidade de 3,2 litros foi também testada (105 x 92,2 mm), mas foi rejeitada porque necessitava de muitas modificações em relação ao motor de oito válvulas e 2,7 litros “básico”, aumentando o custo pela diminuição de peças intercambiáveis.


O resultado disso foi um motor memorável. Lançado no 944 S2 de 1989, desemvolvia generosos 214 cv e criava finalmente um carro esporte sem senões nem talvez: flexível e potente, permitia chegar a 100 km/h a partir da imobilidade em 6,7 segundos (Road & Track) e chegava a honestos 240 km/h. Era também o maior quatro em linha do mundo. Leiam novamente a avaliação que fizemos para mais detalhes.




O S2 foi um sucesso de crítica (apesar do alto preço ainda ser um problema) e era tão agradável de dirigir que nos EUA substituiu todos os 944, até o Turbo, que permanecia na Europa para saciar a sanha alemã por alta velocidade apenas.


O motor ainda passou por mais uma “reforma”, quando o 944 deu lugar ao 968, e chegou aos 236 cv, graças principalmente a um sistema de variação de fase dos comandos. Mas a essa época, o destino desta família de Porsches já estava selado, e logo tomariam o caminho do Dodô.




Apesar disto, vinte anos depois, permanecem altamente desejáveis, como este blog provou dirigindo o excelente exemplar do Fábio. Muita gente despreza esses carros por suas origens humildes, mas tratam-se de carros extremamente interessantes, e sempre são bem mais baratos que os 911. Uma grande porta de entrada para a marca de Zuffenhausen.

MAO

P.S: As informações deste post, e tudo mais que você queira saber sobre estes Porsches ou qualquer outro, estão na bíblia do assunto: Excellence Was Expected, de Karl Ludvigsen. É uma obra enorme e de difícil digestão, mas vale o esforço.

Para um resumo dos 924/944/968 feito por seu humilde escriba em 2002, clique AQUI.
Uma das minhas principais diversões nas horas vagas é procurar comerciais antigos nesses sites de hospedagem de vídeos, como o Youtube. É realmente interessante ver a evolução das campanhas publicitárias e sua importância na história do automóvel.

O tipo de comercial que mais gosto é um que praticamente não existe mais nesses tempos em que tudo é politicamente correto: o comercial entusiasta. Imagens que antes transmitiam a nítida sensação de prazer ao volante foram substituídas por campanhas bobinhas, que enaltecem qualquer qualidade do automóvel, menos os seus dotes dinâmicos.

Segue o comercial do Opel Rekord C, o pai do nosso Chevrolet Opala. Simpatizei com o comercial não apenas por gostar muito do carro, mas também por mostrar o meu ambiente favorito para uma tocada entusiasta: estradas de terra e cascalho, misturadas com estradinhas de asfalto simples, ambas típicas do interior de São Paulo. Me divirto um bocado nelas.

FB






Foto: lajinhaonlinefotos.blogspot.com
Sou capaz de apostar que uma das causas de tantos acidentes com motos é o tachão reflexivo colocado nas linhas demarcatórias das faixas de rolamento. Como as motos andam nos corredores, entre as faixas, suas rodas acabam golpeando esses obstáculos, prejudicando o contato roda-solo, bem mais críttico numa moto do que num automóvel. Em especial com piso molhado.

Quem será que determinou a instalação de tal equipamento de rodovia numa via urbana? Ou não tem noção do que fez ou então favoreceu alguém ou alguma empresa.

Esse recurso de sinalização só se justifica em estradas, onde não há iluminação pública, ficando os faróis dos carros e motos incumbidos de sinalizar faixas de rolamento e suas bordas. Na cidade não tem o menor sentido e constitui obstáculo às rodas dos veículos, e que não é pequeno.

Tanto que bem recentemente, dia 24 último, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) sabiamente baixou a Resolução 336, que proíbe a utilização de tachas e tachões aplicados transversalmente na via pública como sonorizadores ou dispositivos redutores de velocidade. Considera o órgão, baseado em pareceres técnicos, que "os dispositivos causam defeitos no pavimento e danos nos veículos." Nas motocicletas não são apenas danos e há quilômetros e quilômetros de refletores nas ruas e avenidades de São Paulo. Nas outras cidades, não sei, e o leitor que tiver essa informação, por favor, informe-nos pelo e-mail autoentusiastas@gmail.com.

Vamos esperar que o Contran, que lê o AUTOentusiastas, estenda a proibição aos tachões reflexivos nas vias urbanas, com isso melhorando a segurança dos veículos de duas rodas. Os acidentes com motos precisam diminuir.
BS


O Salão do Automóvel de Los Angeles mostrou diversos lançamentos e conceitos dos principais fabricantes do mundo, repletos de novas tecnologias e inovações, mas também mostrou, escondido em um canto, talvez o carro mais legal do evento todo.

Ao se ver exposto, aparenta ser apenas um carro antigo em excelente estado de conservação, que muitos nem devem conhecer na verdade. O nome Allard não é tão famoso como Lotus, Morgan ou mesmo Spyker, talvez por ter tido uma vida curta e acabou caindo no esquecimento do público. Tenho uma certa afeição por essa marca, por motivos que já comentei neste post passado.


Mas, olhando com cuidado o belo Allard J2X preto, nota-se que algo está diferente. Rodas mais largas e freios modernos indicam que algo não é como deveria ser o original. Pois bem, na verdade porque não é um original, mas ao mesmo tempo é. Ah?

Explico: trata-se de um carro construído recentemente, com uso de componentes modernos como os freios e motorização. Então é uma só réplica? Não, pois a plaqueta de identificação do carro o descreve como um Allard. Isso é possível pois o carro foi feito pelo o que seria uma continuação da própria Allard Motor Works, dirigida por Roger Allard, que não é parente do fundador Sydney Allard. Um pouco confuso, mas não importa.


O mais interessante deste novo carro, que recebe a sigla MkII no nome para identificá-lo como um produto da nova série, é que ele mantém todo o espírito do carro original. Os J2 e J2X originais podiam ser encomendados com a motorização de acordo com o gosto do cliente, além de alguns modelos padrão. O Allard em que andei tinha o motor Cadillac, uma das opções da época, enquanto este novo está com um Hemi 5,7-litros moderno dos 300C, mas pode receber a versão maior dos SRT8, ou um Chevrolet Small Block, ou um Ford, ou um Big Block, ao gosto do cliente.


Não sei como deve ser dirigir este carro, mas não há como estragar a receita. Um carro este tipo, dois lugares com motor dianteiro e bancos quase em cima do eixo traseiro, todo aberto ao vento e com potência de sobra, não há como errar. E imaginem o som com os escapes laterais...

Um J2X original é muito caro, então devemos pensar que este por ser novo, é uma pechincha, certo? Errado. Custa US$ 138.500,00, que é muito dinheiro. Se é justificável ou não, eu não sei, mas que aproveitar uma manhã ensolarada de fim de semana, sem preocupações e ao som de um motor roncando grave e forte, por estradas e serras desertas com um carro desses, é uma experiência impagável, ah isso é.


Fotos: Autoblog