
Muitas maluquices são feitas todos os anos pelos fabricantes em forma de 'carros conceito' para apresentar ao público em salões e feiras mundo afora.
Não é de hoje que estes conceitos servem como forma de pesquisa e aceitação do público para novas propostas de design e tecnologias. Harley Earl foi talvez o mais fomoso e visionário, apresentando os Dream Cars da GM na década de 40 e 50.
Pela Chrysler Corporation, o nome do momento nos anos 60 era Elwood Engel, chefe de design. Em 1968 ele usou um curioso Charger modificado para verificar a aceitação do público em um conceito que na verdade a Ford já havia feito com o Thunderbird em 1962, que era uma forma de conversível aerodinâmico, com uma cobertura segundo a linha dos bancos até a traseira do carro, claramente eliminando o banco traseiro.

Mas Engel foi mais a fundo. O Charger modificado, então chamado de Topless Charger, ainda contava com um para-brisa bem menor, ao estilo dos Porsches 550 e Speedster. Gosto em design é muito pessoal, como vimos aqui nos últimos posts, então há quem deva gostar e quem deva odiar.

Como proposta, não deixa de ser muito interessante, ainda mais que foi feito internamente pela própria fábrica. O desempenho era respeitável, pois o carro tinha o motor de 440 pol³.

Em 1970, o Topless foi modificado e tornou-se o Super Charger, com novas modificações de carroceira que remetiam aos Superbird e aos Daytona, com o aplique de fibra na frente de carro. Uma curiosa e discreta asa traseira móvel foi instalada para ajudar na aerodinâmica do carro em velocidade. Desta vez, o responsável foi George Busti, designer da Dodge e da empresa Creative Customs.


Muitos torceram o nariz quando foi anunciado que o Chevrolet Agile havia levado o prêmio de "Carro do Ano", promovido pela revista Autoesporte. E eu também fui um deles.
Pode parecer contraditório a quem, há poucos dias, questionava neste espaço se as críticas prévias, coincidentemente a esse produto, eram pertinentes, mas é justamente o que estou fazendo novamente agora: como pode um automóvel ser o "Carro do Ano", apenas semanas após seu lançamento? Como pode alguém eleger um produto como “a melhor ideia, o melhor projeto, que se transformou em objeto do desejo do consumidor brasileiro” entre seus pares ou perante outros lançamentos, se não houve tempo suficiente para avaliá-lo comparativamente com critério, neutralidade e isenção? É o elogio, a crítica favorável, antes de conhecer devidamente o carro, exatamente a mesma situação, do lado oposto! Igualmente descabida.
Essa questão obrigou-me a voltar um pouco na história dessa e outras premiações similares no mundo do automóvel.
Para mim, O "Carro do Ano" era O CARRO, ou seja, um destaque, seja por tecnologia, inovação, qualidades, ou tudo isso, muitas das vezes que eu estranhava a escolha de certos modelos, me perguntava como pode tal carro ser o "Carro do Ano" se ele não tem atributos suficientes? E quando não vendia lhufas? Ou até ter sucesso, mas efêmero? Ué, já pararam de fazer esse modelo? Não havia ele sido "do Ano" há pouco tempo? Por que outros produtos concorrentes no segmento ou de outros vendiam muito mais? Seguiam vendendo mais como que ignorando a premiação deste?
Pensando em retrospecto, na verdade eu estava analisando as coisas de forma cândida e lógica, imaginando que um júri usara de certo critério para chegar a um veredicto sobre um produto e o divulgava na mídia, como forma de servir aos potenciais compradores com informações a respeito de um automóvel que podia lhes ser desconhecido, seja por que o modelo era novo e o público comprador não tivera a oportunidade para tal. A imagem de "Carro do Ano" poderia bem ser um automóvel que o público simpatizara, por suas várias qualidades também, ou seja, esse júri entendia de automóvel e pessoas, de certa forma sabia ler seus anseios e desejos e lhe indicava o produto eleito, para ajudá-los na sua escolha para compra do próximo carro.
A origem do prêmio "Carro do Ano" data de 1966. Na verdade, esse título começou na Europa dois anos antes e reza a lenda que Mauro Salles, então à frente de marketing e comunicação da Willys-Overland do Brasil, inspirara-se neste prêmio europeu e recomendou que repetissem fórmula semelhante aqui ao jornalista José Alexandre Quintão, então proprietário da Efecê Editora, que editava as revistas Mecânica Popular, Autoesporte e Flair Play (primeiro título de revista masculina do País), para nomearem a picape Willys Rural. O júri? o conselho editorial da revista. Foi então que saiu o primeiro prêmio de "Carro do Ano" no país.Três anos mais tarde, esse conselho editorial havia escolhido o Opala, mas houve uma reviravolta interna na Efecê e o prêmio acabou sendo concedido ao Ford Corcel. Na discussão acalorada sobre os critérios e a sua coerência, prevaleceu a ideia de que o Corcel teria uma família de veículos: quatro portas, cupê, perua, picape e van (estas duas últimas nunca seriam lançadas), enquanto o Opala era somente aquele modelo quatro-portas, sem visões futuras de novos membros da família -- até aquele momento, pois depois vieram o cupê e a Caravan. Pesou também o apelo do Ford, carro mais acessível que o Opala, lembrando que o prêmio imediatamente anterior fora para o Galaxie, do segmento de luxo e destinado para os mais abastados. A alternância seria benéfica, retirando uma possível e indesejável conotação de somente eleger carros da "elite".
Com o passar dos anos, a ideia de aprimorar os critérios de escolha, bem como o fórum de seleção, foram tomando corpo. No início dos anos 70, passaram a integrar o corpo de jurados jornalistas especializados do setor automobilístico de todo o Brasil e esse grupo seguiu participando sucessivamente das escolhas do "Carro do Ano" com algumas mudanças de membros até 1999, quando o jornalista responsável pela edição do prêmio da revista Autoesporte, já parte da Editora Globo, decidiu que era hora de reformulá-lo.
O grupo de escolha, que já não era exclusivamente dedicado a cadernos de automóveis, perdera mais de sua identidade automotiva, pois havia alguns profrissionais, considerados colaboradores da imprensa nacional de menor prestígio; todos estes foram convidados a se retirar do corpo de jurados. Em seu lugar, muitos jornalistas de diversas revistas da Editora Globo passaram a eleger o premiado.
Se a ideia de reformular o prêmio escolhendo novos jurados parecia adequada, o resultado final ficou pra lá de questionável. Onde é que haveria lógica em pedir a um repórter da seção política da revista Época para votar e eleger um "Carro do Ano"? Quem mediu ou avaliou suas habilidades ao volante, pilotagem, experiência, quilometragem etc.? Somente se seção política estivesse ligada a critérios políticos...
Os profissionais saídos da eleição de "Carro do Ano" formaram a Abiauto (Associação Brasileira da Imprensa Automotiva), que por sua vez não podendo usar da marca "Carro do Ano", pertencente à revista Autoesporte, criou o Prêmio Imprensa Automotiva. Se por um lado, manter o corpo de jurados igual a antigamente poderia parecer mais adequado que a nova fórmula da Autoesporte, dada a experiência de vários anos em avaliar automóveis, estes também deram suas escorregadas. O Chevrolet Prisma foi eleito o Melhor Carro Nacional e Carro Abiauto no ano de seu lançamento. Detalhe, a escolha foi feita antes mesmo de seu lançamento...
Ao serem questionados, alguns jornalistas se defenderam alegando que haviam rodado uns poucos km em unidades cedidas pela GM para sua avaliação prévia... e há mais eleições em publicações especializadas, algumas convidam leitores a votar por internet. Cada critério... A quem discordar, tente associar ao fato de um diário argentino que lançou votação pela internet, para escolher quem fora melhor, Maradona ou Pelé. Algum brasileiro, rato de internet descobriu, espalhou e, não só entupiram o servidor desse diário, como Pelé levou por larga margem, precisariam haver nascido seis vezes mais argentinos para equilibrar aquela votação.
E do lado dos fabricantes? Bem, dadas as regras de seleção ao automóvel do ano, alguns fabricantes passaram a empenhar-se mais do que outros em obter esse prêmio para os carros da casa, jogando o jogo da melhor forma possível ante as circunstâncias. Houve muitas ações, consideradas hoje um exagero, sempre em nome do famoso prêmio, como convidar jornalistas ao Salão de Frankfurt, ou de Detroit, ou ambos (Frankfurt é bienal). Não digo um ou dois, mas 30, 40 deles, todas as despesas pagas e conhecer de perto os melhores carros da marca patrocinadora da viagem, seu mais recentes lançamentos, as novas tecnologias.
Lembrando sempre que o Brasil, com poucas marcas até 1997, tinha menos lançamentos ainda, portanto atrair a atenção dos jurados que aqui era aqui e lá fora era o lugar onde se transpirava modernidade automotiva e, se determinada marca detinha produtos tão atraentes, seguramente os seus automóveis brasileiros "herdavam" isso em seu DNA. Mesmo quando o índice de carros tecnologicamente obsoletos beirava 100%.
Há também lançamentos que são cuidadosamente planejados para serem feitos poucas semanas antes da eleição, quando o efeito lançamento está mais '"fresco" na cabeça dos jornalistas que outros automóveis que chegaram alguns meses antes ao mercado, portanto menos presentes na memória de quem avalia carros diferentes, toda semana.
Curioso notar que ter o "Carro do Ano" na casa não necessariamente lhe rendia mais vendas, mas seguramente para os executivos das matrizes dos fabricantes, ou seja, dentro da organização, a premiação tinha significado de maior prestígio que no mercado. Como já dissera no início deste post, por anos acreditei que o prêmio quisesse dizer algo a respeito do produto e atributos e seria lógico afirmar que essa minha crença também fosse de parcela considerável de compradores de carros menos avisados.
E como é o prêmio de carro do ano na Europa? Convido-os a visitar o Wikipedia e colherem suas próprias observações. Sem prejulgar esta ou aquela publicação automobilística, nenhuma delas faz parte de minha seleção que considero topo de linha... O que dizer de alguns premiados... Houve também excessos, em 98 ou 99, não estou bem certo: um jornalista do corpo de jurados encontrou num modelo Ford Mondeo a etiqueta "Special for Press", mal-escondida e depois notou que a mesma etiqueta estava em todos os carros cedidos para avaliação deles. Naturalmente, passada certa discussão, os jurados decidiram retirar esse modelo da lista dos pré-selecionados a levar o prêmio, mas esse descuido da turma da Ford apenas tornou patente uma prática não exclusiva desse fabricante, tampouco exclusividade europeia.
No Brasil, os motores dos carros a serem cedidos à imprensa de alguns fabricantes eram selecionados após certificarem-se em dinamômetro que estavam com características de performance acima da média de produção, assim como os carros preparados a dedo, por turmas específicas em atender a imprensa...
Voltando ao prêmio da revista Autoesporte, em 2008 houve nova reformulação nos critérios, passando a integrar o corpo de jurados 27 profissionais da área. Alguns engenheiros da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva) e SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) foram convidados a participar da escolha na categoria de melhores motores, tudo bastante claro e definido, agora transparece ndo mais isenção. No entanto, há ainda pontos questionáveis (leia) como, por exemplo, o regulamento diz er que o corpo de jurados pode votar no carro antes do lançamento, sendo a data-limite para inscrever os modelos participantes, 28 de outubro. Ora, isto não condiz com o segundo parágrafo do prêmio, “de premiar projetos que se transformaram em objetos do desejo do consumidor brasileiro”... Como, se o carro ainda não foi lançado? Os jurados têm uma incrível visão futura então...
A eleição do "Carro do Ano" tem muitos lados positivos: promove o produto automóvel, gera bons movimentos na mídia, agita os fabricantes a se esmerarem para trazer esse cobiçado prêmio para casa e vejo como positivo até a revisão de regulamentos, onde se nota intenção de trazer boas mudanças. Enfim, se toda a intenção de melhoria dos critérios fosse bem-sucedida do início até à conclusão da escolha, acredito que os méritos do "Carro do Ano" seriam melhor recebidos pelo público e o prêmio, com uma imagem de seriedade muito maior que a de hoje. Ainda há tempo.
Fontes: Wikipedia, sites automotivo.
Certas informações foram obtidas de um pequeno extrato do futuro livro de memórias do jornalista Luiz Carlos Secco.

A obra de arte que vocês podem ver acima é um Falconer V-12, da Ryan Falconer Racing Engines, de Salinas, Califórnia.
Como já havia contado para vocês sobre os carros feitos sob medida de Steve Moal, me lembrei desta casa de motores da Califórnia, onde tudo é possível, mas nada é barato. O V-12 em questão é todo em alumínio, e é praticamente um Chevrolet small-block V-8 com quatro cilindros a mais.
Mas é algo deliciosamente exótico. Usando tudo de melhor da história do motor Chevrolet, Falconer criou uma obra de arte: pesando apenas 240 kg, desloca nada menos que 9,83 litros e debita, com taxa de compressão de 10,9:1, 811 cv a 5.700 rpm. O torque também assusta: 109 mkgf a 4.500 rpm. O cabeçote tem o desenho da câmara de combustão e a posição de válvulas idêntico ao do Chevrolet Big Block V-8, chamado por alguns de "porco-espinho", ou ainda "semi-hemi", devido ao acentuado ângulo entre elas.

O motor é sensacional em todos os sentidos, mas é raríssimo por um simples fato: é caríssimo, com preço partindo de 65 mil dólares FOB na loja de Salinas, Califórnia. O que não impediu alguém de encomendar o motor acima, que foi polido até um brilho de espelho, junto com uma caixa automática de 4 marchas GM 4L80E. Para montar em um hot rod não especificado. Só podemos imaginar quanto ele pagou...
Ryan Falconer apareceu com este motor em 1990, quando equipou sua Suburban de uso pessoal com um deles. Logo, os maníacos engenheiros da GM dedicados ao Corvette compram um motor, e vejam o que aprontaram:

O protótipo, apelidado de "Conan" por motivos óbvios, hoje se encontra no National Corvette Museum de Bowling Green, Kentuky. O entre-eixos teve que ser aumentado em 120 mm e o motor instalado, com uma taxa mais baixa, debitava 680 cv.
Ryan Falconer começou nos anos 60 trabalhando nos V-8 Novi de Andy Granatelly, depois se juntando à Shelby American, onde fez parte do projeto do GT40, e dos Cobras de competição. Mais tarde Ryan começou seu próprio negócio, que por 30 anos trabalha com nomes famosos: Jackie Stewart, Parnelli Jones, Al Unser, Mario Andretti, e outros. Nos anos 80, trabalhou com a Chevrolet em projetos variados, especialmente no V-6 derivado do small block V-8 que correu em Indianápolis. Dali, encantado com a excelência deste motor e sua versatilidade, vem a ideia do V-12.

Falconer usou seus contatos no programa de competição em monopostos da Chevy de uma outra forma inusitada: comprou todos os motores usados na temporada de 2002, e converteu-os para uso nas ruas. Esse exótico motor V-8 de 3,5 litros (acima), DOHC, com cárter seco, recebeu um coletor de admissão especial, por cima de um compressor Rootes mecânico e um resfriador de mistura ar-água, controlado por uma central de injeção MOTEC. Fornece 600 cv a 8.000 rpm. Cada motor vem com o seu histórico de competição, um pedigree único. Falconer, que correu em Indy com o V-6 de rua modificado para pista, dá a volta completa fazendo o motor de pista ir às ruas.


Preço? Começa em 45 mil dólares.
MAO
