

É que o CO2, junto com o metano (CH4), é um dos principais causadores do efeito estufa. De maneira simplificada (na verdade é bem simples mesmo) o efeito estufa é o aquecimento da atmosfera, e consequentemente da Terra, devido ao bloqueio do calor gerado pelos raios de sol, que atravessam a camada de gases ao redor do planeta, aquecendo-o, ms que se dissipariam na forma de radiação. O CO2 (e o metano) impede ou dificulta essa radiação, resultando na retenção do calor, como numa estufa, fazendo com que a temperatura da atmosfera terrestre aumente.
E isso está alterando nosso clima, com vários efeitos catastróficos como enchentes e furacões violentos. Independente do alarmismo gerado, recomendo dois filmes que falam desses efeitos e da ação do homem na Terra: “Uma verdade inconveniente” (fácil de achar em locadoras ou em lojas na Internet) e “Home” (disponível no link: Home).
Imagine apenas o crescimento da China, que ainda tem um mercado menor que o dos Estados Unidos (mas que está prestes a ultrapassar), mas tem uma população de 1,3 bilhão de habitantes para uma frota de 75 milhões de veículos (valores aproximados), o que representa 1 carro para cada 17 habitantes. O Brasil tem 190 milhões de habitantes para uma frota circulante de 28 milhões, o que representa 1 carro para cada 6,8 habitantes. Então, se a China atingir a mesma quantidade de carros por habitante que o Brasil, sua frota será de mais de pouco mais de 190 milhões de veículos. Quando o mercado da China crescer a emissão de CO2 vai aumentar muito. Daí toda essa preocupação com o futuro próximo do automóvel.
Mas, de onde veio toda essa introdução? É que outro dia lí uma pesquisa feita com altos executivos de diferentes áreas de empresas do segmento automotivo em 15 países com o título "Automotive 2020: clarity beyond the chaos" (Automotivo 2020 - clareza além do caos). Essa pesquisa foi feita para tentar estabelecer uma linha de raciocínio sobre os desafios da indústria automobilística para os próximos anos. O material é um pouco longo e acho que aqui não é o lugar para comentar sobre tudo que lá está.
Mas um ponto específico me fez pensar e ter a ideia de fazer esse post. Um dos 5 aspectos que resultaram da pesquisa como pontos cruciais para o desenvolvimento do segmento e o futuro do automóvel é o que foi chamado de "consumidor sofisticado". Os consumidores em 2020 serão muito mais informados, mais exigentes, impacientes e terão uma consciência ecológica mais sedimentada.
Especialmente com relação à consciência ecológica, vejo como a minha filha está crescendo com conceitos ligados a isso que eu e muitos de nós nunca escutamos até os 30 anos de idade e, portanto, são difíceis de serem incorporados aos nossos hábitos. Já as crianças de hoje nascem em meio a uma real preocupação com o meio ambiente e por isso terão uma atitude proativa em tudo que diz respeito a isso. Em 2020 o consumidor realmente estará maduro em relação às questões ambientais, até mesmo no Brasil.
Mas o que mais me abalou como autoentusiasta foi uma frase que eu mesmo já havia dito antes, mas nunca havia lido em outro lugar: "A paixão por automóveis está em declínio, de alguma forma devido às preocupações com a ecologia, mas também a mudanças no estilo de vida.”
É como se todo mundo ficasse com peso na consciência por estar usando um automóvel poluente, ou que polua mais que o automóvel do amigo. E as mudanças no estilo de vida estão relacionadas às dificuldades de circulação com automóveis nos centros urbanos e a própria posse do automóvel. O conceito de mobilidade pessoal pode se expandir com o surgimento de diversas opções de transporte que não precisam ser necessariamente compradas, mas sim pagas de acordo com a utilização. É triste dizer, mas a emoção que sentimos ao escutar a partida de um V-8 está com os dias contados.
Ainda na mesma semana, com essa constatação em minha cabeça, e com a ideia de que preciso acelerar a aquisição do meu V-8, me deparei com outro assunto anti-autoentusiastas. A bola da vez para os que já tem consciência ecológica mais sedimentada chama-se eco-driving, ou direção ecológica.
Antes de explicar o que é direção ecológica, vou explicar a direção que adoto praticamente desde que comecei a dirigir: direção binária. É muito simples: 0 (zero) representa acelerador não acionado e 1 representa acelerador 100% pressionado. Sei que é uma idiotice, mas qualquer coisa entre 0 e 1 é muito monótono. Principalmente quando se dirige um carro de motor 1-litro.
Agora, se quiser me incluir na nova ordem mundial e dar um bom exemplo, terei que praticar a direção ecológica. E podem apostar que já estou de alguma maneira tentando, ou ao menos fazendo um esforço para isso.
Direção ecológica consiste em dirigir emitindo o mínimo possível de CO2 ou, se preferir, gastando o mínimo possível de combustível. Dependendo da fonte podemos encontrar uma variação nas recomendações. Abaixo segue um apanhado das principais práticas para manter o ambiente e sua consciência um pouco mais limpos e, de quebra, economizar algum dinheiro.
> Planeje o seu caminho - escolha caminhos com menos trânsito e evite se perder, pois ficar em marcha-lenta no trânsito ou rodar por aí perdido, aumenta o consumo.
> Rode o mais leve possível - evite carregar tralhas que não são usadas no carro; menos peso diminui o consumo (minha mulher fez do porta-malas um depósito de coisas que não cabem em casa!).
> Verifique a pressão dos pneus - pneu murcho aumenta o consumo de combustível, 5 libras a menos quase não notamos visualmente, portanto crie o hábito de checar a pressão a cada dois reabastecimentos e, de quebra, aumente a vida útil do seus pneus.
> Evite ao máximo ficar em marcha-lenta - desligue o motor sempre que parar por algum motivo que não seja o trânsito como, por exemplo, ficar esperando alguém ou enquanto estiver falando ao telefone.
> Use o ar condicionado somente quando necessário - no meu carro o ar condicionado costumava ficar ligado mesmo no frio, agora estou mais atento a isso e o desligo sempre que possível.
> Aperte o acelerador progressivamente - acelerações bruscas aumentam o consumo
> Troque para a marcha superior o quanto antes, evitando esticadas longas
> Mantenha uma velocidade constante o máximo possível (mantendo a atenção no tráfego à frente, é lógico) - manter velocidade constante e uma velocidade apropriada reduz o consumo
> Alivie o acelerador o quanto antes e deixe o carro diminuir a velocidade naturalmente, nos carros com injeção eletrônica deixe o carro engatado, pois nessa condição a injeção de combustível é cortada (se colocar no ponto-morto a injeção é necessária para manter a marcha-lenta)
Alguns estudos apontam que se todas essas práticas forem realmente adotadas poder-se-á atingir uma economia de combustível de até 20%. Para mim tudo isso é muito difícil, mas dá para eu melhorar alguns hábitos. Para minha filha, isso será praticamente natural.
O fato é que temos que continuar com o nosso autoentusiasmo. Ainda não sei muito bem como...
Será que é possível ser eco-autoentusiasta?
PK

Há quase exatamente 55 anos atrás, em novembro de 1954, numa fria manhã de inverno em South Bend, Indiana, Ferry Porsche entregava o protótipo acima para a Studebaker, junto com alguns motores-reserva. O carro estava fadado a nunca ser produzido, mas foi crucial para a empresa de Stuttgart: foi com o dinheiro do contrato selado em 1952 para desenvolvê-lo que a obra da fábrica hoje famosa pode começar finalmente.
A história, revelada por Karl Ludvigsen em 1974 (e publicada ao redor do mundo, em diversas revistas, aqui na seção “Painel” da falecida Quatro Rodas) é a seguinte:

Por meio de um contato via Max Hoffmann (o famoso representante da marca suábia nos EUA), Ferry sela um contrato para desenvolver um sedã compacto (para os padrões americanos) para a Studebaker, então em uma ótima fase de vendas e perspectivas futuras. De volta a Stuttgart, é alocado o número de projeto para o projeto, selo tradicional da aprovação do conceito: “Tipo 542 – sedã seis-cilindros Studebaker”.
A ideia inicial de Porsche, de um avançado carro de motor traseiro refrigerado a ar, monobloco e com uso extensivo de alumínio e magnésio na mecânica, foi logo substituído por realidades únicas da empresa de South Bend.
Primeiro, um esquema tradicional de motor dianteiro e tração traseira foi solicitado. No motor, apesar da Studebaker não estar avessa à refrigeração a ar, foram solicitadas versões refrigeradas a água e ar, para posterior decisão quando estivessem prontos.
Outro problema apareceu quando os americanos declararam não estarem dispostos a usar nada além de ferro fundido no motor. Sua fundição, acostumada a este material denso mais tradicional e conhecido, se recusava a aventurar-se com as ligas de alumínio e magnésio tão caras à Porsche. E depois havia o problema do monobloco.
A Studebaker só fazia carros com chassi separado, por um problema pragmaticamente simples: suas carrocerias, como era tradicional então em carros deste tipo, ia apenas do curvão para trás (a “frente”do carro era montada depois) , e a fábrica de carrocerias era ferramentada para fazer carros deste comprimento. Além disso, carrocerias eram enviadas de pé em vagões ferroviários especiais para outra planta na Califórnia, e mudar tudo isso para um carro com o comprimento total seria inviavelmente caro.

A Porsche resolveu isso criando um segundo “monobloco” para ser aparafusado no curvão (acima). O resultado foi que os ganhos de peso por se usar um monobloco sumiram completamente, e o carro pesava o mesmo que um com chassi.

Para o motor, a Porsche desenvolveu um incomum V-6 a 120 graus entre bancadas, OHV com comando central no vale do “V”, varetas e balancins. Com pistões de alumínio forjado, e deslocando três litros, debitava 98 cv a 3.700 rpm na versão refrigerada a ar (542 L, Luft, acima), e 106 cv a 3.500 rpm na versão refrigerada a água (542 W, Wasser, abaixo). Os pesos, a seco, eram de 220 kg para o 542W e 206 kg para o 542L, vantagem clara para o refrigerado a ar, pois este peso não conta a água, o radiador e a tubulação necessárias para fazê-lo funcionar. O motor era 10% maior em deslocamento que o Studebaker Champion 6 da época, e era maior que o do Aero-Willys também (este com 2,6 litros como o nosso), bem como do Nash Rambler. Como disse Ludvigsen em 1974, a fórmula de durabilidade do VW permanecia: faça um motor relativamente grande, que gire baixo, e mantenha-o bem aquecido.

A Studebaker enviou para Stuttgart vários componentes (e seus desenhos) que deviam ser usados no novo carro: maçanetas de porta e travas diversas; a caixa de direção de setor e sem-fim da Saginaw, câmbio de 3 marchas com overdrive do Studebaker Commander, o sistema de freio com tambores de 9 polegadas, e as rodas de aço estampadas de 15 polegadas. A suspensão dianteira era independente, e a traseira de eixo rígido com molas helicoidais.
Durante 1954, Ferry Porsche utilizou o protótipo em várias viagens pela Europa, inclusive quando foi ao Salão de Genebra, mas o carro permanecia um segredo bem guardado.
Quando entregou o carro finalmente, Porsche já sabia que a empresa já havia perdido o interesse. Uma espiral de problemas iniciado com a nova linha de 1953 já drenava o caixa da empresa, que estava se unindo a Packard e em pouco tempo desapareceria totalmente. Não havia como gastar o necessário para ferramentar a produção do tipo 542. Mas o carro chegou a ser extensamente avaliado, por ninguém menos que John Z. De Lorean, então chefe do departamento experimental da Studebaker.
Em sua pasta, naquele dia 55 anos atrás, Ferry levava uma última tentativa de fazer um carro com a empresa de South Bend: o esquema básico da proposta do tipo 633: um sedã de duas portas e quatro lugares, com um quatro cilindros contraposto de dois litros refrigerado a ar na traseira (abaixo). Como se era de esperar, não houve interesse e o 633 permaneceu um carro no papel apenas.

Muitos apontam hoje o tipo 542 como o primeiro Porsche de 4 portas, antes dos recentes Cayenne e Panamera. Mas o carro era apenas um contrato de engenharia; seria vendido como um Studebaker e foi criado dentro de especificações dirigidas por esta empresa. Não poderia nunca ser um Porsche, como o Opel Zafira também não é, apesar de ser também um projeto da empresa de Stuttgart-Zuffenhausen.
E o mais interessante é notar que, sem saber desta história toda, Ed Cole e a Chevrolet criariam um carro impressionantemente próximo da ideia inicial de Ferry para o Studebaker: o Chevrolet Corvair de 1959.


MAO