O Paulo Keller falou outro dia sobre o entusiasmo de sua filha pelos automóveis, e nos disse com um certo constrangimento que a preferência feminina na casa dele recai nos SUVs.
Então pergunto: qual o mal nisso ? qual o problema em o PK explicar que sua filha e esposa gostam de SUV ? Meu filho disse que quando crescer vai comprar um Ferrari, e eu disse para ele que prefiro Porsche. E daí ? Deveria isso ser motivo de preocupação ? As crianças nos ensinam muitas coisas, em sua inocência e incapacidade de fingir, ao menos até uma determinada idade, como é a do nosso pequeno (4 anos). Se elas gostam, dizem e se expressam com gosto e entusiasmo. Se não gostam, mostram claramente que estão aborrecidas.
Pensando assim, é fácil entender o gosto de muitas pessoas pelos SUVs. Diria que é fácil até demais. Vejamos:
a) ponto básico - em um SUV senta-se mais alto do que em um carro de "passeio" (não concordo com esse termo, daí as aspas). Quer gostem ou não, quer se considere inútil, idiota ou agressivo, é fato: a visibilidade em trânsito de cidade melhora muito. Em estradas não há diferença sensível, mas dentro de ruas e avenidas super povoadas, é um incremento à capacidade de antecipar problemas. Útil quando se sabe que a maioria dirige distraidamente.
b) no sentar mais alto, retornamos aos tempos da Monarquia, onde o trono do rei e da rainha eram sempre altos. A maioria gosta de se sentir superior, chefe, então, compreensível gostar daquele carro alto.
c) cada vez mais as cidades estão se entupindo de motos, a maioria delas conduzidas muito mal, muito rápido ou muito devagar, mal posicionadas em relação aos outros veículos, muito agressivamente, sem nenhuma noção de direção defensiva, com margens de segurança nulas, falta da consciência técnica até mesmo em como usar os freios. Espelhos de carros quebrados são super comuns, e até pouca coisa, em vista dos absurdos dos condutores de motos. Com um SUV espelhos atingidos não ocorre. Se tiver um estribo então, o mau motociclista pensa um pouco antes de tirar aquela "fina", o querer dar um chutezinho em uma porta.
d) estacionar um carro moderno, com cantos arredondados e capô e tampa de porta-malas invisíveis do banco do motorista é uma tarefa não muito fácil nem agradável para quase todas as pessoas. E hoje quase todos os carros novos são assim. Em um SUV quadradão e grande, essa tarefa é muito mais fácil. Se for pequeno, como um Ecosport, por exemplo, alia-se dimensão favorável à visibilidade das extremidades.
e) dirige-se devagar, muito devagar nas cidades com frotas monstruosas. Os dotes dinâmicos de carros pequenos e médios são minimizados em sua eficiência. O congestionamento nivela por baixo a capacidade de frear bem, fazer curvas com tranquilidade e acelerar na frente, caso o motorista seja do tipo que se satisfaz em andar no fluxo mais lento, sem buscar o desafio de aumentar sua velocidade média em relação a maioria. O SUV, normalmente, é um paquiderme em quase todas as provas dinâmicas, exceto; alguns deles; em acelerações. Daí, estar em um carro "bobalhão" não é relevante para a maioria, e essas características de lerdeza nos movimentos em meio ao tráfego pesado não é nem considerada.
f) muitos povos do planeta gostam de aparecer, e se pudessem, levariam uma vida de celebridade exibicionista: festas, recepções, aparecer na televisão, coisas desse tipo. O SUV é um pouco disso, com suas dimensões de anúncio de rua (outdoor ou billboard, coisa que os paulistanos só lembram o que é ao saírem do município).
Com essas características apresentadas, algum purista da tração nas quatro rodas irá me lembrar que muitos desses carros são 4X4 (quatro por quatro), e aí entramos em outro assunto, mais técnico, e por isso mesmo, detestado por quase todo mundo que é apaixonado por um SUV. O caso de ter ou não tração em todas as rodas que tocam o solo é pouco lembrado pelos clientes de SUV. Muitos até preferem não ter, pelo excesso de massa a ser transportado, e menos peças que podem quebrar. Isso se essa pessoa tiver alguma noção do que é uma transmissão. Mas para quem precisa disso, e conhece o assunto, ou ao menos tenta se informar, fica claro que há alguns modelos enfeitados que são carros com ótima capacidade fora-de-estrada. Um exemplo vem imediatamente à cabeça, por ser a marca com mais tradição nesse campo, e que sempre e apenas construiu carros com tração nas quatro: Land Rover.
Exceção feita ao exagerado, e nem tão bonito Range Rover topo de linha, e sua versão Sport com aquelas rodas de balada e exibição, o SUV ideal para quem quer tudo que um carro moderno pode ter, somado a um sistema de suspensão e de tração que beiram a perfeição técnica é apenas um: Discovery.
Mas esqueçam essa versão de gradinha nova, modelo 2010. O Discovery clássico e premiado é o modelo chamado de LR3 no mercado americano, feito até o modelo 2009.

Mesmo os mais antigos, que podem ser chamados de não-harmônicos ou feios, são carros capazes, e que ainda entregam um bom nível de conforto aos usuários.
Agora, caso você seja um comprador de SUV e quer um bem equipado e confortável, além de desejar um acabamento interno e externo de automóvel de passeio moderno e que quer aparecer, anote esse conselho: não leve para casa um Defender achando que estarão a bordo de um carro "de luxo", como noticiou a Imprensa num recente caso de corrupção política federal documentada. O Defender é uma ferramenta de trabalho, e está na categoria do fora-de-estrada puro e duro, onde o propósito não é exibição e nem fazer show dentro das metrópoles. É um carro que serve apenas para andar longe do asfalto, satisfazendo seu condutor com a absoluta facilidade com que realiza essa tarefa.
Nas impermeabilizadas ruas das cidades, é apenas um quebra-galho para se deslocar de um ponto ao outro.
Mas ainda assim, ótimo para passar por cima daquela ilha ou canteiro de avenida e buscar outro caminho, quando o que você está se torna uma rota inviável, com velocidade média próxima de zero.


JJ