google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
O melhor dos Discovery, morto pela mãe Land Rover no ano-modelo 2009.

O Paulo Keller falou outro dia sobre o entusiasmo de sua filha pelos automóveis, e nos disse com um certo constrangimento que a preferência feminina na casa dele recai nos SUVs.
Então pergunto: qual o mal nisso ? qual o problema em o PK explicar que sua filha e esposa gostam de SUV ? Meu filho disse que quando crescer vai comprar um Ferrari, e eu disse para ele que prefiro Porsche. E daí ? Deveria isso ser motivo de preocupação ? As crianças nos ensinam muitas coisas, em sua inocência e incapacidade de fingir, ao menos até uma determinada idade, como é a do nosso pequeno (4 anos). Se elas gostam, dizem e se expressam com gosto e entusiasmo. Se não gostam, mostram claramente que estão aborrecidas.
Pensando assim, é fácil entender o gosto de muitas pessoas pelos SUVs. Diria que é fácil até demais. Vejamos:

a) ponto básico - em um SUV senta-se mais alto do que em um carro de "passeio" (não concordo com esse termo, daí as aspas). Quer gostem ou não, quer se considere inútil, idiota ou agressivo, é fato: a visibilidade em trânsito de cidade melhora muito. Em estradas não há diferença sensível, mas dentro de ruas e avenidas super povoadas, é um incremento à capacidade de antecipar problemas. Útil quando se sabe que a maioria dirige distraidamente.
b) no sentar mais alto, retornamos aos tempos da Monarquia, onde o trono do rei e da rainha eram sempre altos. A maioria gosta de se sentir superior, chefe, então, compreensível gostar daquele carro alto.
c) cada vez mais as cidades estão se entupindo de motos, a maioria delas conduzidas muito mal, muito rápido ou muito devagar, mal posicionadas em relação aos outros veículos, muito agressivamente, sem nenhuma noção de direção defensiva, com margens de segurança nulas, falta da consciência técnica até mesmo em como usar os freios. Espelhos de carros quebrados são super comuns, e até pouca coisa, em vista dos absurdos dos condutores de motos. Com um SUV espelhos atingidos não ocorre. Se tiver um estribo então, o mau motociclista pensa um pouco antes de tirar aquela "fina", o querer dar um chutezinho em uma porta.
d) estacionar um carro moderno, com cantos arredondados e capô e tampa de porta-malas invisíveis do banco do motorista é uma tarefa não muito fácil nem agradável para quase todas as pessoas. E hoje quase todos os carros novos são assim. Em um SUV quadradão e grande, essa tarefa é muito mais fácil. Se for pequeno, como um Ecosport, por exemplo, alia-se dimensão favorável à visibilidade das extremidades.
e) dirige-se devagar, muito devagar nas cidades com frotas monstruosas. Os dotes dinâmicos de carros pequenos e médios são minimizados em sua eficiência. O congestionamento nivela por baixo a capacidade de frear bem, fazer curvas com tranquilidade e acelerar na frente, caso o motorista seja do tipo que se satisfaz em andar no fluxo mais lento, sem buscar o desafio de aumentar sua velocidade média em relação a maioria. O SUV, normalmente, é um paquiderme em quase todas as provas dinâmicas, exceto; alguns deles; em acelerações. Daí, estar em um carro "bobalhão" não é relevante para a maioria, e essas características de lerdeza nos movimentos em meio ao tráfego pesado não é nem considerada.
f) muitos povos do planeta gostam de aparecer, e se pudessem, levariam uma vida de celebridade exibicionista: festas, recepções, aparecer na televisão, coisas desse tipo. O SUV é um pouco disso, com suas dimensões de anúncio de rua (outdoor ou billboard, coisa que os paulistanos só lembram o que é ao saírem do município).

Com essas características apresentadas, algum purista da tração nas quatro rodas irá me lembrar que muitos desses carros são 4X4 (quatro por quatro), e aí entramos em outro assunto, mais técnico, e por isso mesmo, detestado por quase todo mundo que é apaixonado por um SUV. O caso de ter ou não tração em todas as rodas que tocam o solo é pouco lembrado pelos clientes de SUV. Muitos até preferem não ter, pelo excesso de massa a ser transportado, e menos peças que podem quebrar. Isso se essa pessoa tiver alguma noção do que é uma transmissão. Mas para quem precisa disso, e conhece o assunto, ou ao menos tenta se informar, fica claro que há alguns modelos enfeitados que são carros com ótima capacidade fora-de-estrada. Um exemplo vem imediatamente à cabeça, por ser a marca com mais tradição nesse campo, e que sempre e apenas construiu carros com tração nas quatro: Land Rover.
Exceção feita ao exagerado, e nem tão bonito Range Rover topo de linha, e sua versão Sport com aquelas rodas de balada e exibição, o SUV ideal para quem quer tudo que um carro moderno pode ter, somado a um sistema de suspensão e de tração que beiram a perfeição técnica é apenas um: Discovery.
Mas esqueçam essa versão de gradinha nova, modelo 2010. O Discovery clássico e premiado é o modelo chamado de LR3 no mercado americano, feito até o modelo 2009.

Um caso de face-lift mal feito e que piora o produto: Discovery 2010.

Mesmo os mais antigos, que podem ser chamados de não-harmônicos ou feios, são carros capazes, e que ainda entregam um bom nível de conforto aos usuários.

Agora, caso você seja um comprador de SUV e quer um bem equipado e confortável, além de desejar um acabamento interno e externo de automóvel de passeio moderno e que quer aparecer, anote esse conselho: não leve para casa um Defender achando que estarão a bordo de um carro "de luxo", como noticiou a Imprensa num recente caso de corrupção política federal documentada. O Defender é uma ferramenta de trabalho, e está na categoria do fora-de-estrada puro e duro, onde o propósito não é exibição e nem fazer show dentro das metrópoles. É um carro que serve apenas para andar longe do asfalto, satisfazendo seu condutor com a absoluta facilidade com que realiza essa tarefa.
Nas impermeabilizadas ruas das cidades, é apenas um quebra-galho para se deslocar de um ponto ao outro.
Mas ainda assim, ótimo para passar por cima daquela ilha ou canteiro de avenida e buscar outro caminho, quando o que você está se torna uma rota inviável, com velocidade média próxima de zero.

Defender nunca foi SUV e esperamos que nunca seja.

Um Defender para o mercado americano, com V8 gasolina.

JJ
Antes de mais nada, desculpas aos leitores pela longa ausência. Tenho andado muito atarefado por esses dias, terminando uns projetinhos de uns amigos.
O Opala com a bateria na mala foi um deles. E hoje, outro projeto que está comigo há uns bons meses andou um bocado. Para quem não aguenta mais essa mesmice de Opala V-8, Chevette V-6, Camaro V-8, Chevette V-8 - opa, novidades, vamos ter um Chevette V-8 mas isso é para outro post - temos algo fino e sofisticado, fora do normal e que deve deixar nosso Prezado Amigo MAO de cabelos em pé!
Explico: é que a última obra deste escriba é instalar um SBC 350 num 944 86 que tem alguma dificuldade com o motor original. Claro, coisa fina, kitzinho de transmissão da renegade hybrids, e o velho e manjado SBC 350 made by AG.
Nas fotos abaixo, a bagunça começando a acontecer!

Espero que gostem.



As fotos que vocês podem ver ilustrando este post são do carro que tem feito entusiastas bambear as pernas e babarem até colar o queixo na gola da camisa, desde que foi anunciado mês passado no Concurso de Elegância de Pebble Beach, na Califórnia.

Usando como base um 911 original com entre-eixos longo (1969 a 1989), a empresa que o criou clama ter pego o melhor de 40 anos de desenvolvimento do 911 refrigerado a ar (aquele, o que era realmente um 911) e juntado tudo neste amálgama de modernidade e passado glorioso que ela chama apenas de "Singer 911". Praticamente todo escriba que se preza adorou só de olhar a cara do bicho, e quando soube os detalhes quase teve um orgasmo tântrico de 6 horas.


Mas eu, estranhamente, principalmente por ser o puristra maluco por 911 refrigerado a ar oficial deste blog, fiquei meio em dúvida. Ápice do 911 original? Será?

Se você perguntar a alguém de sobrenome Porsche, ele dirá que o ápice do 911refrigerado a ar foi o tipo 993 (nomeado assim devido a seu ano de lançamento, 1993) fabricado até 1997, mas que um 911 zero Km que se pode comprar em concessionária hoje é ainda melhor. Realmente existem poucos argumentos lógicos para refutar tal afirmação. A Singer, porém, parece ter uma idéia interessante: seus press-releases evocam a leveza, a simplicidade e até o barulho característico do motor refrigerado a ar como algo que não devia ter sido abandonado.

Eu mesmo sou largamente conhecido por apregoar a mesma coisa aqui neste Blog. Muitas vezes, menos é mais, e mais é simplesmente um exagero inútil. Mas o que diferencia um carro como este Singer de , por exemplo, um Carrera 2.7? Aparentemente, pelo uso de componentes e tecnologia moderna, seria um carro também usável no dia-a-dia.

O carro começa com uma carroceria usada de um 911. Ela é totalmente limpa de pintura, e solda MIG é usada para reforçar toda junção de chapas. Um "backbone" (chassi tipo espinha) existe para reforçar ainda mais a estrutura, embora a empresa não dê detalhes de como isso funciona (provavelmente, uma estrutura tubular por baixo do túnel central). Pode-se ver no primeiro carro montado, um santantônio tubular por dentro do carro também. Segundo a empresa, todas as superfícies externas (exceto a porta) são substituidos por peças moldadas em resina plástica reforçada com fibra de carbono (material conhecido por aí apenas com o nome da fibra de reforço). A rigidez, já uma característica que nunca foi ruim num 911, com certeza melhorou. Somente o reforço das soldas com cordões de solda aumenta sobremaneira a rigidez de qualquer carroceria soldada a ponto, apesar de ser extremamente trabalhoso, e por consequência, caro.

O motor também parece ser uma jóia: baseado no bloco grande de 3,6 litros do 993, é aumentado para 3,8 litros por meio de pistões e camisas (parecidas com as de fusca no 911 "a ar") de 103mm de diâmetro e o virabrequim de 76,4mm de curso do Porsche 997 GT3 . Montado pela empresa do famoso preparador Jerry Woods, usando peças da Ninemeisters inglesa, o motor tem ainda bielas de titânio e cabeçote especial usinado de um bloco sólido de alumínio forjado. Balanceado e feito com cuidado, gira a 8000rpm e debita 425cv. Empurrado por essa usina de força (e, sem dúvida, de ruído), e pesando apenas 1088kg, o Singer 911 acelera de 0-100Km/h em torno de 4 segundos, e chega a 275km/h.

A suspensão dianteira, por barras de torção na balança triangular inferior e torre de amortecedor no original, é substituida por torres McPhearson, e a traseira é a mesma dos 911 de corrida dos anos 70: braço arrastado com mola helicoidal concêntrica com o amortecedor.O melhor da indústria de preparação de 911 é utilizado: amortecedores Moton com reservatórios separados, molas Eibach, e buchas e barras estabilizadoras Smart Racing. Os pneus são enormes Michelin sport cup, 225/45 17 na frente e 245/40 17 na traseira, em rodas que imitam as gloriosas fuchs forjadas dos anos 60/70. O desenho dos pneus é claramente focado para aderência máxima em pista seca, com apenas as concessões necessárias para homologação para o uso em rua.

Por dentro, um belíssimo volante Momo de pequeno diâmetro, sem air-bag, domina a impressão inicial. Existe algo em um volante simples como esse que é uma brisa de ar fresco para o entusiasta, uma coisa que nos alivia e nos leva a um mundo mais simples que não existe mais... Os bancos são Recaros antigos, parecidos com os do 2.7 RS, e apesar de espartano, a ampresa diz que amenidades modernas como ar condicionado, som potente e navegador GPS estarão disponíveis. Um detalhe interessante e de bom gosto na escolha dos componentes é o uso dos limpadores de parabrisa do 993, que denota realmente o esforço de usar o melhor de todos os 911 originais. O desenho externo é realmente, de novo, de extremo bom gosto, evocando principalmente o magnífico Carrera RS de 1974. Fica especialmente malvado e adorável no laranja das fotos.


Lendo e vendo tudo isso, não há dúvida que o carro será incrível para dirigir, e causador de furor por onde passar. Mas penso que não tem como ficar barato; todo este trabalho especializado feito a mão individualmente nunca é. E acho que fica num estranho limbo, uma zona cinza entre um carro de pista e um carro de rua, que não consigo entender, ou realmente desejar de forma tão compulsiva quanto a maioria das outras pessoas.

Para o uso nas ruas, no dia-a dia, não entendo onde pode ser melhor que um 993. Sim, é mais potente e mais cru, mais próximo de um carro de competição, mas isto é na verdade um problema para um carro de rua. O 993 tem uma suspensão traseira mais sofisticada, multibraço montada numa bela estrutura de alumínio, que transformou o 911 em um dócil companheiro tanto para estradas esburacadas, como em pistas sinuosas. O ronco e a persona bruta e sem sofisticação de um 911 refrigerado a ar está presente no 993, mas é um carro perfeitamente usável e dócil, um belo companheiro para o dia a dia, e ainda possível de se usar numa pista.

O balanceamento rua-pista é sempre delicado neste tipo de carro. O Singer 911 pretende ser um 911RS3 refrigerado a ar, mas tendo usado componentes dos 911 antigos, acabou deixando o pendulo cair mais para o lado da pista do que pode ser aceitável para que o conceito faça sentido. Não existe como este motor ultra-preparado não soltar um berro gutural que apesar de muito legal nos primeiros 7 dias, será impossível de aturar nos subsequentes. Sua suspensão será rígida demais, e o carro caro e exótico e bonito demais para ser deixado em qualquer lugar, por medo de se repor ou ter que pintar um paralaminha de fibra de carbono. E para pista...algo ainda mais cru e focado é o necessário.

O fato é que pelo preço deste carro, muito provavelmente você poderá comprar um 993 original e deixá-lo em estado de zero, usá-lo todo dia , e ainda rebocar um 911S 68 de corrida (depenado, rollcage, slicks, mármore italiano no lugar de suspensão, sem abafadores de escape) para as pistas no fim de semana. Ou comprar um RS3 novinho, que faz perfeitamente o balanço pista-rua, e deixar toda esta bobagem de passado para atrás. Mesmo porque carros como este Singer, por mais bem feitos que sejam, nunca terão a confiabilidade de um Porsche original. Este fato, amigos, quase nunca é lembrado quando se fala de carros deste tipo, mas é um tremendo problema. Como um brinquedo de fim de semana, tudo bem, mas para este fim existem literalmente infinitas opções.

Desta forma, apesar do extremo bom gosto na execução, este belíssimo 911 me parece ser destinado apenas aos que querem ser diferentes, passar a imagem de puristas ou conhecedores, ou apenas ter algo raro, ou ainda, infelizmente, apenas aparecer. Nenhum problema com nenhum destes motivos, mas definitivamente não toca a minha música.


MAO
Chico Landi e o Opala SS 1975. Impossível imaginar um garoto propaganda melhor.

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