google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

Talvez seja o fato de que finalmente estou ficando mais lento que o tempo, e ele estar inexoravelmente me alcançando, reduzindo minha velocidade como uma bola acorrentada aos meus pés, mas a realidade é que ando extremamente cínico e desinteressado pelo estado atual de todas as coisas automotivas.

Vejam por exemplo a contínua e inexorável fixação da indústria por peruas off-road altas, que hoje atendem pelo pomposo e ridiculamente incompreensível nome de Sport Utility Vehicles, ou SUVs. Hoje em dia esta moda se expandiu a tal ponto que se pode comprar uma dúzia dessas peruas com motores de mais de 400 cv, e que prometem ser excelentes também em asfalto. Existem até algumas delas misturadas com cupês e hatches, em uma aberração genética que seria repelida como grotesca demais até pelo famoso Dr. Moreau.


Nunca tive a vida "ativa" apregoada pelos marketeiros que tentam vender estes carros. Nunca pulei de paraquedas de um penhasco, nunca fiz bungee jump, não ando em trilhas de bicicleta desde que saí da adolescência, e também parei de ir a praia com pranchas e/ou equipamento de mergulho quando fiz 18 anos. Mas já fui fazendeiro, tipo de pessoa que supostamente originou o gênero quando pediu à Willys americana uma perua baseada no Jeep que conhecemos como Rural, no pós-guerra americano. E desta bucólica aventura rural do MAO vem uma história automotiva bem interessante e reveladora, que gostaria de dividir com vocês.

Minha família produziu leite com vacas holandesas "breeded" lá mesmo em nossa fazenda perto de Juiz de Fora, por 15 anos. Meu pai na realidade ainda mora lá, mas a fazenda não produz mais e foi arrendada, já faz alguns anos, restando apenas os troféus de produção de leite expostos com orgulho pelo velho na sala. Durante o tempo que ela estava ativa, utilizávamos para trabalhos gerais uma Pampa 1,8-litro a álcool, produzida em 1992 e comprada zero-km para este fim. A Pampa foi na realidade meu único carro por alguns anos, quando estava às voltas com aquele empreendimento.

Em todo esse tempo, mesmo estando então a fazenda a 40 km do asfalto mais próximo, e em uma região montanhosa e molhada, nunca precisei de nada mais do que aquela picape de tração dianteira e radiais Pirelli M+S. Carregando de tudo em estradas frequentemente enlameadas, ou com grossa camada de areia, subindo morros sem estrada, atravessando córregos e subindo terrenos pedregosos de algumas propriedades próximas, aquela Pampa nunca me deixou parado. É impressionante a capacidade de tração de um motor bem em cima das rodas motrizes, sejam elas dianteiras como a Pampa, ou traseiras nos leves Fuscas que dominavam a região. Picapes de tração traseira como F-1000 e D-20 atoladas eram cena comum e corriqueira, e por vezes ajudei-as a sair de seus imbróglios. Nelas, tração total devia ser item de série...

Uma vez, no Natal, fui até um chiqueiro no fundo de um morro enlameado para buscar nossa ceia (dois leitões e um porco adulto de mais de 100 kg), em que pensei não fosse possível sair novamente, mas consegui. Meu primo, homem de cidade, ficou impressionado com a valentia da picape e com o fato de que não foi necessária tração total para entrar e sair dali. Uma coisa me deixava tranquilo ao ir naquele chiqueiro: o dono dele tinha um Fusca, com o qual fazia entregas de porcos na região. Not a pretty sight...

Houve situações em que sabia que a Pampa não poderia se safar. Eram raras, mas existiram. Nessas situações, em que de qualquer forma nenhuma pessoa normal entraria com um automóvel, apelava para aquele acessório indispensável em toda propriedade rural: nosso velho trator Massey-Ferguson. Mas só para coisa braba, como ajudar vaca atolada a sair da lama ou coisa assim.


Como posso eu então levar a sério toda esta horda de aventureiros do asfalto, de adoradores de falsos ídolos, que rodam por aí aboletados em suas peruas sobre o asfalto liso? Para mim simplesmente não existe utilidade alguma para um SUV moderno. Meu pai neste tempo morava no Rio e ia todo fim de semana para o sítio. No início usou uma Blazer, mas estupefato com o desconforto dela nas estradas ruins (principalmente se comparada à minha genial Pampinha) acabou por trocá-la por uma Scénic, e ficar infinitamente mais satisfeito. A Scénic era mais confortável, econômica, veloz, espaçosa, durável...

Estas grandes peruas são apenas promessa. São a venda de uma ideia de mobilidade e liberdade que na realidade tem muito pouca utilidade, se não nula. Talvez se você quiser atravessar o Saara, ou as florestas da Papua-Nova Guiné com sua mulher e seus filhos, elas sejam úteis. Como se isso fosse acontecer de verdade... De novo, acho que é a idade, mas as coisas costumavam ser deliciosamente mais simples, e as pessoas não costumavam a sentir a necessidade repentina de andar por aí carregando 4 toneladas de perua preparada para situações que nunca irá enfrentar.

Existe gente para quem tração 4x4 tem utilidade, mas por necessidade profissional, coisa como busca e salvamento, militares, mineradores. E existe gente que, por esporte e diversão, se embrenha em caminhos impossíveis com seus jipes, e então precisam de sua extrema capacidade para tal coisa. São como meus amigos que participam de track-days: esportistas, gente com um hobby movido a motor. Nada contra eles, mas seus carros são como track-weapons: muito bons para a função que se destinam, mas quase sempre tem seu uso reservado aos tais eventos de fim de semana.

A Pampa, ainda por cima, se comportava muito bem no asfalto. O AP 1,8 a álcool era forte, e ela era extremamente rápida para a sua época, me dando alegria por ter escolhido esta versão porque, como já expliquei, nunca precisei do 4x4 (que era oferecido como opcional na época, com motor CHT 1,6-litro). Os excepcionais pneus Pirelli M+S eram realmente de uso misto, e faziam o máximo para dar aderência suficiente no asfalto, algo surpreendente mesmo. Certa vez, descendo para o Rio pela BR 040, tive um embate memorável com um XR3, seu piloto incrédulo que aquela picape toda suja de barro pudesse acompanhá-lo. Dentro da Pampa o jovem MAO, faca entre os dentes, se divertia horrores apesar da horrível posição de dirigir, muito próxima do volante.

E hoje penso, lembrando disso: quem precisa de um Cayenne? O enorme Porsche é infinitamente melhor no asfalto, mas duvido que mais divertido que aquela Pampinha. E não seria a melhor escolha para carregar enormes porcos abatidos para fora de chiqueiros de difícil acesso...

MAO

Como pode alguém preferir um Porsche?


Desculpem a falta de especificações e informações adicionais. Logo falamos mais da 458.

Lord Vader, your car is ready.

Deveria ser o slogan de propaganda do novo Brabus E V-12 Black Baron. Novamente, a preparadora alemã Brabus partiu para a ignorância em um modelo Mercedes, agora no novo Classe E reestilizado.


Com um upgrade no motor V-12 de 6,3-litros sobrealimentado que a Brabus vem utilizando nos seus modelos topo de linha, o feliz proprietário de uma das dez unidades que serão fabricadas poderá tentar virar o mundo ao contrário com 810 cv e nada menos que 110 m.kgf de torque. Para que tudo isso? Para acelerar de zero a 100 km/h em 3,7 segundos e a 300 km/h em 24 segundos. Se isso ainda for pouco, a máxima é de 350 km/h. Limitados eletronicamente. Sem o limitador, a Brabus afirma ser possível atingir mais de 370 km/h.


Sempre fui um grande fã dessa preparadora, pois grandes sedãs de alta performance sempre me atraíram. O Black Baron pode ter saído um pouco exagerado no visual, com a cobertura de fibra de carbono nas rodas traseiras, semelhantes às tampas usadas em muitos carros dos ano 30 a 50, mas não chega a ser um pênalti. Faz parte do visual (exagerado) que a Brabus adotou para o Barão. O preço começa em US$ 875.000,00.

No dia do Juízo Final, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse não estarão montados em cavalos negros com olhos de fogo, mas em sedãs pretos com um B estampado na grade dianteira e fogo saindo pelos escapes.
Dia desses, após ler matéria sobre comparativo de picapes médias, num jornal de domingo, notara que a Chevrolet S10 2010 2.4 Flexpower foi comparada com a Ford Ranger 2010 2.3 a gasolina. Até aí, nada demais, além da Ford ainda relutar a lançar motorizações flex em vários de seus modelos, seja por carência de recursos, prioridades ou até por discussões internas.
Mas, o que pulou na minha frente é que o comparativo colocou as versões topo de linha de cada fabricante com seus respectivos modelos de motor mais fracos, o 2.4-L flexível em combustível da Chevrolet, versus o 2.3-L a gasolina da Ford.

Fui aos meus livros, anotações e alfarrábios e também busquei uma conexão com minha memória automobilística, bem como o histórico recente desses dois fabricantes, enfim, fui checar se não havia nada destoante.

Explico. A versão Executive da Chevrolet nasceu em 1997, com a Blazer. Couro, V-6 de 195 cv, automática, airbags e vários mimos, conjunto que depois migrou para a S10, mas sem o câmbio automático, que nunca equipou a picape. Mais tarde, a mesma Blazer Executive recebeu a opção do diesel MWM Sprint 4.07, 2.8-L de 132 cv, que apesar de 63 cv a menos, tinha mais torque e praticamente mantinha o mesmo desempenho, com menor consumo de combustível, vantagem ampliada pelo menor preço por litro do diesel em relação à gasolina. Como desvantagem, menos maciez, menor faixa útil de giros e o clé-clé-clé característico dos motores com ignição por compressão, principalmente quando em marcha-lenta.

Mas daí até hoje a Executive seguiu sendo o topo de linha da Chevrolet S10, com o motor mais potente que havia, o V-6. Quatro cilindros em linha a gasolina, só para as versões de entrada.


Ranger? Iniciou sua produção na Argentina, também em 1997, sua versão topo de linha era a XLT, que oferecia o V-6 4,0-L de 162 cv gasolina e o turbodiesel 2,5-L 115 cv. Apesar da grande diferença de potência entre o V-6 e o turbodiesel, esses motores tinham torque máximo próximos e a diferença de desempenho não era tão gritante. O quatro-cilindros a gasolina 2,5-L, menos potente, equipava somente a versão "pé de boi", a XL.

Em 2001/2002 veio nova safra de motores: 2,3-L 16V a gasolina substitui a 2,5-L nas versões XL; o V-6 4,0-L de 210 cv gasolina substitui o mesmo V-6 de 162 cv e o 2,8-L PowerStroke turbodiesel TGV 136 cv substitui 2,5-L turbodiesel de 115 cv. O gap de potência entre o V-6 a gasolina e o PowerStroke diesel passou a 74 cv, mas o maior torque do diesel mais que compensava essa diferença. De lá para cá, veio a versão Limited, passando a ocupar o topo da linha com o motor diesel PowerStroke TGV como opção apenas.

Por um breve período houve duas versões de potência no motor diesel, com turbo wastegate de 132 cv nos modelos XL, XLS e XLT e com turbo TGV de 136 cv, exclusivo para a Limited . E em 2005 a Ford substituiu o motor PowerStroke 2,8-L por um 3,0L 16V de injeção comon-rail e 163 cv para todas versões de acabamento.



Em curto resumo, ao longo do tempo notamos que Ford e GM "disputavam" a supremacia de potência em suas picapes médias aqui, repetindo o que suas matrizes faziam nos Estados Unidos, nas picapes de porte grande F250 e Silverado, ou seja. havia nítida corrida de potência entre elas, a cada lançamento, a cada nova versão, uma com alguma potência a mais que sua concorrente direto.

Com o lançamento quase simultâneo das versões topo de linha menos potentes, tive a impressão que ambas inverteram o sentido da corrida. Existe "supremacia" por menor potência? Quem delas irá ganhar? Estará havendo uma inversão de lógica?

Outra impressão foi de que esses dois fabricantes passaram anos, décadas, olhando-se um ao outro, copiando os melhores movimentos, alternando as iniciativas, mudanças de produto, não deixando um escapar à frente por período demasiado longo. Exemplos, muitos. No segmento de picapes médias, objeto desta análise, tivemos o primeiro turbodiesel de 95 cv na S10, mas sem intercooler. Aí vem a Ranger com intercooler e 115 cv, cabine dupla, 4x4 com seletor no painel, airbags, 2,8-L versus 2,5-L com TGV, comon-rail...

Isso fazia muito sentido, quando eles disputavam a liderança do segmento. Hoje, com Toyota e Mitsubishi na frente em vendas, não faz absolutamente nenhum sentido seguirem olhando-se somente a si e se copiando, parecendo ignorar as demais.
Mais curioso ainda é que as líderes de vendas seguem "na lógica anterior" e também disputam a preferência do comprador de picapes mais endinheirado, com modelos mais caros e equipados, a caixa automática já chega a 60% de participação na Hilux e L200 e a GM e aFord seguem sem ela.

Essa lógica de versão topo com top power, aliás, está presente no mundo automobilístico, guardadas as devidas proporções. Uma Range Rover Sport não tem opção de motor 2,5 TDi. Não se leva para casa um Cayenne V-6, com os itens de acabamento, da suspensão adaptativa do turbo, nem que se implore com milhares de euros na mão.

Pior, se eu estiver totalmente enganado, e Ford e GM estiverem criando tendência de "downpower", o que podemos esperar de movimentos da Toyota? Dá para imaginar a Hilux SR-V com quatro cilindros a gasolina e GNV? E a Mitsubishi L200 Triton com o motor quatro cilindros flex do TR4? Nissan Frontier com quatro-cilindros flex 2,0 do Sentra?

Bom notar, não nos deixemos enganar pelos números da Chevrolet S10, engordados pelas vendas a frotistas (há inúmeros frotistas com a frota de uma só picape), governo, empresas, de versões básicas flex. Quem dá as cartas hoje no segmento são a Toyota e a Mitsubishi.

CZ