google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Os 500 km de Interlagos é uma das provas mais tradicionais do automobilismo nacional. No fim de semana passado, aconteceu sua 27ª Edição.

A pole no sábado foi marcada pela surpresa do excelente desempenho do protótipo da equipe Metal Moro com motor Audi 1,8 turbo e pilotado por Juliano Moro e Christian Castro, que fez o ótimo tempo de 1:30,973 segundos, mais de dois segundos mais rápido que o segundo colocado, o F430 GT3 de Longo e Serra.

Logo no começo da corrida no domingo, o carro de Moro teve problemas e abandonou, e a liderança ficou muito disputada entre vários carros. Ao longo da prova com diversos líderes, quem se deu melhor no final foi mesmo a dupla Chico Longo e Daniel Serra, que venceram por pouco o Porsche 911 RSR de Max Wilson, Nonô Figueiredo e Marcel Visconde.

A corrida terminou um pouco antes do previsto, em bandeira vermelha, por conta de um acidente entre um Aldee Spyder e o F430 Challenge da FG Racing, na subida do Café. Nada de mais grave aconteceu com os pilotos, fora os carros muito danificados.

O resultado completo da prova pode ser visto por este link, e mais fotos já postadas podem ser vistas aqui.





A discussão da semana se deu em cima da dúvida entre BMW E30 M3 e Mercedes-Benz 190E 2.3-16, dois ícones alemães da década de 80.

Qual dos dois eu prefiro? Nenhum deles. Ficaria muito contente é com esse Audizinho 80 branco da foto abaixo, 1980 e alguma coisa. Tração integral, 5 cilindros, turbo.

Foto: Motive Magazine


Já adianto a discussão: o Vic Rodriguez vai dizer que o motor pendurado à frente do eixo dianteiro faz do Audi um "esfregador de dianteira", o Marco Antônio vai torcer o nariz dizendo que é um Santana (ou Voyage) metido a besta e o Bob Sharp vai ficar doido, pois gosta de Audi e ambos os carros estão pintados em sua cor favorita.

Entre os dois acima, eu fico com o velhinho, sem dúvida nenhuma. É o caixote mais bonito dos anos 80, mais até do que o Ur-Quattro.

FB


O recente texto do Bob Sharp sobre o Passat CC me aborreceu, não pelo texto em si, mas pelo objeto analisado, e tenho discutido um pouco sobre esse carro com amigos. A maioria considera o CC um belo carro, tanto em termos de aparência quanto nas habilidades mecânicas. Não questiono em nenhum momento o pacote de tecnologia, mais do que alinhado com o mercado, a categoria de preço e tamanho do carro. Minha tristeza é pelo design de carroceria, a meu ver apenas uma cópia descarada do Mercedes-Benz CLS, um carro que trouxe criatividade e inovação ao segmento de sedans grandes. Por si só, o CLS foi um impacto, e a VW seguiu muito de perto a Mercedes, perto demais, e resultou no CC. Talvez ele se chame CC devido ao campo "cc" dos e-mails, inclusive.

Aprendi hoje mesmo uma frase do jornalista inglês John Maddox, que escreveu em seu livro "What Remains to be Discovered" (O que falta ser descoberto):

"As descobertas que aprofundam a compreensão humana também aumentam as dúvidas. Temos de aprender a viver com isso".


Ao contrário de meu amigo VR, que já dirigiu o Mercedes 2.3-16 e é dono de um gloriosamente belo M3 de primeira geração, eu nunca dirigi nenhum dos dois. Mas nem preciso para formar opinião; li o suficiente a respeito deles durante os anos para saber exatamente como são. O meu post sobre o Mercedes na verdade saiu de mais uma incursão aos sebos paulistanos na semana passada, onde comprei um bocado de revistas americanas e inglesas que, por pura coincidência, falavam dos dois carros das mais diversas formas.

Vamos rever o que disse o VR:

“...também brilhante 190 2.3. É um carro de fato também muito bacana. Dogleg, interior que transpira esportividade. Excelente. Mas eu já guiei o 2.3 e posso afirmar que perto do M3 o Mercedes é lento. Não em velocidade, em sensação. Os engates são mais lentos, o motor pede menos para girar, a suspensão é muito mais macia. Não parece te chamar pra brincar como o M3. É um outro bicho.”

Essa é exatamente a impressão geral de todo escriba gringo que já comparou os dois. O Mercedes é menos excitante, o M3 uma festa, e aparentemente bem mais veloz.

Mas olhando-se os números de desempenho, e os tempos em pista dos dois, aprende-se muito. Apesar do M3 ser realmente mais rápido, o é por uma margem ridiculamente baixa para um carro de passeio, quase irrelevante em minha opinião. O Mercedes, como bem disse Vic, parece mais lento que o BMW.

Mas é óbvio, caro leitor. Uma das coisas que me fazem gostar mais deste carro do que os novos e poderosíssimos AMG’s modernos é o fato de que o 190E podia ser esportivo, mas ainda era um Mercedes-Benz. De verdade, daqueles orgulhosos de sua tradição e de sua origem, e que a vestiam sem vergonha alguma. Ele parecia mais lento que o M3, mas na realidade, no mundo fora da pista, não era. Era menos excitante, mas menos cansativo também. O Mercedes 190, como todo Mercedes de verdade, não podia ser excitante no idioma BMW, aquela linguagem crua, sem vergonha, nervosa e orgulhosamente esportiva. Não, Mercedes dão a satisfação com uma linguagem mais madura e polida, que se revela somente quando se faz uma longa viagem a velocidades altíssimas, e com conforto suficiente para poder chegar ao destino e voltar se necessário. Carros de luxo velozes e seguros, Mercedes nas estradas, BMW’s nas pistas. Carros e caminhões, carros e motocas.

É lógico que o 190E parecia menos nervoso, era Mercedes. Volante grande, a tradicionalíssima direção de esferas recirculantes, relação de ride & handling mercediana tradicional.

Mas a imprensa internacional andava aquela época numa cruzada para que todos as carros se tornassem BMW’s, e colocava esse tipo de comportamento tradicional da Mercedes como coisa de velho, de ultrapassado e fora de moda. Não posso negar que para um entusiasta uma BMW era sempre a opção mais lógica, mas daí a colocar esta pecha nos carros de Stuttgart é demais. O único escriba a defender os Mercedes não podia ter sido outro: LJK Setright. Formando sua própria opinião, e não se importando com o que a voz uníssona da turba dizia, Setright defendia leveza nos comandos, conforto e transmissões automáticas, e apesar de parecer realmente fisicamente um velhinho ultrapassado, costumava ser o mais veloz repórter presente a qualquer lançamento, a ponto de ser sempre despachado sozinho nos carros por falta de alguém com coragem suficiente para acompanhá-lo.

Mas a turba conseguiu seu intento. A Mercedes-Benz hoje se dedica a frivolidades e marketices. O design de seus carros, antes sagrado em sua seriedade e sobriedade clássica, mas belíssima, hoje é um festival de infantilidades. Bruno Sacco, que por anos foi o guardião dessa tradição, e que costumava dizer que um Mercedes se desenhava sozinho, precisando apenas ser ajudado por seus designers, hoje deve desacreditar no que se vê. Me parece lamentável que a tradição, a aerodinâmica e a funcionalidade que antes ditavam a forma de um Mercedes-Benz tenham hoje sido jogadas no lixo para que a moda apenas dite a forma dos carros. Para mim, coisas como um CLS são uma afronta a tudo que representava a empresa de Stuttgart.

Hoje há uma horda de Mercedes-AMG que cospe fogo e enxofre, que é mais cheia de guelras e nadadeiras que um cardume de tubarões. Mais un-Mercedes, impossível.

E as coisas não andam melhores em Munique. A BMW também nunca foi uma empresa que desenhava carros com a moda em mente. Não, carros alemães, como o povo que os criava, tinham que ter sempre a função acima da forma. Mas aí veio aquele tal de Bangle...

E é por isso que a melhor coisa que aconteceu à Jaguar foi o XF: depois de anos presa ao desenho “tradicional” do XJ de 1968, a empresa notou que ela não é a Mercedes, que um Jaguar sempre representou um corpo belíssimo em primeiro lugar. Se existe uma empresa de carros de luxo e esporte que deve fazer coisas sempre mais belas, é ela. Dos SS de antes da guerra, passando pelo XK 120, E-type e XJ, a marca formou uma tradição de desenho belíssimo primeiro, carro e função em seguida. O oposto exato da Mercedes-Benz. O XF é então, independentemente de seus donos hindus, um Jaguar de verdade, de uma empresa que volta a entender o porque de sua existência.

O que nos leva a cena III, Ato I do clássico “Hamlet, o Príncipe da Dinamarca”, onde Polônio dá uma série de conselhos para seu filho, Laerte, que parte para tentar a vida longe do pai. É um texto maravilhoso, com conselhos tão úteis hoje quanto séculos atrás, quando foram colocados no papel por William Shakespeare.

Mas o conselho final é o que é relevante aqui, o que queria que os capitães da indústria entendessem como o mantra empresarial de um consultor inglês do século XVII:

“This above all: to thine ownself be true,
And it must follow, as the night the day,
Thou canst not then be false to any man.”

(Mas, sobretudo, sê a ti próprio fiel;
E segue-se disso, como o dia a noite,
que a ninguém poderás jamais ser falso.)

MAO