google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

O ano de 1968 foi um ano revolucionário. Ano da Revolução Cultural, da Revolução Estudantil na França, da Primavera em Praga, do AI-5, dos astronautas da Apollo-8 declamando o Livro do Gênesis em órbita lunar na véspera do Natal.

No cinema, 1968 foi o ano de uma obra histórica: “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.

Um filme infantil deste mesmo ano bebeu de algumas fontes anteriores, criando uma obra deliciosa de ser vista, e nem por isso alienada de uma mensagem de repulsa à repressão.

“O Calhambeque Mágico “ (“Chitty Chitty Bang Bang”) é a confluência de estilos entre o musical fantasia de “Mary Poppins” com os filmes sobre carros e automobilismo, como “Grand Prix”. É diversão para crianças, das pequenas até as mais crescidas.

Em muitos aspectos de sua realidade fantástica, dando personalidade ao carro, precedeu “Se Meu Fusca Falasse”, que viria no ano seguinte.

Porém, numa época carregada de idealismos políticos, este filme não escapa da propaganda. A aventura contada no filme leva os personagens até uma Bulgária fictícia, onde os governantes não toleravam crianças, e a população tinha que mantê-las escondidas. A partir da interferência destes personagens, cria-se uma revolta popular que depõe seus governantes.

Era uma mensagem direta para os povos do outro lado da cortina de ferro.

O começo deste filme é de um entusiasmo automobilístico de primeira linha. Dá vontade de comprar um carrinho velho, caído, e restaurá-lo com gosto.

Assisti a este filme ainda muito pequeno, e não tive mais a oportunidade de vê-lo, nem nas incontáveis reprises da “Sessão da Tarde”. Mesmo assim, ele ficou entre minhas lembranças de infância.

Este final de semana, tive a alegria de encontrar esta versão em DVD, e pude relembrá-lo mais uma vez. Incrível como mesmo passados mais de 35 anos que o assisti, muitos detalhes ainda estavam perfeitos na memória.

Por quase duas horas, voltei a ser criança.
No dia 3 de junho deste ano morreu um grande ator do cinema, David Carradine.

Ele ficou famoso por diversos filmes e séries, entre eles o grande sucesso dos anos 70, Kung Fu.

Uma das últimas grandes aparições de Carradine no cinema foi no segundo filme da sequência de Quentin Tarantino, o não tão genial Kill Bill. Carradine fez o papel de Bill, o cara mau da história.

No segundo filme, Bill aparece em uma das cenas com um carro que muitos não conhecem. É um De Tomaso Mangusta, o antecessor do mais conhecido Pantera.

O Mangusta, lançado em 1967 e com aproximadamente 400 carros fabricados, era um forte concorrente do Lamborghini Miura em beleza e desempenho em linha reta. Originalmente equipado com um V-8 Ford de 289 pol³ montado no centro do carro, acelerava a mais de 250 km/h.


O carro foi desenhado por Giugiaro, mas não muito bem planejado. A distribuição de peso era horrível (68% do peso estava no eixo traseiro) e o comportamento dinâmico bem ruim, não muito diferente dos problemas de desempenho do Miura.

Mas quem se importa, é lindo mesmo assim. E fica aqui uma última homenagem ao ator.


Conta a história que num dado momento a Nissan foi em busca de empréstimos no Ocidente para se modernizar e crescer, isso por volta do início dos anos 80. Diante das mesas (provavelmente de mogno) dos grandes banqueiros, quando falavam em Nissan, os circunspectos senhores se entreolhavam e perguntavam, "Que carro é esse que vocês fabricam? Nunca ouvimos falar dele!"

Foi então que os japoneses se tocaram: ninguém conhecia a Nissan, pois o carro que fabricavam se chamava Datsun nos Estados Unidos e mundo afora. Nissan, só no mercado interno.

Não se apertaram: da noite para o dia a marca Datsun não existia mais e nascia a Nissan para os povos do mundo...

Por falar em Datsun, veio um correr aqui na Copa Brasil, em 1970, em Interlados. Era um 240Z como o da foto. Novidade total, coisas do Japão eram praticamente desconhecidas aqui, as motos mal começavam a chegar.

A equipe pareceu a todos muito bem organizada, todos os mecânicos de macacão branco (e limpo), impecáveis. Foi então que veio o grande choque. Quando os carros já estavam alinhados para a largada, um mecânico conferiu o aperto das rodas...com um torquímetro! Ainda me lembro da expressão dos que presenciaram a insólita cena -- e do meu próprio espanto ao ver aquele show de mecânica de precisão.

BS
Por que será que analisando-se máquinas tão lógicas e perfeitamente mensuráveis como automóveis se usa tão pouca objetividade e tanta emoção?

Porque coisas cuja função e eficiência podem ser comparadas nunca são avaliadas desta forma? Quantas vezes não esquecemos o que é ótimo pelo que é totalmente imperfeito e cheio de falhas, mas soberbamente emocionante, alegre, ou mesmo cativante?

Não há como não ver o quão impressionante é a capacidade dos japoneses de criar automóveis. Mas vemos ainda hoje um desprezo quase que total pelas suas criações nos meios entusiastas. Há motivos claros para isso, a principal é sem dúvida o fato de que os carros criados no oriente tendem a ser extremamente enfadonhos, como qualquer coisa que é exageradamente sem fobias ou vícios. Ou mesmo politicamente correto, coisa em que os japoneses são mestres. E todos devemos concordar que politicamente correto é muuuuuito chato.

Mas fico chateado pelo fato de que a maioria de nós ignora tudo que vem de lá, e tenha tanto preconceito de nossos amigos nipônicos. Existe muita coisa interessante também, empresas com personalidades diferentes, e grandes carros construídos com muita garra e trabalho duro.

Mas vejo isto mudando; Subarus têm uma legião de seguidores no Brasil, e mesmo o turrão MAO já se deixou seduzir por uma certa barca nipônica azul que, eu juro, é completamente demente, porque acha que é um Ferrari.

Mas a ignorância e preconceito ainda é norma quando se fala de carros japoneses. Vejam por exemplo o famosíssimo Nissan Skyline GT-R: apesar de muito conhecido, poucos conhecem sua história fora dos videogames. E quando conhecem, tendem a começá-la pelo R32 de 1989. Alguns poucos sabem dos que houveram na década de 60, mas poucos lembram que o GT-R nasceu em outra empresa.

Na verdade, o Nissan Skyline nasceu Prince Skyline. A Prince Motor Company era, nos anos 50 e 60, uma empresa conhecida no Japão por produzir caros carros de luxo para o padrão do país. Tudo bem que em 1957, tal coisa significava isto aqui:
O primeiro Skyline, acima, era propelido por um 4-cil de apenas 1.500 cm³, mas já era um propulsor moderno de 60 cv e sua suspensão traseira era uma sofisticada ponte De Dion. Logo, a Prince cria um belíssimo cupê Skyline, encomendado ao Studio Michelotti, italiano. Este carro lançado em 1960, que recebia um motor maior de 1.900 cm³ e 96 cv, pode ser considerado o percussor dos GT-R modernos. Raríssimo, apenas algumas centenas foram produzidos. Aqui pode ser visto na Villa D’Este, em nobre companhia.



A segunda geração do Skyline veio em 1963:



Aparecia uma versão esportiva, o 2000GT, com um pequeno seis-em-linha de 125 cv. Em 1966, veio a fusão com a Nissan. Mas uma nova geração de Skylines já estava em desenvolvimento no centro de engenharia da Prince em Opama (um subúrbio de Tóquio), e uma versão deste novo carro estava destinada a fazer história.

A Nissan, apesar de descontinuar a marca Prince, manteve sua organização de engenharia e marketing intacta, cuidando dos carros da marca, agora todos chamados de Datsun.

Em 1968 era lançado o Nissan Skyline de nova geração, code name C10. O seis-cilindros do 2000GT anterior era opcional no novo carro, e era lançado o GT-R com o mesmo motor equipado com duplo comando de válvulas e três carburadores duplos. Era na verdade uma homologação especial para as populares corridas de sedãs 2-litros de “produção” no seu país. Veio a se tornar o maior vencedor da história na categoria, e virou uma lenda instantânea.


O famoso piloto Kunimitsu Takahashi é creditado por ter criado o “esporte” de drifting com seu GT-R no início dos anos 70, o que apenas aumenta a lenda ao redor do GT-R original.


Entre 1972 e 73 é produzida a segunda geração do GT-R, sua curta vida fruto da crise do petróleo:

Outro GT-R só apareceria em 1989, e daí para frente vocês sabem o que acontece. Fama e mitos espalhados pelo globo.

Muitos historiadores creditam toda veia esportiva e de sofisticação mecânica da Nissan à marca Prince. Suas instalações e funcionários foram mantidos por muito tempo, nos mesmos lugares, fazendo Skylines como sempre. Alguns até creditam o 240Z a este time, supondo que Z viesse de Zero, o caça da Segunda Guerra que era produzido pela mesma empresa que no pós-guerra resolveu fazer automóveis com a marca Prince.

Eu sigo aqui cada vez mais cativado pelo meu velho Nissan, talvez pelo fato de que ele é tudo menos perfeito. E gosto de pensar que quando acelero e ele grita como um Ferrari, um pouco do espírito do magnífico GT-R atual está nele, bem como o espírito de uma quase esquecida empresa com nome de príncipe.

MAO