Não tenho escrito tanto quanto gostaria recentemente e no meio de toda essa onda pessimista que temos, falências, concordatas etc, me lembrei de algo que sinto falta em carros modernos. E por conta disso resolvi tratar de um carro que fiz aqui na brincadeira para um amigo que me faz ver como fazer um troço simples e divertido, gastando pouco, em um carro velho que não se faz do mesmo modo que em um carro novo.
Todos que acompanham o AE ha algum tempo lembram dos Chevettes V-6.
O Chevette é um daqueles carros que originalmente são meio safadinhos, mancos, mas que por uma série de fatores podem acabar se tornando além de muito engraçados, muito rápidos e divertidos também, com pouco gasto e relativa facilidade.
Essa adaptação , exceção feita aos escapes, pode ser feita em casa tal a simplicidade.
O motor usado é o 4,3-litros, igual ao da Blazer. Que já se encontra por aí em diversos ferros-velhos com preços atrativos.
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É uma situação constrangedora. Um brinquedo modular de criança (mesmo que crescida), feito para criar e programar brinquedos sofisticados mas acessível a qualquer um, é capaz de fazer, mesmo que de forma um pouco atrapalhada, o que praticamente todos os carros que nos são acessíveis não são capazes.
Mas não são capazes não porque não possuam o equipamento para isso, mas porque falta um software que integre aquilo que o carro já tem, além de um simples motor elétrico para virar o volante automaticamente.
Do painel, passa-se por mais uma situação pouco confortável. Hoje temos uma profusão enorme de telas LCD, de pequenos e baratos aparelhos de MP3 portáteis feitos na China e displays de celulares, a até TV’s de alta definição de 50 polegadas. Todas com grande exuberância de cores e com custo já bastante reduzido.
Os internautas também estão acostumados a transformar completamente os aspectos de seus softwares prediletos por meio de “skins”.
Com as modernas telas de LCD, o “skin” do painel do Futura seria apenas uma das infinitas possibilidades que cada motorista poderia experimentar e até mesmo criar para seu carro.
Mas a realidade automotiva atual não é tão maravilhosa assim. Painéis de instrumentos coloridos e customizáveis são artigo de luxo nos carros de alto padrão. Painéis de LCD monocromáticos e com design fixo existem em alguns carros, mas a grande maioria continua mesmo com os velhos ponteiros sólidos sobre uma escala pintada.
Hoje, o aficcionado por vídeos pode aproveitar a ambiência criada pelos sistemas de home theartre. Sistemas HT mais sofisticados reprocessam em alta velocidade os sinais dos múltiplos canais de áudio de um filme para compensar o ambiente da sala e criar um espaço sonoro fidedigno. O espectador realmente se sente dentro do filme.
Muito desta sofisticada tecnologia deriva de uma muito mais simples, a partir da qual foi criado o sistema de anti-som do Futura. Para os padrões de hoje, é uma tecnologia simples e barata.
Porém, onde estão os carros com anti-som original de fábrica ou equipamentos aftermarket com esta função?
O potencial do Futura está todo aí, bem na nossa frente, mas este carro conceito é uma promessa de futuro nunca realizada apenas pela falta de interesse todos os fabricantes.
Como disse nosso colega Felipe Bitu, "No final das contas sabe o que realmente o Futura deixou de concreto para nós? As rodas modelo “Orbital”, usadas depois pelo Santana e pelo Gol."
Procurando por um de meus livros acabei encontrando um outro que li em 2007, "Cadê os Líderes" do Lee Iacoca. Para quem não sabe, ele já foi presidente da Ford e da Chrysler. Na Ford foi um dos responsáveis pelo lançamento do Mustang e na Chrysler, por um conceito nada entusiasta mas também de muito sucesso, a minivan.
Folheando o livro reli algumas partes marcadas por mim mesmo que mostram alguns pontos interessantes da indústria automobilística americana:
"O modelo de Sloan de um carro para cada nível de renda motivou pessoas a fazerem trocas melhores à medida que progrediam na vida. Em outras palavras, começava-se com um Chevrolet e acabava-se enterrado com um carro fúnebre Cadillac. O conceito de marca de Sloan fez da GM uma força, e a Ford e a Chrysler seguiram o exemplo. Mas o modelo de Sloan não funciona mais. As empresas estão sendo sufocadas por um bando de marcas e modelos dentro de marca."
Basta ver o que está acontecendo nos EUA com Saturn, Hummer, Saab e Pontiac; todas semi-mortas.
"Os erros recentes da Ford custaram muito e sua crise de identidade tem sido desmoralizante. Nunca entendi porque a Ford precisava adquirir marcas como Jaguar, Volvo, Aston Martin e Land Rover. Às vezes olho pra Ford e sinto vontade de perguntar: o que você quer ser quando crescer? A Ford achou que podia comprar o acesso ao mercado carros de luxo. Não deu certo."
Das marcas citadas apenas a Volvo continua com a Ford; sabe-se lá por quanto tempo mair.
"Durante grande parte da história, a indústria automobilística americana teve uma abordagem burra e invertida ao mercado. A premissa básica era: vamos decidir que carros devemos fabricar e depois vamos tentar convencer as pessoas de que elas desejam e precisam desses carros. Então apareceu alguém com uma ideia brilhante: "Por que não descobrimos que tipo de carro os clientes desejam e precisam e daí os fabricamos? Ainda é uma ideia brilhante."
Fazer como os americanos faziam era algo muito mais entusiasmante para quem o fazia. Em alguns casos até deu certo, mas essa postura, muito arrogante, não se sustentou. Um caso de sucesso em que se descobriu que tipo de carro os clientes querem é o do EcoSport no Brasil. Gostemos uo não de SUVs, o EcoSport é um caso de sucesso comercial. E sucessos comerciais garantem a longevidade das empresas.
"As questões são: por que o utilitário (SUV) tem tanto sucesso? Qual é seu propósito de vida? Pouquíssimas pessoas realmente saem da estrada; portanto não se trata da necessidade de um veículo parrudo que ande em todos os tipos de terreno. O utilitário não tem capacidade de passageiros ou bagagem de uma minivan ou a dirigibilidade de um carro. Portanto qual é a motivação para se comprar um utilitário? Motores maiores (geralmente V-8) não são conhecidos pela economia de combustível e por baixas emissões. Acho que o utilitário supre um forte desejo de segurança e controle na estrada. Nos dias de hoje, as pessoas querem cercar-se do máximo de aço e ferro possível. Equiparam peso a segurança. É um fator, mas não se compara de forma alguma ao projeto estrutural sólido e ao uso de airbags. Acho que as pessoas estão procurando uma vantagem competitiva nas rodovias e gostam de dirigir do alto, na posição de comando, atrás do volante. Com milhares de outros utilitários passando por eles, sem falar nos caminhões, os motoristas se sentem mais seguros. É uma percepção, promovida por Detroit. Uma marca de utilitários era vendida com o seguinte slogan: "Veja-o como um cobertor de segurança de quase duas toneladas."
Pelo visto nós não somos muito diferentes dos americanos. Já falamos um pouco sobre esse assunto no post do Bob sobre visão de comando da estrada. Uma evolução mais apropriada dos SUVs são os crossover, derivado de carros de passeio, mais leves, mais econômicos e bem versáteis.
"Um líder na industria automobilística precisa ser apaixonado por carros e entusiasmado pela inovação."
Com certeza! Mas isso vale partindo-se da premissa que esse apaixonado tenha uma grande visão de negócios. Um líder tem que gerar muito lucro. Lucro suficiente para agradar aos acionistas e manter a empresa. E uma certa sobra para fazer os modelos mais apaixonantes sem quebrar a empresa.
"O imperativo do mercado é tão claro que é preciso ser cego para não enxergar. Temos que fabricar mais carros pequenos. Atualmente, nenhum dos carros menores é fabricado em Detroit."
Depois dos novos limites de consumo de combustível impostos pelo Obama não há mais escapatória para os americanos. Os pequenos serão feitos nos EUA também.
"Pregamos o modo capitalista como se fosse uma religião, mas é preciso indagar se não está nos deixando na mão. Quando os slogans de propaganda são mais conhecidos do que os dez mandamentos ou a declaração dos direitos, quando os shoppings são nossos templos, quando o mau comportamento é justificado desde que leve ao lucro, quando a dívida é justificada desde que resulte em uma televisão de plasma e quando alguém é avaliado pelo tipo de carro que dirige, talvez esteja na hora de perguntar se corrompemos a própria noção de capitalismo."
Já sabemos onde isso está terminando.
O Lee Iacocca ainda fala no livro sobre guerra, petróleo, políticos, corporativismo, livre comércio e mais. Sempre de uma maneira direta e fácil de entender.
Sem dúvida é uma ótima leitura.
PK
"Nunca tomei tanto vento na vida. O pequeno para-brisa tipo Brooklands é ineficiente nesse carro. Parece que a aerodinâmica do Kougar, apesar de fluida, é estudada para que todo o ar se concentre na cara do motorista. Meus óculos Ray-Ban encravavam fundo na pele. Ao redor dos 120 km/h mal se distingue o som do motor, de tanto que o vento borbulha nas orelhas - que, a essas alturas, batem feito asas de borboletas no cio."
Leia a matéria completa do Arnaldo Keller com fotos do Paulo Keller na Car and Driver número 18 que acaba de chegar as bancas.