
Ontem de manhã, ao fim de uma longa frenagem ao chegar a um cruzamento, invoquei inadvertidamente o ABS do Maxima. Sempre que isso acontece, fico meio chateado. E por que isso? Não é uma coisa normal?
Bem, o fato é que, toda vez que isso acontece, tenho a nítida impressão de que o carro me chamou de idiota e tomou o controle, que até então era meu, para si. E isso me irrita profundamente.
Eu não sou um piloto, nem tenho a ilusão de que sou um exímio motorista, mas eu sempre mantive meu carro dentro de seus limites de aderência, principalmente freando. Eu nunca senti necessidade desse ABS, em nenhuma situação que já vivi nesses mais de 25 anos que dirijo. E pior: acredito que com o ABS, estou ficando um motorista pior.
Vejam o caso desse acionamento involuntário de ontem: será que ia travar mesmo? Eu não acredito, mas como a Maxima tem o equipamento, eu nunca vou poder calibrar o pé e prestar mais atenção para não repetir o erro. Vou ter que confiar no tal sistema, cegamente. Em outros carros, chegava a um nível de intimidade com o pedal do meio que nunca chegarei na belonave oriental. E isso é perigoso, já me peguei pensando: "Ah, se precisar frear tem o ABS!", para logo depois lembrar que as leis de Newton não foram revogadas pelo sistema.
Eu realmente odeio isso. Entendo que o sistema exista para incompetentes causarem menos estrago, mas na realidade estas pessoas deviam ser proibidas de dirigir e pronto. Não é o ABS que vai resolver o problema delas.
Além disso, há um segredo muito bem guardado que ninguém comenta sobre o sistema, mas vou revelar aqui para os estimados leitores do AUTOentusiastas: existem situações que o ABS deixa você completamente sem freios.
Flashback: corria o ano de 2005 e o intrépido MAO estava indo do Rio de Janeiro para São Paulo num Gol 1,6 com ABS. Na altura de Guaratinguetá, um acidente fecha completamente a pista, e o MAO segue outros motoristas por um desvio, e acaba se perdendo completamente por estradas de terra do Vale do Paraíba. Já cansado e louco para chegar em casa, começa a andar bem rápido por elas para tentar chegar em algum lugar, logo.
Chegando a uma curva fechada que apareceu repentinamente, minha reação foi automática: pé no freio, rodas travariam por um tempo para tirar alguma velocidade, e faria a curva sem problemas. Mas tinha me esquecido do maldito ABS...Para quem não sabe, quando o terreno é bem acidentado, como costelas de vaca, o pequeno cerebrozinho do maldito sistema se perde totalmente, diz "HÃ?" e te deixa completamente sem freio. A sensação de colocar o pé lá com força e não receber nenhuma desaceleração de volta é desesperadora, terrível e inesquecível. Por pura sorte, consegui ainda fazer a curva não sei como, e não tive que explicar ao meu empregador como destruí um carro de frota no meio do mato quando devia estar na Dutra.
Meu amigo Bob Sharp certa vez me contou que aconteceu a mesma coisa com ele, descendo de BMW a av Jandira em Moema, SP. O asfalto estava horrível perto do cruzamento com a movimentada Av Ibirapuera, e o nosso colega quase acaba atravessando-a, cruzando o sinal vermelho.
O que traria outra pergunta pertinente: quem pagaria a multa por cruzar o sinal vermelho? E se houvesse um acidente grave?
MAO