
Anos atrás, no lançamento do Maserati V-8 que foi no circuito de Interlagos, eu estava ansioso para que chegasse a minha vez de guiar esse carro maravilhoso. Mas a prioridade ficou para o Amaury Júnior e sua equipe de TV, e lá foi ele guiar um Spider amarelo.
Muito galante, ele chamou uma das belas atendentes, colocou-a no banco do carona e, de capota arriada, lá foram eles pra pista. Evito ser preconceituoso, principalmente porque já tive várias surpresas na vida, mas, vem cá, o Amaury não leva a menor pinta de piloto. Talvez eu tenha achado isso naquela hora porque eu estava meio emputecido por aquele camarada lá que não tem nada a ver com carro ter essa regalia só porque tinha TV nas costas.
Talvez eu tenha achado isso por ter visto ele se ajeitar no banco do motorista e vê-lo regular sua posição de maneira totalmente escôncia, com os braços mais esticados do que os do Homem Borracha e se achando o maioral. Mas, tudo bem, vá lá, eu espero.
Então, para minha surpresa, lá veio o Maserati amarelo pela Reta dos Boxes e ao vê-lo frear escutei um belíssimo punta-tacco reduzindo sucessivamente várias marchas, tudo certinho, na finesse. "Ca-ra-ca! E não é que o cara pilota legal!", exclamei. Caraca o caramba.
Quando fui guiar o carro vi que o amarelo tinha o Cambiocorsa, que faz uso das brabuletas na coluna de direção. Então, é pé no freio e dedos esquerdos na brabuleta, que o punta-tacco sai como o piloto de testes da Maserati acha que deve sair, ou seja, perfeito. Me senti enganado. Eu, que sou bom nisso, tenho jeito pra coisa, me esmerei em fazer a coisa direito, agora ser equiparado a um esperto qualquer.
Agora a moda é launch control, ou seja, controle de largada. O camarada aperta lá um botão (o L.C. da foto), clica a brabuleta engatando 1a marcha, acelera no talo -- o motor sobe só até o giro ideal, que não é o máximo -- e para largar é só tirar o pé do freio. E pronto! O carro simplesmente larga da maneira mais rápida possível.
Tudo bem, é a tecnologia a serviço do homem e tal, mas, torno a me sentir enganado. Com essas e outras os bons pilotos perdem algumas cartas da manga, aquelas manhas que os fazem dar um couro nos outros, mesmo tendo um carro inferior. Esse é um orgulho, afinal, merecido.
O filminho foi feito há anos pelo Fábio, dono do Cobra preto -- um QSH de suspensão traseira independente --, quando estávamos fazendo uma matéria para a Quatro Rodas, um comparativo entre as três melhores réplicas de Cobra feitas no Brasil. Esse aí foi o melhor em tudo. Era a tomada de tempo para numa só largada fazermos o 0 a 100 e os primeiros 402 metros. Foi feita com Correvit, um aparelho computadorizado. Então, basta o carro se adiantar um centímetro que o cronômetro já dispara.
O motor era um 302 preparado que rendia uns 380 cv. O carro pesava 1.080 kg, com 52% deles na traseira, pneus novos e ruins da Yokohama (preferi de longe os Michelin de outro Cobra). O câmbio Tremec de 5 marchas tinha a 1a muito curta -- condizente para um carro com uma relação peso-potência mais alta -- o que dificultava a boa largada, pois provocava patinagem em excesso e obrigava que se jogasse a 2a antes de esticar a 1a até seu máximo. Tentei até largar direto em 2a, mas para isso ela era longa demais. Nessa largada fiz o 0 a 100 em 5,4 seg, enquanto que outros dois jornalistas da Quatro Rodas fizeram 5,9 seg e incríveis 9 seg. Cada um largou umas 3 ou 4 vezes. Esse meu tempo, então, passou a ser o segundo melhor de todos os testes feitos até então pela revista, só superado pelos 4,9 seg do Bob Sharp num Ferrari F40, um recorde ainda não batido, e quero ver quem bate sem esse botãozinho aí. Depois um Corvette 2008, de 7 litros e 505 cv, fez 5,2 seg.
Bom, é claro que com isso tirei meu sarro, porque também gosto de encher o saco dos outros. Que graça teria fazermos esse mesmo teste se esse Cobra tivesse o maldito botãozinho de controle de largada e umas brabuletas pra mudar as marchas?