google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

Após 368 voltas, o Porsche 997 RSR de Max Wilson, Raul Boesel e Marcel Visconde vence com toda facilidade a edição deste ano das Mil Milhas do Brasil.

Por falta de competidores à altura, o segundo colocado foi o protótipo Mitsubishi Eclipse da equipe de Eduardo Souza Ramos, Leandro de Almeida e Geraldo Piquet, 23 voltas atrás do vencedor. O Ford GT não participou da corrida, apenas fez os treinos para se preparar para a última etapa do Brasileiro de GT3, semana que vem em Interlagos.

Esta é a oitava vitória de um carro da marca de Stuttgart na principal corrida brasileira de endurance, que não vencia desde 2003.
O post do Milton Belli sobre a Mil Milhas me chateou pelo reduzido número de carros largando. Assisti a primeira Mil Milhas, cuja largada foi às 19 horas do dia 24 de novembro de 1956. Eu tinha acabado de completar 14 anos. Naquele ano não teve hora de verão, por isso já era noite total (o pôr do sol naquele dia ocorreu às 18h35 -- só mesmo a internet para se descobrir essas coisas...).

Perdi a largada por 20 minutos, pois estava chegando do Rio com meu irmão, um primo e um amigo, e demoramos a achar o autódromo. A chegar ao barranco-arquibancada, não entendemos nada: era farol prá lá, farol prá cá, uma confusão só. Só quando amanheceu pudemos ter noção exata do traçado de Interlagos.

O autódromo estava lotado, milhares de fãs acampados por todo o circuito, era um espetáculo único. Clima de festa absoluto. Transmissão de rádio ao vivo na voz de Wilson Fittipaldi pelas ondas da Rádio Pan-Americana (atual Jovem Pan), com flashes pela TV Record.

A sinalização de curva era feita por soldados do Exército e as bandeiras tradicionais foram substituídas por lanternas de luz verde e vermelha.

Venceu o carretera Ford de Catharino Andreatta e Breno Fornari, seguido de perto pelo Volkswagen sedã (ainda de vidro do vigia dividido) com motor 1,5-litro montado com componentes de Porsche 550 1500 de comando no bloco, pilotado por Christian Heins e Eugênio Martins. A prova durou pouco mais de 16 horas, apesar de a média horária da volta no circuito original de 7,96 km ser maior que do atual de 4,309 km.

Naquela primeira Mil Milhas largaram 44 carros. Nas edições subseqüentes esse número só cresceu e a corrida se consagrou como a prova de gala do automobilismo brasileiro.

Só corri a Mil Milhas quatro vezes: em 1970, Casari A1-Ford; com Milton Amaral, quebramos. Em 1973, com Opala Divisão 3, terminando em quarto; com Jan Balder. E em 1981 e 1983, Fiat 147 com motor Fiasa (o básico 1050) 1,6 litro, quebrando nas duas; ambas com Giuseppe Marinelli. Na de 1981 o motor lançou uma biela pelo bloco diante dos boxes, pouco antes da Curva Um, que era feita de pé em baixo.

A largada domingo (23/11) às 11h00 com 20 carros é uma cena que prefiro nem imaginar. Ridículo e muito triste.
Esse fim de semana realiza-se em Interlagos mais uma edição das Mil Milhas do Brasil, a prova de endurance mais importante do país. E, claro, a organização da prova conseguiu mais uma vez transformar a mágica Mil Milhas em uma mera etapa do Campeonato de Endurance.

Marcaram de última hora a prova para o mesmo fim de semana de etapa da Stock Car, tirando a possibilidade de vários pilotos participarem da disputa. Taxas de inscrição? Não são baixas. Entrar no autódromo só com credencial. Pelo menos desta vez o público de arquibancada paga apenas R$ 10,00 no dia da corrida, ao contrário de anos anteriores com ingressos custando perto de R$ 50,00.

Com apenas 20 carros inscritos, o grid será pequeno comparado à edições passadas, quando mais de 50 carros largavam à meia-noite de sábado. De carros interessantes, apenas o Ford GT dos pilotos Salles e Rosset, junto com o alemão Thomas Muntsh, o mesmo carro que participa do Campeonato de GT3, está linderando os treinos com um segundo de vantagem para o Porsche RSR de Max Wilson, Raul Boesel e Marcel Visconde, mas não será um problema para o trio da RSR, pois o Ford GT não correrá, apenas se inscreveram para treinar para a corrida da semana que vem. Ainda há no grid um Porsche GT3, dois Ferrari Modena da equipe carioca e dois Maserati, além de diversos Aldee Spyder e protótipos nacionais, principalmente de equipes do sul do país.

Infelizmente o que poderia ser mais uma grande corrida de proporções internacionais como eram as Mil Milhas de antigamente, virou apenas uma etapa do Brasileiro de Endurance.

Por quê?
Por que essa vontade imensa que vem de dentro? Por que um sujeito normal, pai de família, cheio de necessidades muito mais importantes que um absurdamente minúsculo triciclo com motor Harley, se vê diariamente desejando-o em um site na net?

O que faz a gente ser assim? Já tentei abandonar isso, já tentei viver uma vida normal, assistir ao Jornal Nacional, assistir o jogo do Palmeiras, acompanhar novela, e sabe-se lá que outras coisas gente normal faz. Parece ser bem mais fácil levar a vida assim, sem essas necessidades amalucadas, esses desejos profundos que vem sei lá de onde por sei lá que motivo. Talvez tivesse uma vida social mais ativa, talvez conseguisse ir a churrascos de família e me divertir falando de coisas quaisquer. Talvez conseguisse conversar sobre carros com os outros sem que eles me olhem com uma cara de estranheza reservada aos malucos e aos ermitões.

Mas também, como este povo vive? Como não pode perceber quão genial é esta traquitana? Como não percebem que sua leveza, sua simplicidade, seu baixo centro de gravidade e seus balanços quase inexistentes? Como não percebem que isto deve ser infinitamente mais agradável na estrada certa e com o tempo certo do que esses enormes mastodontes que eles dirigem e acham geniais? Como podem viver uma vida inteira sem sentir uma máquina de verdade pulsar debaixo de seu controle? Como podem viver sem perceber que existe mais do que potência, que consumo, que silêncio de marcha? Como podem deixar de entender a INTELIGÊNCIA necessária para fazer algo como este triciclo? Como?

E mais: como pudemos criar legislações que pretendem em breve abolir este tipo de coisa? Como pudemos deixar que a GM morra logo agora que ela faz os melhores carros de sua história? Como pudemos acreditar que a culpa do trânsito parado é o excesso de carros, e não a falta de planejamento e investimento estatal? Como pudemos deixar o governo nos impedir de usar nossos carros por decreto? Tirar nossas carteiras de habilitação por andar a 70 km/h onde idiotas acham que se deve a andar a 40 km/h?

QUEM ANDA A 40 km/h???????

Por quê?

MAO