google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Foto: carplace.virgula.uol.com.br


Este post é tradução de reportagem especial da Reuters sobre o problema das bolsas infláveis da Takata que gerou convocação mundial de 3,6 milhões de veículos no mundo e foi publicada na Automotive News de 16 de janeiro. Considerei-a muito interessante e achei que devia compartilhá-la com os leitores do AUTOentusiastas por lançar uma nova luz sobre o polêmico equipamento de segurança passiva.
Bob Sharp
Editor-chefe
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Como a Takata atravessou a "ponte perigosa" de qualidade e segurança das bolsas infláveis

Numa festa de Ano Novo organizada pela Honda em 1985, Juichiro Takada, herdeiro de uma família dona de uma tecelagem que havia passado a produzir cintos de segurança, anunciou uma decisão. Sua empresa, a Takata Corp., passaria ao largo da fabricação em massa de bolsas infláveis para automóveis. A mais nova idéia em segurança de automóveis, almofadas que se inflavam em milissegundos após uma colisão, era muito arriscada. Um erro e a empresa herdada de seu pai estaria arruinada. 

“Não podemos atravessar uma ponte tão perigosa”, disse, na festa, Takada a Saburo Kobayashi. Em suas memórias de 2012, Kobayashi, no comando do novo programa de bolsas infláveis da Honda nos anos 1980, escreveu que queria que Takada produzisse bolsa infláveis com seus fortes tecidos. De alguma maneira, num jogo perigoso, Takada mudou de idéia e atravessou a perigosa ponte.

Em alguns anos sua empresa não estava fabricando apenas bolsas infláveis, havia também entrado na produção dos mecanismos pirotécnicos para inflá-las, empregando tecnologia tirada dos motores de foguetes que nada tinha a ver com tecelagem. A aposta vingou de maneira espetacular. As bolsas infláveis evoluíram de uma opção bem cara a equipamento de série de milhões de automóveis e a Takata tornou-se uma das três maiores fabricantes do mundo.

Vergonha volta hoje (Foto agenciat1.com.br)

Hoje é o Dia de Volta da Vergonha à cidade de São Paulo.

Após 16 dias úteis, ou 25 corridos, paulistanos e quem nos visitou respiraram o ar de liberdade, não houve o nojento rodízio nesse período. Mas hoje acabou, estamos de volta ao inferno, ao abuso, à prepotência, ao desrespeito ao cidadão, a caça oficial do nosso dinheiro.

Faço um DESAFIO à Prefeitura Municipal de São Paulo, seja à CET, Secretaria Municipal de Transportes ou o prefeito Fernando Haddad: suspendam o rodízio por 90 dias e avaliem o resultado, se a fluidez do trânsito piorou, de fato, ou não.

Mas, atenção: não vale sabotar o trânsito para provar que piorou sem o rodízio com "providências" como:

– colocar caminhões "enguiçados" em pontos-chave
– alterar tempos dos semáforos para produzir onda vermelha
– colocar carros para trafegar lentamente nos principais eixos e avenidas
– inventar obras que estreitem a pista nos horários de pico
– demorar a remover veículos acidentados

Está lançado o desafio. Têm peito ou vergonha na cara de o aceitarem?

Falando de rodízio




"O automóvel particular comum é o mais importante mecanismo de transporte do mundo. Sua habilidade de mover pessoas e coisas é simplesmente inigualável. Mas o automóvel não é importante não somente pelo que é e poderá ainda ser, mas também porque ele traz para todas as pessoas a maior das liberdades, a de ir de qualquer lugar para qualquer lugar, no seu próprio tempo e conveniência. Isto é uma liberdade de movimento apenas sonhada através das eras, mas nunca atingida antes dele.

Como engenheiros de automóveis, mesmo admitindo meio que a contragosto a necessidade atual do transporte público, porque o congestionado desenho medieval das cidades supostamente modernas exige a aglomeração de pessoas em tais meios de transporte para levá-los para essas tocas de coelho no período da manhã e extraí-los à noite, acreditamos que, a não ser que que os padrões de vida do mundo sejam reduzidos de forma violenta, a continuação das condições insalubres e de humilhação pessoal de tais meios de transporte é impensável. As cidades devem ser abertas na textura até que eles possam absorver totalmente o transporte pessoal, sem superlotação. Por falta de um tal processo de abertura, os centros lotados de muitas cidades estão visivelmente decadentes, e tornando-se favelas. A estrutura interna de um país que não é construído em torno do uso de transporte pessoal deve ser considerado como obsoleto e ineficiente.”

O texto acima é a introdução a um dos mais influentes tratados técnicos da história do automóvel, “The Road Manners of the Modern Car”, escrito por Maurice Olley, um engenheiro inglês que iniciou sua carreira trabalhando com Sir Henry Royce, mas alcançou notoriedade como o teórico de suspensão da General Motors dos EUA. Este texto, apesar de nunca vendido ao público, teve uma influência vasta para o mundo do automóvel, distribuído de mão em mão, como já contei aqui.

Trata de explicar suspensão basicamente, e sua leitura foi ponto de partida para gente importantíssima: sabe-se com certeza que Colin Chapman (Lotus), Zora Arkus-Duntov (que foi subordinado de Olley na GM), Giulio Alfieri (Maserati) e Helmuth Bott (Porsche) foram influenciados fortemente por essas 30 páginas datilografadas. Sabe-se lá quantos engenheiros desconhecidos também o foram.

Enquanto o executivo-chefe da Fiat, Sergio Marchionne, de 61 anos, era o foco das atenções no dia 1º de janeiro com a notícia de assumir total controle do Grupo Chrysler, um reservado personagem de 37 anos é quem dará a palavra final sobre se o transatlântico negócio ocorrerá.

John Elkann, nascido em Nova York e educado na Inglaterra, Brasil, França e Itália, é o herdeiro reinante da família Agnelli, o clã industrial italiano que controlou a Fiat durante 115 anos.

O jovem presidente, que já está nesse trabalho há uma década, está em posição de dirigir o que passa a ser a sétima maior fabricante de veículos do mundo nos anos à frente.

Sua abordagem global já é evidente. A Fiat está para concluir a compra de 41,5% das ações da Chrysler nos próximos dias, encerrando o empenho de cinco anos para ter total propriedade da terceira maior fabricante dos EUA. A empresa italiana discutirá os termos da fusão no final do mês para selar a transformação da Fiat de uma fabricante concentrada na Europa em uma viável concorrente da General Motors, Toyota e Volkswagen.

"Elkann não está condicionado pelo passado e está levando a empresa a um rumo mais global", disse Giuseppe Berta, professor da Universidade Bocconi, que era chefe dos arquivos da Fiat e conhece Elkann pessoalmente."O John quer deixar uma marca com seu avô fez. Ele representa uma verdadeira mudança de geração".

Sede nos EUA
Para destacar a mudança no centro de gravidade da empresa, Marchionne é a favor de uma sede nos EUA e inscrição da nova companhia na Bolsa de Nova York. Elkann disse esta semana que Marchionne, o executivo-chefe da Fiat e da Chrysler, ficará pelo menos três anos mais para completar integração.

Enquanto o negócio com a Chrysler aumenta as opções da Fiat, Elkann ainda precisa aumentar a pequena presença na China, implementar um plano de US$ 12 bilhões para inverter o rumo dos deficitários negócios na Europa e, finalmente, escolher um substituto para Marchionne, o astuto negociador que salvou a Fiat da falência.

A Fiat investiu cerca de US$ 3,7 bilhões em espécie para assumir totalmente a Chrysler num processo que levou cinco anos. Isto é cerca de um décimo dos US$ 36 bilhões que a então Daimler-Benz pagou pela fabricante americana em 1998.

Enquanto Marchionne voava entre a Itália e os EUA para fechar o negócio de 1º de janeiro com o fundo de pensão e assistência médica do sindicato dos empregados da indústria automobilística, o UAW, Elkann desempenhava um papel ativo, mantendo-se em contato permanente com o executivo-chefe a partir de sua sala no quarto andar do quartel-general da Fiat na fábrica Lingotto.

Suéter vermelho
Os dois depois voaram juntos para irem ao Salão de Detroit esta semana, com Elkann aparecendo na coletiva de imprensa com Marchionne. Ele ficou distante dos presentes, vestindo um terno escuro pesado, camisa branca e um suéter vermelho vivo.

Estou muito feliz de estar aqui", disse Elkann aos jornalistas no encontro em Detroit, uma rara aparição pública nos EUA. "Eu sempre soube que a vida da Fiat era precária. Hoje sei que temos um futuro que é muito mais positivo do que poderíamos sonhar alguns anos atrás".

Contratar Marchionne — um novato na indústria automobilística que trabalhava em relativa obscuridade como chefe da empresa de testes suíça SGS — foi a maior decisão de Elkann. Pouco depois de entrar para a Fiat em 2004, Marchionne transformou a fracassada parceria com a GM em um ressarcimento de US$ 2,1 bilhões, o que deu fôlego à Fiat para desenvolver o Fiat 500.

Cidadãos do mundo
Enquanto o falador Marchionne, que discutiu publicamente com o presidente da VW Ferdinand Piëch sobre o interesse na marca Alfa Romeo da Fiat, poderia parecer um choque com o modo retraído de Elkann, os dois estavam se entendendo perfeitamente. Ambos vinham de uma educação cosmopolita — o italiano Marchionne foi educado e viveu anos em Genebra — ajudando-os a concordar que a Fiat precisava olhar para fora da Itália para resolver seus problemas. Elkann, que é também executivo-chefe da Exor, a empresa de investimentos da famíla Agnelli, pensou em cidadãos do mundo para outros postos-chaves. Em 2012 ele nomeou Shahriar Tadjbakhsh, um americano de origem iraniana nascido na Suíça , como chefe de operações da Exor.

A visão internacional deixa-o diferente dos patriarcas da família do passado. "Elkann estava totalmente certo" em tornar a Fiat mais global, disse Andrea Giuricin, professor de administração da Universidade Bicocca em Milão. "Com sua transação americana, a Fiat salvou-se a si mesma dos erros da família Agnelli do passado".

Como neto de Gianni Agnelli, que levou a Fiat a ser a maior fabricante da Itália, Elkann foi preparado desde bem jovem a dirigir os negócios da família, inclusive trabalhando anonimamente em fábricas na Polônia e na Inglaterra. Nomeado para a diretoria da Fiat com apenas 21 anos, ele foi escolhido em parte por haver poucas opções.

Mortes, drogas
O único filho de Gianni, Edoardo, morreu em 2000, enquanto o irmão mais novo de Elkann, Lago, enfrentou problemas de drogas. Umberto Agnelli, tio de John, morreu em 2004, um ano depois da morte de Gianni, forçando John a assumir a responsabilidade pela empresa aos 28 anos

Desde então, a Fiat reduziu sua dependência do saturado mercado europeu para 24% das vendas em 2012, ante mais de 90%. As vendas mais do triplicaram, para € 84 bilhões, graças principalmente à compra da maioria das ações da Chrysler.

O sucesso lhe deu reconhecimento fora da família. A News Corp. nomeou Elkann para a sua diretoria no ano passado. Assim mesmo, o declínio do domínio na Itália causou tensões em casa. "Os Agnelli estão deixando a Itália e o que restou da família está com uma atitude que não me agrada", disse numa entrevista à RAI no dia 12 de janeiro, Diego Della Valle, fundador da fabricante de produtos de couro Tod's. "A Fiat teve tudo que queria da Itália. Deveria agora dar algo de volta".

Jantar em Genebra
Além de controlar a Fiat com 30% de participação, a Exor holding do clã Agnelli de 250 membros detém 27% da afiliada CNH Industrial, fabricante de caminhões e tratores, 69% da empresa imobiliária Cushman & Wakefield, 64% do clube de futebol Juventus e 4,7% da revista The Economist.

Elkann, conhecido por Jaki entre os membros da família, é o neto mais velho de Gianni e filho de sua filha Margherita e Alain Elkann, um escritor franco-italiano. Ávido iatista e jogador de futebol, Elkann é alto e magro com pretos cabelos em desalinho e um sorriso infantil. Quando ele fala, o que não é muito comum em público, suas palavras são calculadas e deliberadas, como se pesasse cada uma. É casado com a aristocrata Lavinia Borromeo e tem três filhos chamados de nomes em italiano para leão, oceano e vida.

Em Detroit, Elkann disse que Marchionne ficará por perto para ver o plano de reviravolta na Europa, dizendo que a decisão de um eventual sucessor fica adiada, uma vez que trabalham na maior internacionalização o velho ícone da indústria italiana. Isto significa que os dois continuarão uma jornada iniciada no jantar regado a grapa às margens do Lago Genebra em 2004.

"Desde aquele jantar, pouco mudou sobre a maneira que pensamos sobre os negócios", disse Elkann num discurso na Universidade Bocconi em Milão, em junho. "Acho que a combinação de ter um líder bem forte nos negócios, com forte apoio da família, funciona".(Automotive News/Tommaso Eberhardt/Bloomberg)