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Bonneville (foto: Mario Torino) |
Fazia tempo que
eu não tinha aquela sensação. Fazia tempo que não soltava uns gritos Urraah!,
de satisfação e prazer pleno. O imediato entendimento que tive com a Bonneville
– ela se portando deliciosamente logo nas primeiras curvas, se antecipando aos
meus desejos, deitando e levantando exatamente como eu queria, me passando
informações exatas sobre a aderência dos pneus, apoiando-se um pouco mais na
frente, um pouco mais atrás, tendendo inicialmente a resistir à deitada e, em
seguida, conforme eu a forçava mais um pouquinho para que deitasse, deitando
para valer como que chupada para dentro da curva e a fazendo bem deitada e
agarrada – foi suficiente para que logo de cara me apaixonasse.
E lá fui eu,
minhas botinas raspando no asfalto, ora uma, ora outra, a moto acelerando
gostoso nas saídas de curva, o motor despejando com suavidade boa potência, até
que ao fim da curta reta já estávamos a uns 140 ou 150 km/h e ela se mantinha
perfeitamente estável. E assim íamos, até que, inesperadamente, ouço aqueles
tais gritos de satisfação ecoando dentro do capacete. Boa moto! Companheirona.
Passamos bons momentos juntos.
Coisas assim
raramente acontecem. Parecia que eu montava o meu finado Gualixo, o melhor
cavalo do mundo, ao menos para mim, um cavalo inteligente que só ele e rápido e
brioso que só ele, que fazia tudo certo, que me obedecia tudo certo e, caso não
me obedecesse é porque era ele quem estava com a razão e seria melhor irmos na
dele. Parecia que eu surfava um mar dos bons com a minha Tom Parrish havaiana,
a prancha que sabe tudo de tubo e se agarra com naturalidade em paredes
escabrosas. Parecia que eu guiava o Ferrari 308 GTS, quando o peguei em
Interlagos, um dos carros de melhor handling que já me caiu nas mãos.