google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Discutia dia desses com o Marco Antônio a situação do Chevrolet Classic e da Volkswagen Kombi no mercado, e cada um defendia um dos modelos como sendo melhor que o outro, apesar de serem incomparáveis.

Uma conversa não muito entusiástica, mas interessante mesmo assim.

O Chevrolet Classic é um vitorioso, mesmo tendo sido rebatizado pela mãe. Perdeu seu nome de verdade, Corsa sedã, para o sucessor que é produzido desde 2002 no Brasil. Mudou de posicionamento, de sedã pequeno com bons itens de conforto e conveniência e razoável luxo, para um básico quase tão simples quanto um Celta, mas mesmo assim dos mais desejados, principalmente por dois motivos: mecânica antiga e de fácil manutenção e um porta-malas de ótimo volume para o tamanho externo do carro: 390 litros.
 
É um bom automóvel, apesar  de não ser memorável em nenhum aspecto. Tem seus problemas como qualquer outro.

Além de um desenho externo e interno antigos, apesar do recente face-lift, destaco como o pior de todos a suspensão dianteira molóide como uma gelatina quente. Além disso, os engates de primeira marcha e de ré são inconstantes. Num dia, bons, no outro, ruins. Já sofri com isso por um tempo e levava o carro, no período de garantia, para ter a regulagem do mecanismo da alavanca refeita. Essa regulagem durava mais ou menos uma meia hora em trânsito citadino. Logo depois ficava ruim de novo. Com o fim da garantia, desisti, e passamos para outro produto, e outra marca.

Classic 2011 - foto GM do Brasil
Faz um bom tempo que havíamos prometido um pequeno vídeo sobre o tema de pegar o volante de direção por dentro, aquilo se convencionou chamar de "ordenha da vaca". Com o Paulo Keller pilotando a câmera e eu o Agile, aqui está para vocês um pouco daquilo que vimos falando. Aproveitem, e se tiveram dúvidas, perguntem!
BS 




O desenho e o o texto acima encontram-se na página 97 do manual do proprietário do Chevrolet Agile, seção  Condução e Operação. Tem lógica e por isso venho batendo na questão do bate-pé (foot pad) que está desaparecendo dos carros nacionais e obriga o uso de tapetes para que o carpete no lado do motorista não fure logo.

Devido à falta de curso do pedal, a embreagem muitas vezes não desacopla completamente. Quanto isso acontece, a primeira fica dura de engatar e a ré, se não for sincronizada ou não tiver freio, arranha. Esse mal afligiu o Fiat 147 e o Uno durante muito tempo, pois não havia margem de curso do pedal de embreagem para haver tapete. Atualmente tem.

Mais grave, porém, do que uma embreagem que não desacopla completamente é faltar curso de pedal de freio no evento -- raro, mas possível -- de falha hidráulica num dos circuitos,  situação em que o pedal baixa bastante.

É por isso que não gosto de tapetes sobre o carpete original e considero falta imperdoável um carro não trazer bate-pé, obrigando o uso de tapete adicional.

BS


Almoçando com o Juvenal Jorge outro dia, topamos com uma imagem insólita. Lado a lado no estacionamento estavam um novo e belíssimo Chevrolet Malibu, e a seu lado, um não tão belíssimo, mas também novo e reluzente, Chevrolet Prisma.

Conversando com o amigo, cheguei ao deprimente quadro que narro agora, para mostrar o longo caminho que temos que percorrer como nação ainda.

Uma coisa que muita gente não sabe é que um engenheiro brasileiro já custa quase tanto quanto um americano ou um europeu. O mesmo pode ser dito aos funcionários nas linhas de montagem dos fabricantes de automóveis. Férias, fundo de garantia, impostos, indenizações trabalhistas, os motivos são variados, mas o fato é que, apesar de ser quase  tão caro quanto um americano, nossos assalariados não chegam nem aos pés de seus irmãos do norte em poder de compra. Além do custo que gera para sua empresa, o assalariado brasileiro ainda tem que enfrentar uma carga de impostos imensa nos produtos que compra.

Se você já deu uma olhada no orçamento do condomínio onde invariavelmente mora (poucos conseguem ficar fora dele nesse Brasil SEM SEGURANÇA), sabe que o maior custo é a mão de obra, os funcionários. O efeito é parecido nas empresas. Pode até não ser o maior custo, mas o peso dele sempre é muito importante. Especialmente aqui no Brasil.

Desta forma, o mercado nacional de automóveis é único, diferente de todo o resto do mundo. A vasta maioria do volume de vendas está concentrada em carros simples como Mille, Celta e Gol, carros que apesar de básicos e despojados, são caros para a população (muito imposto), e ao mesmo tempo caros demais para serem exportados com sucesso.

Nossa indústria vive então do mercado interno apenas, e como na década de 80, praticamente isolada do mundo. Carros um pouco mais sofisticados sofrem concorrência dos importados, mas as vendas dos “populares”, vasta maioria e esteio da indústria local, seguem crescendo.

Para a pobre classe média, vocês conhecem o significado disso: muito imposto sem nada em termos de serviço em troca, e poder de compra reduzidíssimo se comparado a um cidadão de primeiro mundo. Mas o pior é o isolamento da grande ordem mundial: hoje a produção migra para a China, Índia, Indonésia, e o Brasil fica relegado a segundo plano, e a seu mercado apenas. Exagerando um pouco para deixar claro: seria algo como ter um padrão de vida de indonésio, com custo de americano. Temo pelo futuro de nossa indústria, e principalmente seus funcionários.

O exemplo claro deste abismo que ainda temos que transpor está nesses dois carros que vimos lado a lado. Uma pesquisa rápida indicou os preços sugeridos, em seus países de origem, ilustrados abaixo:


O Malibu custa US$ 21.825,00, o que, com o dólar valendo 1,77 reais, significa R$ 38.630, 25. Um Prisma completo é mais barato; custa a bagatela de R$ 37.620,00. Mil reais menoso. Ambos os carros foram feitos para o povo de seus países, e neles não são veículos que representam "status". Carros normais para o povo, apenas.

O sedã americano tem 2,4 litros de cilindrada e 171 cv, e caixa automática de quatro marchas. O nosso, 1,4 litro e 97 cv (etanol), com câmbio manual. O Malibu tem 4.872 mm de comprimento e 2.852 mm de entre-eixos, e o Prisma, 4.127 mm de comprimento, e 2.443 mm de entre-eixos.


O Malibu vem com rodas de 17 polegadas, ABS, oito airbags, controle eletrônico de estabilidade, rádio AM/FM/XM com Bluetooth e entradas para iPod e USB, freios a disco nas quatro rodas, entrada sem chave, controle de velocidade de cruzeiro. Ar-condicionado, travas e vidros elétricos nem precisamos mencionar, é óbvio.

O Prisma selecionado também tem ar-condicionado, travas e vidros elétricos, mas não é nem necessário dizer que de resto... Acho que vocês já entenderam o ponto. Se não, vejam as fotos e chorem. E nem precisamos entrar no detalhe das facilidades de financiamento a juros baixos nos EUA.


Sim, grande parte do custo do Prisma é imposto, mas mesmo sem eles, ainda seria caro. O fato é que vocês podem prever o futuro de uma indústria, e de um país, que tem custos tão altos, mas produz e consome tão diferentemente dos países de primeiro mundo. É uma situação que devia preocupar todo mundo, mas é algo muito pouco falado. Falta planejamento, objetivo de futuro, aqui. A indústria local é transplantada, filial de matriz estrangeira, e apenas está aqui para fazer dinheiro; cabe ao governo criar condições para que ela cresça mais do que faz hoje, tanto no mercado interno quanto no externo, para que realmente mudemos este quadro. O volume atual de investimentos não é ruim, mas não vai mudar nada, apenas perpetuar a situação atual.

Eu não gosto de ser coadjuvante de nada, e acredito que nosso país pode ser mais que isso na grande ordem das coisas. Algo precisa ser feito. Acho que o exemplo que eu e o JJ encontramos, por um desses acasos da vida, é bem ilustrativo do abismo que temos que transpor.

MAO