google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Visão do Paraíso

O país “obcecado pela perfeição” pode ser um paraíso para um AUTOentusiasta. Não é um lugar barato (hotéis, restaurantes, trens e bondinhos), mas o aluguel de carros, principalmente os de topo de linha e esportivos, é um dos mais baixos do mundo. O asfalto na Suiça é ótimo e o pequeno país possui inúmeras estradas de montanha com muitas curvas e vistas de cair o queixo. Quase sempre há a opção rápida para retorno através dos vários túneis, o que facilita o planejamento da viagem. A brincadeira do título com o nome do país, em alemão, é devido ao impressionante silêncio, seja ao ar livre, em lojas ou até mesmo em restaurantes. Um pouco menos silencioso na parte italiana, como esperado.

Não foi a primeira visita, eu já tinha circulado antes, de moto, por alguns desses passos de montanha e foi ótimo revisitá-los. É sempre uma felicidade ler as placas indicativas de nomes que jamais esqueço, como Furkapass, Bernina, Gottardo e Grimselpass, misturando alemão e italiano, principalmente com a plaquinha ao lado indicando “offen/ouvert”, pois vários deles fecham por vários meses. Usualmente estão abertos de junho a outubro, mas nada é garantido. Em outubro passado, antes do Porsche Tour de que participei, fui surpreendido por mau tempo e minhas tentativas de travessia foram frustradas.

O melhor caminho entre dois pontos não é uma reta!

Desta vez, tudo certo, carro adequado reservado, um megarroteiro de 1.300 km, muita pesquisa em vários sites valiosos e expectativa de tempo bom. Falo com um amigo residente em Zurique e ele diz que todos esperam bom tempo nesse período (no feriado e final de semana após Corpus Christi, que não é feriado lá), mas não dá para contar com isso nessa época na Suíça.

Minha última passagem pelo país foi burocrática, eu precisava cortá-la em algumas horas a tempo de chegar em Stuttgart, vindo de Milão. Um Lancia Delta diesel cumpriu seu papel. Agora é diferente. Carro para essas estradas sinuosas é um roadster esportivo. Atendendo a pedidos (“manda quem pode, obedece quem tem juízo”), um Mercedes-Benz SLK 350, da ótima agência Elite. Os 300 e poucos cv serão muito bem utilizados. Perdi algum tempo na internet pra descobrir qual o real espaço de bagagem que dispunha, para garantir que o teto pudesse ser baixado. Pra quem não conhece, os conversíveis de teto rígido têm duas dimensões de porta-malas: com teto levantado e abaixado. Uma tampa de plástico é baixada para encaixar nos sensores que identificam que há espaço para recolher o teto. Normalmente roubam metade do já pequeno porta-malas. Concluí que caberiam uma mala média e uma mochila. Ótimo, são poucos dias e nem há tempo pra compras, tudo fecha cedo na Suíça. E quase nada abre no final de semana.

Pesquisando em sites de donos de SLK, cada um dá uma medida diferente, confesso uma certa apreensão de estar com uma bagagem que não coubesse. Ia ficar por lá, a prioridade era a viagem.

PRIMEIRO DIA

Viajar leve é isto!

Chegamos em Zurique. Chuva. Calma, estava previsto, vai passar logo. Pego o carro, a bagagem cabe (ufa!). Alguma pesquisa para encontrar o escondido conector de energia para o GPS e estamos prontos. O carro tem uma enorme tela para as funções de entretenimento e navegação (igual ao Porsche 911 da outra viagem), então deixo o mapa geral nele e uso meu velho e bom GPS portátil para a navegação propriamente dita. Começa a brincadeira com destino a Lucerna (Luzern), sempre evitando autoestradas onde possível. Contorno o lago próximo a Zurique pelo sul e logo percebo outra característica da Suíça: tudo é muito próximo. O primeiro dia, pelo caminho mais curto indicado pelo Google Maps, teria 130 km até Andermatt, no coração de famosos passos de montanha dos Alpes. Inventei caminhos pra fazer a tarde render e virou 230 km. Ainda assim, pouco, mesmo que apenas para a tarde (o voo chegou quase ao meio-dia).

Fizemos uma parada em Lucerna para um passeio de teleférico ao Monte Pilatus, onde deveria avistar vários picos dos Alpes e o belo lago de Lucerna. Deveria... o tempo só abriu nos últimos 100 m dessa longa subida (saímos de 516 m para 2.100 m). Suficiente para o sol mostrar sua cara e animar os cansados viajantes. Ainda assim, a cada cinco minutos fechava tudo novamente e nada de vista. A cara subida (68 francos suíços, ou cerca de 110 reais) pareceu dinheiro malempregado. Não dá para acertar todas.

A subida até o Monte Pilatus (primeiro estágio)

O Monte Pilatus, a 2.132 m de altitude (à direita os trilhos do trem inclinado, que sobe engatado em catracas; à esquerda dá para ver os cabos do bondinho da segundo estágio da subida, deve ser umas 4 vezes mais longo que o do Pão de Açúcar e sobe 700 m na vertical)

De Lucerna em diante, seguimos ao longo de outro lago e logo estávamos em Andermatt (a 1.400 m). Essa pequena cidade é base pra quem adora caminhadas e escaladas. Ou estradas de montanha. Chegamos com muita neblina e uns 8 °C. Nada animador. Como tudo fecha cedo, reservei uma mesa em um restaurante na pequena Airolo, uma cidadezinha do outro lado dos Alpes, portanto já tinha desculpa para o primeiro passo. Pena que a neblina só piorava, complicado mesmo... até passar pro outro lado dos Alpes! Que diferença! A primeira vista daquelas inacreditáveis!

Passo de San Gottardo, por volta de 20h00

A linha amarela quase reta é o longo túnel de 18 km. A sinuosa é o caminho da diversão.

Uma paisagem de cair o queixo, um sol de final de tarde delicioso, a estrada (Passo de San Gottardo) mostrando todas as suas curvas. Inesquecível! Sorriso na cara, começo a brincar com a alavanca de câmbio e a atacar as curvas de 180 graus como se deve... delícia! Esses cotovelos são muito comuns nessas estradinhas, coisa que eu não curtia muito quando viajei de moto. Em muitos deles tem um filete de água, da neve que degela, ou água que mina naturalmente do solo. Pesadelo para moto, delícia para o carro. Desgarra a traseira com menos escândalo e a diversão é garantida. Nem os ótimos Michelins seguravam. Eu mal sabia que era um presságio do que me esperava nos próximos dias. Quanto ao carro, o câmbio do SLK deixa um pouco a desejar, lento nas trocas de marchas (covardia, minha referência era o fantástico PDK do Porsche 911 da última viagem). Mas o motor tem um ronco bem agradável e o carro dá umas "pipocadas" quando reduzo forte, bem legal! Pego o jeitão do carro, sempre contornando os cotovelos em 2ª marcha e me divirto muito!

Ah, o restaurante, italiano, foi a melhor refeição da viagem. Voltamos pelo longo túnel (18 km), para chegar antes das 22h30, hora em que o hotel tranca a porta da frente (!). O pequeno roadster dormiu ao lado de outro: Ferrari F430 Spider, com direção inglesa.

SEGUNDO DIA

Olhando assim, parece uma viagem bucólica e tranquila...

No dia seguinte (6ª feira), parecia que estávamos em outro planeta. Sol desde cedo, descubro 3 picos daqueles de cartão postal rodeando a cidade. Com a neblina da noite anterior, jamais imaginei essa cena. O roteiro de hoje tem 190 km, com tarde de compras em Interlaken para relaxar. Justo no final de semana, nada abre. Furkapass estava programado para o dia anterior (faríamos ida e volta), mas a neblina mudou os planos. Passando para hoje, vamos a 250 km. Esse passo, de apenas 30 km, demora 25 min pelo Google Maps. Ou seja, tudo é próximo, mas não tem como manter uma média alta, principalmente com os vários cotovelos. Tenha isso em mente ao programar uma viagem destas.

Furkapass, o negócio começa a ficar sério

Furkapass é um daqueles passos de montanha de cair o queixo. A aproximação de um lado é de curvas de média/alta, a descida mais íngreme do outro lado é recheada de cotovelos. E a vista... julguem vocês mesmos! Começa a convivência com os companheiros de estrada. Motos, muitas motos, carros bem interessantes e (nada é perfeito) alguns ônibus e trêileres. Nem todos os passos permitem ônibus, alguns são estreitos demais ou com cotovelos que não permitem que eles manobrem. Melhor assim... Quando se dá azar de encontrar uma procissão de carros lentos por causa de um ônibus, basta encostar pra tirar uma foto. Bastam dois minutinhos para abrir espaço.

Eu brincava nas curvas, mas fazia as retas lentamente, assim deixava o espaço necessário pra continuar me divertindo no próximo cotovelo. O tempero da viagem foi dado pelos companheiros inesperados: carros antigos. Foi o primeiro final de semana realmente ensolarado deste verão europeu, parecia que todo mundo tinha tirado seu carro antigo da garagem. O comportamento de todos na estrada é exemplar. Não são lentos, na média. E os carros são praticamente todos alemães (Audi, VW, Mercedes-Benz e BMW compõem 80% da frota suíça). As motos, se forem de suíços, nem sempre “ultrapassam em qualquer espaço”. Se tem faixa contínua, muitos só passam se você reduzir e sinalizar com pisca à direita. Coisas de suíços. Muda um pouco (muda muito, na verdade) quanto mais próximo se estiver da Itália...


Do mesmo ponto da foto inicial do post, repare bem ao fundo, o final do Grimselpass (aquela sanfona de curvas à esquerda no mapa acima e à direita nesta foto.

Uma geleira. E gente esquiando na base...

Fazendo o caminho de volta do Furkapass

Começo do verão é epoca de reforma em estradas. Muitas tem pequenos trechos de faixa simples e um pequeno semáforo portátil com sensores fica gerenciando o tráfego. Simples e eficiente, mas na 10ª vez que você encontra um desses, é desanimador.

Muitas obras...

Reparando nas obras, o trabalho é assustadoramente bem-feito, eles arrancam uns 70 cm pra refazer a base e depois asfaltar ou concretar. Tudo na Suíça é irritantemente perfeito. Até o concreto usado nas colunas ou teto dos túneis é daqueles que se vê em paredes de acabamento interno, como se estivéssemos no Masp. Impressiona. Feito para não ter que refazer tão cedo. Ouvi que os trilhos dos bondes de Zurique são reformados a cada 25 anos. Acredito.

Túneis...

...e túneis.

Coisas que se aprende apenas depois do primeiro erro: túneis cavados diretamente na rocha são lindos, naturais. Até demais! Uns pingam, outros jorram água, principalmente depois dos dias anteriores, de muita chuva. Muitos são curtos, sem iluminação. Imagine esse cenário e some o pequeno roadster com a capota baixada: banho! A capota só sobe com o carro parado, quando se vê, é tarde demais. Sorte que só pegamos um túnel com esse chuveiro natural, nos outros eram apenas goteiras. Infelizmente era um trecho em reforma, só tinha uma pista, não tinha como escapar para a contramão. Ok, é só água, mal não faz (e a câmera estava protegida). Interessante também o dispositivo de aquecimento do carro: air scalf. Uma saída de ar quente na altura do pescoço, como um cachecol, só que de ar. E funciona! Andamos a 6 °C nos passos, com capota abaixada e não sentimos frio! Mas com os vidros levantados.

Sustenpass, mais um dos famosos

Sustenpass

De volta ao roteiro, e de volta a Andermatt, pegamos a autoestrada para Wassen, onde acessamos o Sustenpass, mais um dos “famosos”. Já seguimos em direção a Interlaken, onde pernoitaremos, mas por um caminho sinuoso.

Brünig

Após a foto acima, não poderia deixar passar esse simpático carrinho ao nosso lado.

Uma volta por Giswil para acessar um passo menos conhecido através de uma via com o sugestivo nome de Panoramastrasse (strasse é rua, em alemão).


Depois dessa “voltinha”, nos dirigimos a Thun, na ponta do lago esquerdo. A descida abre um visual incrível. Interlaken, como o nome indica, fica entre dois lagos, em um lindo vale rodeado de montanhas (e atividades) por todos os lados. Dali pode-se pegar trens para vários destinos próximos, depois bondinhos para os picos. Um dos mais famosos é Jungfraujoch (3.471 m), que possui a estação de trem mais alta do mundo (3.454 m), sendo o trecho final cavado na rocha. Impressionante é que isso tudo foi construído em 1912!

Outro famoso é o restaurante do 007, no Schilthorn Piz Gloria (2.970 m). 007 de outros tempos (1969), do filme "007 A Serviço Secreto de Sua Majestade", com um ator australiano que só fez o agente secreto nesse filme. Bom, a fama continua até hoje e a curiosidade é que o restaurante é giratório. Infelizmente não tínhamos tempo para nada disso, chegamos a Thun por volta de 14h00 e logo depois seguimos margeando o lago para Interlaken, a tempo de caminhar um pouco pelo centro e fazer umas poucas compras (não tínhamos onde colocar, mesmo...).

No vale, com o sol forte o dia inteiro, já era hora de bermudas e camisetas, temperatura de 26 °C! Jantamos no belo hotel Victoria Jungfrau e começamos a ver o “Salão do Automóvel a céu aberto” da Suíça: Audi R8 Spider (recentemente lançado) e Bentley Continental GTC (conversível) desfilavam pela avenida central.

Realmente "entre lagos"

TERCEIRO DIA

O começo do terceiro dia (sábado) com mais gente na estrada, muitas motos

O terceiro dia vai ser longo, estimado em 410 km, 6h e 30min pelo Google Maps. Mas que dia! Sol de rachar novamente, logo cedo abastecemos e caímos na estrada. Gasolina de 98 octanas RON custou 1,70 franco, 2,72 reais, um pouco menos do que aqui no Brasil (se considerarmos que tem a parcela de álcool no que chamamos de gasolina).

Novamente margeando o lago, o esquerdo, agora, optamos pela autoestrada e túneis, receosos que o dia fique muito longo e cansativo. É estranho, mas depois de tanto visual incrível, você acaba se acostumando. Um lago é mais um lago. A menos que seja de uma cor inédita, ou em um contexto diferente. Bom, nesse ponto a Suíça tem inúmeras variações, raras vezes dá para ignorar completamente o visual. O primeiro passo do dia é o Grimselpass, que fecha os passos famosos ao redor de Andermatt. Começa tranquilo e suave para terminar em lagos e represas e inúmeros cotovelos.

Grimselpass

Uma represa no caminho do Grimselpass com uma decoração criativa

Acho que já falei algo sobre "muitas motos". Na parada do Grimselpass.

O lado oposto da foto inicial. Vendo o Furkapass ao fundo.

O destino é Ulrichen, início do Passo Della Novena (que acaba em Airolo, a cidadezinha daquele ótimo restaurante). Este é um passo menos conhecido, mas não tem erro, se você encontra várias motos no começo da estrada, é porque tem diversão à frente. Já era sábado, mais carros e motos rodando, nenhuma estrada fica totalmente vazia. De Airolo até Castione, quase Itália, pegamos a autoestrada e nos deparamos uns símbolos estranhos no GPS do carro. Logo vimos a enorme fila de carros e caminhões, por sorte, no sentido inverso ao nosso. Não é difícil imaginar que algum acidente ocorreu dentro do longo e chatíssimo túnel de San Gottardo (18 km praticamente retos).

Chegando a Castione, o destino passa a ser Mesocco, saída para o Passo de San Bernardino e nesse momento programamos o GPS pra evitar autoestradas. É bem comum na Suíça ter uma estradinha sinuosa, contornando as montanhas e acompanhando os vales, enquanto a via expressa, elevada e mais retilínea, segue rasgando os vales e furando as montanhas com seus muitos túneis. Nossa missão é passear, quanto mais curvas, melhor!

Passo de San Bernardino

O passo de San Bernardino é mais um daqueles imperdíveis. Visual fantástico, lagos de cores incríveis e muitas, muitas curvas. O trecho final é uma sanfona com 16 cotovelos em sequência!

Albulapass

Novamente vamos evitando a estrada principal até Thusis e viramos em direção ao nosso destino final, a famosa St. Moritz. Passando a cidadezinha de Tiefencastel e pelo Albulapass, existe um caminho menos conhecido passando por Bergün que nem o GPS considerava uma rota possível (de fato, havia uns 200 m de off-road, com cascalho, um perigo para motos, provavelmente uma parte da estrada que estava ainda em reforma).

A caminho de St. Moritz


Muitos passos (e algumas estradas) fecham boa parte do ano. Os passos, em regra, fecham das 20h00 às 5h00! É bom ter isso em mente ao se programar, pois há claridade até as 20h00, é fácil se deixar levar pela diversão ao volante! Estranho foi encontrar uma procissão em uma cidadezinha (talvez um funeral). Fecharam a rua principal.


Que era também a única passagem para atravessar a cidade (rodei um pouco e procurei alternativas no GPS). Resultado: uma fila de pacientes motoristas e motociclistas aguardando os 20 minutos da interdição...

St Moritz

Chegamos a St. Moritz a umas 15h00. O local é realmente uma imagem de cartão postal. Dois lagos na base de montanhas espetaculares, é impressionante. Quatro estradas permitem acessar St. Moritz (1.800 m), uma por cada ponto cardeal. Fizemos todas!!! E todas valem a pena. Bom, chegamos pelo norte, nos instalamos rapidamente e percebemos que o comércio já estava fechado. Estranho para um sábado à tarde em uma cidade turística. Viemos para andar de carro e, para isso, o dia continuava perfeito. Eu tinha lido que a previsão do tempo era de chuva em breve. E se chovesse do dia seguinte? Melhor garantir hoje, com esse dia lindo. E lá fomos nós fazer bate-e-volta em mais dois passos. Primeiro para oeste, a caminho de uma cidadezinha chamada Soglio, onde tínhamos a indicação de uma linda vista. Acompanhamos todos os lagos de St. Moritz (surpreendentemente o último estava lotado de praticantes de kite surf, imagine a temperatura da água), depois a estrada é mais aberta que os apertados caminhos dos passos, mas ainda assim, com cotovelos bem divertidos. É uma enorme descida até à base do vale, mas a cidadezinha de Soglio fica morro acima... mais diversão, mas a vista do vale era bem difícil de fotografar, aparecia entre as árvores rapidamente. Só estando lá...

Caminho pra Soglio

Eram menos de 40 km, logo estávamos de volta a St Moritz e resolvemos puxar a programação do dia seguinte, indo até Brusio (50 km ao sul), bem próximo da fronteira com a Itália. Estrada fantástica, o passo de Bernina, talvez um dos mais bonitos e divertidos de toda a Suíça. E ainda margeando bonitos lagos, para terminar em um vale com uma curiosidade (e uma frustração). Fomos até Brusio com a informação de que havia uma curiosa ponte em espiral para os trens, de forma a vencer um desnivel. De fato há (chequei no Google Maps) mas é praticamente impossível de se ver pela estrada. Ótimo, era só a desculpa para pegar a estrada, sem problemas.

Berninapass

A curiosa espiral dos trilhos para vencer um aclive em Brusio

Na volta, a diversão em dois momentos. Reparei, na descida, que as cidades tinham radares (ou ao menos indicadores de velocidade, como nossas lombadas eletrônicas), coisa rara no resto da Suíça. Bom, aqui é a parte mais italiana da Suíça, nota-se que as motos passam sem receio (e sem cuidado) e me sinto mais “em casa” quanto ao comportamento dos motoristas. Noto um BMW série 5 dos novos “colado” na traseira do SLK. Abro um pouco, placa “I”, da Itália. Ele cola novamente e vejo o italiano todo torto ao volante, batendo um animado papo no celular. Não fico exatamente feliz com a situação e logo começam curvas de média velocidade, mas com algumas surpresas no caminho. Eu sempre usei o GPS como co-piloto, ajuda principalmente quando não se sabe se a curva à frente é uma esquina de 90 graus ou um cotovelo. Usei muito isso viajando de moto. Agora foi muito útil com meu incômodo companheiro de viagem. Bastou umas duas ou três curvas apertadas que ele não esperava e consegui o espaço pra viajar tranquilo.

Chegando próximo ao alto da montanha, ouço um ronco daqueles que todo AUTOentusiasta reconhece, no “andar de cima”. Eu estava em uma sucessão de cotovelos e o V-8 me parecia inconfundível. Bastou umas poucas curvas e lá estava o meu novo companheiro de viagem: F430 Challenge Stradale.

Que cena. Imagine o som

Passeando na boa (placas da Suíça), mas uma hora eu sabia que ia poder ouvir aquele som inconfundível de perto. Como todo bom suíço, só ultrapassou um carro lento em uma longa reta, com ótima visibilidade. E lá fomos nós atrás, usando todos os 300 cv do SLK para perseguir aquele ponto vermelho e seu ronco... Minutos divertidos, percebi na primeira freada forte que só o motor não resolvia, tinha muito mais freio no carro vermelho do que no meu divertido alemãozinho. Foi legal e deixou as fotos mais bonitas, já nos aproximávamos do final da tarde e o cenário estava perfeito. Bom, dia longo, quase 500 km, hora de descansar.

Curiosidade em St. Moritz: jantamos “tarde”, entre 20h30 e 21h30. Ainda claro, olhei pela janela do quarto do hotel e não vi ninguém. Ninguém mesmo, nem carro, nem gente, nem ônibus. Imagine se isso acontece aqui no Brasil, em uma cidade como Campos do Jordão, por exemplo. Estranho, muito estranho.

QUARTO DIA

Nem sempre a engenharia vence...

O último dia, domingo, encolheu dos 450 km previstos para 360 km quando antecipamos o Passo de Bernina. Dia lindo, novamente, algumas nuvens começam a aparecer Não veio a chuva, mas já ameaça. Melhor assim... Começamos pelo último lado que faltava, leste, em direção à Austria. Uma estradinha de 8 km recomendada era nosso objetivo. No caminho, como curiosidade, Scuol, a cidade Spa, com termas.

A primeira parte, saindo de St Moritz, é bem gostosa mas menos dramática que as outras saídas. Até Susch vai bem, depois o longo trecho até Martina, na fronteira, foi cansativo. A estrada é sinuosa, apertada e com guard rail alto, duplo. Não sei exatamente por que, mas não curti. Muitas vezes as motos vêm tangenciando pela contramão e o guard rail impede que elas vejam o tráfego contrário e vice-versa. Acho que foram alguns sustos e isso me deixou apreensivo nessa estrada.

O longo caminho até Martina, fronteira com a Áustria

A sinuosa estradinha austríaca

Divertida...

Não espere mais do que isto em fronteiras na Europa. Ninguém

Pelo menos a breve incursão na Áustria foi muito boa, 8 km de cotovelos e ótimo asfalto até Nauders. Voltamos o longo trecho até Susch e dali miramos Davos, cidade famosa pelos encontros anuais de chefes de Estado. O passo da vez é o Flüelapass (2.383 m). É mais suave e espaçoso, mas muito interessante.

A caminho de Davos

Flüelapass

De Davos pegamos o Albulapass novamente de volta a Tiefencastel e Thusis, e subimos para Tamins, novamente programando o GPS para evitar as estradas principais. Que ótima ideia! Paramos em um pequeno restaurante com mesas na calçada para um almoço rápido.

Albulapass

Ótima sopa de cogumelos e salada. Sol forte e começa o desfile de carros... Mercedes SL conversível, Fiat 500 (o original, claro), Citroëns antigos, Alfas, inúmeras motos (claramente a ótima BMW R1200GS é a preferida) e carros modernos interessantes (Porsches, BMWs M, Lotus Elise etc). Um deleite. Eu mal sabia que íamos conviver com inúmeros antigos na estrada, nesse que foi o primeiro domingo de sol do verão europeu de 2010. Andar pelas estradas que cortam as cidades (ao invés de usar a via expressa) exige reduzir constantemente para 50 km/h (limite das áreas urbanas). Mas compensa. E o carro tem um controle de velocidade impressionantemente bom. Baixa marchas (são 7), crava a velocidade e mantém, seja em subida ou descida, bem precisamente. Um alívio, nessas horas.

Um desfile...

Agora não tem mais surpresas, é voltar para Zurique, pelas autoestradas mesmo, e tentar encontrar um velho amigo que mora na cidade. Muitas reformas no caminho, um pouco de trânsito, e esqueço de programar o GPS para evitar a estrada principal na chegada ao Walensee, lago mais ao sul do Obersee, que fica em Zurique. Peguei muitos túneis e vias elevadas, resolvi voltar. Já estourava a quilometragem contratada, mas insisti (veja o caminho marcado no mapa abaixo, em amarelo, a via expresssa).


Ainda bem! Voltei 20 km de estrada para encontrar um caminho gostoso, beirando o lago, que se tornou sinuoso e subi 300 m na montanha ao lado do lago, sempre com um simpático senhor ao volante de um MG à nossa frente (no começo nem notei a direção inglesa, achei que a esposa dele conduzia o pequeno roadster inglês). Que surpresa agradável para fechar o dia, uma vista incrível e, na descida, ainda encontrei uma dupla de Corvettes para trazer o amigo CF para a nossa viagem europeia. Nesse assunto ainda, o carro americano mais visto foi realmente o Corvette. Vimos também Mustangs antigos e um novinho (parecia um GT 350), Dodge Challenger e uma profusão de Chryslers modernos esquecíveis...

Vista do alto da estradinha em volta do Walensee

Nosso companheiro em uma estrada inesperadamente deliciosa e com lindas vistas, em seu roadster inglês.

Fechamos o dia com uma longa volta em torno do lago de Zurique (Zurichsee) para a segunda parte do “Salão do Automóvel a céu aberto”. Parece que metade dos carros é conversível. Astons, Bentleys, Ferraris (California, 430), Porsches, Lamborghini Murciélago, Spyker, fora os interessantes Focus RS, Lotus Elise, Mercedes SL, Mégane RS, uma diversão.

Encontrei com meu amigo no final da tarde, foi bom para aprender mais sobre a Suíça. Ele me conta que, como no português, conduzir (fahren) é um verbo que vale para carro e bicicleta. Então, se você anda de bicicleta alcoolizado e é pego, perde a carteira de motorista. Oras, você sabe as regras, valem para os dois veículos, a rua atende os dois! Lógico... até demais! A bicicleta tem privilégios sobre os carros (hieraquia de fragilidade: pedestre, depois bicicleta, depois carros).

Normalmente tem ciclovia, mas, se não houver, e o ciclista estiver à direita lento, sem espaço pra ultrapassar sem cruzar a linha contínua, pode esperar que uma enorme fila de pacientes motoristas se formará. Imagine isso com uma tranquila senhora suíça em uma ladeira. Impensável para nós... Um conhecido do meu amigo levou uma multa bizarra. Ele estava parado no trânsito (sim, parado, nem bicicleta nem moto seguem por corredores ou espaços quaisquer), atrás de um caminhão que soltava fumaça de óleo diesel bem nele. Ele ultrapassou o caminhão e se colocou à frente dele (não ultrapassou todos, pela contramão, apenas os 4 ou 5 metros do comprimento do caminhão). Lá embaixo o policial pediu para ele encostar e levou uma multa por cruzar a linha contínua. Não adiantou chorar, reclamar e nem explicar.

Sinceramente, não vi muitas "viaturas" nos 1.400 km que rodei, mas a regra é clara: eles confiam que você agirá corretamente, mas caso peguem alguma atitude errada, não tem perdão. Exagero ou apenas um modo diferente de pensar, cabe a cada um resolver.

Ah, a chuva afinal veio, mais à noite, a caminho do aeroporto. Timing perfeito.

O grand finale da quase irritante perfeição suíça: o agente da Imigração se dá ao trabalho de achar o carimbo de entrada e carimbar ao lado. Ambos nivelados, certinhos, não como os outros, tortos, de qualquer jeito. Esses suíços...

Companhia perfeita, carro legal, ótimas estradas e tempo bom. É o mais próximo do paraíso que consigo imaginar.

Um abraço,

MM

Seguem outras fotos de algumas cenas e curiosidades:

Calibrando a velocidade dos motociclistas


O cenário básico de uma estrada na Suíça é uma escadinha de cortes. Montanha, trilho de trem, estrada (com carros legais) e água (lago/rio). Se repete tanto que se nota facilmente nas fotos.

O GPS resolve a navegação, mas tem muitas placas. Às vezes até demais

Um grupo tão grande era raro. Duas a cinco motos era o mais comum

A placa é suíça, um Ferrarista bem educado

Antigos, companhia especial

Novamente, pertinho de Zurique

Mais Corvettes do que o esperado na descida ao lado do Walensee

Trânsito na tarde de domingo de sol em Zurique
Imagem: www.senado.gov.br
Hoje pela manhã a rádio CBN noticiou que o Ministério Público da Paraíba prendeu uma quadrilha que vendia carteiras de habilitação em todo o país por valores que poderiam chegar a até R$ 2.000,00.
A ação foi comandada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) em conjunto com a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Civil da Paraíba. Segundo o órgão, o grupo emitiu cerca de 50 mil CNHs em aproximadamente cinco anos de atuação.
Os envolvidos? Servidores públicos, donos de CFCs e despachantes, espalhados pelo Brasil. A maior parte da quadrilha se concentrava no Detran da Paraíba e era responsável por "habilitar" analfabetos e pessoas sem as mínimas condições de conduzir um automóvel.
Agora eu me pergunto: isso ocorre apenas na Paraíba? O jornalista Roberto Agresti enfiou o dedo na ferida em sua última coluna, afirmando que "ouviu dizer" que para ter sucesso no exame prático basta uma pequena propina.
É isso mesmo: por mais absurdo que possa parecer, para se ter uma habilitação não é preciso demonstrar habilidade e segurança na condução de um automóvel. O candidato tem duas escolhas: interpretar um idiota inexperiente (como bem disse o Agresti e também o Bob Sharp) ou então pagar.
Mas pagar a quem? Ora, eu sei, tu sabes, ele sabe... E se você não souber, garanto que em poucas horas ficará sabendo, ainda que não seja policial ou promotor de justiça. Trata-se de uma cultura administrativa criminosa tão escancarada que basta sair perguntando.
Quem procura acha.
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