google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Na semana passada a Porsche divulgou as primeiras informações sobre o novo 911 GT2 RS, modelo que será apresentado ao público apenas no final de agosto, no Salão de Moscou. Fiquei sabendo da notícia apenas hoje, através do Porsche Channel no YouTube.
Esse aí de cima eu configurei no site especial da Porsche: preto com rodas douradas, uma combinação que me pareceu bem atraente, principalmente para diminuir o contraste nada harmonioso (na minha singela opinião) do capô preto em fibra de carbono com as cores mais claras.
Tração apenas traseira, câmbio de seis marchas com o tradicional "H" de seleção e o entusiástico (e cada vez mais raro) pedal de embreagem. Tudo tão bom e maravilhoso que vale uma oração dedicada a Ferdinand e Ferry antes de dormir.
620 cv, potência mais do que suficiente para fazer com que os pneus traseiros chorem bastante. Chega a ser mais potente que o Carrera GT, mas o que impressiona mesmo é como o flat six entrega essa potência. Se você não sabe interpretar o gráfico abaixo eu faço questão de traduzir a mensagem que ele transmite: linearidade total.

Se para você números e dados técnicos não representam nada, basta assistir o vídeo abaixo, divulgado hoje pela Porsche. Sempre gostei do 911, mas nenhum modelo anterior foi capaz de me cativar como esse.
FB

O post do nosso amigo MAO sobre o Frazer Nash levantou uma boa discussão entre nós do blog e até dos comentários postados sobre o motivo dos carros de corrida antigos usarem as rodas dianteiras com  muita cambagem positiva.
Foi colocado pelo Carlos Scheidecker que o motivo seria a estabilidade e reduzir o esforço do volante para o piloto. Isto não deixa de ser verdade, mas não é pelo simples fato do carro andar com cambagem positiva que o volante ficará mais leve.
A suspensão/direção é um conjunto complexo de muitos elementos que se relacionam entre si, basicamente de forma geométrica e por momentos e aplicações de força. Para não esticar muito o assunto, falando unicamente do tema cambagem positiva nos carros antigos, temos primeiro que entender um conceito de suspensão chamado Inclinação do Pino Mestre.
O tal do pino mestre hoje é a linha imaginária que une as duas articulações da manga de eixo nos braços de suspensão. Abaixo temos um exemplo disso, em uma suspensão mais moderna para clarear bem a ideia. Essa linha imaginária nada mais é do que o centro de rotação da roda quando ela é esterçada.
Basicamente essa linha imaginária é quem comanda o esforço do volante em manobra (vamos esquecer agora o cáster, que não é importante para entender o porquê da enorme cambagem positiva dos carros antigos) . Ela é prolongada até o piso onde o pneu está, e comparada com a linha de centro do pneu, que é a distância "A" mostrada no esqueminha. Se a distância é grande, o esforço no volante é maior.
E onde entra a cambagem nessa história toda? Como os carros mais antigos do pré-Segunda Guerra  Mundial eram ainda de construção simples e tinham outros conceitos e componentes aplicados, a forma destes componentes era diferente dos atuais. As rodas e pneus eram bem finos e de grande diâmetro, e a manga de eixo era pequena. A maioria dos carros possuía eixo rígido dianteiro, e a fixação da manga neste eixo era limitada por motivos construtivos (lembre-se dos grandes tambores de freio dessa época). Abaixo vemos alguns exemplos de como era feita essa fixação.


Em muitos carros, havia fisicamente um pino mesmo fixando a manga no eixo dianteiro. Os construtores sabiam que a linha de centro do pneu precisava ficar perto da linha da inclinação do pino mestre para poder deixar o carro manobrável, mas era um problema em função dos grandes pneus. Não era possível trabalhar muito no eixo dianteiro em função de vários complicadores.
A solução para isso foi inclinar o conjunto roda-pneu de forma a aproximar sua linha de centro ao eixo do pino mestre, gerando a famosa e estranha cambagem positiva.

Na dinâmica destes carros, como os pneus eram extremamente precários comparados aos modernos (entenda moderno como pneus radiais) e a elevada altura dos carros, grande grau de rolamento da carroceria e deformação dos pneus, a cambagem positiva também colaborava um pouco para reduzir a tendência sobre-esterçante dos carros, pois prejudicava a estabilidade dianteira, equilibrando-se com a traseira que recebia a tração do motor.
Grandes cambagens geram outros problemas, como esforços elevados nos componentes da suspensão, desgaste de pneus irregular e dependendo do projeto, diferenças de curva de um lado para outro, por conta de forças laterais irregulares.
Veja no caso da foto acima observamos este efeito da posição do pino mestre e a linha de centro do pneu, com a distância "A" aproximada.
O passar dos anos e a evolução, principalmente nos pneus, possibilitou que novos desenhos de componentes fossem feitos e estas teorias fossem abolidas. Os novos pneus mais largos não aceitariam tal cambagem, novas rodas e freios foram desenvolvidos, novas construções de suspensão abolindo também o eixo rígido, permitiram que não se usasse mais bastante cambagem positiva. Outras formas de compensação para o acerto do equilíbrio do carro foram criadas, e não mais se usou estas teorias do passado.
Isso mostra como o automóvel é uma máquina fascinante, pois tudo está interligado, interagindo em conjunto para um objetivo final, e sempre dinamicamente, com "n" variáveis a serem entendidas e controladas.
MB
As barcas americanas têm o seu charme. Muitas delas são desajeitadas e muito quadradonas, principalmente as que vieram depois de meados dos anos 1970. Mas algumas têm o que o Juvenal Jorge definiu como carronalidade, curiosamente utilizando um Buick para ilustrar o termo.


Uma das barcas bacanas para mim é o Buick Riviera de terceira geração, entre 1971 e 1973, o chamado boat-tail, ou traseira de barco. O modelo das fotos é um 1973 que foi exibido no último encontro de Águas de Lindoia. Foi um dos meus preferidos do evento.


O Riviera teve uma grande longevidade, com oito gerações, nascendo com tração traseira e morrendo em 1999 com tração dianteira. Apesar das duas portas o Riviera era um carro mais formal e com um apelo mais luxuoso. Tal formalidade foi quebrada nessa terceira geração com a carroceria estilo cupê. Sua traseira em "V" e com o vidro abraçado às laterais teve clara inspiração no Corvette Sting Ray, só que no modelo 1964 sem a coluna central.

Os para-lamas traseiros, musculosos, delineiam os contornos dos vidros traseiros, contribuindo para o visual único do Riviera. Mas esses grandes para-lamas e a traseira superalongada seriam um problema para passar por valetas e desníveis aqui no Brasil. O carro tem 5,5 metros de comprimento, 3,1 metros de entre-eixos e deve ter perto de um metro de balanço traseiro!


Uma curiosidade do Riviera era um sistema de controle de tração que era oferecido como opcional. O Max-Trac, um dispositivo eletrônico, comparava a rotação das rodas dianteiras (na realidade, tinha um sensor apenas no cubo da roda dianteira esquerda) com a rotação na saída da caixa de câmbio. Quando a rotação de saída excedia em 10% a rotação equivalente das rodas dianteiras a ignicião era cortada para evitar a perda de aderênccia - patinagem - das rodas traseiras.

Esse visual único, meio esporte-fino, combinou muito bem com o seu nome. Imagino muitos americanos puxando seus barcos com o Riviera para praias ou lagos. Pensando nisso vasculhei minha coleção de Hot Wheels e encontrei o meu Riviera 1971. Coincidentemente fui para a praia nesse final de semana e consegui fazer umas fotos num cenário apropriado.


Nessa foto por cima podemos ver que o "V" se repete na frente também.


Em 1973 houve mudanças significativas na frente e na traseira devido a novas normas de impacto. O para-choque traseiro perdeu o bico e a placa, antes deslocada para o lado esquerdo, ficou no meio.

O modelo original de 1971 era muito mais bonito. 


PK

Hoje em dia estão voltando a moda peruas com uma terceira fileira de bancos, normalmente rebatível, lá no porta-malas. Na Europa este tipo de carro sempre esteve na moda, e aqui temos o Chevrolet Zafira e o Nissan Grand Livina, por exemplo. É também comum por aqui em carros importados como os Pajeros e similares.
Mas sem dúvida nenhuma a maneira mais sensacional de carregar uma família de sete pessoas ainda permanece sendo o carro que vocês podem ver nas fotos abaixo, tiradas pelo Juvenal Jorge em Lindoia este ano. Um belíssimo Packard seven-seat Tourer.
Esta coisa maravilhosamente bela e elegante deixou a fábrica de East Grand Boulevard em Detroit ao redor de 1930 equipado com um oito em linha de válvulas laterais, capaz de impulsioná-lo até honestos 160 km/h. Agora imaginem o que não deveria ser levar um leviatã desses, que hoje quase se enquadra na categoria de caminhão, a estas velocidades. Imaginem o vento nos sete ocupantes, todos sem cinto. Imagine, se você puder, pneus diagonais e freios a tambor, que apesar de ótimos para a época, hoje seriam considerados ridiculamente inadequados para tais velocidades. Agora imagine que, com a ajuda de uma boa descida, esses 160 podem facilmente se transformar em quase 200 km/h...
OK, para que isso pudesse ser feito num tourer desses, o teto devia ficar baixado, o para-brisas rebatido para frente e travado, e toda a família abaixadinha para se proteger do vento... Muito improvável, mas de qualquer forma, com certeza as pessoas eram mais corajosas nos anos 20/30. E eles realmente sabiam viver com estilo e graça. Sem falar que um Packard desses é de uma sofisticação mecânica incrível, todo projetado para que o rodar seja algo suave e tranquilo. Motor liso, com torque para andar a vida toda em segunda marcha, conforto de suspensão impecável. Garanto que seria uma experiência memorável mesmo hoje, 80 anos depois de sua fase áurea.
Mas é claro que hoje vivemos melhor; um Packard como este era coisa de milionário, e hoje grande parte da população pode comprar carros até mais confortáveis e rápidos que ele, apesar deste conforto vir mais da proteção dos elementos e dos sistemas de ventilação e ar condicionado do que da sofisticação e suavidade mecânica.
Mas eu não posso deixar de suspirar profundamente ao ver um carro desses. O Paulo Keller que me desculpe, mas Maserati nenhum consegue ser mais belo que este Packard! Vejam como as proporções são perfeitas, fazendo o comprido capô parecer não tão comprido assim, e como o longo habitáculo não parece maior, de longe, que o de um Ford modelo A, por exemplo. Os conjuntos roda-pneu também estão no diâmetro perfeito para o carro, o conjunto todo parecendo uma lição de design rolante. Um carro simplesmente enorme, um brutamontes de oito cilindros em linha, com pneus de medidas apropriadas apenas para caminhões hoje, que apesar disso nos parece algo delicado, leve, suave ao olhar. Isso é que eu chamo de desenho bem feito.
Sempre achei que proporções corretas são de longe o mais importante no desenho de um carro. Mas a execução cuidadosa vem em segundo lugar, e o Packard também é incrível nisso: Rodas tipo disco de aço pintadas da cor do carro, e com linhas pintadas a mão também combinando, teto esticadinho e de desenho perfeito, faróis, grade do radiador e capô perfeitamente coesos. Simplesmente uma festa para os olhos, elegante, bem feito, uma máquina tão bela e eficiente a seu tempo que ainda hoje faz marmanjos suspirarem. Dá vontade de alisá-lo suavemente uma tarde inteira.
De longe, o carro que mais me impressionou em Lindoia este ano...
MAO