google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)
Super Bee 1970, e o JJ tentando captar alguma sutileza de design.

A mais bela das carrocerias Chrysler: Charger de 1968 a 1970.

Este meu pai teve um. Um Dodge britânico: Polara, ou apenas 1800 por aqui, Hillman Avenger na Ilha dos Entusiastas.


Azul é a cor. A Víbora na minha cor preferida. Acima e abaixo.

JJ
O evento foi sensacional. Nunca vi tantos Mopars juntos. A qualidade dos carros estava incrível.

Muitos Chargers e Darts nacionais lindíssimos e perfeitos. Além dos importados Chargers, Challengers, Cudas e outros impecáveis.

Aí estão algumas fotos. Logo coloco outras.
































"Quando o demônio quer dar corpo à maldade, celestial aparência lhe empresta."

Iago, vilão da peça "Otelo", escrita por Shakespeare em 1605.

MAO
Pergunte a uma pessoa qualquer na rua qual é o carro mais fantástico que existe, e a resposta provavelmente será Ferrari. Nem vale a pena falar aqui sobre a fama e glória da empresa; todo mundo está calvo de saber.

Mas depois do JJ postar seus sentimentos mais íntimos a respeito dos carros vermelhos da terra de Pavarotti, e a polêmica que se seguiu, me senti compelido a divagar um pouco sobre o tema.

Quando se fala sobre Ferrari, a primeira coisa que devemos entender é o seu criador, Enzo. Coberto por uma mística e uma cortina de fumaça de santidade inabalável, o homem com o nome Ferrari ainda é uma incógnita para a maioria das pessoas. A história oficial é tão difundida que a maioria das pessoas parece acreditar que o narigudo foi uma espécie de anjo que desceu dos céus apenas para nos brindar com seus incríveis automóveis. Obviamente, o leitor inteligente deve imaginar que a verdade deve estar muito longe disso...

Enzo na verdade era muito parecido com um cartola de futebol. Um Eurico Miranda dos automóveis, um Vicente Matheus da Fórmula 1. Gostava genuinamente da competição, de esportes, de ganhar, de conseguir gente boa para seu time. E era excepcionalmente bom nisso. Para quem acompanha a Fórmula 1, não há como não compreender a dimensão das glórias esportivas da marca.

Mas Enzo era um néscio a respeito da técnica dos automóveis. Não entendia nada sobre o funcionamento deles, na realidade, e por repetidas vezes cunhou frases absurdas que, ditas sem nenhum tom de brincadeira, de comédia, demonstram um profundo desconhecimento sobre o tema. Achava que apenas os motores eram importantes, o resto era frescura, de pneus a freios, passando por aerodinâmica e suspensões.

E como um bom cartola esportivo, seu caráter e suas motivações eram simplesmente o dinheiro e a auto-promoção. Criou um verdadeiro pedestal para si, e nele subiu para nunca mais descer, se achando superior aos meros mortais; usava as pessoas como coisas e desprezava completamente suas contribuições para a construção de sua marca. Era bebedor de lambrusco, flatulento, mas apesar da lábia irresistível, uma pessoa pouquíssimo confiável. Foi um pai ausente para seu único filho legítimo, Dino, mas depois da sua morte criou uma aura de tragédia pessoal para si que apesar de verdadeira, tinha muito de operesco e teatral.

Mas os carros que criou sempre foram fantásticos, ainda que pelo fato de que não foram criados por ele. Principalmente nos anos 50 e 60, onde eram na verdade carros de competição que eram vendidos a playboys endinheirados sedentos pela aura glamorosa das competições de Fórmula 1. Nervosos, irrascíveis e problemáticos, mas estupidamente vocais, velozes e avassaladoramente carismáticos, Ferraris eram irresistíveis.

Mas hoje em dia muito mudou. Ferraris são agora fantásticos tecnicamente, depois que, com a morte do Comendador em 1988, a Fiat finalmente pôde fazer da Ferrari um laboratório, e criar um centro de tecnologia avançada dentro de seus portões que a tornou, finalmente, tão habilidosa na tecnologia automobilística quanto seu arqui-rival de Stuttgat-Zuffenhausen.

Hoje os carros Ferrari praticamente não tem pares no mundo automobilístico. São coisas maravilhosas, onde a técnica apurada e a tecnologia de ponta se juntam ao artesanato industrial e ao desenho italiano de Sergio Pininfarina, para criar um carro ao mesmo tempo assustadoramente potente, vocal e veloz, mas também luxuoso, dócil, climatizado e perfeitamente usável. Motores irresistíveis em carros impecáveis, vestidos em couro belíssimo e alumínio esticado sobre os músculos como uma roupa de nadador moderna.


Mas infelizmente se tornaram mais do que automóveis. Seus preços são assustadoramente altos, e são tratados como se fossem algo sagrado e intocável. Preferidos hoje por jogadores de futebol, pagodeiros e novos ricos espalhafatosos, é inacreditável lembrar que, quando eram carros mais anti-sociais e temperamentais, eram montaria de príncipes e do jet-set internacional. Vai entender...

Mas o fato é que hoje os carros se tornaram tão reverenciados e caros que são impossíveis de se usar de verdade. Viraram um símbolo de status, um objeto de cobiça dos mais tolos, o que tornou-os, por falta de palavras melhores, bregas e cafonas. Eu hoje, mesmo que tivesse dinheiro para tal, não conseguiria nunca comprar um destes carros. Chamam a atenção demais para o dinheiro que se tem, e isto para mim é um exagero, um hábito mais característico para um pavão do que para uma pessoa normal. Fora o fato de que um Corvette ZR1 pode fazer tudo que um Ferrari Enzo faz, por uma fração de seu preço.

Mas tenho que admitir que, ainda assim, tenho um desejo incontrolável, daqueles que chegam a doer fisicamente, por 275 GTB’s e Daytonas... Os Ferraris antigos eram geniais.



Na realidade, sempre gostei mais dos Porsches, que são menos pavão e mais águia. Eficiência exata ao invés de luxúria exagerada. Talvez também pelo fato de que, ao contrário de Enzo, os Porsche e Piëch são uma dinastia de engenheiros, tenha mais empatia pelos alemães. Mas o fato é que, estranhamente, o pessoal aqui do blog parece concordar comigo e também preferir o Porsche. Por que será?

Eu acho que tem a ver um pouco, de novo, com o exagero; quando algo é caro demais, veloz demais, belo demais, famoso demais, um pouco de sua excelência se perde nessa própria fartura.

Como sempre, pode-se encontrar uma maneira melhor de dizer qualquer coisa na obra do bardo de Strattford-upon-Avon. Desta vez, encontrei-o na voz do bom Frei Lourenço, na clássica tragédia de amor “Romeu e Julieta”:

“O mel mais delicioso e mais doce é repugnante por sua própria delícia.”

MAO