Outro dia numa viagem a trabalho eu assisti vários podcasts automobilísticos durante o voo. Os mais legais são da revista Autocar e de um tal de Motoman que descobri recentemente.
Dois deles me deixaram um pouco pensativo sobre minha vida. Foram entrevistas com Bob Lutz e com o Ralph Gilles em que eles contaram a trajetória de suas vidas e o seu envolvimento com carros, na verdade paixão. A história do Lutz é riquíssima e marcada por muita perseverança, embora não pareça. O menos conhecido Ralph Gilles, hoje presidente da Dodge nos Estados Unidos. Entrou na Chrysler como designer e foi o responsável pelo 300C, Magnum e Charger, além de ter trabalhado nessa última geração do Viper. Ambos tem histórias de sucesso inegável no mundo do automóvel e suas estrelas brilharam mais do que a de tantos outros autoentusiastas. Que coisa maravilhosa ter sucesso profissional fazendo exatamente aquilo que se ama. Fiquei de certa forma um pouco entristecido por não ter conseguido o mesmo, pelo menos até agora. Guardei esse sentimento.
O generoso primo Arnaldo deixou aqui em casa um filme. Me ligou e disse: "Pega aí na portaria e assiste, é fantástico". Demorei um mês para fazer isso! Acabei de assisti-lo. Ele mudou o meu sentimento anterior. Love the beast, estupidamente traduzido por alguém que não entendeu nada do filme, se chama aqui no Brasil Paixão pela velocidade. Trata-se da história da paixão do ator australiano Eric Bana, de O Incrível Hulk, pelo seu Ford Falcon XB Coupe. Apenas os autoentusiastas natos é que podem entender o filme.
Dirigido pelo próprio Erick Bana, numa mescla de imagens amadoras e outras feitas para o filme, ele pilota o XB no incrível rali Targa Tasmania e colhe depoimentos de várias pessoas, inclusive de um psicólogo, para falar dessa paixão maluca que os autoentusiastas sentem. Tem depoimentos do Jeremy Clarkson e do Jay Leno. Achei que ambos são totalmente insensíveis e não sentem paixão verdadeira. Na edição, que é de primeira qualidade, o filme ainda faz referências a outro clássico, o Grand Prix. Tem mais uma coisa que gostei no filme: o carro, ou a paixão por ele, é um catalisador de amigos.
Minha ideia aqui não é contar o filme no intuito de convencer ninguém a gastar um dinheiro para comprá-lo e tê-lo na coleção. Para quem é leitor do AUTOentusiastas meia palavra basta. Custa R$ 24,90 na Saraiva.
Mas o que mudou o meu sentimento relacionado aos podcasts? O fato de que no filme fica claro que o bem-sucedido trabalho de ator não é exatamente o que move o Eric Bana. É apenas um meio para que ele possa desfrutar sua verdadeira paixão. No meu caso tenho desfrutado a minha de uma maneira mais modesta, fazendo esse blog com amigos especiais e leitores que também sentem o mesmo tipo de paixão.
Fiquei aliviado.
Bom filme.
PK