A marca Mercury foi criada pela Ford em 1939 para preencher a lacuna entre a popular Ford e a luxuosa Lincloln. Ou seja, não foi uma marca que nasceu do sonho de algum entusiasta em fabricar automóveis como a Buick e a Oldsmobile, que depois foram compradas/absorvidas pela GM. A Mercury nasceu apenas por uma necessidade de mercado, ou para aproveitar melhor o mercado.
Hoje li a notícia de que a Ford anunciou o encerramento da marca Mercury. De pronto reagi com certa indiferença. Agora estou aqui pensando no porquê dessa indiferença e se haveria razão para eu ficar triste.
Hoje li a notícia de que a Ford anunciou o encerramento da marca Mercury. De pronto reagi com certa indiferença. Agora estou aqui pensando no porquê dessa indiferença e se haveria razão para eu ficar triste.
Lembrei de quando descobri a marca. Foi em meados dos anos 1980 no filme "Cobra", do Stallone. O policial machão tinha um Mercury (Eight) 1950 customizado que ele destroi durante uma perseguição. Cinza chumbo, teto rebaixado, calotas fechadas e tomadas de ar no capô. Só descobri a marca e o modelo do carro algum tempo depois. E o carro do filme era equipado com um motor Chevrolet! Esse Mercury Eight / Ford 49 parece que foi feito para ser customizado. É difícil ver um modelo original, que já é lindo sem nenhuma mexida.
Outro modelo que não poderíamos deixar de lembrar é o Cougar, o Mercury mais famoso. Lançado em 1967, era um Mustang de luxo com entre-eixos alongado, uma grade bem diferente, que alguns acham que lembra um barbeador, e faróis escondidos atrás da grade. Mas nessa primeira geração não havia um fastback!
Uma das versões mais legais foi a Eliminator e talvez a mais popular a XR-7. Uma das coisas que acredito que todos gostam no Cougar é o emblema do gatuno pronto para o ataque. Felinos selvagens em posição de ataque são assustadores e sua associação com carros mais agressivos é recorrente.
Em 1999 ressuscitaram o Cougar, com uma versão cupê do Mondeo, que a meu ver foi bem fraquinha e só durou até 2002. Gastaram tempo e dinheiro à toa. Sua propaganda, nada empolgante, já apareceu em outro post. Entre 1967 e 1999 houve mais sete gerações, quase todas horríveis. A única mais interessante foi a segunda geração, do início dos anos 1970, que ainda usava a base do Mustang e tinha um apelo mais muscle.
Em 1999 ressuscitaram o Cougar, com uma versão cupê do Mondeo, que a meu ver foi bem fraquinha e só durou até 2002. Gastaram tempo e dinheiro à toa. Sua propaganda, nada empolgante, já apareceu em outro post. Entre 1967 e 1999 houve mais sete gerações, quase todas horríveis. A única mais interessante foi a segunda geração, do início dos anos 1970, que ainda usava a base do Mustang e tinha um apelo mais muscle.
Mais recentemente, no último encontro de antigos de Águas de Lindoia conheci de perto o Mercury Cyclone, um derivado do Ford Torino. Foi um dos modelos que mais gostei desse encontro, juntamente com Buick Riviera. É agressivo e tem uma frente antipedestre, inclusive com uma mira para assustar quem o vê pelo retrovisor. Essa frente foi inspirada no horroroso carro conceito Ford Tridon. Ainda houve um Cyclone que correu na Nascar em 1969 com motor Boss 429 com mais de 600 cv.
Também no encontro de Lindoia de 2010, na parte de carros à venda, o MAO me apontou um Mercury Monterey. Confesso que de longe achei que fosse um Buick, mas o MAO logo me corrigiu. Aproximamos-nos e eu acabei descobrindo um modelo 1958 Turnpike Cruiser muito interessante. O desenho exagerado da carroceria é repleto de detalhes únicos que me atraíram.
Vidro traseiro protegido pela capota
Detalhe da lanterna traseira
Tomada de ar no topo da coluna "A" e para-brisa curvado
O vidro traseiro, que é protegido pela capota, desce como o vidro das portas. Olhando pelo vidro reparei no acionamento da caixa automática por meio de botões vendido como Merc-O-Matic. Coisas de uma época onde a automação começou a ganhar força. Tudo que era automatizado ganhava um nome terminando com O-Matic. Ainda existiam outros acessórios que se destacavam na época.
Seletor de marchas por botões
Monitor ajustável de limite de velocidade com aviso sonoro
Bancos com ajustes elétricos e memória
Sistema de lubrificação para suspensão e direção
Por fim acabei de lembrar do Marauder. Apesar de ter existido nos anos 1960 o modelo que me lembrei foi o do início dos anos 2000, que durou apenas de 2003 a 2004. Nada mais era do que uma versão mais esportiva do Grand Marquis / Ford Crown Victoria, as famosas barcas usadas pela polícia americana. Lembra um pouco o que a GM fez com o Buick GS. Apesar de ter um ar mais entusiasta ,foi mais uma tentativa sem nexo da Ford em dar alguma sobrevida para a Mercury.
Marauder 2003
Esses são os modelos de que eu consegui me lembrar. Devem existir outros muito interessantes também. Mas minha conclusão é que a Mercury nunca teve a mesma relevância que outras marcas já mortas como a Pontiac, Oldsmobile e talvez Plymouth, que teve muitos carros interessantes para nós autoentusiastas.
Se considerarmos a linha atual de produtos da Mercury é fácil de perceber que a marca já não faz mais sentido. Matando a Mercury sobra mais tempo e recursos para Ford trabalhar melhor a Lincoln como a GM está fazendo com a Cadillac.
Portanto se a Mercury que nasceu por uma necessidade de mercado e agora o mercado não precisa mais dela, não há motivo para tristeza. A bem da verdade, a Mercury já estava morta faz tempo.
PK