O jornalista Boris Feldman, editor de Veículos do jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte, publicou na semana passada comentário sobre extintores de incêndio que bem mostra a roubalheira a que estamos sujeitos na velha e absurda questão da obrigatoriedade do extintor de incêndio nos automóveis. Considero a nota oportuna para o leitor do AUTOentusiastas e ela segue transcrita, com a devida autorização do autor.
Bob Sharp
Editor-chefe
AUTOentusiastas
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"O GOLPE DO EXTINTOR
Comentei semana passada sobre o “golpe” do extintor. Confira
no seu carro: se for do tipo BC, não importa a validade de cinco anos, pois
terá que ser jogado no lixo e substituído por um ABC, obrigatório a partir de
janeiro de 2015. E cuidado para não empurrarem a você um BC bem barato, pois as
lojas querem se livrar do estoque. Exija um ABC. Caso contrário, multa de R$
127,69 e cinco pontos no prontuário.
O comentário gerou críticas:
alguns leitores entenderam que eu defendia o extintor no automóvel, mas foi
apenas um alerta para ninguém cair no conto do vigário e levar outro do tipo
BC, que só vale até dezembro de 2014. Extintor é uma aberração e não defendo
sua obrigatoriedade no automóvel. Na verdade, só mesmo alguns países
incoerentes e corruptos como o Brasil ainda exigem o extintor, mesmo com a
injeção eletrônica. Depois que ela eliminou carburador e distribuidor, uma
dupla que até parece ter sido projetada para botar fogo no carro, são raros os
incêndios em automóveis modernos. Fogo, só mesmo em Kombis e Fuscas...
Extintor sempre foi
controvertido. Obrigatório desde 1968, o motorista dificilmente se lembra de
onde fica e tem dificuldade para operá-lo corretamente. Pior: raramente tem
eficiência ao combater incêndio em automóveis. Sua exigência foi motivada por
um poderoso lobby de fabricantes que pressionou o Contran para estabelecer sua
obrigatoriedade. Outros países aboliram o extintor quando o carburador foi
substituído pela injeção eletrônica. E o inacreditável: em vez de abolir o
equipamento, a exigência agora é por outro, mais caro e sofisticado.
Há 10 anos, não satisfeitos de
encher as burras com o bilionário faturamento de milhões de extintores, seus
fabricantes carregaram para Brasília mais alguns “argumentos poderosos“ e
conseguiram emplacar no Contran uma outra resolução, desta vez exigindo um novo
modelo de extintor. E a lei mudou em 2005, começando pelos veículos
zero-quilômetro. Mas, até o fim deste ano, todos os automóveis terão de
substituir os extintores pelos do tipo ABC. Sentiu a mão entrando duas vezes no
seu bolso? Depois de utilizado ou dos cinco anos de validade, o ABC não é
reciclável nem recarregável e tem que ser descartado e substituído por outro
novo. Pode?
Fácil ganhar dinheiro com
extintores no Brasil, não? É só multiplicar por R$ 50 (custo dele no mercado)
as dezenas de milhões de veículos que ainda têm os antigos, mais os carros na
linha de montagem e mais as substituições dos ABC vencidos para se ter uma
idéia de quantas centenas de milhões de reais são faturados às custas — como
sempre — do indefeso cidadão brasileiro. Um incalculável faturamento originário
de um equipamento que, de pouco eficiente na época do carburador, tornou-se
quase inútil com a injeção eletrônica dos automóveis modernos."