google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)



O Tio explica: você já pode ter visto esta matéria em outras publicações, como MotorShow, Full Power, Folha de S. Paulo, O Tempo de Belô.... Porém, esta é a versão completa, sem cortes e sem censura, a menos que o Bob esteja de mau humor. Depois que interrompemos a revista Oficina Mecânica, alguns coleguinhas alegam que eu virei uma prostiputa. Mentira. Apenas assumi uma velha vocação.

Na hora de encarar 640 cv numa pista de competição não tem jeito. Por mais “meretriz idosa” que seja o piloto, sempre aparece um frio na barriga e o coração dispara. O ronco do motor bem na sua orelha (são 10 cilindros em "V" com dois escapes bem nas portas, descarregando cinco cilindros de cada lado) provoca uma mistura estranha de receio e vontade de acelerar.

Foto: skyscrapercity.com


Embalado pela recente viagem pela Califórnia e pelo súbito aumento das passagens de avião neste final de ano, resolvi aventurar-me e ir de Brasília a Recife de carro para passar as férias.

Nesta viagem, fiquei reparando o quanto os motoristas são despreparados para dirigir em estrada. Não que isto seja culpa deles: quem na auto-escola (atualmente chamada de CFC, Centro de Formação de Condutores) aprendeu alguma coisa sobre como se dirige em uma rodovia? Ninguém, pelo contrário, lembro-me que nos meus tempos de auto-escola não se pegava sequer uma via expressa e não era permitido usar a quarta marcha e nem passar de 60 km/h. A auto-escola nada mais era do que um curso de como passar na prova do Detran: Ensinava baliza e ladeira porque isso era pedido na prova, mas como esta não incluía rodovias, este assunto sequer era cogitado.

Isto me deu a idéia de escrever este post e compartilhar com os leitores um pouco da experiência de o que é dirigir em uma rodovia.  
Foto: Paulo Sérgio Vieira Filho

Ônibus urbano (foto meramente ilustrativa)


Aqui onde moro, mesmo no 18º andar, escuto bastante o tráfego e noto constantemente como os motoristas de ônibus trocam de marcha. Boa parte deles dá uma boa patinada de embreagem a cada troca, percebo isso a cada arrancada do ponto. Não posso afirmar se é de propósito ou é inabilidade mesmo, mas o fato é que o desgaste da embreagem, especificamente o disco, aumenta desnecessariamente com essas patinadas, o que acaba incidindo em maior custo de manutenção e influenciando nas tarifas.

Desde que me entendo por motorista, e isso bem antes dos 18 anos, procuro me esmerar nessa operação relativamente simples e transmiti-la aos familiares ou amigos.

Começa pelo princípio básico de que a embreagem só deve patinar ao arrancar com o veículo e é exatamente para isso que ela existe – e não para trocar marchas, como muitos erroneamente supõem. Seu uso nas trocas de marchas é função secundária. Sempre digo, para explicar bem isso, que um carro pode não ter caixa de câmbio, ter somente embreagem, mas nunca o contrário.
(Foto: Paulo Keller)


E assim se passaram quase dois anos com o XK120 vivendo na fazenda. Nos fins de semana, feriados e férias saíamos para passear. Quer coisa melhor para um carro esporte velho de guerra e ainda gozando de plena saúde? Bom descanso num fresco barracão de fazenda, cabos da bateria desconectados, lençol velho cobrindo suas linhas curvas, e volta e meia aparecendo um animado rapazote para o descobrir, lavar, polir, olhar níveis da água, óleo de cárter, fluido de freio, pressão dos pneus, e o levar para passear, correndo sob sol forte ou intermináveis noites frias. 

Nada de trânsito, nada de montes de carros ao seu redor, e só volta e meia um racha com algum ignorante que ousasse desafiá-lo. Era sair dali do barracão, esquentar o massudo seis-cilindros, fazendo com que os onze litros de óleo do cárter lhe circulassem pelas veias, e seguir por uma estradinha de pedregulhos para logo sair para a vazia estrada de asfalto.  

Rodar com ele pela estradinha de pedregulho, lembro bem, era rodar bem devagar para a poeira não subir, era cuidadosamente desviar de cocô de vaca, era ir devagar mesmo. As árvores da avenida da fazenda se refletiam no brilhoso longo capô. Nessas, crescia a ansiedade pela saída ao asfalto, como se cada árvore que passasse contasse um ponto a mais no nível de ansiedade.