google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)


Há algumas semanas (aqui), o Marco Antônio Oliveira (MAO) atendeu a um pedido do leitor Marlos Dantas e contou a estória de sua Parati Turbo, com pintura sem cor (preto, como ensina a Ótica), um carro funerário miniatura com secador de cabelo (turbo) no motor. A parte mais incrível da história, para mim, foi imaginá-lo saindo da loja dos Ford e indo para a dos VW, segundo o MAO, movido pela emoção, e não pela razão. Para mim, é mais ou menos como sair de um parque de diversões e entrar em um velório. Isso em 2002, quando não havia ainda a menor probabilidade de se deparar com um Touareg.
Como poderia alguém de nosso tipo, entusiasta por carros, achar que um Focus é uma compra menos emotiva, mais lógica que uma peruinha Parati? Justo o Focus, projetado por entusiastas!
A perua Parati só vende para quem é fanático por VW, e sabemos que fanatismo de qualquer tipo desconhece a razão. Ou para algum cliente distraído, alheio às opções do mercado.
Sempre foi um carro que cumpre a função de transporte apenas, sem empolgações, como quase todo VW continua sempre sendo, com exceções notáveis, a maior delas o Touareg, aquele Porsche Cayenne disfarçado com a marca do carro do povo, um carro em que eu teria prazer de gastar meu dinheiro.
Parati, esse Volkswagen velhinho, bem velhinho, que pouco vende há vários anos, deixou de ser o modelo mais vendido da categoria, depois que a Fiat trabalhou o Palio Weekend para valer, outro carro que não tem nada notável, mas é administrado por um marketing e um departamento de estilo dos mais competentes, que atuam para chamar a atenção do consumidor.
Volkswagens feitos no Brasil são carros resistentes, não há dúvida. A VW experimenta suas evoluções na rua, já que não tem campo de provas, e isso dá uma dimensão exata da pauleira que são ruas e estradas brasileiras. Testar nas ruas e estradas, ou no que se parecem com estradas, permite encontrar falhas de projeto rapidamente.
Me lembro dos primeiros Gols a água sendo testados abertamente em bairros próximos à Via Anchieta, antes do lançamento. A carroceria já era conhecida, mas bastava escutar o motor para ver que era "de Passat", como dizíamos na época de adolescentes. A caminho do colégio técnico, os vi quase diariamente por vários meses. Trafegando em ruas horrorosas, cheias de buracos e remendos, os motoristas de teste não aliviavam o pé.
Por essa afamada confiabilidade e durabilidade, os VW possuem o famigerado "valor de revenda", considerado o melhor de todos entre os nacionais. Os ladrões de carros também sabem disso, e Parati foi um dos carros mais sinistrados por muito tempo. As seguradoras também sabem, e uns cinco anos pagando seguro de Parati dava para comprar outra nova (exagerando). Aliás, algum ladrão de carros poderia me explicar por que se rouba tanto VW? Se eles não quebram, quem compra as peças?
Sabendo que não se desenvolve Volkswagens em ambientes artificiais e controlados como pistas de provas, como explicar o defeito crônico da polia variadora de fase que afligiu praticamente todos os carros  turbo produzidos? O que pode ter ocorrido para uma fábrica desse porte e história lançar um carro com defeito?
Na minha opinião, apenas a vontade de faturar alto o mais rápido possível, e tão alto que pagava facilmente as trocas em garantia, de uma, duas ou mais polias. Depois de finda a garantia, o dono que se vire, ora!
Fez bem o MAO de vender logo o carro. Matou a vontade do brinquedo e depois comprou um carro de verdade. Bela evolução pessoal.
JJ

A notícia de que a BMW apresentará um modelo de tração dianteira foi mesmo surpreendente. Principalmente para quem acredita que fabricantes se atenham a uma filosofia de projeto.
Ainda me lembro quando a Alfa Romeo anunciou o Alfasud, de motor boxer refrigerado a água e tração dianteira, em 1971. Foi um choque. A marca era de carros de tração traseira! Foi fracasso? Até que não, vendeu 1,015 milhão de unidades, se bem que em 18 anos. O VW New Beetle vendeu isso em onze.
A Porsche tem duas filosofias para seus carros esporte: motor traseiro-central e motor "na rabeta". Foi assim desde os primeiros dias, com o 356/1 e 356/2. Hoje, passados 62 anos, continua assim, com o Boxster/Cayman e 911, respectivamente.
Foi comentado por um leitor (Paulo Levi) no post do Miton Belli "Não faz diferença, para muitos..." que a Subaru se atém à fórmula motor boxer e tração integral. Corretíssimo! A fábrica japonesa pertence ao conglomerado de transportes Fuji Heavy Industries (FHI), do qual a Toyota Motor Corporation detém 16,5% do capital. Foi a primeira marca a produzir em série carro de tração integral, isso em 1972, oito anos antes do Audi Quattro. Como a instalação do motor boxer sempre é longitudinal, a Subaru argumenta, com razão, que as forças de tração dos seus carros são simétricas, já que as semi-árvores de tração podem ser de mesmo comprimento. Nesse ponto, Porsche e todos os carros de motor longitudinal se beneficiam de simetria. Mas será isso uma regra imutável? Não é.
Há determinados carros de tração dianteira de motor transversal em que as duas semi-árvores também são de mesmo comprimento, por meio de um artifício totalmente lícito: há uma árvore, apoiada em mancal próprio no subchassi, que sai do transeixo e a partir desse mancal é que se conecta, via  uma junta homocinética, a semi-árvore de tração do lado direito propriamente dita.
Há vários exemplos de excelência de tração dianteira e um que me vem à mente é o Jetta. A arquitetura é a mesma do Golf de quinta geração, com suspensão traseira multibraço. Ao dirigir o  VW Jetta (5 cilindros/2,5 litros/170 cv), que é feito no México e trazido para o Brasil, fica-se realmente em dúvida se a tração traseira é tão importante num carro de rua como se costuma dizer. O comportamento desse VW é exemplar em todas as situações. Esquece-se que a tração é dianteira ou, dito de outra forma, não ter tração traseira não faz a menor falta.
Nem a tração integral do Subaru: nos anos 1990, quando na revista Autoesporte, testei o Impreza de tração só dianteira e achei-o perfeito. Foi uma comparação com o Impreza AWD,  de mesmo motor que o FWD.
Muitos leitores sabem que já fui sócio de concessionária VW no Rio de Janeiro, de 1967 a 1978. Portanto, peguei em cheio a chegada do Passat, em 1974. Pois do mesmo modo que BMW diz que 80% dos donos de Série 1 acham que a tração do modelo é dianteira, uma parte expressiva dos donos de Passat -- a maioria egressa dos VW de motor traseiro -- achava que as rodas motrizes do novo VW eram as traseiras. Ao saberem que eram as dianteiras, ficavam estupefatos.
Isso corrobora o que o Milton disse, que a BMW tem capacidade projetar e fabricar um ótimo tração-dianteira. Ou o que eu escrevi para o Jornauto, que a VW entrou num terreno virgem para ela e já saiu produzindo o supressumo: a picape Amarok. Exatamente o que a Porsche fizera em 2002, com o utilitário esporte Cayenne.
BS


Recentemente rodou uma informação pela internet que a BMW possuía uma pesquisa que indicava que 80% dos proprietários do modelo Série 1 acreditavam possuir um carro com tração dianteira. Veja um texto sobre isso aqui.
Isso nos faz pensar um pouco. Imaginando que a BMW, famosa por criar veículos de qualidades dinâmicas inquestionáveis e sempre com a filosofia de tração traseira, ou mais recentemente o uso da tração integral, está com clientes que não fazem ideia do que possuem, o que será dos outros carros mais simples?
Vamos pensar na nossa realidade tupiniquim. Sabemos que o motorista médio é lastimável, tanto no quesito conhecimento do automóvel, como na condução do seu veículo. Achamos que é piada quando ouvimos dizer "Oleo? Precisa trocar?", mas muitas vezes não é. OK, ninguém precisa saber a teoria dos ciclos termodinâmicos do motor a combustão interna para ter um carro, mas o mínimo é necessário, até por questões de segurança.
Cada vez menos as pessoas sabem o que possuem, e acredito que isso é "causado por uma solução". Dificilmente hoje um carro novo quebra, e se não quebra, o dono não precisa abrir o capô pra olhar (e mesmo porquê, com a eletrônica embarcada, não vai resolver mesmo), e se ele não precisa abrir o capô, não precisa se preocupar em entender como as coisas funcionam ou o que é que está lá bem escondido sob as chapas metálicas e acabamentos plásticos.
E não digo que é sem razão. Pra que eu me preocuparia com uma coisa que não quebra? Está lá funcionando, e no pior dos casos, se quebrar, chamo o guincho e mando pra concessionária arrumar. Simples.
Mas nessa é que vamos perdendo os pontos pelo caminho. Chamar um BMW de tração dianteira há dez, quinze anos atrás era um sacrilégio. O carro muitas vezes era comprado por justamente ter uma arquitetura diferente dos novos padrões, com tração traseira e motor longitudinal, um modelo entusiástico com bom comportamento dinâmico.
Hoje o Série 1 é um dos carros mais divertidos de se guiar, especialmente o 130i seis-cilindros. Muito equilibrado, forte e só coloca sorrisos no rosto de quem o dirige. Totalmente entusiástico. Mas pelo jeito, não mais. Caiu na massificação de quem não sabe e não está nem aí para o que compra.
E para completar, a BMW anunciou o lançamento de uma plataforma com tração dianteira. Onde vamos parar?
MB



Ocorre o subesterço quando o veículo aumenta o raio da curva, pela perda de aderência das rodas dianteiras. É a popular "saída de frente", muito comum em carros de rua e adotada como acerto original até mesmo em superesportivos, por ter uma correção mais fácil que o sobreesterço, ou "saída de traseira".
O festejado piloto alemão Walter Röhrl tornou a definição mais simples e didática: "Quando você consegue olhar a árvore na qual vai bater, é subesterço. Quando você apenas consegue sentir e ouvir a batida, é sobreesterço".
FB