Há algumas semanas (aqui), o Marco Antônio Oliveira (MAO) atendeu a um pedido do leitor Marlos Dantas e contou a estória de sua Parati Turbo, com pintura sem cor (preto, como ensina a Ótica), um carro funerário miniatura com secador de cabelo (turbo) no motor. A parte mais incrível da história, para mim, foi imaginá-lo saindo da loja dos Ford e indo para a dos VW, segundo o MAO, movido pela emoção, e não pela razão. Para mim, é mais ou menos como sair de um parque de diversões e entrar em um velório. Isso em 2002, quando não havia ainda a menor probabilidade de se deparar com um Touareg.
Como poderia alguém de nosso tipo, entusiasta por carros, achar que um Focus é uma compra menos emotiva, mais lógica que uma peruinha Parati? Justo o Focus, projetado por entusiastas!
A perua Parati só vende para quem é fanático por VW, e sabemos que fanatismo de qualquer tipo desconhece a razão. Ou para algum cliente distraído, alheio às opções do mercado.
Sempre foi um carro que cumpre a função de transporte apenas, sem empolgações, como quase todo VW continua sempre sendo, com exceções notáveis, a maior delas o Touareg, aquele Porsche Cayenne disfarçado com a marca do carro do povo, um carro em que eu teria prazer de gastar meu dinheiro.
Parati, esse Volkswagen velhinho, bem velhinho, que pouco vende há vários anos, deixou de ser o modelo mais vendido da categoria, depois que a Fiat trabalhou o Palio Weekend para valer, outro carro que não tem nada notável, mas é administrado por um marketing e um departamento de estilo dos mais competentes, que atuam para chamar a atenção do consumidor.
Volkswagens feitos no Brasil são carros resistentes, não há dúvida. A VW experimenta suas evoluções na rua, já que não tem campo de provas, e isso dá uma dimensão exata da pauleira que são ruas e estradas brasileiras. Testar nas ruas e estradas, ou no que se parecem com estradas, permite encontrar falhas de projeto rapidamente.
Me lembro dos primeiros Gols a água sendo testados abertamente em bairros próximos à Via Anchieta, antes do lançamento. A carroceria já era conhecida, mas bastava escutar o motor para ver que era "de Passat", como dizíamos na época de adolescentes. A caminho do colégio técnico, os vi quase diariamente por vários meses. Trafegando em ruas horrorosas, cheias de buracos e remendos, os motoristas de teste não aliviavam o pé.
Por essa afamada confiabilidade e durabilidade, os VW possuem o famigerado "valor de revenda", considerado o melhor de todos entre os nacionais. Os ladrões de carros também sabem disso, e Parati foi um dos carros mais sinistrados por muito tempo. As seguradoras também sabem, e uns cinco anos pagando seguro de Parati dava para comprar outra nova (exagerando). Aliás, algum ladrão de carros poderia me explicar por que se rouba tanto VW? Se eles não quebram, quem compra as peças?
Sabendo que não se desenvolve Volkswagens em ambientes artificiais e controlados como pistas de provas, como explicar o defeito crônico da polia variadora de fase que afligiu praticamente todos os carros turbo produzidos? O que pode ter ocorrido para uma fábrica desse porte e história lançar um carro com defeito?
Na minha opinião, apenas a vontade de faturar alto o mais rápido possível, e tão alto que pagava facilmente as trocas em garantia, de uma, duas ou mais polias. Depois de finda a garantia, o dono que se vire, ora!
Fez bem o MAO de vender logo o carro. Matou a vontade do brinquedo e depois comprou um carro de verdade. Bela evolução pessoal.
JJ