A situação do trânsito na cidade de São Paulo é um assunto de todos os dias para quem aqui vive. Começamos a nos parecer ingleses falando sobre o tempo. Vai ver que é porque agora chove todo dia aqui também.
É algo tão normal e corriqueiro perder horários e compromissos que nem mais se reclama para valer quando isso ocorre. A passividade de todos nós é total. Aliás, reclamar é algo que quase não se faz no Brasil. Quem reclama é tido erroneamente como chato, velho ou pessimista.
Nossas autoridades de trânsito não demonstram nenhuma preocupação com o sofrimento e prejuízo da população. Somos apenas aqueles que devem participar do orçamento previsto com o pagamento de multas. Apenas isso e nada mais. Se conseguimos ou não nos deslocar com eficiência, pouco importa. Azar nosso, que precisamos nos deslocar para trabalhar. Se permitem mais um aliás, porque o carro é considerado "de passeio"? Todo mundo que anda de carro está passeando?
Voltando à mixórdia, o trânsito, aqui na cidade grande e em todos os outros lugares do Brasil, é apenas um reflexo do comportamento do povo que habita esse solo: educação limitada ou nula; desejo incontrolável de ser beneficiado em tudo, mesmo que isso signifique prejudicar o próximo; comportamento infantil que faz motoristas se acharem sempre que o mundo se resume a eles e seu carro apenas, e outras características mais contundentes que não valem a pena ser detalhadas.
Se colocarmos os motoristas dos veículos extremos, motos e caminhões/ônibus, a coisa fica muito mais feia. O excesso de agilidade da moto, somado à falta de inteligêncial da maioria de seus condutores, provoca horrores a todo instante. Nos pesados, a ausência de preocupação de se ferir em um acidente com veículos menores torna esses motoristas os mais desleixados com o que está a seu redor.
Tudo isso faz o ato de dirigir, para o entusiasta, algo sofrível.
Difícil manter uma velocidade decente, pois o fluxo é sempre mais lento do que o aceitável. Difícil ser tolerante com quem mal tem habilidade para dirigir um carrinho de supermercado, e se posta em uma avenida marginal a 60 ou 70 km/h nas faixas centrais, e atravanca todo mundo. Difícil aguentar o condutor que não sabe utilizar os piscas ou os faróis baixos ou os retrovisores, e prejudica quem está por perto.
A lista de absurdos é muito extensa, e é democrática. Atinge todas as idades, sexos, níveis econômicos, religiões, tudo. Há motoristas muito ruins em qualquer lugar da cidade, em qualquer horário, com quaquer tipo de carro, profissionais ou amadores, não importa.
O que tento fazer é dar exemplos. Andar um pouco mais rápido que o fluxo lento, que anda abaixo do limite, ou ferrenhamente acreditando no velocímetro, me faz ultrapassar para mostrar que estão muito lentos. Usar farol baixo em qualquer situação de visibilidade diferente das perfeitas. Sinalizar com pisca a troca de faixa antecipadamente, e não apenas no momento da manobra. Passar nas lombadas eletrônicas e nas câmeras de arrecadação na velocidade mais próxima da permitida, e não 20 km/h abaixo. Sair rápido quando o semáforo mostra a luz verde. Não frear bruscamente só porque ficou amarelo. Não colar no carro da frente. Fugir das motos, que são um convite a acidentes. Fugir dos caminhões, que são um convite a grandes acidentes.
Tudo isso é difícil, mas é desafiador, e por isso gosto de dirigir também na cidade. Mas requer uma paciência de Dalai Lama.
Mas o Dalai Lama, se conhecesse e dirigisse em São Paulo, seria menos paciente, acho eu.
JJ