O André Dantas escreveu sobre a resolução do CONAMA, dos espertos fazedores de leis de nossa pobre Nação, que dá o pontapé final na absoluta inviabilização do uso do carro particular na cidade de São Paulo. O ótimo texto dele está
aqui.
Essa inviabilização, entendam bem, é da liberdade de ir e vir em qualquer dia, hora e por qualquer caminho que o cidadão deseje, já aniquilada em parte pelo decreto do rodízio municipal de placas, uma pequena ditadura com a qual convivemos há muitos anos.
Há muito tempo venho observando tudo que me cerca, e as crescentes dificuldades em ser cidadão honesto e que faz tudo dentro dos ditos "conformes": condominio pago em dia, taxas e impostos sem problemas, carros com manutenção decente, filho em escola particular, compras pagas quase sempre à vista, limitando muito o que temos em casa, já que parcelas e financiamentos, além de discursos de gerentes de bancos, me dão arrepios.
Contra essa minha corrente, minoritária eu sei, está a maioria que troca seus bens a qualquer momento e por qualquer motivo. Carros mais novos, com novas cores e emblemas mais coloridos, a "vantagem" do motor flexível em combustível, a televisão de plasma, de LCD, de LED, o celular que fala, escuta, fotografa, filma, manda e-mail, faz o almoço, etc. e um sem número de etceteras.
Voltamos à inspeção veicular de emissões de poluentes.
Os números mostrados pelo André dizem muita coisa, e o advento do carro velho que anda de qualquer jeito já pode ser verificado há muitos anos na periferia da capital paulista. Há uma migração de carros usados que vão ficando baratos, para os bairros e cidades da Grande São Paulo. Um exemplo que tenho bem claro é Ferraz de Vasconcellos, local onde visitava frequentemente. Há cerca de 10 anos, contei num trecho de 8 km entre a casa de um familiar e a rodovia Ayrton Senna, mais de 60 Fuscas, carro que já era minoria em São Paulo. As lojas de usados eram um espetáculo a parte, com todos os modelos que usávamos na década de 80 e 90 à disposição, em vários estados de conservação.
O Plano Macabro.
Pela observação e conversa com pessoas de vários níveis econômicos e culturais, eu enxergo um plano dos governos (municipais, estaduais e federais), obviamente não divulgado, que tem os seguintes tópicos :
1- pão e circo ao povo, para que se alimente e se divirta o máximo possível, e não tenha vontade de se informar nem de estudar.
2- sem informação, permanece-se ignorante, e gera-se descendentes igualmente marginalizados na informação, e sem gosto para o estudo.
3- facilidade para financiamentos de qualquer produto, e temos os planos de dezenas de meses para se comprar um carro novo. Os governos lucram em todas as extremidades dessa cadeia de produção e vendas de carros, passando pelos licenciamentos, inspeções, seguros, multas e tudo mais. Sabe-se que o carro novo é o maior desejo imediato da mairoria das pessoas.
4- facilidade para se conseguir a Carteira Nacional de Habilitação sem saber dirigir, como todos aqui sabemos.
5- insegurança total para a população, através de polícias pequenas em tamanho e equipamento, o que gera mais lucros através de contratação de serviços de segurança para casa, para a rua em que se mora, para o local de trabalho, seguro para casa, para carros, para tudo que se imaginar. Mais lucros para os governos, já que todos esses serviços recolhem impostos.
6- falta de fiscalização completa de preços de serviços como estacionamento, oficinas e similares onde o dono do estabelecimento fatura o quanto quer, sem que ninguém controle ou limite o valor a ser pago.
7- propaganda massiva de aparência de carros, sem fundos de verdade ou explicações técnicas. Faz-se de tudo para despertar a ansiedade da compra baseada em botõezinhos e acessórios muitas vezes inúteis, além de posição de dirigir elevada, e nada é dito sobre qualidade de peças de desgaste, procedência de pneus, amortecedores, ou outros componentes que fazem a alma e a qualidade de um carro.
8- somado a todas essas desgraças, as já comentadas multas e impostos, além dos rastreadores obrigatórios por lei, que no futuro, deverão medir a sua velocidade média em trechos, acabando de vez com o gosto e necessidade de uma maior velocidade do que a imposta pela sinalização. Seja por prazer, ou por motivo de saúde.
O quadro que temos é de cidades grandes cada vez mais entulhadas de carros novos, que pouco poluem, dirigidos por pessoas que mal sabem andar a pé, de motos barulhentas e irresponsavelmente conduzidas, de caminhões fumacentos que não tem caminhos melhores do que cortar essas cidades, de ônibus que entram em espaços onde cabe apenas um carro, de corredores de ônibus que atravancam o deslocamento dos carros, e por aí vai o quadro de infelicidades.
E o povo, se diverte com o circo e come o pão, com seu carro novo na garagem para o vizinho invejar e seu carnezinho na gaveta para pagar.
O panorama do futuro é macabro para quem gosta de carro.
Ou você entra para o rebanho escravo, ou será pregado na cruz dos fiéis ao entusiasmo automotivo.
Que a luz se faça.
JJ