
Mas dessa vez escapou, porque acho que ele se esqueceu de comentar sobre o banco traseiro. Eu, como sou preguiçoso, coloquei minha mulher pra guiar, com minha filha a seu lado, e me mandei pro banco de trás. Pra entrar atrás já meti uma cabeçada na borda da capota – cabeçada mesmo, de lado – e olha que sou de estatura mediana, 1,80 m, e não sou destrambelhado.

Sentado, ficava com a cabeça encostada no teto. É uma pena esse inconveniente, pois o carro é delicioso de guiar. Muito macio e silencioso. Parece um cadillaquinho de tão confortável para quem vai na frente. Quem quiser bom espaço no banco traseiro, e quiser um carro da marca, que opte pelo Logan, que é imenso atrás. O pecado do Symbol é esse.
Mas seu isolamento acústico e a boa suspensão são suas qualidades mais marcantes. Vale notar que os carros da marca, Logan, Sandero, Clio, Mégane, todos têm suspensão de primeira, que aliam o conforto à boa estabilidade.
Esse motor é dos bons. Muito elástico, bom de giro e de funcionamento liso. Anda pra burro e é bom de torque. Saindo com calma e no plano, a gente pode pular marchas (como disse, sou preguiçoso). No plano, basta levar o giro a 4 mil rpm, que, ao pularmos a marcha, a seguinte já entra na faixa de bom torque do motor. No plano e em 4ª marcha, a 1.800 rpm, basta uma acelerada que ele responde de pronto e acelera decidido. Isso é conforto, assim como é conforto suas marchas serem bem escalonadas e longas, adequadas à boa elasticidade do motor, e isso evita muitas mudanças.
A alavanca de câmbio é um pouco pesada, não prazerosa, e isso se deve ao acionamento por varão, como bem notou o Bob. Mas o estranho é que o Clio tem o mesmo sistema e o dele é bem mais leve. O Symbol é tão gostosinho de guiar, tão jeitosinho, que merecia que o acionamento fosse por cabos para que o ato de cambiar fosse um prazer, assim como o é com o Mégane.
O volante tem regulagem de altura e seria ótimo que tivesse também de distância. Gostei que ele e não é leve demais. Tem o peso certo e não é excessivamente rápido. Carro com direção rápida demais é bom pra pista, mas é chato para o dia a dia.

Procurei onde engatar meu pendrive pra colocar as músicas que minha filha grava pra mim, mas não encontrei. Hoje em dia isso é um mimo que não custa nada oferecer, pois é só um par de fios e um encaixe USB, e usar pendrive e aipóde é bem mais prático. Mas que o som de fábrica é bom, é.
O Symbol forma um ótimo conjunto para quem quer um carro pequeno, silencioso, com suspensão macia e confortável. Tanto é que merecia ter câmbio automático, ou mesmo o automatizado, como opcional, pois tem motor de sobra pra isso e atenderia o motorista que deseja o que o Symbol oferece no geral: conforto para o motorista.
Clio
Em seguida, deixando o Symbol, peguei um Clio Campus. O Clio só vem com o motor 1-litro de 16 válvulas, flex. E que motorzinho! Capetinha. Com álcool produz 77 cv a 6.000 rpm e 10,2 mkgf de torque a 4.250 rpm. Esse, sim, é ainda mais silencioso e suave. Marcha-lenta a 500 rpm, o que mostra quão bem balanceado vem de fábrica. Por barbeiragem, deixei-o morrer e em seguida dei a partida duas vezes, sendo que ele já tinha pegado na primeira, ou seja, da segunda vez dei a partida com ele ligado, pois não percebi o seu funcionamento.

Sua pegada vem a partir das 3.500 rpm, que é quando ele fica macho e vai rapidinho às 6.000. Mas mesmo em giro baixo o motorzinho macho de 1-litro tem potência suficiente para acelerar com esperteza. É interessante notar que, apesar dele ter quatro válvulas por cilindro, ele tem um só comando. Uma interessante e eficiente simplificação na engenharia.
Pesei-o e, apesar do manual dizer que o modelo pesa 1.025 kg, ele pesou 935 kg com tanque de combustível cheio. E o “meu” tinha ar condicionado e tudo, daí que este é o mais pesado. Portanto, é um carro leve, 935 kg, e isso é bom. No eixo dianteiro, com motorista a bordo, recai 60% do peso, o que não é mau para um carro com motor e tração dianteiros. Convém que corrijam o manual do carro.
As marchas são curtas, como devem ser para que o motor seja mantido cheio, e as trocas de marcha são relativamente leves e confortáveis.
Não medi o gasto de combustível, mas ele me pareceu bastante econômico. Só usei álcool.
Viaja muito bem, mesmo com quatro pessoas a bordo, pouca bagagem e ar condicionado ligado. A 120 km/h o giro está em 4.200 rpm e seu funcionamento suave e silencioso tornam essa velocidade muito agradável. E ele pede mais. Notei que ele poderia viajar a 130 ou 140 km/h com tranquilidade, sem forçar o motor. Muito estável na estrada.
Nas curvas é show. Mergulha nelas com vontade e as faz com equilíbrio, bem apoiado, com pouca tendência de sair com a frente, muito pouca. Um carro realmente entusiasmante, o que prova que não é necessário assim tanto motor para que um carro dê prazer a quem sabe guiar.
Suspensão macia na cidade. Encara a buraqueira de São Paulo na boa e nos dá conforto no meio dessa pedreira. Na verdade, como gosto das ferramentas certas para cada tarefa, depois de uma semana com o Civic Si, outra com o Renault Symbol e esta agora com o Clio, por incrível que pareça acho que vou sentir mais falta é do Clio, apesar dele ser o que tem o motor mais fraquinho, ser o menorzinho e coisa e tal.
O que falta é a regulagem de altura e distância do volante, pois quando me ajeito nas pernas não alcanço direito o cimo do volante (e não venham dizer que sou um cara torto, desproporcional, porque minha mãe me disse que tá tudo certo comigo e que o defeito é do carro e quero ver e Renault encarar a minha mamãe).