google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

Um eternidade para alguns, outro dia para os mais velhos.
E esse carro tem algo que falta em muitos, quase 30 anos depois: personalidade.
Ou seria "carronalidade"?
JJ
Amigos leitores,

O texto que se segue foi escrito pelo meu amigo Nasser, e eu achei bacana demais, legal demais, interessante demais para não postar aqui nesse nosso blog que é legal demais.

Espero que gostem. E a você, Grande Amigo, muito obrigado pela gentileza!



DE ORIGENS & PATERNIDADES

Por Roberto Nasser

"Na história do automóvel existem alguns referenciais que ocuparam lugar próprio. Deixaram de ser passivos personagens e assumiram a posição de criar variantes da história. Uniram linhas, conceitos, propostas e, costurando com linha personalizada, desenvolveram produtos novos em marcas, formulações e, glória suprema, até aplicativos diversos. São eles, basicamente, o Ford Modelo T, viabilizador e popularizador do ente automóvel; o Citroën Traction, criador do conceito do monobloco e da tração dianteira; o VW sedã, com sua simplicidade construtiva gerador de produtos tão díspares quanto os bugues e os Porsche; o Cadillac do período 49-59, os nossos Rabo-de-Peixe, que impôs mecânica e estilo, sem economia em decoração e confortos, criando o conceito do carro americano, vigente até recentemente com a crise do sub-prime.

Não se deve esquecer o Jeep, tanto pelo recorde em prazo de criação, quanto pelo uso múltiplo. Pelo caminho que abriu merece trato à parte. Mas o fio condutor da história contada neste texto, que a muitos parecerá irreverente dentro da sua absoluta e incontestada realidade, é a Rural, primeiro subproduto do Jeep, gerador de desdobramentos previsíveis e outros inimagináveis. E a Rural, quem diria, é a mãe do Corvette e avó do Cherokee!

Difícil de acreditar? Conversa de fim de reunião de clube? Nada disto. Verdade verdadeira, como conto e provo. O cenário é o seguinte. Acabada a Segunda Guerra Mundial, na qual o Jeep foi a estrela como ferramenta bélica e de transporte, o mercado norte-americano estava ávido por consumo. Havia o animus dos conquistadores, dos vencedores e, domesticamente, a mobilização das montadoras para o esforço de guerra que suprimira a produção de veículos novos.

Na retomada, sua indústria automobilística exibia como cenário as três grandes – GM, Ford e Chrysler – dominando 75% do mercado. A quarta era a Willys, exportando 75% de sua produção, e se comprimia, com todas as demais, disputando um quarto das vendas. Já não tinha um automóvel, de produção encerrada antes mesmo dos EUA aderirem à II Guerra, e por isto, monoproduto, optou criar veículos baseados no mito do Jeep.

O primeiro foi o Jeep Station Wagon. Era o pioneiro veículo utilitário esportivo, SUV, como a nossa imitante cultura insiste em chamar os Blazer, Explorer, Grand Cherokee etc. Menor que os carros norte-americanos de então, motor Continental de quatro cilindros – válvulas no bloco, cabeçote como simplório tampão – tração em quatro ou duas rodas – e, em demonstração para o uso urbano; laterais simulando madeira, como moda à época; pneus para cidade; bandas brancas; calotas; sobre aros; aposição de cromados, enfim, um pacote de atrativos. Queria ser opção na lista de espera, num mercado carente por veículos atualizados, novos, atingindo um nicho onde nenhum dos concorrentes estava presente: ser o carro da mulher do combatente, do vencedor retornando da guerra, onde convivera com o Jeep e ajudara a transformar sua imagem em ícone.

Como produto foi novidadeiro mas não foi impactante. Não conquistou o universo de clientes pretendidos, mas sobreviveu, gerou filhos e netos, praticamente se perpetuou. Curiosamente, seus descendentes tanto por melhor formulação quanto pela própria expansão do mercado, venderam muito mais que o produto de origem. A Willys, rentável, foi comprada por dois empresários que queriam entrar no ramo, Joseph Frazer e Henry J Kaiser. Desenvolveram carros próprios – o Henry J, que erroneamente chamamos Henry Junior, era um deles; espalharam os produtos herdados à Willys pelo mundo.

Lá, com o final da aventura, sobreviveram os iniciais: Jeep, Station Wagon; pick-up; e os automóveis Aero, que conhecemos bem. Acabou com a operação automóveis em 1955, centrou-se na família básica, transformou-se em Jeep Corporation, e veio tocando a vida, lançando o Eagle – o primeiro 4x4 com rodar tentativamente aproximado ao de um automóvel.

Cherokee

Dizer que a Rural é avó do Cherokee é desnecessário a quem tem mínimo senso de observação. É constatação óbvia, de osmose mecânica e estilística, incontestada até pelos mais alienados consumistas. A história mostra, no gargalo que se transformou a indústria automobilística norte-americana, foi comprada pela Chrysler, hoje uma empresa controlada pelo sindicato de empregados, governo, porém dirigida pela Fiat. Por enquanto, no leque de produtos, mantém esta família com personalidade própria, empregando sinergias para reduzir custos.

Os produtos, resumidos em Jeep, Station e Eagle, logo saídos de produção, evoluíram pouco em motorização e transmissão, adotando motores Chrysler. O lançamento do Cherokee, no meado dos anos 80, com o nome Cherokee em 1991 – mantido em produção até 2001 – não negava as origens da Rural: linhas anguladas; suspensões com eixos rígidos, sistema de transmissão primário, sem diferencial intermediário ou sistema viscoso. E DNA presente em coisas simples, como o manter o estepe fixado à esquerda do compartimento de cargas e o macaco colocado sob o banco traseiro!

O desdobramento luxuoso, o Grand Cherokee, descombinava conjunto mecânico com motores 5.2 e 5.9, era uma evolução. A versão Laredo, mais barata porém melhor equilibrada, mantinha a ossatura mecânica marcada pelo motor de seis cilindros em linha, 4.0, e suspensão por eixo rígido – na verdade um belo trabalho de engenharia oferecendo dirigibilidade e estabilidade desconhecidos num veículo com sistema tão antigo e primário.

A nova geração evoluiu, transformou-se em monobloco, incorporou releitura da grade do Jeep, registrando-a como logomarca para barrar as tentativas da Suzuki no Jimny e do Hummer em buscar soluções estéticas para agregar as lembranças de valentia sempre relacionadas à grade do pioneiro Jeep. Traçou alguma evolução em ganho de espaço, confortos, mas a origem é a mesma: o velho e pioneiro utilitário esportivo, a nossa Rural.

Corvette

Dirão Corvettistas, pretensos especialistas, colecionistas, puristas e outros istas, que é delírio a afirmativa que o Corvette e filho da Rural. Mas é. Quem conta a história é Karl Ludvigsen, americano apesar do nome, nascido perto de Detroit, em seu “Corvette: America’s Star-Splanged Sports Car, the Complete History”, Ludvigsen é um dos autores mais festejados em todo o mundo sobre o tema automóvel, prolífico autor, especialmente nos recentes anos em que vem desmobilizando seu escritório de consultoria automobilística em Londres, passando temporadas cada vez mais extensas em pequena casa na Sardenha, onde escreve um livro em dois meses.

Segundo ele, nos anos posteriores à II Guerra Mundial, início da retomada do poder americano, e quando o mercado se mostrava altamente comprador, o major da Força Aérea Kenneth Brooks presenteou a mulher com um Jeep Station Wagon. Novidadosa e com o kit-sensação da época: cromados, pneus de automóvel com bandas brancas. Na carroceria, faixa externa na pintura imitando madeira, o wood graining. Para surpresa do presenteador, a presenteada recusou. Utilitários esportivos não eram exatamente a moda ou faziam a cabeça das mulheres em 1950.

Manobra tática, Brooks, o vitorioso major no conflito mundial, perdeu a batalha doméstica, mas não a guerra. Afastou o topete feminino e, para não dar o braço a torcer, encomendou a Bill Tritt, fundador da Glasspar Boats – fabricante de lanchas em fibra de vidro – uma carroceria esportiva para vestir a estrutura mecânica do Station Wagon. Um esportivo é quase igual a um barco emborcado, imaginou com objetividade militar. Tritt topou. Seria caminho negocial nunca imaginado.

O projeto ganhou o nome extra oficial de Brooks Boxer, e na prática se materializou num conversível de linhas muito agradáveis à época em que os EUA descobriam e se inundavam de esportivos importados, em especial MGs, Jaguares e Allards. As proporções das massas aplicadas à encomenda do militar – motor, habitáculo, porta-malas – e o para-brisa, em estrutura metálica cromada, muito lembravam o do Jaguar XK, recém-surgido no mercado como a grande definição prática e visual do então atual conceito de linhas esportivas.

Quando o Brooks Boxer estava pronto, e o militar se dispunha a utilizá-lo com a superioridade de quem transformou um limão em limonada, o destino assumiu a condução e mudou a história. Um executivo da Nauatuck Chemical, divisão da U.S. Rubber, grande fornecedor da indústria automobilística, convenceu o Major Brooks a cedê-lo – não há registro histórico da transação, se foi compra, locação, comodato, e também se ignora se o carro voltou ou não ao dono da ideia. Mas espera-se e presume-se que o teimoso major tenha recebido o suficiente para ter saído da refrega doméstica, do esforço criativo, vitoriosos e impositivos níveis de testosterona, e para comprar o carro dos sonhos na visão da Sra. Brooks.

Em paralelo, intermediando e participando da proposta de convencimento, Tritt entendeu haver uma oportunidade mercadológica acima da simplória proposta ao major, e colocou a carroceria em produção, devidamente adaptada para vestir chassis de Fords de 1939 a 1948. Haviam-nos em grande quantidade no mercado e subitamente envelhecidos com o lançamento da linha 49, de novos e elegantes conceitos estéticos. E, em que pese não existirem dados, é de se imaginar que tenha conquistado sucesso, pois que a demanda de consumo criada pelos três anos da suspensão da produção de automóveis nos EUA inteiramente dedicada a suprir o esforço de guerra, ainda não havia sido atendida.

O súbito surgir da carroceria esportiva, leve e barata, último grito do mercado, era tudo o que o dono de uma mecânica usada queria – carro novo, atrativo, a baixo custo. Muito mais Earl Ebers, o executivo da U.S. Rubber que assumira o Brooks Boxer, não era um fanático por automóveis, como também não queria apenas um curioso, insólito, rústico, simplório carro com desenho esportivo. Desejava coisa maior.
Era o efeito-demonstração que precisava para exibir aos executivos das três grandes montadoras as vantagens da utilização do GRP, glass-reinforced plastic, como então era chamado o que tratamos com intimidade, fibra de vidro. A matéria-prima era produzida por sua empresa, e a ideia era deixar as vendas para produtos periféricos, transformando-a em produto de elevado consumo industrial.

Em março de 1952 Ebers levou o automóvel para a National Plastics Exposition, na Filadélfia, onde engenheiros da GM ficaram impressionados com o carro e com o material que o moldava. Convidaram-no a apresentar o Brooks Boxer no quartel-general da GM, em Flint, Michigan. Da Filadélfia a Detroit, maior referência como cidade próxima a Flint, Ebers dirigiu o Brooks Boxer, enfrentando o frio do início da primavera num carro sem tratamentos de confortos, boa vedação ou aquecimento, de rodagem áspera – como a de uma Rural 1950, tracionado por motorzinho de aplicação universal, o Continental e seus 70 hp.

Na sede da General Motors, Ebers e o Boxer foram levados à presença de um grupo de engenheiros de manufatura, de estilistas, de executivos de custos, e mais curiosos de praxe, e palpiteiros em geral. Lá, reinando, estava Harley Earl, que previamente consultado, condescendeu em olhar o carro. Earl era o czar do design da GM, multi-aclamado, referenciado, superior, vaidoso. Para surpresa geral, gostou. O Brooks Boxer era simplório como automóvel em rústica construção, dividindo espaço industrial numa fábrica de botes. Mas, apesar da distância que separava tal simplicidade, dos meios e poderes da então maior empresa automobilística do mundo, era o conceito por ela buscado para fazer um esportivo destinado a competir na faixa de mercado surgida no pós-guerra.

Tentara inutilmente, formulando os Buicks Le Sabre e XP 300, atrações do GM Motorama, exposição-show sobre rodas que percorria dos Estados Unidos. Eram grandes, pesados, excessivamente cromados – a antítese do conceito americano sobre carro esportivo – mas a essência do ponto de vista dos vencedores da guerra mundial e que caracterizaram os desperdícios automobilísticos americanos dos anos 50. Mas àquela época, liderando os Aliados, e depois vencedores na Guerra da Coréia, os americanos se sentiam os senhores do vento e do fogo: faziam, aconteciam, ganhavam. E queriam expor este superior poder bélico impondo tamanhos, volumes, cromados. Nada de cozinha natural, queriam frituras - minha nossa!

Depois de observar o Boxer, e de se assustar com as surpreendentes e positivas reações de Earl ao admirar o tosco protótipo em abissal distância ao que faziam, a filosofia do produto ficou clara para o pessoal que decidiria a produção do futuro esportivo GM: abandonar tudo o já pomposamente projetado; riscar das opções os chassis GM já existentes; esquecer a teoria de encurtar um chassi de sedã Chevrolet; apagar os conceitos industriais sedimentados por décadas, de vesti-lo com uma carroceria pretensamente esportiva estampada em tradicional chapa de aço.
Prático e simples, o buscado esportivo GM teria chassi próprio, com linhas materializadas em GRP. E custo industrial e prazo para viabilização sensivelmente inferiores aos projetos e construções convencionais.

A Nauatuck Chemical, investindo para tornar-se fornecedora dos materiais de construção, substabeleceu o Brooks Boxer à GM para os estudos que traçariam o início conceitual do Corvette – as medidas e proporções do rústico, porém simpático esportivo foram tomadas como referência. E o protótipo do que iria se chamar Corvette, iniciou com dimensões assemelhadas, incluindo entre-eixos — 102 polegadas, 2 a menos que a Rural. A suspensão dianteira por eixo rígido do Boxer, nos anos 50 típica a carros de serviço, era caminho a não ser seguido, aplicando-se uma de automóvel, independente, com balanças e molas helicoidais.

No inovador caminho industrial, a fábrica e a metodologia de produção seriam à parte do processo de produção da GM em todas as suas fábricas, pois o GRP empregava manufatura e processos industriais totalmente diversos aos aplicados no trato com a chapa de aço utilizada em todos os outros produtos GM.

A fórmula simples e metodologia prática permitiu reduzir muitíssimo o prazo para o projeto. Em vez de dois anos, como se tomava à época, em 100 dias após o primeiro protótipo estava pronto. O motor era o seis-cilindros, 235 pol³ – os mesmos 3.800 cm³ da primeira série do brasileiro Opala 15 anos após – tricarburado e 150 hp, chamado Blue Flame, mas ainda o antigo seis de quatro mancais. A transmissão, típica ao comprador americano, mostrava a desorientação no projeto: era a dos Chevrolet da época, Powerglide com duas marchas.

Inovadora ou simploriamente, o carro teve apenas um protótipo testado, e logo entrou em produção, em temporária passagem por galpões na mesma Flint, Michigan, antes de ganhar fábrica própria.

São temporariamente desconhecidos os dados relativos à quantidade decarrocerias Glaspar produzidas e por quanto tempo isto ocorreu. Algumas unidades sobreviveram – um exemplar destes estava à venda, pré-crise nos EUA, por aproximados US$ 40 mil.

Merece citação que Zora Arkus-Duntov, o engenheiro de ascendência russa dito pai-do-Corvette, só apareceu no cenário pós-lançamento. Por isto, será melhor chamá-lo padrinho-do-Corvette, pois coube-lhe dar posição mercadológica, cara, mudando a receita original e criando o Sting Ray.

Pois é, independentemente do caminho mais ou menos óbvio da evolução do Jeep Station Wagon desaguar no Cherokee, a condução da linha da história entre o pioneiro SUV e o mais esportivo dos carros americanos, a conclusão a ser depurada é uma só: nada como uma mulherzinha peituda para dizer não a um carro 0-km. E nada como um militar vitorioso, condecorado, saudado como herói por seu país, parentes, amigos, vizinhos, porém ferido domesticamente em orgulho próprio, para criar uma segunda opção frente a uma dificuldade aparentemente intransponível.

A vida é assim, começa e acaba com gente, e não com planos e projetos suntuosos e acadêmicos de aparentemente auto-suficientes multinacionais.

Legenda: Brooks Boxer, filho da Rural, pai do Corvette. Quem não gostar, proteste."



Nota: o Roberto Nasser dirige o Museu do Automóvel de Brasília, que tem um interessante acervo de modelos nacionais e importados, veja no link: Museu do Automóvel
Existem centenas de websites e blogs de notícias automotivas com atualizações instantâneas de tudo que se passa nesse mundo. A velocidade é tamanha que tudo fica velho rápido demais. Outro efeito disso, pelo menos para mim, é uma ansiedade latente e uma sensação de que estou sempre atrasado sobre as últimas novidades. Por isso o AUTOentusiastas não se preocupa tanto com notícias, ou com a velocidade em falar sobre elas. Aqui menos significa mais.



Mas hoje - na realidade óntem - tive problemas com a internet e não consegui publicar esse post - foi revelado o novo McLaren MP4-12C e isso não é qualquer notícia. Então resolvi fazer um apanhado geral e alguns comentários sobre esse carro.

O 12C é o terceiro carro a ser fabricado pela McLaren. Os outros dois foram o icônico F1 e o fantástico Mercedes SLR. Para quem não sabe, a Mercedes (Daimler) é dona de 40% da McLaren, outros 30% são de investidores do Barém (no Golfo Pérsico), 15% da Grupo TAG (Saudita) e 15% do Ron Denis.

Fazer um carro sucessor desses dois modelos é uma responsabilidade e tanto. Mas antes de falar do 12C é necessário entender onde ele se posicionará. Assim as expectativas podem se ajustar à realidade.

O F1, the king of all supercars, foi um carro exótico (tinha revestimento do cofre do motor com folhas de ouro) posicionado no topo da cadeia alimentar num espaço reservado a uma minoria: Bugatti EB110, Jaguar XJ220, Ferrari F40 e mais recentemente Porsche Carrera GT, Ferrari Enzo, Maserati MC-12, Bugatti Veyron, Pagani, Koenigsegg e Aston ONE-77. O McLaren F1 teve apenas 107 unidades produzidas, das quais apenas 79 foram road cars; o resto foi de versões para pista, incluindo as 5 unidades LM.

O SLR também faz parte dessa liga, mas com um volume mais alto. Até agora foram produzidos mais de 2.100 unidades. Ele continua em produção até completar as 75 unidades da série limitada Stirling Moss - ainda não falamos sobre esse carro no blog.

Num sub-segmento mais abaixo, ou menos lá em cima, estão GTs como os Ferraris 599 GTB e 612, Lamborghini Murciélago e Aston Martin DBS - deve ter outros. E no segmento "de entrada" estão o novíssimo Ferrari 458 (aquela que o Juvenal não gosta dos donos), 911 Turbo, Audi R8, Aston Martin DB9 e alguns outros. É nesse segmento de entrada em que o 12C vai brigar.

Segundo a McLaren, esse segmento cresceu de 8.000 unidades em 2000 para 28.000 em 2007 - após a crise atual ninguém sabe como vai ficar. O segmento cresceu grande parte pelo aumento da oferta de modelos. A McLaren espera vender 1.000 unidades do novo carro em 2011 - isso mesmo, estão mostrando o carro agora para vender toda a produção de 2011 antecipadamente - a um preço ao redor de 160.000 libras, algo próximo dos 500.000 reais (lá na Inglaterra). O primeiro F1 a ser entregue foi vendido em 1994 por 634.500 libras. Dá para entender a diferença.



O 12C tem um layout básico: motor central-traseiro com tração traseira, suspensão duplo A nas extremidades e dois lugares lado a lado. O motor é uma nova unidade projetada especificamente para esse carro, um V-8 3,8-litros a 90 graus com quase 600 cv e mais de 60 kgfm obtidos com a ajuda de dois turbos. Um canhão que manda toda essa potência para as rodas através de uma, também nova, transmissão de 7 marchas e dupla embreagem (como as DSG da VW). Deve passar dos 320 km/h e fazer de 0-100 km/h em torno de 3 segundos.

Apenas relembrando, o F1 era equipado com um motor BMW V-12 6,1- litros a 60 graus com 619 cv e 66,3 kgfm e com uma transmissão manual de 6 marchas. Pesava 1.140 kg, graças à estrutura e carroceria em fibra de carbono - o F1 foi o primeiro carro de rua a ser constrído dessa maneira. Mas acho que o que torna o F1 mais especial é a posição central do motorista que visava um perfeito equilíbrio de massas e a melhor visibilidade para atacar curvas para ambos os lados. Isso já revela a estirpe do modelo e o por quê de sua existência. O F1 atingiu a velocidade recorde de 231 milhas por hora, quase 370 km/h, em 1993. Ele foi idealizado, projetado e desenvolvido pelo Gordon Murray, o "gênio da camisa florida", que não participou do novo modelo MP4-12C.

Mas o que esse novo McLaren tem de novidades? Selecionei o que realmente achei interessante. Vamos aos principais pontos.

Como não poderia ser diferente, ainda mais agora com restrições fortíssimas a emissões de CO2, o baixo peso foi o foco central do novo projeto. Apesar de que por aqui todos os leitores já saberem, não custa falar de novo: baixo peso melhora a performance dinâmica em tudo - aceleração, retomada, dirigibilidade, frenagem, consumo de combustível e emissões. Então não há por que adicionar peso que não seja realmente necessário. Já dizia o Colin Chapman: "to add speed, add lightness" - para aumentar a velocidade, adicione leveza.

Então a McLaren resolveu inovar e fazer o que algum marqueteiro deu o nome de MonoCell. É uma estrutura central, célula de sobrevivência, feita em peça única - única - de fibra de carbono, como num Fórmula 1. Todo o carro é montado ao redor dessa peça que pesa apenas 80 kg e leva apenas 4 horas para ser feita - a estrutura do F1 levava dias. Nas extremidades dianteira e traseira são fixadas estruturas de alumínio projetadas para absorver impactos e de fácil substituição. A McLaren não informou o material dos paineis da carroceria.
Esse MonoCell proporciona o máximo de rigidez torcional que se traduz mum melhor comportamento dinâmico. Com isso a McLaren traz a fibra de carbono para o segmento "de entrada" e de maior volume. Para mim esse é o principal ponto do 12C. No entanto a McLaren não divulgou o peso do carro.



Outro ponto que eu ainda estou tentando entender melhor mas me interessou é uma função chamada Brake Steer, ou tentando traduzir, esterçamento pelo freio. O sistema detecta quando o carro entra forte demais numa curva e provavelmente sairia pela tangente e automaticamente aplica pressão no freio da roda interna traseira. Esse efeito evita a tendência do carro em sair de frente e o coloca de novo nos trilhos. Praticamente é o que qualquer sistema ESP - controle eletrônico de estabilidade - faz. Talvez a diferença do novo sistema esteja em antecipar a saída de frente, enquanto nos ESPs o sistema atue apenas depois que o carro já está saindo. Um ponto a ser checado. Ainda com relação aos freios, o 12C usa discos de alumíno forjado que pesam 8 kg menos que os discos de carbono, estes opcionais.

Mais um gadget - dispositivo - tecnológico está ligado à transmissão. A seleção das marchas é feita por borboletas na coluna de direção com acionamento tanto puxando quanto empurrando - lado direito sobe marcha e lado esquerdo desce.
É no acionamento dessas borboletas que está o Pre-Cog, de pre-cognition, ou pré-reconhecimento. O acionamento é de duplo estágio, mais ou menos como no disparador de máquinas fotográficas. Um leve toque, acionando o primeiro estágio apenas, pré-seleciona a próxima marcha, para cima ou para baixo - seria ajuste automático de foco numa máquina fotográfica. Nesse momento, graças à dupla embreagem, a próxima marcha já fica engatada de acordo com a intenção do piloto antes que algum sensor tenha que entender a necessidade de redução ou ascensão. Na hora da mudança comandada pelo piloto, com uma pressão mais forte na borboleta, a marcha certa já está engatada e o tempo gasto nessa troca é o mínimo possível. Gostaria de experimentar esse dispositivo embora ache que quase ninguém vai usar na vida real.
Não há alavanca de marchas e nem versão manual. Economia de peso em mecanismos e na pedaleira. Além disso a ausência de pedal de embreagem permitiu juntar mais os dois lugares trazendo-os mais para o centro longitudinal do carro, o que é muito bem-vindo para melhorar o comportamento dinâmico.

Agora falando um pouco do design.

É muito óbvia a semelhança com o F1. A McLaren diz que tudo nesse carro foi definido pela função. Como o F1 também foi feito assim o atual diretor de design da McLaren, ex-Ferrari, justifica a semelhança como sendo uma consequência natural. Embora as dimensões do 12C não tenham sido divulgadas, elas deven ser muito parecidas com as do F1. O F1 tem 4.288 mm de comprimento com um entre-eixos de 2.718 mm. Para dar uma nocão do que isso representa, o F1 é menor que um Civic mas tem um entre-eixos maior. Com isso as rodas ficam nas extremidades o que melhora o comportamento dinâmico. O 12C tem praticamente o mesmo perfil do F1.



Mas para mim, olhando as primeiras fotos, falta personalidade. Imagino que quem compra um carro assim quer algo mais extravagante, mais original, mais look at me!. Tentando justificar essa sensação, a McLaren diz que designs mais exóticos tendem a cansar mais rápido. Acho que isso depende. Esse 12C me lembra alguns carros como o Lotus Exige, o Audi R8, e o Ferrari 458. Aprendi que design não se avalia por foto. E que também não se deve formar opinião no primeiro contato. Existem tantos carros que quando lançados são rotulados como feios e depois acabamos nos acostumando e até gostando.
Mas o fato é que esse carro não causa suspiros ou queixos caídos. Mesmo com as portas tipo tesoura abrindo para cima. Aliás, essas portas são assim para facilitar a entrada e saída dos ocupantes em lugares mais estreitos - me lembrei da dificuldade de entrar no 944 com a porta toda aberta e imagino que seia muito mais difícil se não houvesse espaço para abri-la. O F1 também usava portas tipo tesoura.
Talvez essa cópia do F1 tenha sido estratégica mesmo, intencional. Afinal não vejo motivo para não usar as credenciais do F1. Só não acho elegante ficar dissimulando isso.



O interior me pareceu muito bem-resolvido. Ultrafuncional, simples e bem feito e sem exageros. O cockpit abraça o piloto deixando todos os comandos à mão. O para-brisa com a base bem baixa, também como no F1, e os vidros laterais devem proporcionar uma boa visão. A tela no console central foi colocada na vertical para ocupar menos espaço e deixar os ocupantes mais juntos. O marqueteiro de McLaren justifica a posição como sendo mais intuitiva, como nos telefone celulares. Como esses marqueteiros me irritam!!!!



Por agora, com informações limitadas, ao menos ficam registradas algumas impressões. E fica um sonho: testar esse carro pelo AUTOentusiastas em 2011. Será que até lá já teremos todo esse cacife?

Novembro de 2002

Minha irmã acaba de completar 18 anos e, como toda jovem de sua idade, resolve habilitar-se para conduzir um automóvel. A menina está bem longe de ser uma entusiasta, mas passa no primeiro exame, para orgulho da família. Com a CNH em mãos, resolve agora adquirir um automóvel.

Estudante do primeiro ano de odontologia na Unicamp, precisa de um carro pequeno, barato e econômico. A verba do "paitrocínio" é pequena, nossas finanças não permitem a aquisição de um carro novo. Mas vamos em busca de um semi-novo.

O pai corre de um lado, a mãe do outro, sempre acompanhando a neófita na procura. Eu, por pura falta de tempo, não posso ajudar. Estava viajando a trabalho quando a mana me liga, anunciando a compra de um Fiesta "Rocam", "super-novo", do ano anterior, por um valor "muito bom".

Por ironia do destino, naquela época eu era consultor técnico da "Fiesta HP" (hoje Ford HP), uma página de entusiastas dos produtos Ford, criada pelo meu amigo Mark Lawrence Smith. Conhecia bem o carro, mas não gostava dele pela desagradável experiência que tive com os (fraquíssimos) motores Endura e o diminuto espaço interno, nada recomendado para os meus 2 metros de altura.