google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)




Depois de escrever sobre o Audi Quattro dias atrás, agora um filme rápido sobre um de seus sucessores de maior importância, o Lancia Delta Integrale, que venceu 6 vezes o campeonato de construtores do mundial de rali.

Se eu fosse escolher um único carro para ter pelo resto da vida, seria este.

Nas mãos de Vicki Butler-Henderson, ex-Top Gear.

JJ

Sempre tive vontade de dirigir um Smart. Uma vontade bem infantil, pois o carrinho parece de brinquedo. Na verdade essa vontade surgiu quase que por transferência da vontade de dirigir um Moto Machine, o Gurgelzinho translúcido que veio muito antes do Smart. Ambos parecem brinquedos!

Dia desses tive a chance de dar uma volta no Smart. Um Fortwo (“para dois”) coupé. Coupé? É, é assim que ele é chamado. Um coupé de teto alto.

Aproximei-me do brinquedo por trás. Estava com uma mala pequena, dessas tamanho padrão com dimensões no limite para poder ser considerada "de mão" pelas cias aéreas. Grata surpresa, pois o porta-malas acomoda pelo menos umas três ou quatro malas dessas. Reparei na tampa sobre o motor traseiro, logo abaixo do assoalho do porta-malas. Mas como eu estava sem tempo não pude levantá-la e examinar o pequeno motor de 3 cilindros 1-litro equipado com duplo comando variável e turbo. Queria ver o turbinho, um brinquedinho também.

Fechei a tampa traseira e abri a porta. Outra grande surpresa! Eu esperava um interior apertado e claustrofóbico. Mas encontrei uma sala de estar. A porta é grande o que faz do carrinho um dos modelos mais fáceis de entrar e se acomodar. Tenho 1,88 metro de altura. Porém, o ponto H, altura do banco, é elevado. O Smart tem 1,54 metro de altura e sua posição de dirigir favorece o commanding view - visão de comando. Talvez para compensar o sentimento de inferioridade ao lado de caminhões e ônibus ou SUVs grandalhonas. Por outro lado isso eleva o centro de gravidade e como o carro é muito curto, causa uma sensação estranha de insegurança. Eu preferia estar mais próximo do chão. O teto todo de vidro ajuda a clarear o ambiente e aumentar a sensação de espaço interno.

O interior do carro é muito bem feito. Materiais simples, porém acabamento excelente. O desenho alegre compensa sua simplicidade. Acomodei-me posicionando o ajuste de altura do banco o mais baixo possível. Não encontrei o buraco da chave no lugar tradicional. Inclinei o corpo para para direita para ver melhor por trás do volante e nada de buraco. Logo me veio a cabeça a resposta para minha indagação e quase que automaticamente desci o meu braço direito para o console central. Lá estava o buraco da chave.

Olhei para a alavanca e logo notei a ausência do posição P. Posição essa necessária para dar partida em todos os carros automáticos. Devo ter pisado no freio por instinto, por isso não sei se o motor partiria caso não tivesse feito este movimento. Dei a partida. Muito silencioso, pois o motor está bem escondidinho lá atrás. Dei uma acelerada para me certificar que o carro estava ligado. Movi a alavanca do câmbio para a ré e soltei o pedal de freio bem devagar. Nada do carro começar a se mover. Cheguei a pensar que o carro estava desligado dada a total inércia e ausência de qualquer sinal de a ré estava "engatada". Mas eu tinha absoluta certeza de que o carro estava ligado. Achei isso bem bacana. Não é necessário encostar no freio ou colocar a alavanca em N para manter o carro parado.

Manobra rápida pois o diâmetro de giro é menor que 9 metros (na maioria dos carros é entre 11 e 12 metros) e logo saí para uma avenida larga e movimentada. Saí na maciota. Primeira indagação: esse carro deve ter pneus perfil 40. Apesar do asfalto novo, não era muito liso. Toda a rugosidade é transmitida na forma de aspereza. Além da falta de isolamento a suspensão é dura e numa primeira impressão me pareceu ter um curso muito curto. Talvez seja possível perceber caso passasse por cima de uma moeda.
A suspensão dura eu até que entendi e aceitei pois manter o carro com a relação entre comprimento e altura invertida não é tarefa fácil. Brinquei um pouco com o volante e senti segurança nas reações apesar de não me sentir seguro. É isso mesmo. Dá pra saber que o Smart não vai tombar, mas nem por isso a sensação lá dentro é de tranquilidade. Ele é equipado com controle de estabilidade e logo lembrei do desastroso teste do alce do Classe A. Não tive a chance de fazer curvas mais fortes ou desvios acentuados na trajetória para testar a "assistência" do controle de estabilidade. Os pneus são 155/60 R15 na dianteira e 175/55 na traseira R15.

Confesso que pensei de novo no turbinho ao me familiarizar com o pedal direito. As respostas não são imediatas até que você aprenda o truque. Nos carros automáticos modernos basta uma pressionada mais brusca no acelerador para a central da transmissão entender que você quer andar mais e fazer um redução de marcha. No Smart o kick down só ocorre no fim de curso do pedal do acelerador. Dá até pra sentir o acionamento do interruptor. Nessa condição o kick down ocorre, baixando uma ou duas marchas, eleva a rotação do motor e o miniturbo acorda soprando forte. Junto com isso vem um sorriso de satisfação como bônus.

Daí pra frente brinquei um pouco com as borboletas de troca de marcha no volante. Uma vez acionadas, a transmissão sai do modo autônomo e só obedece ao seus comandos. Achei isso muito bom. Pé direito pesado e boas cambiadas fazer o Smart ficar espertinho e sair da zona de mínimo consumo. Acho que um pouco mais de tempo a sensação estranha de insegurança passaria e a brincadeira ficaria mais lúdica. Mas a falta de tempo e o trajeto curto não me permitiram aproveitar mais.

O preço do brinquedinho é salgado, R$ 58.000,00. Mas descontando o imposto de importação (35%) seu preço seria menos que R$ 40.000,00. Parece-me compatível considerando que um Honda Fit automático não sai por menos que R$ 55.000,00.

Considerando que o Smart, que quer dizer esperto, inteligente, vivo, talentoso, espirituoso, foi concebido para ajudar a diminuir o trânsito e a reduzir o consumo de combustível e emissão de gases, acho que as pessoas deveriam comprá-lo com isso em mente. Se fosse mais barato, por volta de dos R$ 40.000,00 seria um carro legal para minha esposa ou para eu mesmo trafegar no trânsito infernal de São Paulo com um pouco mais de agilidade e sem a necessidade de carregar pelo menos uns 300 kg de peso morto -- o Smart pesa 770 kg enquanto um Fit pesa 1100 kg. Porém, no Brasil, será apenas um brinquedinho ou um aparato fashion de exibicionismo. Também não acho que seja um carro de entusiasta, ao contrario do Mini.

Mas pelo menos matei a minha vontade de experimentá-lo.

Todos os dias ouço comentários sobre automóveis. A maioria deles é inócua. Não-entusiastas tentam convencer-me de melhores marcas, melhores modelos, melhores compras, melhores conteúdos, melhores manutenções e blá blá blá.

Não entendo por que as pessoas têm a mania nada saudável de tentar tomar decisões por outras. Por que até mesmo quando se fala de automóveis, não-entusiastas querem que entusiastas troquem de opinião por motivos pífios, como uma maior garantia, ou um preço menor de peças de reposição? Isso importa para quem se interessa por carros da forma como nós aqui nos interessamos? Qual a real necessidade de andar com um carregador de gente, quando não se roda mais de 50 km por dia? Será que a diferença no orçamento da família será assim tão notável, se eu andar com um carro desses que se vê em todo lugar, a qualquer hora, sempre nas mesmas cores, e que mal se encontra em um estacionamento quando esquecemos exatamente onde paramos? Será que eu vou economizar bastante dinheiro se eu aceitar uma condução dessas, ditas "populares", mas que na realidade são caríssimas, frente à situação vergonhosa de impostos cobrados de nós, cidadãos com título de eleitor, esse documento que nada muda, não importa em quem votemos?

Tento quase todos os dias entender e aceitar a evolução, o progresso dos automóveis, tratados como um bem no mesmo padrão da geladeira de casa, mas não consigo. Não dá para trocar de carro porque o outro é mais moderno, porque o feirão de fábrica está maravilhoso, porque ganho uma viagem grátis para um lugar que não quero ir, porque ganho um GPS e um jogo de tapetes e um filme nos vidros e o IPVA e o seguro, porque o vizinho vai pensar que eu estou "bem" pois estou de carro novo, porque o cunhado vai olhar o carro novo e dizer que estou "bem de grana".

Não, quando um carro nos serve bem, ele merece ser mantido, mesmo que pequenos custos surjam devido à sua idade. Se esse carro está funcionando bem, me proporcionando satisfação quando o dirijo, mantendo a segurança minha e de minha família, não vejo porque me desfazer desse amigo.

Vimos nas ruas, de vez em quando, pessoas que pensam assim como eu. Genericamente dizemos, "Esse tiozinho tem esse carro desde zero-km, olha só!". E isso impressiona positivamente, até mesmo alguns não-entusiastas.

A situação ideal, para mim, seria se eu pudesse ter mantido todos os carros que comprei ao longo dos mais de 25 anos em que dirijo. Desde aquele primeiro Chevette até hoje. Seria maravilhoso ter todos eles, mas nunca pude fazer algo tão grandioso. Chega a hora, sim, em que não dá mais para ficar com um carro por qualquer motivo, e ele se vai. Deixa saudades sempre, para mim, que entendo o propósito de cada carro, seus defeitos e qualidades, seu objetivo como produto, mas mais anda, como instrumento de diversão e alegria, como um carregador de vontades e de satisfações, cada qual a seu tempo.

Não tentem me convencer do que não acredito. Eu acredito no carro-amigo, aquele que olha para você e diz, "Vamos cara, vamos passear!".
JJ
Caros leitores,

O lançamento do livro do Arnaldo Keller, Um Corvette na noite, é amanhã, na Livraria da Vila, a partir das 18:30.

Endereço: Rua Fradique Coutinho, 915 (fone: 3814-5811).

UM CORVETTE NA NOITE


A seguir um pequeno trecho de um dos contos, "Um Corvette na noite paulistana"
"Então, Matilda e eu saímos da boate e ela achou bonito o Sting Ray e perguntou se corria muito. Falei que não muito, só o que eu precisava. Liguei e saímos. Uma das boas qualidades do Corvette é a elasticidade do motor V-8. O torque é tão alto e sua faixa, tão ampla, que é possível deixá-lo somente em terceira marcha que ele dobra esquinas e acelera rápido nessas madrugadas vazias, sem que precisemos tirar a mão direita de entre as duas coxas lisas e convidativas que vão ao lado. Nossa atenção se divide: pé direito no pesado acelerador, mão esquerda no delgado e leve volante, mão direita em novos campos a serem explorados. Ia razoavelmente devagar, mas não tão devagar que inspirasse uma falta de pressa, uma falta de prazerosa ansiedade pelo nosso destino. O Corvette conversível, mas uma vez, mostrava-se o carro ideal para esses trajetos."