google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

O post que o Bob Sharp colocou me lembrou de uma situação que já vi se repetir algumas vezes. Vou contar uma delas.

Há muito tempo que participo de grupos pela internet focados em carros, e, evidentemente vou conhecendo muita gente nesse meio.

Certa vez, conheci num fórum um rapaz novo, carteira nova, e que iria comprar seu primeiro carro, via “paitrocínio”.

E que carro ele escolheu, zero-quilômetro? Uma picape, claro. Afinal, picapes são mais leves que os hatchs originais, ótimas para acelerar mais rápido. E ainda vem desprovidas do incômodo “banco da sogra”, ótimo para as saídas de baladas. Enfim, é o carro juvenil perfeito.

Com as economias que foi juntando, não demorou muito pra mexer no carro.

Primeiro, o inevitável rebaixamento, cortando elos das molas no maçarico. Depois, rodões e pneus de perfil baixo.

Mais um tempo, e o desempenho do carro deixava a desejar. Decidiu instalar um turbo.

Seguiu a recomendação dos colegas mais experientes e do preparador, e colocou um turbo pequeno, para uma pressão baixa. Era a forma de não estourar o motor. Foi divertido por um tempo, mas depois perdeu a graça.

Desmontou o kit, vendeu, e já comprou um kit com turbo grande.

Era divertido lixar os pneus de sinal em sinal, mas, depois de pouco tempo, o carro parecia fraco de novo.

Mesmo contra a recomendação do preparador, pegou a “síndrome do parafuso”. Só pra mostrar pros colegas como o carro era forte, brincava de apertar o parafuso da válvula wastegate para aumentar a pressão limite do turbo, e dar umas arrancadas de demonstração.

Por uns tempos ele também brincou com um kit nitro que pegou emprestado de um amigo que tinha encostado, mas não gostou do preço da recarga pra tão pouco tempo de diversão.

Foi-se a primeira retífica do motor e, não muito depois, a segunda.

Nisto, o carro, que ainda mal completara o primeiro ano de uso, já começava a dar manutenção pesada.

Coxins de suspensão e de motor arrebentados, homocinéticas estalando, amortecedores babando óleo, embreagem patinando, câmbio com ronco em algumas marchas...O carro passou a ficar mais tempo na oficina que rodando.

O que era um brinquedo divertido, agora era uma dor de cabeça.

Foi quando ele começou a falar em vender o carro abertamente no fórum.

Quando ele disse sua intenção, perguntaram se ele assumiria o que fez com o carro para o novo proprietário, ou se passaria o imbróglio para o próximo iludido.

Claro que, diante do grupo, ele assumiu que seria honesto.

Algumas semanas depois, num dia muito frio e chuvoso, ele vinha dirigindo o carro e sentiu que o tênis que calçava estava frio e úmido. Parou para olhar, e o carpete estava encharcado junto aos pedais.

Levou o carro na oficina, e no elevador foi constatado que a junção da parede do cofre do motor com o assoalho abrira uma rachadura enorme.

Dali o carro já não saiu.

Ele removeu o kit turbo, recolocou rodas e pneus originais, montou molas e amortecedores comprados em desmanche, soldou a rachadura, e colocou o carro à venda.

Ele ainda contou em pleno fórum como o comprador se iludiu com o carro em estado aparentemente impecável, pagando acima da tabela, e de como ele não disse um “pio” sobre os defeitos do carro.

O discurso é moralista, mas a ação é de Gérson.

Com o dinheiro da venda, ele já correu atrás de outro carro parecido para montar os kits do carro velho.

Infelizmente, este caso é a regra, e não a exceção.

A maioria dos carros abusados e destruídos é passada para frente em situações semelhantes. Podem até apresentar problemas que ofereçam risco sem que o novo dono saiba.

Forçar qualquer equipamento é encurtar a sua vida útil de forma dramática.

Carros com suspensão excessivamente rebaixada e motores preparados muito acima da potência original se desgastam e quebram numa fração do tempo previsto de uso. E, tendo atingido este ponto, serão carros problemáticos até seu descarte.

Quem modifica o carro desta forma sabe disso, e quando o carro se torna uma bomba ambulante, quer logo se livrar da encrenca.

Modificar o carro foi divertido, mas ninguém quer pagar o preço salgado da diversão.

Quem acaba pagando por ela é o novo proprietário (ou seria o “próprio otário”?) enganado e a ética.

E, logo em seguida, outro carro em perfeito estado é conduzido para este derby da demolição que nunca acaba.

Passava ontem por uma rua do bairro da Vila Maria, em São Paulo, quando vi este Omega com suspensão rebaixada. Achei tão absurdo que parei e fiz a foto com o celular. O André Dantas estava comigo, estávamos indo à gráfica que produz o FlexCalc para tratar de assuntos referentes ao nosso calculador de escolha de combustível.

Fico imaginando o que se passa na cabeça de alguém ao andar com um carro sem suspensão, pois do jeito que está este Omega não existe mais curso de compressão. A menos que os pontos de fixação da suspensão à estrutura fossem alterados, o que não acredito ter sido o caso neste exemplo.

Algum tempo atrás seguia à minha frente uma S10 tão rebaixada que o veículo ia aos pulos nas irregularidades normais do asfalto.

Ontem me contaram que havia em São Paulo (não sei se ainda há) uma oficina que rebaixava a suspensão sem retirar as molas. Com o carro no elevador, era usado maçarico de solda oxi-acetilênica para destemperar alguns elos de mola...

É possível rebaixar a suspensão, mas o carro precisa passar por uma inspeção e receber certificado de segurança, de acordo com uma bem-vinda resolução do Contran.

BS
Estava lendo o post do Bob sobre Datsun/Nissan e pensei um bocado sobre a parte do macacão branco e do torquímetro para apertar as porcas de rodas na linha de partida. No ato, uma enorme sensação de isso não é de verdade me veio a mente. Não o fato em si, mas a mensagem que queria transmitir.

Já bem experiente nesse negócio de consertar carros, uma atividade que me é muito prazeirosa, fiquei pensando em como fazer mecânica vestido com uma roupa branca.

Muitas coisas me vieram à mente, lembranças umas cotidianas e outras históricas. Me lembrei muito de que existem coisas que apenas existem por si e outras que são como apenas fins para justficar meios.

Hoje eu vejo meus fabricantes de carros preferidos à bancarrota, ou quase, e seus oponentes, ainda que não nadem em águas calmas, melhores.

Me lembro de ensinamentos históricos que versavam sobre a necessidade de se iludir ou fazer o oponente crer em algo falso, para que se possa obter assim a tão almejada vitória. De como é importante dissimular os movimentos, para que se pense o oposto do que realmente se faz. Se quero atacar, faço parecer que estou fraco e incapacitado de fazê-lo; se estou fraco e débil, nunca posso deixar isso transparecer, mas sempre o oposto, que estou pronto e apto ao combate.

Me lembro de que uma mentira repetida à exaustão, para quase todos, acaba virando verdade.

Vejo um fabricante viver propalando sua capacidade de fazer híbridos, que por decreto são a única opção para que um veiculo seja táxi na maior cidade do mundo, mas na verdade o mesmo fabricante que fabrica essa situação lucra e se locupleta fazendo picapes enormes. E ainda ousa desafiar outras como sendo maior e até mesmo mais veloz que uma oponente, como se um único item, aceleração específica até uma determinada velocidade, fosse mais importante que o peso de uma marca tradicional e legítima que faz veiculos amados por seus compradores, e que na falta deles, se recusam a outros?

Então me ogulho de ver meus herois em apuros, feridos e quase à morte, por insistirem em fazer seu real papel, e por não se renderem ao politicamente correto e hipócrita.

Então vi com muita clareza que não é possível se agir desta forma. Um torquímetro é necessário e suficiente para se apertar parafusos diversos que tenham um limite de trabalho apertado o suficiente para estarem em segurança, tanto para não afrouxarem quanto para não quebrarem. Parafusos de roda, por mais que sejam um parafuso como qualquer outro e sujeito evidentemente as mesmas leis físicas, não estão em um patamar tão crítico assim. O torquímetro é a ferramenta essencial e necessária em uma bancada para montarmos motores.

Do mesmo jeito que a roupa branca é a indumentária de um médico, onde a limpeza extrema é a condição inerente à manutenção da saúde do paciente. Nunca pode ser pertinente a alguém que se dedique cegamente a reparar uma máquina que tem coisas que vão irremediavelmente macular a tal vestimenta branca de faz de conta. Depois do macacão branco, o que teriamos, luvinhas brancas cravejadas de pedras como as do Michael Jackson?

Poderia continuar, mas acho que é suficiente.

Aqui me lembro do clássico do cinema nacional, Eles não usam black tie. Eu não uso roupa branca.

AG
Faleceu hoje em Washington Robert McNamara, o "whiz kid" que foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso da Ford Motor Company após a II Guerra Mundial.

Mestre em administração de negócios por Harvard e dono de uma brilhante carreira acadêmica, McNamara entrou para as forças armadas norte-americanas em 1943, como coordenador de operações e logística de combate. Foi nesse meio que conheceu o coronel Charles Bates Thornton.
Após a II Guerra Mundial, Thornton organizou um grupo a partir de seus oficiais mais talentosos, os "Whiz Kids", vislumbrando a oportunidade de aplicar seus conhecimentos no gerenciamento de grandes empresas. Ele sabia que recém-empossado Henry Ford II encontrava dificuldades para implantar uma grande reforma administrativa na Ford Motor Company e logo tratou de oferecer os serviços de sua equipe, o que foi prontamente aceito por Henry II.

Henry II: boa parte de seu sucesso é creditado a McNamara.

Foi esta equipe a responsável pela implantação de novas técnicas de gerenciamento, controle de custos e estratégias de mercado, além de um moderno sistema de seleção, treinamento e planejamento de carreira dos empregados da Ford.

Na década de 50, McNamara foi um dos mais ferrenhos opositores da fracassada divisão Edsel, antes mesmo do primeiro carro chegar ao mercado. Sua carreira na Ford foi marcada não só pela pá de cal que jogou sobre a Edsel como também pelo grande incentivo que deu ao desenvolvimento do Ford Falcon, um carro compacto, simples e com baixo custo de produção, uma fórmula totalmente oposta à grande maioria dos automóveis norte-americanos da época.

O Corvair de Ed Cole vs. o Falcon de McNamara

O Falcon foi um atestado de sua ciência: os excessos sobre 4 rodas da década de 50 precisavam terminar e seu próximo alvo foi a Lincoln. McNamara chegou bem perto de encerrar esta divisão, dado o fracasso comercial que tomou conta dela a partir de 1958. Conta a história que McNamara viu o protótipo do Ford Thunderbird de 4 lugares, baseado no Continental Mark II.

McNamara gostou e ordenou que o carro fosse esticado, para que pudessem ser adicionadas duas portas traseiras. O resultado todos conhecem: o Continental 1961. Menor, mais bonito, simples e elegante, não lembrava em nada os excessos da década anterior. Tornou-se um ícone dos anos 60.


O sucesso de McNamara na Ford foi atestado em 9 de novembro de 1960, quando tornou-se o primeiro presidente da Ford Motor Company que não fazia parte do clã Ford. Em menos de cinco semanas, foi indicado por Robert Lovett para ser o secretário de defesa norte-americano da gestão Kennedy, posto que assumiu em 21 de janeiro de 1961.

É provável que McNamara seja mais lembrado no futuro como um grande estrategista militar ou como presidente do Banco Mundial, cargo que exerceu de 1968 a 1981. Mas a a marca de sua administração será sempre indelével na história da Ford Motor Company, que deve a este executivo muito do seu sucesso.